Hoje sentei em nosso quintal, a lua crescente surgindo no céu, e ela foi encoberta pelas nuvens.
Curiosa, fui olhar a previsão do tempo para ver se a sonhada chuva se aproximava.
Nada. Nem em sete dias, uma gota de água estava próxima de nosso quadrado. A umidade do ar é cada vez menor, provocando uma sensação de sufocamento.
De repente, ela apareceu. Meu peito clareou, como se ela pudesse iluminar a pequena escuridão que se fazia em meu peito. Nada feito. Ela sumiu novamente.
Olhei de novo para o céu e pra dentro de mim. Com muito custo, após algumas doses, consegui falar o que realmente tinha tentado dizer a noite toda: Apesar de estarmos juntas há quase meia existência, era muito pra mim, naquele momento, estar ao seu lado.
O que eu gostaria realmente de poder dizer era: Eu precisava de ajuda para lidar com você neste momento.
Sozinha, eu era só o céu nublado. Não tinha nenhuma vista bonita ou esperançosa a te oferecer.
Após uma ida ao banheiro, parei pra pensar, e nosso relacionamento veio como um raio em minha mente. Será que todas as pessoas que estiveram ao nosso lado por tanto tempo tinham essa função? Será que nunca conseguimos realmente lidar uma com a outra e nos escondemos atrás dos colegas, amigos?
E depois de quase dois anos de Pandemia, quando nos abrimos brevemente para o mundo, a realidade é escancarada aos nossos olhos?
Será que estamos na mesma página? Será que algum dia estivemos?
A tristeza de não estar onde eu deveria estar me toma. Uma culpa que se arrasta há quase uma década dentro de mim.
O que eu queria nesse momento? A leveza, o encontro. O jogo. Sim, eu gosto dele. É uma parte do que mantém minha energia viva. Eu preciso disso.
Acho que nem consumiria tanto álcool se jogasse mais. Talvez fosse meu vício. Não sei.
A “cachaça” me acompanha desde os 13. Foi a coragem, o consolo, a companhia. Muito triste ler o que escrevi agora e ver que algo esteve mais ao meu lado que alguém. No caso, eu mesma.
De família, acostumada a creditar os outros as responsabilidades, agora é meio desconfortável pensar que uma parte do todo é minha mesmo.
É claro que existe a cultura da bebida, entre a revolta da adolescência, e tudo mais. O punk.
Sweet and sour a música diz: doce e azeda. Sim, essa sou eu desde sempre.
Dormir é fácil. Difícil é ficar acordada e lidar consigo mesma, com seu azedume da vida, com a vontade de sair correndo,com a vontade de morrer.
Don’t go crazy (não enlouqueça) a música diz. Os dentes tentam trincar. Eu tento empedir.
Eu só quero ficar aqui sozinha mais um pouco. Daqui a pouco o surto passa e eu volto à vida comum. Dita normal.
O apito do microondas me diz que não estou só. O gato mia. O céu continua nublado. O frio bate.
Um moletom resolve. Uma história virtual ameniza. Traz conforto, esperança de que o futuro não será igual. Apesar de não haver sucessão, e isso não ser uma questão.
Não quero ser o cão de estimação de ninguém. Hoje eu sei que seria dolorido estar só, mas que seria possível. Na verdade, sempre foi. Eu que não quis enxergar.
A perecibilidade traz um novo tom a tudo. A possibilidade do fim por si só. A mortalidade. De fato, sempre fomos mortais. Só nunca estivemos tão perto do fim. Ou não.
Porém, a possibilidade nos faz pensar. Olhar o céu nublado. Enxergar a lua crescente, tímida, que aparece nele.
E ver que a vida não é oito ou oitenta. Mesmo neste momento, e principalmente por causa dele, precisamos de empatia.
Amanhã será um novo dia. O sol irá brilhar. Assim esperamos! Tudo será conversado, os problemas resolvidos. E a trilha sonora da vida continuará a tocar.
FIM!
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