Cárcera saiu do quarto sem esperar que os guardas entrassem. Fira caminhou até a porta e cada guarda a segurou por um dos braços. Mesmo que ela caminhasse para acompanhá-los, eles a forçavam para arrastá-la pelo corredor. Quando chegaram na sala, jogaram a duquesa no chão com força. O duque havia sentado à mesa e o conde Koch Dinamark, ou apenas Dinamark como Fira o chamava, sentava-se ao lado do duque. Ela se levantou, espanando a roupa. Os dois riram da situação.
— E agora? Quem está sendo rude, duque? Da forma que me repreendeu no quarto, milorde, está bem aquém da gentileza de um nobre. – Olhou para Dinamark. – Vejo que a companhia de um homem lhe agrada mais, conde Dinamark.
O sorriso do ex-aliado da duquesa morreu e ele se levantou de súbito, sendo segurado pelo duque. O conde olhou Fira com raiva e arfante.
— Em breve não terá mais esta empáfia toda, Fira! – Bufou.
— Calma, Dinamark. Em breve Líberiz mudará de nome e você será o duque do ducado de Dinamark.
Fira sorriu, diante do que Cárcera revelava. Ele era muito mais que presunçoso, na opinião dela. A duquesa não podia dizer que também não tinha um ego inflado, entretanto, tomava cuidado nos planos que orquestrava. Dinamark era muito mais displicente do que imaginava.
— Então isto foi o que prometeu para Dinamark, meu irmãozinho?
A duquesa perguntou, enquanto se sentava à mesa. Viu que os dois homens expressaram espanto. Ela tinha vontade de rir. Era patético acharem que o pai nunca tivesse contado a história de Damian Líberiz e sua mãe.
— Então nosso pai não cumpriu o que prometeu a mim. Faz bem o “tipo” dele. Mais uma traição.
Fira deu uma grande gargalhada que os confundiu. Parecia que ela não trazia qualquer temor pelo que lhe aconteceria.
— Quem são vocês dois para acusarem Virtus Líberiz de traição? Nosso pai sabia que diante do que você fez e do ódio que levava consigo, não mudaria, Damian.
— Damian já não existe mais!
Fira acenou com a cabeça, em aceitação. Era verdade. Damian Líberiz não existia mais para ela, ou para ninguém naquele reino. Virou-se para Dinamark e o encarou.
— Quanto a você, Dinamark, um dia meu pai me deu um conselho muito interessante. Disse para eu trazer a serpente para o meu lado, de modo a vigiá-la, mas que nunca tirasse os olhos dela.
— Pelo visto, se esqueceu do conselho, então. Você me via como uma serpente? Ultimamente, acho até que sim, diante dos últimos movimentos que fez para que a princesa retornasse em segurança.
Fira fechou as pálpebras, por instantes, e inspirou. Reabriu, soltando o ar dos pulmões, voltando a encará-los. O cansaço de viver sob a ameaça de que, um dia, pudesse ser pega por seu meio-irmão e por Dinamark, enfim acabara.
— Por que tanto ódio de minha mãe, Cárcera? A morte de sua mãe foi por doença. Ela já havia morrido há muito tempo. Por que se incomodou tanto com o casamento de nosso pai com a minha mãe?
— Ah, entendo. Você se questiona por que matei sua mãe assim que você nasceu? Não fique com inveja, eu mataria você também. Só não deu tempo. – Cárcera sorriu. – Virtus Líberiz voltou de viagem, subitamente, e foi direto ver a mulher e a filhinha que acabara de nascer. – Falou com desprezo.
— E você acha que ninguém desconfiaria de você, se nosso pai não o tivesse pego em flagrante?
Fira perguntou, enquanto pegava uma jarra de água, enchia um copo e bebia. O sedativo a deixou com sede e não sabia se o meio-irmão deixaria que dessem água para ela na cela.
— Acho. Se ele não tivesse chegado, tinha tudo planejado. O problema é que ele me pegou com a adaga ensanguentada na mão, e eu ainda desferia alguns golpes na barriga da puta.
Gargalhou, vendo Fira, pela primeira vez, transparecer raiva através do olhar.
— Entendi que tinha ciúmes, mas a esse ponto? Estragou sua vida, Cárcera, e quase arruinou Líberiz. Nosso pai gastou todos os fundos do ducado, na época, para comprar estas terras que pertenciam diretamente a Alcaméria e se comprometeu com o pai de Deomaz, para constituir um ducado para você. Comprou o silêncio dele, se abaixando para qualquer loucura que ele fizesse. Nem assim, você levou isto em consideração? Não passou pela sua cabeça que ele te amava?
— Virtus Líberiz me amar? Não, minha querida irmãzinha. – Falou com sarcasmo, como ela havia feito anteriormente. – Se ele me amasse, passava por cima e via que eu tinha feito um bem enorme para ele, matando aquela puta. Eu vi o que ele estava fazendo no ducado e no reino. As mudanças das leis vieram por conta da vadia da sua mãe, que o enfeitiçou. Ele começou a articular com os outros ducados e reivindicar junto à coroa.
— Essas mudanças de leis eram necessárias. – Fira tentava manter a calma.
— A liberdade de escravos seria a ruína. Alcaméria poderia prosperar muito mais com os escravos.
— Tanto não foi a ruína, que salvou o reino de uma rebelião, depois daquela guerra insana. Não existia mais exército em nenhum ducado. Quase todos os homens morreram e muitos ducados chegaram a ter problemas com os escravos.
— Ele ainda conseguiu que vagabundas, como você, se casassem com outras mulheres e “maricas” se escondessem dentro das calças de outros homens! Esta lei salvaria o reino da pobreza, também?! – Gritou.
Fira parou de falar. O homem estava fora de si. Para a duquesa, não era o ódio pela mãe que fazia Cárcera daquele jeito. Ele era um homem frio, egocêntrico, perverso e egoísta. Um doente, na verdade.
— Tem razão, Cárcera. Eu sou uma vagabunda que não está à altura de comer na sua companhia. – Olhou para Dinamark. – E você, infelizmente será enforcado. O ducado de Líberiz não levará seu nome.
— E ainda falam, por aí, que eu sou prepotente. – Cárcera a olhou com fúria, batendo na mesa. – Você vai comer onde eu quiser, sua cadela! – Gritou. – Eu só não mato você agora, porque ainda preciso arruinar seu nome perante a todos. – Calou-se, por segundos, e se acomodou novamente na cadeira. – Eu tenho muitos braços em Alcaméria. A princesa Cécis não será um empecilho.
— Cárcera…
Dinamark, que até então estava calado e apenas observava os dois, interferiu para que o amigo não falasse mais do que devia. O conde estava cismado com as reações que via em Fira. Ela se mantinha fria e observava tudo. Dinamark conhecia a duquesa desde criança e sabia que raramente ela expunha suas cartas. Entretanto, a situação em que se encontrava, deveria tê-la abalado, ao menos um pouco.
— Cale a boca, Dinamark! Você não conseguiu obter nem a informação dessa articulação dela com os ducados! Agora Cécis retornou e Deomaz arrumará alguém para colocar a culpa. A imagem dele está ruim!
Fira se esforçou para prender o sorriso diante da reprimenda que Dinamark levou do amigo esnobe. O duque era um vulcão adormecido, que poderia explodir a qualquer momento.
— Cárcera, eu a conheço! Ela esconde alguma coisa, não vê?
— Preocupado, Dinamark? – Fira perguntou, sorrindo para ele. – Não articulou bem o meu sequestro?
Cárcera a olhou e viu o sarcasmo das palavras. Fitou-a para perceber algo por trás das palavras da meia-irmã.
— Você é um imbecil, Dinamark. Não vê que ela está jogando com você? Sempre disse que ela era dissimulada e escondia muito bem as emoções.
— Então era esse o conceito que tinha de mim, Dinamark? Interessante… – Fira continuou a provocar o conde.
— Cale a boca, Fira. Seu sorriso vai morrer quando for enforcada. Isso é o que te espera. Um enforcamento em praça pública!
— Somos irmãos, mesmo. – Falou irônica. – Sabe que esse é o mesmo desejo que tenho em relação a você?
— Pois eu vou conseguir e você não. Vou me casar com a irmãzinha de Cécis e você será pendurada como comemoração de nosso casamento. Sinta-se honrada. Será meu presente pessoal.
— Isso, se o rei Deomaz se livrar das desconfianças dos ducados, Cárcera. Ou acha que não levantou suspeitas sobre a ação no retorno da princesa Cécis? Se permite que eu opine, a morte dela possivelmente piorou a situação de Deomaz. – Sorriu cínica.
Apesar do sorriso, Fira estava aflita, desde que soube que Cécis tinha sido atingida por uma flecha. Queria saber as condições em que a princesa se encontrava. Foi raptada na mesma noite e não teve conhecimento a respeito da chegada da princesa em Alcaméria, através de seus aliados.
— O rei Deomaz é um imbecil. Faz as coisas sem falar com ninguém, mas acredite, quando tudo acabar, até ele será morto por traição. Cécis ainda não morreu, mas estará junto com vocês nos sete infernos, em breve.
Graças aos Deuses! Cécis está viva…
Fira não podia mostrar seu alívio ao saber que a princesa não havia morrido. Foi como um bálsamo revigorante.
— Então é isso que planeja? Fazer com que Deomaz leve a culpa pelo atentado? Agora entendo. Você tentará matar Cécis dentro do palácio de Alcaméria para reforçar a culpa dele e ele já carrega uma fama que o torna suspeito. Isto não é difícil, visto que lá dentro só tem víboras. O difícil será colocar alguma culpa em mim, por algo que eu tenha feito.
— Não seja presunçosa. Nem todos são seus amigos e aliados. Tenho alguns ducados a meu favor, também.
— Sabe, eu tenho outra curiosidade. Como ninguém nunca te reconheceu? Você era o herdeiro de Líberiz. Acaso não se importe em me dizer, é claro. Afinal, eu vou morrer mesmo.
Dinamark voltara a ficar calado e observava a interação dos dois. Ele conhecia a duquesa e Cárcera estava subestimando a sagacidade da irmã. O conde não gostava da conversa, mas não voltou a interferir. O amigo era explosivo e impetuoso e achava a irmã convencida, porém ele também era prepotente.
Fira era uma mulher astuta. Se houvesse a mínima chance dela fugir, o faria, e Dinamark poderia apostar moedas de ouro que ela conseguiria, se a vigilância fosse falha.
Qualquer deslize dele, ela tentará escapar. – Pensou o conde.
— Como você, nosso pai nunca gostou de frequentar a corte. Fui duas vezes às recepções quando era criança. Na época que tudo aconteceu, eu era apenas um meninote. Quando retornei, o ducado de Cárcera já havia sido construído. Eu era um homem feito, diferente do garoto que deixou Líberiz. Durante muitos anos tomei cuidado para não me encontrar com Gerot e Kendara, que eram os mais próximos de nosso pai. Hoje, sou um homem muito diferente. Não se esqueça de que se passaram vinte e seis anos.
— Entendo. Eu tinha curiosidade de saber como você era. Meu pai disse que você tinha os cabelos ruivos, como os de sua mãe. Hoje, você tem os cabelos castanhos.
— Existem umas loções incríveis que vocês mulheres usam para mudar essa condição da cor dos cabelos. – Ele riu.
— Bom, eu compreendo que queira destruir meu nome, antes de me levar para a forca…
Fira deu mais uma garfada na ave assada que haviam servido. Passou a se alimentar quando soube que ele não desejava matá-la de imediato. Tinha que manter as forças enquanto cativa e não sabia quando comeria novamente. Com certeza, Cárcera não a alimentaria adequadamente. Mastigou e engoliu o assado.
— Então, devo me preparar para uma sessão tortura, enquanto estiver aqui?
— Você me toma por um homem ingênuo, Fira. Eu fui ingênuo uma única vez em minha vida e aprendi a lição. Embora me desse muito prazer em torturar você, não cometerei o mesmo erro de outrora. Você será entregue inteira para as autoridades de Alcaméria. Não serei acusado de maus tratos, por seus amigos de alguns ducados, e você será acusada de um crime bem grave.
Fira estreitou os olhos. Os únicos que crimes que poderiam levá-la à forca seria traição à coroa e assassinato. Mesmo o assassinato, dependendo das condições que fosse praticado, seria contestável, porque ela era uma nobre.
Será que Cárcera e Dinamark sabem de alguma coisa do que eu e Cécis fizemos?
— Bom, vejo que já jantou. Está na hora de voltar para sua cela.
Fira retornou ao quarto arrastada pelos guardas. Cárcera poderia não querer torturá-la ou matá-la, mas certamente sofreria inúmeras humilhações. Seu irmão era mais explosivo do que imaginava e esse fato lhe deu uma pequena vantagem.
Em Alcaméria, na mesma noite do sequestro da duquesa, Cécis passou ainda febril e delirante. Dólias deitara junto a ela, para descansar, entre as horas em que dava o antídoto para a princesa. Na alta madrugada, a herdeira acalmou a febre e dormiu tranquilamente. A princesa mais nova e Pátiz, escutaram um barulho vindo da sala de banho. Levantaram-se alarmadas. A guarda pessoal de Cécis desembainhou a espada e se colocou na frente da cama.
— Corra até a porta, princesa, e chame os guardas do corredor! – Sussurrou Pátiz.
Dólias foi ágil. Quando abriu a porta, viu que Britta não estava. Colocou a cabeça para fora e olhou ao longo do corredor. Não havia ninguém. Voltou para dentro, trancando a porta e vasculhando a antessala, na penumbra de uma vela que ainda não apagara.
Procurava algo para se defender. Correu até o sofá e pegou a espada de Cécis. Diferente do que todos pensavam no castelo, durante as manhãs, a princesa praticava esgrima com Britta dentro de seus aposentos. Depois da morte da segunda esposa do pai, nunca se sentiu segura.
Retornou com a espada em punho, livrando Pátiz de um dos agressores que invadira o quarto, fincando a espada em seu dorso, fazendo o homem desabar no chão. Eram três e a guarda pessoal estava com dificuldades.
Dólias foi inclemente. Não esperou para que se virassem para ela. Estocou outro, também pelas costas, e o terceiro caiu no chão pelas mãos de Pátiz. Pararam, observando os corpos e o vermelho rubro se espalhar pelo piso. Dólias passou a mão pela testa. Pátiz se virou para ela agradecida, mas trazia no olhar questionamentos.
— O que foi, Pátiz? Achava que eu era uma princesa delicada e indefesa? – Sorriu sem muito ânimo. – Depois que a gente cresce, vendo mortes na família provocadas pelos nossos familiares mais próximos, aprendemos cedo que devemos nos defender.
— Certo. – Sorriu encabulada. – Acha que foi a mando do rei?
Pátiz não queria ser insolente, mas agradecia imensamente a irmã de Cécis.
— Tudo é possível, Pátiz. Não acredito que ele seja tão idiota, a ponto de executar um segundo atentado em menos de dois dias, mas meu pai não é conhecido pela inteligência estratégica, então… – Encolheu e relaxou os ombros.
As duas estavam de costas para a cama e não viram quando Cécis acordou no meio da luta e observou o que ocorria. Estava fraca, mas a consciência voltara e viu que a irmã, que sempre criticara suas atitudes, a defendia. Lembrava-se, também, em alguns momentos durante a febre, ver a irmã lhe dando remédio, falando palavras de incentivo e fazendo a vigília.
— Por que está fazendo isso por mim, Dólias?
A princesa mais nova e a guarda se viraram e, depararam-se com Cécis desperta, apoiada no espaldar da cama.
— Você pode não acreditar, mas não quero que você morra. – Falou com visível sinal de cansaço.
— Está começando a achar que o trono não vale a pena? – Cécis perguntou irônica.
— Isso eu sempre soube. A vida em Alcaméria é um inferno, principalmente com as imbecilidades de nosso pai. De qualquer forma, não quero que mude sua opinião sobre mim. – Falou displicentemente. – Assim fico longe de tudo. Não quero dormir e no dia seguinte não despertar. Sempre tentei ficar longe das atenções, o que se tornou impossível nos últimos tempos. Você recusar o casamento com Cárcera, fez nosso pai olhar para mim.
— Está querendo me convencer que o trono nunca foi seu objetivo?
— Não quero convencer ninguém. De qualquer forma, ainda está viva e isso é o que importa para você, contudo estes três corpos aqui no quarto darão o que falar. Como eles entraram? Não foi pela porta e isso eu tenho certeza. E, não entendo por que Britta não está de prontidão, fazendo a segurança. Não tem ninguém no corredor.
— Me ajudem. – Cécis tentava se levantar. Estava zonza. – Eu tenho uma ideia de como entraram, mas pensava que só eu sabia dessa passagem.
Caminhou até o quarto de banho apoiada por Pátiz. Lá estava. O armário onde guardava seus produtos de higiene estava deslocado. Todas se encaminharam até ele e viram uma pequena passagem aberta. Mal dava para uma pessoa passar de cada vez.
— O que é isso? Onde vai dar?
— Essa passagem leva até o quarto ao lado. Descobri há um ano.
— Entendo… Este palácio está na família há muitos séculos. Suponho que existam passagens em vários lugares que desconhecemos.
— Nós, talvez, mas pelo visto, nosso pai deve conhecer muitas.
Enquanto falavam, Pátiz se embrenhou pela passagem para ver se o outro quarto estava seguro. Retornou e as chamou.
— Acho que deveriam ver isso.
Dólias passou primeiro, com certa dificuldade. Estava de vestido e se atrapalhava. Cécis bufou. Tinha dor na perna, por conta da flechada, contudo conseguia se movimentar. A flecha passou de raspão e o estrago real fora feito pelo veneno. Ela era mais alta que Dólias e teve que se agachar um pouco, entretanto passou sem muito esforço. Quando chegou no outro lado, viram Britta jogada no chão e uma poça de sangue em volta da cabeça.
— Pelos Deuses, Britta!
Dólias exclamou alarmada, se ajoelhando ao lado da guarda. Os olhos começaram a marejar. Cécis se adiantou, agachando com dificuldade ao lado da irmã, vendo o quanto ela se abalara. Podia não ser chegada a Dólias e desconfiar dela, no entanto não a odiava. Se compadeceu. Verificou o corpo e percebeu que Britta ainda estava viva.
— Pátiz, traga o mestre-curandeiro. Ela ainda está viva.
— Eu não vou deixá-la sozinha, milady!
— Faça o que eu digo, Pátiz. Eu ficarei bem e não mandarão ninguém aqui de madrugada. Quem fez isso, acha que estou morta a essa hora. Esperarão até o amanhecer para verificar. Vá com cuidado se esgueirando. Não deixe que ninguém a veja.
— Não há guardas no corredor. Provavelmente ordenaram para que se retirassem desse lado do palácio, para facilitar a investida. – Completou Dólias.
O quarto estava iluminado. Os homens deixaram as velas dos candelabros acesas. Cécis se levantou e caminhou pelo quarto, olhando tudo. Havia alguns pergaminhos espalhados em cima de um aparador, próximo a passagem.
— Este não foi o quarto que Lady Fira ficou?
— Sim. – Cécis olhou para Dólias. – Fui eu quem a colocou aqui. Não olhe assim. Ela não tinha como saber onde a colocaríamos e não viu esta passagem. Tenha certeza de que não foi ela.
— Não estou desconfiando dela. Aliás, de todos os duques, é quem mais admiro. Só que agora percebi por que você insistiu para que a colocassem aqui.
Sorriu, balançando a cabeça negativamente. Cécis ficou ligeiramente rubra, diante da irmã, mas a acompanhou no sorriso.
— Isto está ficando cada vez pior.
Cécis falou ao abrir os pergaminhos. Dólias se levantou, reticente. Não queria deixar a guarda jogada no chão, contudo temia mexer e machucá-la. Ela tinha apreço por Britta. Depois de tanto tempo, a guarda passou a ser a única amiga, verdadeira, que a princesa tinha. Seguiu até o aparador onde Cécis se encontrava.
— Deuses! São plantas arquitetônicas de todo o palácio!
— E bem detalhadas. Olhe isso.
Cécis apontou os quartos do corredor das princesas. Dólias olhou com mais apuro.
— Eu não acredito! Tem passagens escondidas por todos os lugares. Deixa-me ver aqui. – Pegou e olhou o quarto que era dela. – Tem uma no meu quarto também! Eu não vou mais ficar lá! – Falou apavorada.
— Veja este. Ele não tem passagens para outros cômodos. Só há uma passagem para fora do Palácio.
— E é para lá que vou me mudar.
— Ei! Quem está sofrendo atentados sou eu! – Ralhou Cécis.
— E acha que se matarem você, quem vai ser a pessoa a casar com Cárcera? Isso, se os ducados não fizerem uma rebelião e não matarem a todos aqui dentro.
— E não quer se casar com ele? – Cécis perguntou em espanto.
— Lógico que não! Aquele homem me dá arrepios. Acho que ele é pior que nosso pai. Pensa que sou desmiolada?
Cécis se abismava com as reações da irmã. Não sabia mais o que pensar sobre o que estava acontecendo e em quem confiar.
— Dólias, se não é você que quer se casar com Cárcera, quem é então? Quem meu pai está querendo colocar no trono junto com Cárcera?
— E por que eu deveria saber? Meu pai nunca falou mais que uma frase comigo, ao longo de um dia inteiro. Você acha que se a matarem, ele se importaria em perguntar para alguma de nós quem se casaria com o crápula? Ele não quer saber o que queremos. Empurrará para mim, porque sou a próxima na linha de sucessão e pronto.
— Nada está fazendo sentido. – Cécis balançou a cabeça. – Como vou confiar em você?
— Não fiz nada para que você confiasse. Faça como eu. Não confie em ninguém!
— E por que você cuidou de mim?
— Já falei. Fiz porque eu não sou burra e, também, porque não odeio você. Se você morrer, eu sou a segunda herdeira. Tudo vai sobrar para mim, além de não acreditar nas asneiras de nosso pai. Os ducados têm força e, hoje, não estão gostando do que o rei anda fazendo.
Dólias forçou, propositalmente, a entonação da palavra rei. Cécis inspirou. Não facilitaria para a irmã, ou acreditaria cegamente nessa história mal contada, no entanto, teria a irmã por perto para observá-la. Reparou que ela estimava Britta e vice-versa. A guarda pessoal certamente ficou no caminho dos assassinos e eles não deixariam de fazer o trabalho para o qual foram contratados.
Pátiz retornou com o mestre-curandeiro. O homem ficava cada vez mais aterrorizado. Em uma única noite fora ameaçado pelo rei, pela princesa Dólias e agora, a guarda pessoal dela estava estirada no meio de um quarto, sangrando.
Atendeu a mulher. Viu que o corte na cabeça sangrara muito, mas ela estava estável. Alguém a atingira com força, contudo, não fraturou nenhum osso. Teria uma dor grande e precisaria de repouso e observação. Fez curativo e deu instruções de como cuidar da mulher.
Dólias falou para o homem ficar calado sobre tudo que viu. Ele não pretendia fazer de outra forma. Na concepção do velho homem, o palácio ficou perigoso demais para qualquer um que abrisse a boca. Não ficaria ali, nem mais um minuto. Tentaria fugir de Alcaméria àquela noite mesmo.
Misericórdia só piora.
Oi, Marta!
Olha, vou te dar uma dica: Leia o próximo e me diz o que achou. Depois você me conta se gostou. rs Mas é trato, ok? rs Ele entrou hoje.
Obrigada, Marta!
Um beijão pra ti!
Nossa! tá cada vez pior isso, na certa é não confiar em ninguém e nem a si próprio, que é capaz de vc mesma se trair.
Belo capítulo Carol!
Beijos bom fds pra vc e sua família
Oi, Blackrose!
“na certa é não confiar em ninguém e nem a si próprio”. É bem por aí, menina! kkkkkk Mas não quer dizer que tudo esteja perdido! rsrsrs
Eu tava com saudades de vocês. Gente, como é ruim ficar limitado no que a gente gosta de fazer. Mas tá passando.
Brigadão, pelo carinho de sempre, Blackrose!
Beijão pra você e os seus!!!