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À flor da pele
Sophie estava acostumada a sempre comandar na hora do sexo, pelo menos era assim que funcionava com Helena. Porém naquela noite, aqueles olhos azuis e a voz de Jenny não saiam de sua cabeça, não estava tão fácil assim de se concentrar. Mesmo assim, em segundos as roupas já estavam espalhadas pelo chão e cantos do quarto, Helena estava faminta e era fome de Sophie! Jogou-a na cama e tratou de percorrer os caminhos já conhecidos e aventurar-se em novos, pelo corpo da jovem. Ao fechar os olhos, tentando focar naquelas possíveis sensações, Sophie viu o sorriso e a timidez de Jenny estamparem-se mais uma vez em sua mente, sacudiu a cabeça, não poderia deixar-se levar por essa nova emoção, tratou de abrir os olhos o mais rápido que podia, puxou Helena para si, pelos cabelos e a dominou em um beijo intenso, porém frio e até mesmo calculista, inverteu a posição… fez Helena tremer e delirar de prazer.
Foi como ativar uma máquina, que só parou já alta madrugada, quando Helena praticamente sem voz ou forças, dizia não aguentar mais.
A despedida era como sempre, Helena colocava um envelope com dinheiro sobre a peça ao lado da cama, insistia para que Sophie lhe desse um beijo meigo, desses que as namoradas dão em despedidas, mas nunca o ganhava. Confirmava que gostaria de rever a jovem na semana seguinte: mesmo lugar e horário.
Sophie nunca gostou muito da ideia de ter cliente fixo, ainda que as vezes tivesse “encontros” repetidos, nada era igual ao que tinha com Helena, mas achava que aquele tipo de rotina sempre acabava em confusão, e talvez tivesse razão.
Helena a convenceu de que seria bom, além de pagar muito bem. Porém, para Sophie aquela situação com Helena estava começando a ficar estranha, a cliente começou a tratar aquilo como uma relação ou compromisso, por vezes tinha até crises de ciúmes. A jovem decidiu que o melhor a fazer seria dar um tempo de Helena, decerto um tempo permanente.
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Sophie acreditava que precisava se afastar de Helena, e assim o fez. Teria se saído melhor nessa missão, se Helena não estivesse tão obstinada em ter a jovem. Passaram-se três meses, e Sophie continuava a fugir de Helena, que por sua vez descobriu o nome verdadeiro de “Scarlet” e o número pessoal, suas mensagens consistiam em: “Sinto sua falta, já sei, é pelo dinheiro, está pouco? Pago mais! ” Ou… “Deve ter encontrado outra idiota para te manter, né? ” E logo em seguida, “Me desculpa, é que estou com saudade, o que você está fazendo comigo. Preciso vê-la, por favor”.
Em uma tarde, Sophie recebeu a visita de Carol… uma amiga, que na verdade servia como ponte para que as clientes entrassem em contato e contratassem os serviços de Sophie. Carol era uma bela negra, dessas mulheres que facilmente param o transito, de cabelos cacheados, sorriso sensual e olhar misterioso. Ela queria conversar com a Sophie sobre Helena, que estava a etar maioria das clientes, e ela começava a se preocupar com aquilo, não apenas pelo lucro, mas também pela segurança da amiga.
Sophie preferiu não ter a conversa dentro do seu apartamento, aquele era o seu “lugar sagrado”, caminharam pelo quarteirão, enquanto Carol contava sobre os absurdos que estava acontecendo e pedia para que Sophie levasse aquilo mais a sério, mas a jovem apenas ria, não por achar a situação engraçada, mas por lembrar de como conheceu Helena:
A Geovanna, ex namorada de Helena era cliente de Sophie, e quando Helena ficou a parte daquilo, marcou um encontro com “Scarlet”, pois nas palavras da própria Helena “preciso entender porque mesmo tendo tudo, minha namorada insiste em se misturar com alguém feito você”. Depois desse encontro, teve mais dois. Um dia, Helena e até então namorada, Geovanna, decidiram que queriam fazer um ménage à trois.
Sophie considerou que o sexo em si, foi de fato incrível, a única coisa chata foi Geovanna reclamar muito porque sentiu que a Helena havia dado mais atenção para “Scarlet”, mas Sophie não considerava isso um problema dela. Até o dia em que Geovanna marcou um jantar para as três, onde parecia mais uma reunião para lavar a roupa suja, resultando na seguinte frase dita por Helena: “Prefiro pagar para estar com a Scarlet, do que ficar com você Geovanna, mesmo que de graça”. Depois dessa noite, a moça não apareceu mais, e Sophie acabou aceitando a ideia de Helena para se encontrarem uma vez por semana, e essa brincadeira já durava pouco mais de um ano.
Mas, o que Carol queria mesmo, era que Sophie resolvesse aquilo e não saber de como Helena entrou em sua vida. Quando chegaram em frente ao prédio em que Sophie morava, elas se depararam com a Jenny sentada na escadaria que dava acesso a portaria, a mesma por sua vez, ao ver Sophie, ficou tímida e vermelha… ah, se Jenny soubesse como aos olhos da jovem aquelas expressões/reações eram tão charmosas, talvez ela nem as fizesse. Sophie a cumprimentou, e ela mal conseguiu explicar o porquê de estar ali, notava-se que havia chorado e parecia desesperada, e obviamente Sophie gostaria de saber porque ela estava daquele jeito. Tratou de dispensar a Carol, afirmando que resolveria a tal situação, só que depois. Sentou-se ao lado de Jenny, a olhou e esperou que ela falasse.
– Desculpa, eu não queria te atrapalhar!
– Não está, Jenny…
– Mas, você mandou a moça ir embora.
– Porque acredito que você precisa bem mais da minha ajuda, e o que minha amiga veio tratar comigo, não é urgente.
– Ele está me traindo, Sophie. Como ele pode fazer isso comigo… meu Deus, como?
– Calma, ele quem? Ei, não chora assim!
– Desculpa, o Carlos, aquele cretino, ele me traiu… aiii porquê?
– Carlos é o seu namoro?
– Não, meu marido.
Sophie encarou Jenny com uma certa surpresa, afinal, poderia jurar que aquela mulher havia flertado com ela no parque. Afirmou que ali não era lugar para elas conversarem sobre marido ou traições, levantou e estendeu as mãos para ajudar Jenny a levantar-se, e quando o fez, o corpo de Jenny como se metal atraído pelo imã foi de encontro ao de corpo de Sophie, parando antes de encostar completamente na jovem, que se sentiu capturada por aquele cheiro e olhar. A bem verdade, nem mesmo Sophie sabia explicar o que estava acontecendo com ela, ou porque ficava daquele jeito toda vez que estava perto daquela mulher. Imagine, Jenny chorando pela traição e Sophie embriagada pelo cheiro que a outra exalava!
Passaram pelo saguão, tomaram o elevador em silencio e pararam no decimo segundo andar, onde ficava o apartamento da jovem. Sophie abriu a porta e entrou, Jenny ficou parada. A jovem voltou e sorriu, a convidou para entrar.
Provavelmente era o apartamento mais bonito e organizado que Jenny já havia visto, haviam algumas telas nas paredes, uma estante de livros, um aquário muito bonito, porém sem peixes. O James parecia ter surgido do nada, mas ele havia saído pelo corredor, Sophie achou que ele iria rosnar para a visita, como de costume, mas para sua surpresa, o James pulava na Jenny e dava latidos de alegria. Com um sorriso surpreso estampado no rosto, Sophie pensou, que mal havia entrado na sua vida e Jenny já conquistara o seu cão, logo se repreendeu por pensar tais coisas.
– James, pare de pular na visita!
– Que lindinho ele.
– James… pare! Engraçado, ele só pula assim comigo, às veze acho, melhor, tenho certeza de que ele tem molas nas patas. Por favor, sente-se. Aceita uma bebida?
– Aceito sim, o que você tiver de mais forte!
Sophie segurou a gargalhada ao pensar no que quase saiu de sua boca como resposta: “Tem eu, mais forte que bebida, serve? Ai meu Deus, Sophie, pare, apenas pare de pensar! ” – Iremos com calma, certo? “Agora sorria e deixe a mulher se sentir à vontade”.
Sophie não sabia, mas não precisava se esforçar tanto para deixar Jenny à vontade, pois estranhamente, ela se sentia confortável e bem ao estar ali. Foi preparado duas doses de whisky, era o mais forte que a jovem tinha para dores de amor. Colocou a garrafa sobre a mesinha de centro, entregou o copo para Jenny, e sentou ao seu lado. Olharam-se, e inevitavelmente prenderam-se naquele olhar: Sophie sentia como se fizesse um mergulho e no final encontrava a si mesma, precisava entender porque sentia-se daquele jeito, desconfortável e de alguma forma, aquele era um desconforto bom.
Jenny sentia como se a jovem estivesse fazendo o mesmo que o ácido faz, entrando dentro dela através do olhar e colhendo (corroendo) todas as informações que queria e, aquilo a incomodava, mas não de uma forma totalmente ruim, ainda assim, sentia-se como se estivesse despida em plena rua movimentada com todos a olhando.
– Então Jenny, me conta essa história! Eu nem imaginava que você é casada.