Aléssia

Capítulo XVIII

POR ÐIANA ŘOCCO

Revisão: Carolina Bivard, Isie Lobo
Cartografia: N. Lobo
Mapa de Âmina

>>> XVIII <<<

O exército montava sua formação no longo descampado entre o bosque e a casa principal. Quando menina eu gostava de acordar para assistir o espetáculo de homens, cavalos e equipamentos entrando no Círculo Interno e tomando lugares numa coluna ordenada. Esse hábito de observação me seria valioso agora.

Ocultei Amora entre algumas árvores do bosque e aguardei. O tempo pareceu demasiado longo naquela noite escura e com poucas estrelas. O cheiro de terra úmida anunciava uma chuva próxima que, se acontecesse de fato, tornaria nossa viagem mais difícil que o normal. Apenas a ansiedade controlava meu cansaço e me impedia de pegar no sono. Mas quando a espera já parecia insuportável, o som de cascos surgiu vindo da região noroeste: a tropa entrando no Círculo Interno.

Aguardei até que a confusão estivesse formada. Soldados indo e vindo, gritando uns com os outros, arrastando coisas, tratando dos cavalos. Puxei Amora pela rédea e me infiltrei na última fileira da formação, local onde cavalgavam os soldados sem graduação militar e, como vantagem adicional, confortavelmente distante de meu pai.

A pouca importância que meu pai dava às pessoas comuns e aos serviçais foi meu grande trunfo naquele dia. Tivesse Rei Aran o hábito de perceber os indivíduos, olhar em seus olhos, observar suas maneiras peculiares, então havia uma possibilidade de me reconhecer na fileira de guardas. Mas quando ele chegou, dando ordens e apressando os oficiais, olhou para o batalhão em que eu estava e, provavelmente, viu apenas uma massa indistinta de homens. Eu, no entanto, não pude evitar de observá-lo, sob outro ângulo desta vez. Oculta em meu disfarce, vi o Rei passar à minha frente como um homem autoritário e raivoso, a quem era mais fácil temer do que amar. Nenhuma expressão de benevolência em sua feição, apenas um olhar severo e raivoso para todas as pessoas. Nunca o tinha visto assim, nunca tinha recebido aquele olhar completamente frio, cujas únicas emoções visíveis eram o ódio e a arrogância.

Meu eto não passou despercebido para todos, no entanto. Um soldado ruivo, com o nariz desenhado por sardas, cutucou-me nos ombros.

— Não fique olhando com essa cara de parvo, o Rei manda punir quem está parado! Ajude-me com essas cordas.

Obedeci prontamente, agradecendo ao acaso pela oportunidade.

— Mas o que você tá fazendo, seu tonto!

Com um sorriso divertido, e ao mesmo tempo etado, meu interlocutor apontava para Amora, que eu trazia pelas rédeas.

— Deixe seu cavalo lá atrás, seu maluco!

E antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, o rapaz pegou minha égua e começou a puxá-la pelas fileiras. Fui atrás, aos saltos entre o tanto de coisas amontoadas no chão, carregando as cordas que estavam sobre nosso cuidado. O rapaz prendeu Amora junto de um corcel marrom-claro e voltou rindo. Tinha o olhar vivo e simpático e me ofereceu um gole de água do cantil que retirou das costas.

— Meu nome é Heitor, e o seu?

— Iago.

— Muito prazer, Iago. É novo no exército, não é? Mas não se preocupe, logo você pega o jeito. De onde você veio?

Fazer amizades não estava nos meus planos, mas não responder levantaria suspeitas. Eu havia criado uma pequena biografia para Iago, um rapaz que nasceu em Luzerna, povoado a sudoeste do Castelo e que, segundo meus estudos, possuía a maior concentração populacional depois do Castelo de Três Círculos. Muitos deviam ser oriundos de lá.

— Luzerna.

— Sério? Heitor parou feliz, olhando-me quase como se fossemos parentes. – Pelos céus, um conterrâneo! Quando chegou de lá? Há quase três anos não vejo minha casa.

Provavelmente não fui muito inteligente em meu plano. Encontrar um soldado oriundo de lá, e ansioso por notícias de casa, era uma das piores coisas que poderiam me acontecer.

— Tenho andado pelo mundo, faz muito tempo que não vejo nossa cidade também.

— Andado pelo mundo? Como assim? Não me diga que é um veterano porque está na cara que não é. Na cara em todos os sentidos, ou você acha que pode enganar idade com essa falta de barba?

Não respondi nada. Minha situação estava se complicando rapidamente. Heitor me olhava, pensativo.

— Fica tranquilo, rapaz. Também fugi de casa muito cedo para me aventurar no mundo.

Agarrou a corda que estava no meu ombro e começou a andar apressado, me fazendo sinal para segui-lo.

— Não podemos ficar parados ou vamos arrumar confusão — disse com voz bem baixa — Quando o Rei está por aqui, as coisas ficam um pouco mais complicadas do que o normal.

Chegamos a um dos carros que compunham o comboio e Heitor amarrou uma das extremidades da corda na carroceria. Então me olhou por um minuto e, com um suspiro, comentou:

— O exército parece tentador, não é? Espero que você não se decepcione, Iago. Espero que tenha mais sorte do que eu.

— Você se decepcionou?

— Sim, bastante. Quando tinha sua idade eu pensava em ajudar a proteger o reino, em cuidar das pessoas. Você sabe, a gente vê muita miséria no interior do país. E naquela época as pessoas não comentavam muito as atitudes do exército. Não sei como está hoje, não consigo mais andar anônimo no meio do povo. Uma vez no exército, sempre no exército. Aqui não temos vida própria, é trabalho de sol a sol, desde o primeiro dia até a morte. Ou até ficar inválido e te jogarem fora.

A expressão simpática dos primeiros instantes estava oculta por uma sombra de preocupação.

— Estou estragando seus sonhos? Espero que não.

— Bem… na verdade, eu não esperava que a vida no exército fosse coisa fácil…

— Melhor pra você. Na sua idade eu era um tolo idealista. E agora estou aqui, cumprindo ordens feito um estúpido idiota.

— Cumprindo ordens feito um estúpido idiota?

— É o que somos, não é? Quem aqui concorda com o que vamos fazer? E no entanto fazemos, não é? Quem tem coragem de se rebelar contra o Rei? Cheguei aqui com sonhos românticos de defender os pobres e desvalidos e o que faço hoje é oprimi-los. Percebe? Estúpidos, idiotas e covardes todos nós.

Olhou-me com mais cuidado por alguns instantes.

— A menos que você seja como alguns por aí, que gostam de exibir poder e maltratar. Então, você está em casa e não é nem um pouco estúpido. Mas, francamente, não me parece ser esse o caso. Seu olhar é humano demais pra isso… Me ajude com essa corda, passe por baixo do eixo… isso, assim… vá, pegue do outro lado, amarra ali naquela argola… ali, logo atrás de você… isso. Prende firme, vou soltar, ok?

As horas correram rapidamente com o auxílio de Heitor. Nosso grupo de homens cuidava dos mantimentos e, pela quantidade que levávamos, calculei que a viagem seria longa. Heitor soltou uma longa gargalhada quando comentei isso.

— Acha que isso é provisão para dias de estrada? Qual o quê! Isso é para a festança!

— Festança?

Olhou-me com ar divertido antes de completar.

— Você verá. Se sobreviver, é claro…

Devo ter feito uma péssima cara, pois Heitor riu muito.

— Relaxe, a probabilidade de morrer é muito pequena. Aqueles coitados não tem onde cair mortos e, até onde eu saiba, possuem só uma meia dúzia de homens capazes de lidar com armas. Não vão opor resistência.

— Mas… e se os rebeldes estiverem por lá? Não acha que as coisas vão se complicar?

Heitor riu com gosto, mais uma vez.

— Acha, mesmo, que se existissem rebeldes lá, o Rei, em pessoa, estaria a caminho? Relaxe. Quando o Rei está junto, o único perigo é o próprio Rei. Todo o resto é fácil.

Partimos nas primeiras horas do dia e cavalgamos em velocidade por toda a manhã. Resisti à curiosidade e evitei olhar em volta, mas aqui e ali as imagens de minha única saída do Castelo surgiam. Eu mantinha minha postura ereta na sela, a fila de soldados à minha frente e o Monte Vermelho, majestoso, dominando a paisagem. No fim das fileiras, onde eu estava, não era possível avistar nenhum sinal do Rei e de seu séquito.

A única pausa que fizemos foi a do almoço. Enquanto oficiais e nobres buscavam o conforto para descansar, os soldados corriam de um lado para o outro, organizando o acampamento. Heitor e eu ajudamos a descarregar os mantimentos e depois auxiliamos os cozinheiros. À medida em que a comida ficava quente, colocávamos em bandejas para os oficiais. Uma equipe recolhia os mantimentos prontos e servia as tendas onde as pessoas importantes descansavam.

No meio da correria Heitor agarrou uma coxa de frango e começou a comer. Meu estômago doía horrores e o sol forte aumentava meu cansaço. Pedi água a um dos ajudantes de cozinha que, generosamente, me deu um cantil cheio e um pedaço de carne.

— Imite seu amigo Heitor e vá comendo tudo o que puder, se não quiser passar fome.

— Não vamos sentar para comer?

Heitor quase engasgou com a comida, de tanto rir.

— Sentar? Tá pensando que você é oficial, rapaz?

Os outros explodiram numa gargalhada.

— Claro que não é oficial, Heitor, olhe bem… o rapaz é nobre, com toda certeza! — comentou o que havia me dado água e comida. Os risos aumentaram e eu enrubesci. Tomei um largo gole, que quase esvaziou o cantil, e comi a carne em nacos grossos, tentando disfarçar meu modo educado de mastigar.

Quando terminamos de distribuir a comida, já era hora de recolher e lavar as louças usadas pela nobreza. Em seguida, recolhemos os mantimentos e refizemos a operação de colocá-los nos carros. Ainda estávamos apertando o último nó, quando a ordem de partir foi dada. Lembrei dos dois soldados famintos que observei na viagem anterior, e do comentário de meu pai: “o exército não é lugar para lerdos”.

Seguimos sem pausas até o anoitecer, indo para noroeste a partir do local de descanso. À medida que o sol amainava, eu conseguia usufruir um pouco mais da paisagem. De maneira geral, tudo ao norte do Castelo era uma paisagem verde, descampada, o Monte Vermelho dominando a região. O sol estava cerca de quarenta e cinco graus do solo quando enxerguei fumaça no horizonte.

— Estamos chegando ao povoado — disse Heitor, emparelhando seu cavalo com o meu. — Espero que você não se traumatize com o que vai acontecer. Só te digo uma coisa: cumpra as ordens que te derem, por mais difícil que seja. Simplesmente faça, porque a desobediência aqui é punida com a morte. E nem se darão o trabalho de enterrar seu corpo, vai ficar jogado para os bichos comerem.

Àquela altura eu sentia fome, sede e um enorme cansaço. Recebia o treinamento de um nobre para a batalha, ou seja, eu estaria em boa forma agora, se tivesse descansado em uma confortável barraca durante o almoço. A vida de soldado era infinitamente mais difícil, era preciso uma força descomunal para aguentar os percalços daquele caminho. Deve ter sido pelo cansaço, então, que não me preocupei com a advertência de Heitor. Isso, e certa descrença. Eu já estava desconfiada que as ações de meu pai, sem minha presença, seriam mais duras do que na visita formal que fizemos num passado próximo. Mas nem em meu pior pesadelo eu poderia imaginar o que estava por vir.

Os novelos de fumaça foram ganhando volume no céu à medida que o sol se punha. Quando não havia mais nenhuma fresta de luz, ouvi de longe a ordem de ataque. Heitor, preocupado comigo, me disse para desembainhar a espada, e esporeou seu cavalo com força. Eu o vi ganhar distância mas, ao contrário de todos, retardei o passo de Amora.

Cavaleiros ensandecidos, com arma em punho, passavam por mim. “Rebeldes”, pensei. Saquei Brenda e corri em desespero. Precisava achar meu pai, precisava defendê-lo.

Aticei Amora, o coração na boca. “Quando você estiver numa batalha, o inimigo não vai esperar.” “Você acha que o inimigo deixará de nos atacar por que está chovendo?” “Firmeza no punho, Aléssia, não perca sua arma no combate!”.Todas as advertências de meu pai, todos os anos de treinamento, voltaram nítidos à mente. Minha primeira batalha. A primeira luta real! E sem o status de Princesa, sem soldados morrendo pra defender a líder de seu reino.

Entrei a galope procurando o inimigo. Aqui e ali, casas irrompiam em chamas. Gritos desesperados, pessoas correndo, acuadas. Mas de onde vinham os ataques? Onde estavam os rebeldes?

— Você, seu idiota! Não sabe usar essa espada? Mate!

Há menos de um metro o oficial me olhava furioso. Desferiu um golpe na cabeça de um homem e galopou rápido em minha direção.

— As ordens são claras, soldado: matar todos. O Rei não quer que ninguém escape com vida. Rápido, seu idiota, alguns conseguiram furar o cerco, pegue-os antes que entrem nos campos!

Foi mais meu instinto do que o raciocínio que me fez correr na direção apontada. Não muito longe de mim um pequeno grupo de mulheres fugia em desespero. Salvá-las era a única coisa em minha cabeça. Mas dois soldados me ultrapassaram e passaram a fio de espada todas elas. Os gritos de pânico, a imagem da morte fria e crua, causaram-me uma golfada de vômito. Ouvi risos ao longe e, sem sequer me preocupar com quem estava por perto, afastei meu cavalo dali. Já tinha visto o suficiente.

Não encontrei um lugar seguro para me esconder, no entanto. O que pude fazer foi me afastar o bastante para que a escuridão me protegesse. Via o fogo aumentando e os gritos de terror cada vez mais agudos. Então, aos poucos, as vozes foram sumindo, o silêncio retornando e o tropel de cavalos mansos se fez ouvir. A tropa partia.

Tudo à minha volta seria uma enorme escuridão, não fosse por aquele vilarejo queimando à minha frente. Considerei a possibilidade de entrar no povoado, depois que a tropa se distanciasse, e procurar por sobreviventes. Talvez pudesse salvar algumas vidas. Mas o acaso me fez encontrar outra urgência. Surgindo à minha esquerda — perto, muito perto — a voz inconfundível de meu pai.

— Coloca essa potranca na minha tenda. E dê aos soldados tanto vinho quanto sejam capazes de beber. Quero que se lembrem sempre de minha generosidade. Gosto que meus homens se divirtam, quando cumprem com suas obrigações.

Passaram assustadoramente próximos, suas sombras nítidas apenas por conta de meus olhos treinados para a espreita. Junto a meu pai, um soldado carregava um corpo amontoado em sua garupa. A cavalaria aos poucos se aproximava do Rei. Aticei Amora para um galope suave e reincorporei à tropa, dessa vez perigosamente perto de meu pai, e profundamente focada no soldado que carregava, atirada como carga à sela, a prenda do Rei Aran.

No anonimato da escuridão, e com a cautela à flor da pele, cavalguei despercebida na tropa de elite. Desci de meu cavalo a poucos centímetros de meu pai, sua voz causando-me um arrepio enquanto distribuía ordens aos oficiais.

— Coloca essa vadia na tenda assim que esteja armada. E vocês ai, coloquem cordas extras se for preciso, que essa tenda vai ter que aguentar folia a noite toda!

Os homens riram estrondosamente, enquanto o Rei se afastava com Don Otto. “Quero cumprimentar pessoalmente meus soldados” foi a última coisa que o ouvi dizer.

Aguardei com nervosa paciência que montassem a tenda. Passei o tempo com a cabeça baixa, fingindo que cuidava de alguns cavalos, a atenção dividida entre procurar meu pai pelo acampamento, controlar os homens que montavam os aposentos do Rei e vigiar o corpo ainda atado à sela do cavalo, corpo que, agora eu conseguia perceber, era de uma linda jovem, aproximadamente de minha idade.

Não demorou muito até que o oficial, responsável pela guarda da menina, a jogasse no interior da tenda, como objeto de pouco valor. Ouvi seu corpo batendo no chão e um abafado gemido de dor. Não consegui observar se algum soldado ficara de guarda no interior da tenda. Do lado de fora, dois homens armados vigiavam a entrada e outros dois faziam ronda a toda volta. Precisava encontrar uma maneira segura de entrar e sair acompanhada pela menina. E isso tinha que ser feito antes de meu pai voltar!

A barraca fora montada a certa distância do acampamento principal; o Rei queria privacidade para sua noite de prazer. Encontrei uma árvore, a média distância, e nela prendi Amora, um laço frouxo para soltar às pressas. Aguardei agachada entre alguns caixotes de mantimentos, os movimentos suspensos por quase uma hora. Então, o milagre que eu queria aconteceu. Um dos soldados de guarda na entrada teve um acesso de tosse e se afastou em busca de água, obrigando o outro a deixar a ronda e se postar ali.

Tirei da cintura minha faca de caça. A ideia não me agradava, mas não havia outro jeito. Lutar chamaria a atenção de todo o acampamento; seria minha desgraça e a morte da garota. Em silêncio absoluto me aproximei do soldado que passava sozinho pelos fundos da tenda. Quando o rapaz percebeu, eu estava a seu lado. Num gesto rápido prendi-o pelo pescoço, tampei sua boca com uma das mãos e cortei sua jugular com a outra. Coloquei o corpo no chão sem nenhum barulho. Em seguida fiz um longo corte transversal no tecido e entrei na tenda. A jovem estava com pés e mãos amarrados, jogada no chão como uma mercadoria. Fiz um gesto pedindo silêncio e a soltei em dois cortes precisos, fazendo sinal para que permanecesse deitada. Com a ajuda das tochas de iluminação colocadas fora da tenda, observei o movimento dos guardas. Quando um deles passava pela lateral em direção aos fundos, passei-o no fio da espada. Ele soltou um leve gemido e seu corpo caiu pesado. Ouvi a voz de um deles perguntando se estava tudo bem. Era o sinal – tínhamos que fugir! Fiz um gesto para que a garota corresse atrás de mim e saí em disparada na direção de Amora.

Ouvimos os gritos de alarme no momento exato em que montávamos minha égua. Esporeei-a com rispidez e ganhamos velocidade. Um alvoroço de vozes vinha do acampamento. Não queria nem imaginar a reação de meu pai, ao descobrir que tinham lhe roubado a prenda!

Sem mantimentos e sem conhecer o terreno, cavalguei em disparada por toda a noite, rezando para que nenhum acidente de terreno pudesse machucar Amora. Como se entendesse a gravidade da situação, minha montaria respondeu à necessidade com bravura, em nenhum instante diminuiu o galope, nem aparentou cansaço. Precisávamos ganhar distância com aflitiva urgência. Afinal, quando o sol se levantasse, seríamos facilmente avistadas naquela paisagem em que o horizonte se estendia por milhares de quilômetros, sem nenhum obstáculo. A essa altura, já havia uma patrulha em nosso encalço: meu pai não deixaria sem punição a ofensa de lhe roubarem a carne de dentro de sua tenda particular.



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