DAKOTA

15. O coração quer o que quer

— Não te vejo com esse sorriso de comercial de creme dental há muito tempo. Se continuar sorrindo assim, vou precisar pegar meus óculos escuros.

— Idiota! Bom dia pra você também — Dakota bocejou, reparando nas olheiras dela. Tinha acabado de entrar na cozinha, onde a amiga se encontrava escorada no balcão com uma xícara de café expresso triplo nas mãos. Outro sinal de que ela não dormiu bem.

Foi até o armário e pegou uma xícara para si, enquanto Rachel se adiantava e programava a máquina para fazer o seu café. Dakota colocou a xícara no local apropriado e também escorou-se no balcão.

— Dak, você sabe que esse lance entre vocês não vai dar certo, não é? Essa mulher está tentando tirar a ex da cabeça transando contigo.

Após um novo bocejo, Dakota retrucou:

— Não foi você que há dois dias estava me incentivando a voltar para a cama e curtir o momento com Isadora?

— Falei isso porque você estava precisando relaxar um pouco e não faria mal esquecer Isabella e os problemas à volta dela por algumas horas.

— Então, por que a mudança de opinião?

A amiga depositou a xícara sobre o balcão. A máquina indicou que o café de Dakota estava pronto, no entanto, ela não o pegou. Em vez disso, cruzou os braços à espera da resposta.

— Não mudei. É que me peguei pensando no assunto enquanto me trocava. Não me entenda mal, gosto de Isadora, mas quero ter certeza de que você está bem e que não irá se machucar.

Dakota afagou a mão dela, que repousava sobre o balcão.

— Não precisa se preocupar, Rackie. Como você mesma disse no outro dia: já estou calejada de romances ruins e não estou disposta a deixar que alguém chegue tão perto do meu coração quanto Gio. Além disso, Isadora e eu deixamos bem claro o que cada uma espera desse flerte.

— Mesmo? — era óbvia a desconfiança.

— Sim. Conversamos muito nos últimos dias.

— Tentar ser racional nem sempre dá certo, você sabe. Às vezes, o coração quer o que quer. O seu ainda bate por Gio de uma forma que nunca vou conseguir entender, principalmente porque ele aprontou muito contigo.

Dakota pegou a xícara no descanso da cafeteira e a levou até os lábios, contendo um pequeno suspiro. Antes de beber, admitiu:

— Sim, ele fez isso — tomou um gole. — Mas também me deu amor, carinho, cuidado, coisas que eu nem sabia que precisava e acreditei que não eram para mim. Ele me deu um lar e uma família — fez um carinho rápido no rosto dela. — Todas essas coisas superam as ruins que o nosso relacionamento teve. E quando olho para trás, só consigo vê-las.

Ligeiramente surpresa, Rachel franziu o cenho. Comovida com a declaração, foi sincera ao falar:

— Te ouvir dizendo essas coisas me causa uma estranheza absurda, porque sei o quanto você pode ser rancorosa e vingativa.

— Nem me fale! — Dakota deu um sorriso pequeno. — Às vezes, também acho estranho pensar dessa maneira, mas é o que realmente sinto. Não há espaço, no meu coração, para rancores em relação ao Gio. Algumas coisas ainda doem, não vou negar, todavia não me apego a elas.

— Fico feliz — Rachel também sorriu. — Gio não tem ideia de que a melhor coisa que ele fez na vida, foi te conhecer. Eu o amo, mas o amor que eu tenho por você é infinitamente maior. É como se você fosse minha irmã de alma.

Emocionada com a declaração, Dakota a puxou para um abraço apertado. Era extremamente raro que Rachel expressasse seus sentimentos de forma tão clara.

— Nem eu poderia ter definido melhor — a segurou com mais força e quando se separaram e a emoção amainou, Rachel retornou ao assunto:

— Não quero me intrometer na sua vida amorosa, Dak, mas sempre que vejo você e Isadora lado a lado, tenho a impressão de que ela te afeta mais do que você imagina. E é por isso que puxei o assunto. Para te alertar, para que você tente colocar um freio nisso aí, antes que seja tarde demais.

Ela fez uma pequena pausa e Dakota afundou-se em pensamentos sobre os momentos que vinha compartilhando com Isadora. Se conheciam há tão pouco tempo e, ainda assim, sentia como se estivessem destinadas a se encontrarem. O que era absurdo, pois não acreditava em destino. Todavia, reconhecia que o seu querer por ela estava crescendo rapidamente.

— Você não está enganada, mana. Sei bem que estou enfiando os dois pés na jaca com Isadora. É difícil descrever o que ela me faz sentir, mas não tenho a menor intenção de deixar esse sentimento correr solto. E quando ela se cansar e me disser “tchau”, estarei bem com isso.

Rachel deu um leve sorrisinho ao ouvir o “mana”, que ela só usava quando estavam sozinhas. Por fim, suspirou em aquiescência.

— Eu fico mais tranquila em saber que enxerga as coisas dessa maneira. Definitivamente, não quero te ver no fundo do poço por amor outra vez.

— Se eu cair nesse poço de novo, conto com você para me tirar dele e vice-versa — tomou outro gole de café, ao passo que Rachel fazia o mesmo. — Amor é uma palavra muito forte para usar nesse caso. Eu gosto de Isadora, mas esse gostar não pode sequer ser chamado de paixão. Ao menos, acho que não é disso que o nosso relacionamento se trata. Aliás, nem sei se o que temos pode ser nomeado dessa maneira. Apenas quero aproveitar a companhia dela, enquanto for possível.

— Só a companhia? — Rachel perguntou, maliciosa.

— Eu não vou responder a isso.

Rachel gargalhou ao notar um suave tom rosado tomar a face da amiga. Reação que era extremamente rara por parte dela.

— Ela deve fazer gostoso, porque você não sai daquele quarto há dois dias!

— Não é da sua conta, mas faz sim. E como faz!

Outra risada escapou de Rachel e, dessa vez, Dakota a acompanhou. Quando o momento passou, a motoqueira falou:

— Já que estamos falando das coisas do coração, que tal conversarmos um pouco sobre o seu “pequeno anjo”? Gio estava preocupado com isso, na última vez em que conversamos.

A amiga revirou os olhos. Colocando a xícara no descanso da máquina e apertando os botões para a preparação de um novo café.

— Pretende ter uma overdose de cafeína antes do meio-dia?

— Não dormi bem e a culpa é toda sua. As paredes desse apartamento são finas, sabia?

— Mentirosa! — Dakota refutou, sorrindo.

Rachel esperou até o café ficar pronto para responder.

— Não admito que Gio dê palpites na minha vida, já que não me permite fazer o mesmo com a dele. E não há nada para conversar sobre Angel.

— Quanta agressividade! Aconteceu alguma coisa entre vocês? Ela finalmente percebeu que você está a fim dela? — riu baixinho.

— Ela é uma criança, Dakota! Tenho idade para ser a mãe dela.

— Usar a idade da garota como desculpa chega a ser ridículo para você, que nunca se preocupou com isso antes, tampouco fez distinção de raça, sexo e crenças para escolher seus parceiros. Se não quer conversar a respeito, é só dizer que não está a fim de falar.

— Eu não vou mexer nesse vespeiro, Dakota — fez um muxoxo. — E não estou apaixonada, só quero cuidar dela como ela cuidou de mim. Compreende?

— Compreendo perfeitamente. Eu também estou “cuidando” de Isadora — soou sarcástica.

Rachel revirou os olhos de novo.

— Não enche!

Ainda rindo, Dakota pegou um pote de biscoitos no armário, então sentou à mesa.

— Seja lá o que estiver sentindo por essa garota, Rackie, é algo bom. Muito bom mesmo, pois, tirando a noite em que aquela peste loira esteve aqui, não te vejo segurar uma garrafa de vodca há algum tempo.

— Vontade disso não me falta, a vida era tão mais simples no fundo de um copo… — sentou-se ao lado dela e enfiou a mão no pote de biscoitos. Mordeu um e contou: — Eu não estou apaixonada, mas confesso que tenho um tesão danado naquela garota.

Dakota não retrucou. Em vez disso, aguardou que ela continuasse. Rachel podia ser pior que ela mesma ao guardar os sentimentos.

— A verdade, Dak, é que faz muito tempo desde que eu quis transar com uma mulher… Para ser ainda mais sincera, faz muito tempo mesmo que eu quis estar com outro ser humano de forma íntima.

— E se isso não é paixão, o que é?

— Desejo. Angel mexe com a minha libido. Contudo, eu não quero ultrapassar essa barreira com ela. Primeiro, porque ela é totalmente hétero. E segundo, porque eu prefiro continuar sendo amiga dela…

— Covarde!

— Como é?

— Nunca pensei que diria algo assim para Rachel Lorenzzo, mas estou vendo a palavra covarde escrita na sua testa.

— Ah, cala a boca! Você não pode me julgar, esqueceu? Você prometeu que nunca faria isso.

— Não estou julgando, Rackie, apenas afirmando. Mas tudo bem, não direi mais nada a respeito. Você sabe que estou aqui para você. Para te ouvir, para te abraçar quando preciso, para te proteger e brigar ao seu lado. A qualquer hora, em qualquer lugar.

Rachel guardou a emoção somente para si, ficou em silêncio. Os olhos fitos nos da amiga e ex-cunhada. Dakota não precisava de palavras. Entre elas nunca foi necessário.

— Mas, me diz, como andam os problemas do seu anjinho?

— Tranquilos, por enquanto. Dei um jeito dela conseguir um trabalho que a deixará fora do país pelos próximos três meses. Até lá, posso me concentrar nos seus problemas e de Isabella.

— Um brinde a isso! — Dakota ergueu a xícara e tocou na dela.

— E falando nisso, a “loira diabólica” me enviou uma mensagem um pouco antes de você chegar.

Vixe! Meu dia acabou de azedar! O que ela queria.

— Ela pediu para não agirmos, por enquanto.

— Sério isso, Rachel? Eu não vou…

Rachel ergueu uma das mãos, pedindo calma.

— Você sempre fica assim quando Carla está envolvida no assunto. Cruzes! Respira, mulher! Se eu não te conhecesse, diria que esse ódio exagerado é paixão reprimida.

— Ora sua…

Rachel gargalhou com a irritação dela, obrigando Dakota a obedecê-la e respirar fundo para não se alterar mais.

— Desculpa, mas não resisti à provocação — ela mordeu um biscoito, assistindo ao revirar de olhos de Dakota. — Ela nos pediu um pouco de paciência, pois uma amiga está tentando obter mais informações sobre o sujeito que nos falou na outra noite.

— E você confia?

— Dakota, achei que já tivesse deixado claro na outra noite. Você e Carla são as únicas pessoas no mundo em quem confio com a minha vida. São motivos distintos, mas essa confiança é inabalável.

— Eu nunca vou entender isso, Rackie… Não consigo mesmo e olha que já tentei, mas essa relação de vocês não me entra na cabeça, mesmo após você ter me contado o que ela fez por nós.

Rachel balançou a cabeça, compreensiva.

— Não precisa confiar nela, Dakota. Só confie em mim.

— Cegamente — afirmou a outra. — Mas já que é de confiança que estamos falando, não sei se é bom meter outa pessoa nessa história. Você pode confiar no Diabo Loiro, mas essa amiga dela…

— Também confio nela, não da mesma forma que confio em Carla, mas confio.

Surpresa e, ao mesmo tempo, desconfiada, Dakota perguntou:

— O que perdi, Rackie? O que você não me contou?

— Essa amiga também me deve um favor e se o que dizem dela for real, é muito capaz de obter as informações que queremos e de forma discreta.

— Droga, Rachel! Você está me deixando ainda mais nervosa com esse mistério.

A outra riu baixinho e findou seu café. Ela se colocou de pé e fez um carinho nos cabelos de Dakota, depois depositou um beijo no topo da sua cabeça.

— Só confie.

— E que outra opção eu tenho?

***

Algumas horas depois, Dakota ajeitou os óculos escuros sobre o nariz quando o reflexo do sol sobre o para-brisa de um carro em movimento atingiu seu rosto. Endireitou-se na cadeira que ocupava.

Estava no ambiente externo de uma sorveteria que ficava em frente à praia. Após uma caminhada pela areia, atravessaram a rua para saciar o desejo de Isadora de tomar um sorvete. Dakota preferiu uma simples garrafa de água. Enquanto esperava a amante escolher os sabores com o auxílio de um atendente, ela concentrou o olhar no oceano e, lentamente, voltou os pensamentos para Rachel e a sua preocupação sobre o relacionamento dela e Isadora.

Um garotinho passou correndo ao lado da mesa que ocupava, dizendo para a mulher que o acompanhava quantas bolas de sorvete queria. Dakota riu, inclinando o corpo para olhar a criança entrando no estabelecimento. Endireitou-se, afundando a vista no mar.

— Acho um crime vir a uma sorveteria apenas para tomar água, então trouxe uma casquinha de baunilha e morango para você.

Dakota fitou o gelado que Isadora lhe oferecia com um sorrisinho no canto da boca, depois encarou a taça de sorvete que ela depositou sobre a mesa.

— Não precisava se incomodar — aceitou o cone com o gelado.

Após se sentar, Isadora escorregou a mão até a dela. Segurou-a firme.

— Você estava fazendo uma carinha de quem precisava de algo para adoçar o paladar e a vida.

— É mesmo? E que expressão era essa?

Isadora fez uma pequena careta, mostrando a língua para ela, que riu baixinho e provou seu sorvete. Em um movimento ligeiro, Isadora empurrou sua mão, fazendo com que uma pequena quantidade de sorvete ficasse espalhada pelo queixo e lábios. Dakota a fitou com indignação e, rindo, Isadora se inclinou e lambeu o gelado em seu rosto, deixando um beijinho no canto da boca.

— Hm… maliciosa — Dakota acusou-a.

— Eu deixo você fazer o mesmo comigo, quando chegarmos em casa, mas espero que seja algo mais ousado — sorriu, devassa.

— Pra onde foi sua timidez, hein?!

— Perdi. Adivinha quem é a culpada?

Dakota limitou-se a sorrir de novo, escorando-se no encosto da cadeira. Na mente, as cenas dos momentos prazerosos divididos na cama. E o desejo de revivê-los nublou seus pensamentos por um instante. “Eu tô muito ferrada”, pensava.

Enquanto se deliciava com o próprio sorvete, Isadora comunicou que iria visitar os pais antes de retornarem para Cascabulho. O dia seguinte era o seu limite para estar ali, pois suas férias acabariam oficialmente em dois dias.

— Quer me acompanhar?

— Hmm… você é do tipo ligeirinha? Nem começamos e já quer me apresentar aos seus pais — provocou, fazendo Isadora revirar os olhos para ela. Porém, notou um leve rubor se espalhar pelas bochechas dela.

— Você, definitivamente, não é do tipo que eu apresentaria aos meus pais como possível nora.

Após uma gargalhada, Dakota quis saber o motivo, embora já tivesse uma ideia a respeito.

— O mesmo que vive citando: você é uma encrenqueira — estreitou o olhar.

— Você fica linda quando faz essa expressão — Dakota relaxou, pousando a mão sobre a dela na mesa e fazendo um carinho rápido. — Gostaria de te acompanhar, mas prometi para Rackie que iria a uma reunião na Bellator. Oficialmente, estou de licença, contudo não posso me recusar a participar desse encontro. Principalmente, porque estou louca para colocar algumas pessoas em seus devidos lugares.

— Você fica bem sexy quando fala desse jeito. Sabe, com ar de quem vai destruir alguém com palavras. É mais atraente do que a ideia de vê-la usar os punhos.

— Menos assustador, imagino.

— Exato.

— Eu passo para te pegar quando sair da reunião e seguimos direto para Cascabulho.

— Combinado.

***

— Por que não contou antes?

— Não queria que se preocupasse.

— Isadora, sou sua mãe. Estar sempre preocupada com você e seus irmãos é o meu trabalho.

Isadora sorriu para ela, aceitando com alegria o beijo carinhoso que lhe deu na testa, antes de sentar na cadeira ao seu lado. Tinha acabado de contar para a mãe que o seu relacionamento com Alice findou.

— Bom, não posso dizer que fico triste com essa notícia. Adoro Alice, mas sempre soube que ela não é a mulher para você.

— Nem penso em discordar.

Dona Alma fez um carinho no rosto dela. Pegou a xícara de café fumegante e recostou-se no espaldar da cadeira. O olhar afiado, avaliando a filha.

— Você não parece triste. Na verdade, acho que está radiante.

— Com toda a certeza estou triste, mãe. Mas essa tristeza não é esmagadora e sufocante, é apenas certeza de que terminarmos foi certo. Alice nunca quis o que eu desejava para nós.

— Mesmo assim, filha. Dois anos não são dois dias. Você saiu daqui, há algumas semanas, ansiosa para rever sua namorada e agora parece que essa vontade não era tão forte assim.

— Eu fiquei mal por um tempo, mãe. Mal de verdade e estaria mentindo se dissesse que não penso em Alice várias vezes ao dia. Com certeza, ainda irei sentir muitas saudades dela… de nós, mas não dava mais para continuar assim.

Alma tomou um gole do café, pensativa.

— E você saiu da fazenda?

— Sim. Aluguei uma casinha na cidade. O proprietário estava fazendo uma pequena reforma, então fiquei na chácara de uma amiga. Aliás, foi com ela que vim para cá. Precisava resolver alguns assuntos pessoais e de trabalho, aproveitei a carona.

Preferiu não contar que estava na cidade há dias, assim como, o fato de ter sofrido um acidente.

— Olha, mãe, vou deixar meu trabalho e voltar para cá.

— Tem certeza? Eu não vou mentir, adoro a ideia, mas quero saber se é realmente isso que quer ou se essa decisão é apenas por Alice.

Isadora ponderou a respeito por alguns segundos, embora não precisasse.

— No início, achei que era por ela — confessou —, mas é por mim. Eu adoro Cascabulho e a maioria das pessoas de lá, porém não me sinto mais feliz naquela cidade. E a verdade, mãe, é que isso já tem um bom tempo. Embora Alice tenha sido o motivo que me fez ficar lá, após a morte da tia Ana, ela não tem nada a ver com essa decisão.

Dona Alma sorriu, carinhosa. Pegou a mão da filha sobre a mesa e apertou-a, suave.

— Quando virá? — quis saber.

— Pretendia ficar até o meio do ano, contudo concluí que é melhor não postergar. Irei organizar o que deixei pendente antes das férias e entregarei o cargo. Um mês ou dois, no máximo.

Alma voltou a apertar a mão dela e desviou a conversa para outros assuntos. Ficou arrasada ao saber da morte de Tonho, o qual conheceu em uma de suas visitas à filha e por quem tinha grande apreço.

— Por que não contaram antes sobre a morte dele?

— É complicado e envolve outras questões.

O celular vibrou e Isadora o pegou, deixando um sorrisinho dominar as feições, o que não escapou da mãe. Ela respondeu a mensagem de Dakota com um emoji de legal e voltou a prestar atenção na mãe, enquanto dizia:

— Minha amiga está vindo me buscar.

— Não vai passar a noite conosco?

— Não, vamos voltar para Cascabulho esta noite.

— Hum… Espero que ela chegue com fome, pois não vai sair desta casa sem que eu a conheça. E vocês vão passar a noite aqui. Não vou deixar que se aventurem por aquela estrada horrível durante a noite.

— Mãe!

— Está decidido.

Isadora sorriu de lado. Devia ter esperado por isso.

— Tá legal, Dona Alma, bota pra fora!

A mulher mais velha arqueou uma sobrancelha e atendeu o pedido:

— Eu te conheço, Isadora. Você é uma mulher séria, inteligente e responsável, mas tem um coração bobo. Se apaixona fácil e rápido. Foi assim com a Lídia, que os ventos das tempestades continuem levando aquele encosto para longe. Também foi assim com Alice e, pelo que está parecendo, também está acontecendo o mesmo em relação a essa “amiga”. Você mal terminou um namoro!

Isadora riu. As coisas não eram assim tão simples e cruas como a mãe afirmou. Porém, decidiu não discutir e apenas garantiu:

— Dakota não é como Lídia e, com toda a certeza, não é como Alice. Não nego que está rolando um interesse mútuo.

— Filha…

— Olha, mãe, eu não procurei por isso e ela também não. Apenas está acontecendo. Eu sei bem que é cedo demais para qualquer tipo de envolvimento. Alice era minha namorada até 15 dias atrás.

— Então?

— Nós conversamos a respeito. Dakota é uma mulher experiente. E está bastante ciente do meu momento emocional. Não é o tipo de pessoa que se aproveita da fase ruim de alguém.

— Mesmo?

— Mesmo. Na verdade, ela foi muito direta sobre isso. O que me deixou muito confortável para ficar ao lado dela. Decidimos deixar as coisas acontecerem sem pressa, sem forçar a barra e sem rótulos.

— E como estão se saindo?

— Na verdade, muito bem.

Dona Alma a fitou com desconfiança e temerosa pelo coração da filha. Isadora era forte, porém, costumava ter o dedo podre para mulher. E, infelizmente, Alice era mais uma ex numa lista relativamente pequena, porém dolorosa.

— Não se preocupe, D. Alma. Não pretendo me jogar de cabeça num relacionamento, logo após sair de outro. Só estamos aproveitando a companhia da outra. E Dakota realmente tem me ajudado muito.

Dona Alma permaneceu com o olhar desconfiado. A filha era adulta e já não podia interferir na sua vida, nem por isso se preocupava menos.

— Que seja! Mas vocês ficarão até amanhã. De jeito nenhum irão pegar a estrada durante a noite.

Meia hora depois, quando Isadora abriu a porta, ficou surpresa. Dakota sorriu, divertida com a inspeção que ela fez.

— Não precisava ter se vestido assim para conhecer os meus pais.

— Bom, não é todo dia que me apresento para a família de uma mulher que estou a fim — piscou, charmosa. — Mas a verdade é que precisei ir à reunião que te falei e não ficaria bem aparecer por lá de jeans rasgado e camiseta.

— Bom, me permita dizer que você está…

— Diferente? Gata? Com cara de segurança de shopping?

— Eu ia dizer “gostosa”. Mas agora vou te chamar de palhaça mesmo.

Dakota riu. Usava um terninho azul-marinho de três peças. A calça era de modelagem reta, enquanto o blazer e o colete interno eram acinturados. Os cabelos estavam perfeitamente alinhados e quando ela sorriu, Isadora notou que usava um tom discreto de batom.

— Bom, pelo menos você está parecendo séria o suficiente para passar pela inspeção da minha mãe — indicou o caminho.

— Ela não pode ser tão assustadora quanto o meu ex-sogro — brincou. — Você sabe, ele era um mafioso.



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