PARTE FINAL
Uma semana depois, Andrea soube que Carmem havia viajado depois da formatura dela, que havia sido no ano anterior e já fazia pós.
Com a ajuda do pai, dois meses depois de formada, Andrea começou a trabalhar.
Mais dois anos se passaram e Andrea, Ivete e Josie se encontraram para a noite do “clube da Luluzinha”, a fim de comemorar o aniversário de Ivete. Era um costume; faziam isso nos aniversários das três. Ivete e Josie estavam trabalhando na área e fazendo pós. Andrea pensou na possibilidade também, mas precisava encontrar tempo.
– Hei! Olha lá, Ive, não é a namorada da Carmem? – Josie perguntou.
– É mesmo! É a Heloisa. – Ivete afirmou.
– Namorada da Carmem? Ela é … hã … lésbica? – Andrea quis saber.
– É! Não sabia? Por isso que o Jorge implicava com ela e botava a culpa nela pela irmã dele. – Josie respondeu
– Pois é! E mesmo depois da ajuda que Carmem deu à irmã, quando ela ficou “acabada” com a pilantra da Soraya, fez ela voltar a viver, sair e voltar a sorrir, ele a desculpou. Uma desculpa que ela nunca precisou porque não fez nada pra Clarissa, só deu amizade e bons conselhos que ela não quis ouvir. – Ivete complementou.
Andrea ouvira tudo sem conseguir desviar os olhos da tal Heloísa, uma morena bonita e de quem ela, sem querer, estava com ciúme.
– Ela é bonita, não é? – Andrea quis saber a opinião das amigas
– É, sim, mas você é mais e aposto que não é pela beleza que ela se tornou a namorada de Carmem. – Ivete rebateu.
– Por que foi, então? – A loira continuou.
– Ela é crânio em comunicação. Gostou de Carmem, deu em cima e conseguiu. Trabalha no jornalismo de tv fechada. – Josie explicou
– Que foi, Andrea, tá tudo bem? – Ivete se preocupou.
– Tá! Por que não estaria? – Andrea disfarçou.
– Você está meio esquisita! – Josie falou.
– Eu? Não, tá tudo bem. – Andrea dissimulou novamente.
– Oi, meninas! Não tinha visto vocês. Como estão? – Heloísa cumprimentou.
As duas se levantaram cumprimentando-a com beijinhos e apresentaram Andrea que a achou, infelizmente, super simpática.
– Carmem não está com você? Ela me ligou hoje, mas não disse se iria sair. – Ivete indagou
– Infelizmente, não estamos mais juntas. Não por mim, mas ela não me amava. A gente tentou, foi bom, porém ela não conseguiu esquecer o primeiro amor. Fazer o quê? – Heloísa informou.
Andrea sentiu um alívio enorme, sem saber exatamente porquê e mudou a atitude com Heloisa.
– Que pena! O amor tem lá seus caprichos! Logo você terá alguém que a ame, vai ver. – Josie consolou.
– Não tenho pressa! Melhor ter certeza, antes de me envolver pra não quebrar a cara, de novo. Bom, já vou, que tenho um encontro de trabalho logo ali, daqui a pouco. Beijos. – Heloísa apontou uma mesa.
Despediram-se e antes mesmo de Heloisa chegar à mesa, uma artista conhecida se aproximava. Cumprimentaram-se e se sentaram.
– Será que fica chato eu pedir um autógrafo? – Josie quis saber.
– Com certeza! Sossega aí que é uma entrevista, é trabalho e você não vai atrapalhar. Aqui é um lugar seleto, por isso alguns artistas vêm aqui pra poder curtir sem tietagens. E aí, Andrea, bateu um ciuminho? – Ivete mexeu com a amiga.
– Que? Ciúme do que!? – Andrea se assustou.
– Nada, não. Esquece! – Ivete disse sorrindo.
Computador de última geração, papéis espalhados, super concentrada em sua mesa:
– Oi, avoadinha! – Carmen mexeu.
Com o susto quase caiu da cadeira, e alguns papéis foram parar no chão.
– Carmem! – Andrea se surpreendeu.
– Tudo bem contigo? – Carmen perguntou.
– Ahhhh tá, sim! E você, como vai? – A loira continuou.
– Bem melhor agora! Não sabia que te encontraria por aqui. – Carmen falou.
– Ah, você vai fazer a campanha de publicidade sobre o novo produto da empresa? – Andrea quis saber.
As palavras saíram num só fôlego. Aquela sensação de euforia, agora sabia, mais intensa que nunca, a recordação do cheiro, a vontade de abraçá-la e, claro, o não saber o que fazer.
Carmem, como sempre, resolveu por ela.
– Continua brava comigo? – Perguntou.
– Eu? Claro que não! Por que achou isso? – Questionou Andrea sem entender.
– Depois de um tempão sem me ver, não se dispôs a me dar um abraço? – Reclamou Carmen.
Levantou-se rápido, derrubando mais alguns papéis, obviamente, e fez o que queria muito. Um abraço caloroso, gostoso que tinha o poder de fazê-la esquecer o tempo.
– Já se conhecem?
Separou-se dela sem vontade.
– Boa tarde, chefe! Já sim, estudamos no mesmo colégio quando vim do sul. – Andrea explicou.
– Que bom! Sempre fazem nossas campanhas, no entanto, como agora é produto novo, Carmem veio ver as especificações, conhecer bem desde o início da fabricação e como você está ligada a ele, pode explicar melhor. Queremos uma campanha de primeira. Mostre tudo a ela. Até mais. – Pediu o chefe, se despedindo.
Passaram a tarde falando de negócios, metas, campanha, o melhor ângulo para o mercado. Mesmo assim, Andrea adorou aquele tempo ao lado dela.
– Quer jantar comigo? – Convidou Carmen
– Quê!? – Andrea engasgou na resposta.
– Já entendi. Bom, foi um prazer. Até qualquer hora. – Carmen disse com um sorriso diferente.
– Já vai? – Andrea indagou.
– Já atrasei teu trabalho, vi que tua mesa está lotada e já que não quer mais minha companhia, estou indo. Ciao! – Despediu-se Carmen.
Um beijo macio na face de Andrea e saiu.
Como dizer que queria sim ir jantar com ela, queria mais sua companhia, seu cheiro, seu abraço, mas só não sabia porque ou como, ou …. “ahhhh, deixa pra lá, tá na hora de ir pra casa”.
No tempo que durou a elaboração da campanha, não mais se encontraram sozinhas, sempre tinha mais alguém da empresa de Andrea e alguém que vinha com Carmem.
Depois de algum tempo, Andrea começou a namorar um rapaz de sua turma de pós, havia finalmente conseguido organizar seu tempo para o curso. O rapaz era bonito, parecia diferente dos namorados anteriores. Não quis levá-la para cama depois de meia hora de papo, era carinhoso, um bom amigo. Pensou que finalmente havia encontrado o cara ideal.
Saiam sempre que tinham tempo -ele mais que ela. Cinema, teatro, shows, estava se divertindo com ele e depois de 8 meses, percebeu que eram excelentes amigos, sem nenhuma paixão.
– Andrea, queria te pedir um favor. – O rapaz pediu.
– Claro, Ronaldo, pode pedir! – Andrea foi solícita.
– Queria te apresentar para minha família como minha namorada. – disse Ronaldo.
– Sério? – Andrea perguntou.
– Sério. Talvez façam perguntas inconvenientes, principalmente meu irmão, sobre futuro, casamento, filhos. – Ele se apressou em explicar.
– Mas nunca falamos sobre isso! – Ela exclamou.
– Esse é o favor. Se você falasse …. que estamos planejando, largariam do meu pé. – Ronaldo suplicou.
– Seria uma mentira! – Andrea se exasperou.
– Bom … é que estou cansado de certas conversas, interferências na minha vida, enfim … você sabe como é! – Ronaldo tentou se explicar
– Não! Eu não sei o que ou do que você está falando! – Andrea disse confusa.
– Andrea, você já namorou alguém como eu? – Ronaldo perguntou.
– Não. Você é um cara diferente! – Ela falou
– Muito diferente de seus outros namorados, não é? – Ele insistiu.
– É sim! Mas o que isso tem a ver com tua família? – Andrea quis saber.
– Na real! Você nunca percebeu? – Ele perguntou divertido.
– Percebeu o que, Ronaldo?
– Eu sou gay, Andrea! Não sou “desbundado”, não fico dando bandeira, mas o pessoal está sempre me enchendo e eu tento disfarçar pra todo mundo, mas não com você. Por isso achei que já tinha percebido e ficamos amigos à beça! – Ronaldo esclareceu.
– Eu … eu … não sei o que dizer!
– Andrea, tem alguém que você amou ou ama? – ele sondou.
– Acho que não. – Andrea respondeu.
– Acha? Essas coisas a gente não acha, a gente sente! – Ronaldo a pressionou.
– Eu não sei! – Ela exclamou.
Realmente, não sabia. Ficara com vários rapazes, namorara, fizera sexo com uns … 4, mas nada especial. Na verdade, só tesão passageiro.
– Quantos anos você tem? – Ronaldo inquiriu.
– Vinte e seis. – Andrea falou.
– Então se não sabe, é porque ainda não sentiu. – Ele disse.
Continuaram conversando, ela disse não à proposta dele sobre a mentira para a família. Ela até iria com ele para apoiá-lo, se resolvesse deixar tudo às claras, todavia não para a mentira. E, de repente, queria saber mais sobre o mundo do amigo, dos lugares que ia sem ela.
No sábado, foram a uma boate gay, mais ou menos seleta, já que a consumação não era das mais baixas, o que exigia que os clientes tivessem uma condição econômica razoável, o que não queria dizer que fossem “melhores”, apenas com situação econômica estável.
Estava dançando com Ronaldo, sentindo-se muito paquerada, quando olhando em volta por sentir algo, a viu. Elegantemente vestida, com uma bela mulher “grudada” nela. Gelou! Por um momento, quis ser ela ao lado dela, para logo em seguida, querer bater naquela mulher que a abraçava e em seguida sumir dali antes de ser vista. Abaixou a cabeça sentindo vontade de chorar e disse a Ronaldo que iria embora.
– Que foi? Está com vergonha? – o rapaz indagou
– Não! Vi alguém que não estava prevenida pra ver. – Ela tentou se explicar.
– Ué! Então é alguém que te fez mal? – Ronaldo insistiu.
– Não sei o que fazer e isso me atormenta. Por favor, eu vou embora, pode ficar. Outro dia volto com você, mas agora preciso ir embora. – Andrea disse, por fim.
– Tá bom, mas só uma pergunta. Esse alguém está acompanhado?
– Está sim. Ciao. – Se despediu.
Embora Ronaldo insistisse para acompanhá-la, não deixou. No domingo à tarde, procurou Ivete.
– Oi, Ive! Está ocupada? Vai sair hoje? – Andrea perguntou.
– Oi, Andi! Está tudo bem?
– Mais ou menos, preciso conversar, só isso, mas se for sair fica pra outro dia. – A loira pediu.
– Já sai ontem, Wagner tem muito trabalho logo às 6 da manhã, então sem problema, estou tranquila em casa. Pode vir.
Desligou o telefone e saiu. Só tinha conseguido dormir por volta das cinco da manhã. Aquela cena não lhe saía da cabeça. Já tinha chorado, só não sabia se fora por solidão, tristeza, ou … não sabia, ou não queria admitir o que.
Assim que Ivete abriu a porta desabou, abraçando-se a ela.
– Andrea! Que foi menina?
– Não sei! Só essa vontade … de chorar… que não … consigo controlar. – Andrea soluçou
– Vem! Senta aqui que vou buscar um pouco d’água. Vai respirando fundo. – Ivete pediu.
Tomou a água e, aos poucos, foi se acalmando.
– Pronto. Agora me conta o que aconteceu.
– Ontem fui a uma boate gay com o Ronaldo.
– Até que enfim você descobriu! – Ivete riu.
– Parece que sou idiota quando se trata de relação humana. – Suspirou. – Ele me contou semana passada, me pedindo para ir com ele para encarar a família e me apresentar como namorada dele. – a loira explicou.
– Brincou! – Ivete se indignou.
– Não, é sério! Mas não concordei. Disse que poderia ir para apoiá-lo a deixar as coisas claras. Ontem, fomos a uma boate gay. – Andrea continuou.
– Tudo bem! Mas, se já aconteceu na semana passada, você aceitou numa boa, até saiu com ele ontem, foi à boate com ele, não dá pra entender porque está desse jeito! – Ivete não estava entendendo.
– Não é por causa dele.
– Ué! Então o que foi, caramba?
– Ela … Ela estava lá. – Andrea recomeçou a soluçar, sem querer, tentando segurar o choro.
– Ela? Quem? Ahhh, nem precisa responder. Carmem!
– É … com uma garota linda grudada nela.
– Ah, entendi! Uma garota com ela! E você nunca a tinha visto acompanhada.
– Foi. Eu me senti … me senti tão mal!
– E até quando vai continuar sem entender o que sente? Até quando vai continuar ignorando teu amor por ela?
– AMOR! Acha que é isso que sinto por ela?
– O que mais seria, Andrea? Cai na real! Por que desde a primeira vez que a viu perde o rumo quando ela está por perto? Perde a direção? Tem tanto ciúme? Você chega a perder o chão, menina!
– Eu nunca pensei nisso! No colégio achava que era rivalidade, raiva. Depois, quando nos separamos de vez, sentia saudades, mas pensei que fosse por causa dessa rivalidade, mas, depois da minha formatura, daquele abraço … deixei de saber. Só me lembro do cheiro e sinto, acho que raiva, quando há alguém com ela.
– E o que mais seria isso senão amor? Por que você acha que teve tantos ficantes, teve namorados, mas nunca os amou? Ou mesmo se apaixonou?
– Eu nunca parei pra pensar, para avaliar. Apenas achava que não tinha encontrado a pessoa certa. – Andrea refletiu.
– Pois eu acho que é porque vocês duas já se encontraram. Numa trombada em um corredor e desde então, acabou-se. Ela te deu todas as chances para dizer sim, aceitar, mas você sempre entendia ao contrário! Ela até explicou, no restaurante no dia da tua formatura, mas você continuou boiando. E agora, o que pretende fazer?
– Não sei!
– Será que, no fundo, é preocupação da não aceitação da família? Ou da sociedade? Ou de você mesma? Ou medo? Ou pretende continuar assim, se casar e, um dia, abandonar tudo para procurar o amor de verdade? – Ivete insistiu.
– São perguntas demais e eu não tenho nenhuma resposta!
– Então pensa, menina! E rápido, porque ela pode cansar de te esperar. Só depende de você.
– Ela está me esperando? Só porque você quer! Me apresentou a ex dela no seu aniversário, no ano passado, lembra? E ontem ela estava com uma piranha a tiracolo!
– Ela deixou claro que não a amava, lembra que Heloísa disse isso? E o fato de sair com alguém não quer dizer que casou. Com quantos caras você já saiu, sem compromisso? Ela sempre sabe quando você está com alguém, sempre me pergunta tudo de você. – Ivete afirmou.
– Ela me convidou pra jantar outro dia e eu recusei, querendo muito aceitar. Aliás, apenas fiquei sem ação e ela aceitou como uma recusa. Que droga! O que ela tem que me deixa assim baratinada, desde que a conheço! Eu nem acho ela bonita, é uma pessoa comum!
– Essa é tua preocupação? Ela não ter uma cara deslumbrante? Porque corpo, uau! Sempre foi atlético! É uma pessoa boa, doce, discreta, amorosa. Acho que vale muito mais que uma bela cara e caráter nenhum! – Ivete se revoltou.
– Não é isso! Eu não sou esse tipo de pessoa, Ivete. Você sabe disso! Estou tentando descobrir porque ela me deixa besta, sem noção, estúpida, sem entender meus próprios sentimentos. Sabe que tenho aquela rosa da formatura até hoje?
– Desculpe!
Conversaram bastante, entretanto não encontraram solução imediata. Ao se despedir, indo pro elevador, Ivete explicou!
– Ahhh, antes que eu me esqueça! A garota é uma grande e antiga amiga, é a irmã do Jorge que estava visitando-a. Apenas amiga. Ela pensou em te convidar pra dançar, no entanto você foi embora assim que a viu!
E fechou a porta.
“Filha da mãe, ela sabia e não me disse e Carmem me viu, nossa, o que terá pensado de mim?”
Na sexta feira, noite cheia de calor, Andrea voltou à casa de Ivete a convite para o jantar, desta vez. Depois de se cumprimentarem, foram para a cozinha para que Andrea tomasse água. Ela pegou o copo no armário, virou-se em direção à geladeira e BAM.
– Oi, avoadinha! – Carmen cumprimentou.
O som do copo caindo no chão foi estrondoso para ela, ou seria o coração disparado depois de uma breve suspensão de batimentos?
– Oi! – Foi só o que Andrea conseguiu dizer.
– Acho que está devendo um copo para Ive.
Aquele sorriso calmo, caloroso, gostoso, convidativo. Naquele momento, Andrea achou-a deslumbrante. Quem disse que ela não era bela, pensou.
– É! – Respondeu Andrea querendo sorrir da mesma forma.
– Não mereço um abraço depois de ter se assustado, eu sei, porém gostaria de um mesmo assim. Pode ser? – Carmen se adiantou.
Tinha se aproximado, abriu os braços enquanto falava e Andrea aceitou o convite com prazer, deixando-se invadir pelo cheiro que adorava, agora admitia, e tinha saudade. Naquele abraço não sentia o tempo, só o aconchego e o carinho.
– Ciao, meninas. Tá na minha hora de sair. – Ivete informou.
– O quê? Vamos sair? – Questionou Andrea, desfazendo o abraço.
– Vamos não! Eu vou. – Ivete explicou.
– Quer dizer que nos convida pra jantar, eu tive que chegar cedo pra cozinhar o prato que você escolheu e você vai sair? – Carmen quis saber.
– Eu pedi pra você fazer o jantar porque sabe que só cozinho o básico e sei o que as duas gostam. E depois, já passou da hora de terem uma conversa franca sobre o que sentem uma pela outra. Beijos e aproveitem a noite. Até amanhã. – Ivete se despediu.
– Por isso você estava na cozinha quando cheguei! Afinal, ela te convida pra comer ou pra você cozinhar? – Andrea perguntou.
– Não é a primeira vez, pode acreditar. Ela sempre gostou da minha comida. Se a gente fica tempo sem se ver, ela aparece em casa com sacolas cheias de coisas pra eu cozinhar, ou então me chama pra cá e já sei que vou cozinhar. Deveria ter percebido algo estranho, já que Josie não estava. – Carmen esclareceu.
– Acho que caímos numa armadilha!
– Foi, sim! Mas é opcional. Essa é uma armadilha que não nos prende, podemos escolher. O que você decide? Quer experimentar minha … a forma que cozinho?
– Quero sim. Muito!
Colocou música, sentaram-se à mesa. Carmem serviu Andrea e comeram praticamente em silêncio, com muitos e profundos olhares.
Terminado o jantar, deixaram tudo em ordem e limpo. O silêncio estava presente, contudo sem nenhuma opressão e dizendo muitas coisas. Era um silêncio íntimo.
Andrea não pensava se a família aceitaria ou não. Na mãe religiosa, no pai um tanto rígido. Seu mundo, agora, se resumia a duas pessoas.
Carmem estendeu a mão em um convite mudo para dançar. Andrea colocou suavemente sua mão sobre a que a ela se estendia, achegou-se completamente, fechou os olhos e aspirando o cheiro que mais gostava, deixou-se levar.
O som, o cheiro, o abraço, o corpo
O olhar cativante aprisionando
Pra sempre a emoção maior
Aquela pessoa tão comum na aparência
Tão incomum no ser
(o que a torna, também na aparência, incomum)
Sorriso lindo, pessoa tão doce, tão …
Desejo presente, crescente, envolvente
Toques suaves, indecentes, ardentes
Hálito quente, lábios sedentos
O primeiro beijo tão esperado
Expectativas ultrapassadas
Avanço permitido, pedido, implorado
Sem barreiras, sem tecidos, sem pudores
Nenhum tocar impedido
Nenhuma vontade negada
(de ambas as partes)
Corpos beijados, mordiscados, lambidos
Mãos invasivas, descaradas
Causando prazer imenso
Retribuído na mesma intensidade
Cansados os braços,
As bocas desciam e ambas
Sentiam os gostos dos gozos
E a dúvida que um dia se insinuara
Transformou-se em certeza
Do querer estar juntas pra sempre
Do enfrentar a tudo e a todos
Do amor compartilhado
A felicidade é uma dádiva
Mas, para alcançá-la é
Preciso merecimento
E, acima de tudo
ACEITAÇÃO!
Quando a manhã chegou, Ivete encontrou-as nuas em sua cama, abraçadas.
Sorriu contente, com a certeza de ter agido certo e ajudado duas amigas, duas pessoas queridas que mereciam a felicidade conjunta, que o amor merece ser vivenciado e que se dane o resto. Foi fazer o café da manhã, antes de acordá-las.
FIM!