Parte Final
No planeta, Gail fora verificar o que poderia ser feito para minimizar o estrago que o Coronel havia feito. Na Câmara do Conselho, tentava apaziguar a questão, para não prejudicar o comércio.
– Senhores, o erro foi cometido pelo nosso lado. Digam o que acham que deva ser feito. Não para reparar o erro, pois a marca dele é indelével nas pessoas envolvidas, mas para minimizá-lo e provar que não somos assim.
– Queríamos propor que fosse designado um representante, que fosse o intermediário em todas as negociações e queremos saber se todo esse efetivo permanecerá aqui.
– Não. Esse efetivo, em três meses, estará reduzido a apenas um pelotão, com comunicação rápida conosco, para caso de necessidade, que ficará na base 1 ou em outro local, se assim quiserem os senhores. Quanto a essa pessoa, alguém em vista?
– O tenente Slovax já demonstrou ser alguém digno de confiança.
– Ele concorda?
– Ele ainda não sabe. Parece bem interessado em alguém, ainda não conversamos.
– Vou falar com ele; em concordando, faremos o contrato em breve.
Estava a caminho da base 1, quando viu o tenente acompanhado. Como estavam na direção contrária, atravessou a rua e esperou. Quando estavam próximos, a viram.
– General!? Desculpe, senhora, estava de folga e .. hã…
– Resolvemos dar um passeio. Algo errado nisto? – Tanid respondeu.
– Não. Estava à procura do tenente, a caminho da base 1 quando os vi.
– Aconteceu alguma coisa?
– O que pretende com ela, Slovax?
– Tudo, senhora, hã… — Slovax respondeu, encabulado. – Quero dizer, compromisso sério.
– O Conselho o quer como representante comercial do Consórcio. Concorda?
– Eu? Mas, senhora, eu não tenho experiência. Sou um soldado de campo.
– Tem a confiança deste povo e terá o apoio de um perito em administração comercial. Depois, se concordar, não terá porque deixar o planeta, nem alguma provável família que venha a ser criada.
– Então, concordo, senhora.
– Vamos cuidar dos detalhes.
Quase noite, retornou à nave. Verificou as novidades do quadrante, tomou banho e se preparou para jantar. Resolveu ir à enfermaria.
– Boa noite. Soube que perguntou por mim. Alguma coisa?
– Não, especificamente. Como disse que voltaríamos a conversar… Na verdade, eu queria perguntar se esteve me analisando de manhã?
– Estava verificando o quão “sensacional” seria sua conversa. – Gail sorriu. – A beleza dos olhos é incontestável, não há o que pesquisar.
– Sempre formal!
– Aceita companhia para o jantar?
– Por que não? Assim posso atacá-la e esperar o revide para amanhã, com toda sutileza.
– Trégua?
– Temporária.
Riram.
– Devia rir mais, General. Tem um belo sorriso, embora sarcástico, é um riso límpido.
– Obrigada, mas é puro reflexo da companhia.
– Foi a trégua mais curta da história do mundo, mas reconheço, eu a quebrei.
Jantaram e foram para o jardim. Conversaram sobre diversas coisas. Ao falarem sobre música, Gail levou-a a seu alojamento. Nantani observou curiosa o local. Imaginava-o grande, cheio de coisas que demonstrassem a importância de quem o ocupava. Errou por completo, era normal, simples, com cores suaves e um instrumento que Gail apanhou e sentou-se.
– Sente-se. – Gail convidou. – O que foi? Parece em dúvida com alguma coisa.
– Pensei que seria amplo e rebuscado.
– Isto é uma astronave de combate. Amplas só as salas de reuniões; o resto tem tamanho adequado.
– Livros? Posso olhar? – Nantani percebera num canto uma estante pequena, cheia de livros.
– Claro, mas são antigos e estão nos computadores.
– Se estão no computador, por que os carrega?
– A sensação é diferente. Tocá-los, sentir o peso das ideias ali expressas, é algo pessoal, um companheiro que te diz coisas. O computador é frio, impessoal, distante e comunitário.
– Sobre o que são?
– São bem variados. De astrofísica a poesia. Tem de tudo.
– Leia uma poesia.
– Hoje, não. Talvez um dia.
Guardou o livro que tinha nas mãos e sentou-se.
– E isto?
Apontou para o instrumento no colo dela. Gail começou a tocar e cantar uma música calma, suave, que falava de um amor perdido, da vontade de rever esse amor.
Nantani desligou o tradutor e deixou-se levar pelo som. Sentia-se tranquila, fechou os olhos e ficou ouvindo. Silêncio.
– Foi tão ruim que dormiu?
Sorriu. Ligou o tradutor e pediu que repetisse a pergunta.
– Não estava dormindo.
– Por que desligou o tradutor?
– Tem coisa que deve ser sentida, não precisa ser entendida. Às vezes, perde-se na tradução, eu não queria isso.
Percebeu; não, teve certeza de que desde o jantar, Gail não a olhava mais com interrogação nos olhos. Olhava-a diferente agora, já a tinha desvendado; sentiu-se inquieta, precisava ir embora. Gail continuava apoiada no instrumento, olhando-a pegou um pequeno aparelho de cima do móvel ao lado.
– Aguarde. – Gail desligou.
– Toca e canta muito bem, mas preciso ir. – Despediu-se Nantani.
– Boa noite. Drisa a espera.
Saiu e Drisa vinha chegando. “Droga. Como ela sabia que queria sair dali? Parecia um livro aberto para a General.”
Pela manhã, o doutor avisou-a que, no dia seguinte, estaria de alta. Mais um dia e voltaria para casa. À noite, tinha dormido pouco. Aquela música a tocara mais do que pensara, mas não queria pensar nisso, seria só mais um dia. Embora tivesse certeza que o doutor informaria Gail, queria contar pessoalmente.
– Doutor, pode não contar para a General? Eu mesma quero informar-lhe que vai estar livre da responsabilidade que eu represento.
– Então fale logo; ela vai descer antes do almoço e não se sabe a que horas volta. Quer que eu chame Drisa, ou sabe o caminho?
– Eu me lembro do caminho, se ela estiver em seu alojamento.
– A esta hora deve estar, já distribuiu as ordens, já tomou café e como vai descer, deve estar lá.
***
Nantani apertou o botão na parede e uma voz saiu dele.
– Quem é?
– Sou eu.
A porta abriu-se e Gail estava de pé olhando-a.
– Algum problema?
– Não.
– Entre. – A General não se moveu um centímetro.
Nantani esgueirou-se e entrou resvalando-a; a porta foi fechada. Andou examinando o ambiente, achou um quadro que não vira na noite anterior e se interessou. Estava num canto.
– Bonito!
Gail se aproximou e devido ao local, Nantani ficou encurralada. Parou atrás dela, esticou o braço, encostando-se nela, apanhou o quadro e colocou-o bem à sua frente, com as duas mãos. Havia pouco espaço entre elas e Nantani sentia-se como quem morde uma fruta azeda e todo o corpo reage. A fruta não existia, não era azeda, mas o corpo reagia. Talvez fosse medo, pelo que tinha passado na prisão. Sentia o calor e a respiração nas suas costas.
– Se gostou mesmo, tome, é seu.
– Não posso. É lindo, mas é seu.
– Posso fazer outro. Não igual, é óbvio.
– Você o pintou?
– Foi.
Segurou o quadro e afastou um pouco a cabeça e isto fez com que seus ombros e cabeça se encostassem em Gail. Pareceu-lhe que a General não deu importância, pois tinha baixado os braços assim que ela segurou o quadro e quando pulou ao encostar-se a ela, ela simplesmente se afastou.
– O que queria me dizer?
– Queria?
– Você veio aqui, não veio? – Gail sorria, mas sem sarcasmo agora.
– Ah sim! O doutor vai me dispensar amanhã cedo. Vai se ver livre de mim.
– Está feliz com isso?
– Estou. Vou para casa, voltar a dar aulas.
– Ótimo pra você.
– Pra você também.
Gail olhava-a como se ela fosse a pessoa mais idiota do mundo.
– Se é só isso, preciso ir.
– É só.
Gail apanhou a túnica e saíram juntas do quarto. Nantani virou-se para ela, mas já estava indo pelo corredor oposto, sem falar nada.
***
– Vamos almoçar?
– Doutor, tem uns minutos?
– Claro. Que houve?
– Sabe quem me deu esse quadro? – Nantani mostrou-lhe.
– Nossa! Que lindo.
– Estava no alojamento da General, mas parece que você nunca tinha visto.
– Nunca entrei lá. Ela te deu?
– Hum, hum. E deixou claro que ela o fez.
– Nantani, a maioria da tripulação desta nau-capitânea, é de Dolgat, mas os da tribo da General, são poucos. Todos falam com poucas pessoas e pouco, mas são viscerais no que fazem. São capazes de arrancar a pele do corpo por um amigo. Ela é General;, isso quer dizer que luta melhor que todos, é bem inteligente, é muito decidida, tem uma cultura vasta, o que pode indicar também, pendor para artes. São cerca de trinta generais assim.
– O que quer dizer?
– Que talvez você seja especial pra ela. As coisas que criam, só são distribuídas depois da morte, ou são dadas por quem criou, aos melhores amigos, ou..
– Ou? Ela me ama, é isso que está dizendo?
– Pode ser. Você não nos conhece, menos ainda a tribo dela, mas isso não impede os sentimentos, não é?
– Não, não impede.
– Que foi?
– Disse a ela que vou embora amanhã, que estava feliz por isso e que era ótimo pra nós duas.
– Acho que ela não estará bem humorada hoje; e amanhã vai piorar. Isto quer dizer que sua sociabilidade se reduz à metade.
Nantani passou o dia no jardim, pensando. Lembrando da música, do toque, da sensação que a proximidade dela lhe dava. Simplesmente não entendia o que estava acontecendo. À noite, foi até o quarto de Gail.
Tocou, ouviu e não respondeu. A porta se abriu e Gail apareceu.
– O que você quer? – A General falou ríspida. Estava com os braços abertos, as mãos nas paredes laterais da entrada.
Mesmo assim, Nantani passou pela porta, postou-se à sua frente e encarou-a desafiadoramente.
– Posso entrar?
– Já está dentro.
Afastou-se e a porta se fechou. Apanhou seu instrumento e sentou-se na cama, pernas cruzadas, como se fosse meditar. Começou a tocar e a cantarolar baixinho. Nantani ajoelhou-se junto a cama e sentou-se nos pés.
– Vai me ignorar? E onde está a senhora “formal”? E por que me ignorar?
– Desculpe. De fato é nossa convidada. Sente-se. Já jantou?
Teve vontade, sem saber porque, de chorar.
– Não, mas não quero ir a nenhum outro lugar. Quero falar com você.
– Quer ir embora hoje?
– Não é isso. Preciso entender. O que eu fiz para, de repente, você, que me tratava como amiga, passasse a me tratar como uma desconhecida?
– Quer jantar aqui?
– Pode ser. – Nantani aceitou e insistiu: – Pode me responder?
– Só um minuto.
Pelo comunicador, pediu dois jantares.
– Você não fez nada. Eu fiz. Deixei-me levar e não parei pra analisar as coisas. Mais uma vez, me desculpe. Bebe um vinho?
Foi próximo à estante, pegou uma pequena mesa e colocou perto delas. Serviu vinho e sentou-se. Ficaram quietas. O jantar chegou rápido.
– Pronto. Não seremos mais interrompidas. O que você quer saber, exatamente?
– Eu não sei nada. Como você me lê com tanta facilidade? Como sabia que eu queria sair daqui, na outra noite?
– O jantar vai esfriar, vá comendo. – Gail respondeu, com calma. – Quando eu a vi ao chegar, toda machucada, queria apenas acabar com sua dor. Quando soube da história, admirei-a imensamente pela coragem e convicção. Quando começou a ser malcriada comigo, despertou minha sensibilidade. Tua beleza estética é muito visível, tem um cérebro privilegiado e uma sensibilidade tremenda. Achei que tivesse te tocado e exagerei.
– Não, você me tocou. É que fico apavorada porque perto de você, sinto coisas que nunca senti, não entendo a reação do meu corpo. Achei que fosse medo pelo que acontecera, mas não é, só sinto perto de você. Acho que quero sair correndo, mas assim que saio, quero voltar e conversar mais, aí pego o orgulho e vou em frente. Agora, por exemplo. Quero fazer algo, mas não sei o que, é provável que isto me faça ir embora daqui a pouco.
– Se não sabe o que quer, ou o que sente, é melhor que se vá mesmo. Vá dormir para ir bem pra casa. – Levantou-se para acompanhá-la até a porta.
Nantani também se levantou, mas não foi para a porta.
– Diga a poesia pra mim, agora.
– Talvez nunca lhe diga. Boa noite.
Deixou o caminho pra ela passar, mas Nantani se aproximou até ficar à sua frente, olhou-a bem nos olhos. Gail olhou para o alto e colocou as mãos para trás.
– Olha pra mim.
– Pra que?
– Porque estou te pedindo.
Gail olhou-a e ela soube que, naquele momento, queria só uma coisa. Olhou para seus lábios e foi se aproximando mais ainda, até tocá-los com os seus. Gail, a princípio, permaneceu impassível, mas ela sentia o compasso do seu coração e sabia que não ficaria imóvel. E tinha razão. Gail abriu os lábios e seus braços a enlaçaram. Foi um beijo longo e profundo.
– Viu? Descobri uma coisa que eu queria e não estou mais apavorada. Você não poderia ter-me ajudado antes?
– Não. Você não estava e nem sei se agora está pronta.
– Pronta pra quê?
Gail a abraçava, olhou-a fixamente e percebeu que era uma pergunta retórica, ela sabia a resposta.
– Pronta pra mim.
– Experimente.
Beijaram-se novamente e Nantani tentava tocar a pele de Gail, tirar-lhe as roupas, mas não encontrava o fecho. Gail se afastou um pouco e lentamente despiu-se. Nantani olhava-a, sem acreditar em suas reações, mas seguiu-as. Quase rasgou as roupas tirando-as, colou-se em Gail, percorria seu corpo com as mãos e beijos, como se daquilo dependesse a sua vida. A paixão tomou conta das duas, ambas queriam dar, ambas queriam receber, tudo. Corpos se entrelaçaram, mãos gravaram milimetricamente, geograficamente, cada poro daqueles corpos. Línguas sentiram o sabor da pele, dos pelos, de cada reentrância, de cada abismo de prazer.
Gail sentou-se na cama, colocando as costas contra o espaldar. Estendeu a mão e Nantani aninhou-se no seu colo. Seus cheiros se misturavam. Havia partes molhadas no corpo, mas não importava. Olhou para o rosto de Gail e ali estava estampada a ternura, voltou a aninhar-se, apoiando-se em um braço dela. A mão desocupada começou a acariciá-la devagar. Não sabia como ela podia mover aquela mão com tanta suavidade e lentidão, mas virou-se instintivamente, abrindo todo seu corpo àquela mão. Estava num estado que não conseguia abrir os olhos, o corpo parecia flutuar, embora sentisse o corpo contra o qual estava recostada. Quando a mão chegou e parou entre suas coxas, tirou a cabeça do outro braço e escorregou um pouco para trás, levando as mãos à boca. Quando sentiu Gail dentro dela, gemeu, parecia-lhe que estava muito grande, a outra mão de Gail, brincava com seus seios e então seu corpo pareceu entrar em convulsão, tamanha excitação, num frenético ritmo. Quando tudo explodiu, gritou, virou-se quase quebrando a mão de Gail e colocou seu rosto, entre as coxas de Gail. Sua boca e língua é que estavam frenéticas e não pararam até Gail demonstrar o contentamento por suas ações.
Descansaram um pouco, corpos encostados. Ao se recuperarem se abraçaram, apenas se olhavam e se acariciavam, sentiam apreensão pelo dia que chegava, rápido demais para ambas.
Foi falar com o doutor para sua liberação.
– Bom dia, doutor!
– Bom dia. Dormiu bem? Parece cansada.
– Passei uma ótima noite, está tudo bem.
Ele a examinou e deu-lhe alta.
– Antes de ir, posso fazer uma pergunta?
– Claro.
– Por que você nunca diz o nome de Gail, só a chama de General? Você é uma civil.
– Talvez porque alguns nomes não devam ser ditos em voz alta. Obrigada por tudo.
Gail entrou.
– Posso levá-la para casa?
– Por favor!
Entraram numa pequena nave, as duas e mais um soldado, como piloto.
– Pronto, chegamos.
– Aqui é a casa dos meus pais, não minha.
– Desculpe. Já que estamos aqui, vá vê-los, nós esperamos e a levaremos pra sua casa.
– Tem certeza?
– Tenho.
Entrou. Logo depois saiu, pedindo para que os dois entrassem, os pais queriam conhecê-los, devido a punição exemplar aos criminosos que agiram no planeta. Conseguiram sair uma hora depois. Levaram Nantani para casa.
– Entre.
– Adorei seu jardim. Casa simpática.
– Vou colocar seu quadro aqui.
– Tá ótimo. Tenho que voltar.
– Vem me ver?
– Depende do horário de suas aulas.
– Das 13:00 às 19:00 h., a partir das 11:00 h estou por lá e pelas 20:30 h. aqui.
– Até amanhã.
Nantani a conduziu até a porta, onde a beijou para despedir-se.
Na noite seguinte e, em muitas outras noites e em algumas tardes de folga, ela veio.
***
Os três meses se passaram, tudo estava resolvido, as tropas já removidas, hora de partir. Nantani foi conversar com o tenente Slovax.
– Bom dia, tenente. Interrompo?
– Bom dia, senhora! Por favor, entre, à vontade. Posso ajudá-la em alguma coisa?
– Queria conversar com você.
– Pois não.
– O doutor contou-me algumas coisas a respeito do Consórcio, mas eu realmente queria saber como é, como funciona, como é mantida a união de povos tão diferentes.
– Bem, os planetas eram atacados; um tinha a tecnologia, outra matéria prima e Dolgat, alimento e guerreiros e talvez por isso era o menos atingido. Por causa de uma determinada tribo que cultuava suas crenças, tinha suas terras, que não admitiam lhes fosse tirada. As outras tribos aprenderam isso rapidamente e passaram a respeita-los. Seguiam as normas e não se metiam com ninguém. Cansados de combater marginais poderosos, Troxoult e Roytes, entraram em contato e resolveram fazer uma aliança, mas continuaram sem força. Foram então a Dolgat, falaram com as tribos que há muito lutavam entre si e apresentaram o acordo, já com as normas elaboradas, onde todos contribuiriam, teriam as mesmas obrigações e regalias, não teriam fronteiras entre si, mas vigiariam as fronteiras para prevenir invasões e atuariam em conjunto quando isso acontecesse. Isso há mais ou menos 2.500 anos. – Slovax tomou fôlego e continuou: – Só que Dolgat não tinha um poder central para decidir, mas as tribos concordaram que era uma boa ideia. Durante as conversas, alguém sugeriu que se elegesse um chefe e um conselho. Concordaram e definiram que todas as tribos indicariam alguém e demonstrariam o porquê da escolha. Apresentados, o povo votaria e de acordo com o número de votos, seria sua hierarquia no conselho. O mais votado seria o rei, até que não agisse para o bem estar geral das tribos, aí seria deposto e elegeriam outro, ou caso não tivesse descendente quando morto. Na hora da escolha de quem comandaria as tropas, Dolgat em peso, deixou a cargo da tribo Chitow, claro. Nas primeiras batalhas, adquiriram o respeito de todo povo do Consórcio. Nas disputas internas, em desavenças, nas quase rupturas do Consórcio, esse povo, que tinha a capacidade intelectual tão acentuada quanto à guerreira, sempre resolveu e acabaram tornando-se os comandantes de todas as tropas. Os generais são da mesma tribo e têm a mesma capacidade da general Gail. São indispensáveis. São a cola que mantém o Consórcio unido, são a mola que faz tudo funcionar. Há uns 150 anos, a família real eleita foi chitow e não mais saiu, são fantásticos.
– Em resumo, tudo gira em torno dos chitows e principalmente do respeito de seus generais.
– É por aí, senhora. Hã… A senhora tem sorte em ter um deles.
– Tenho, Slovax? Acha que alguém assim poderia ficar aqui comigo?
– Não, senhora! Mas a senhora pode ir com ela.
– Não, não posso. Este é o meu planeta, sei tudo sobre ele. Minha família, minha profissão que adoro, estão aqui. Minha vida está aqui. Se fosse com ela, seria pela metade e ela não merece isto, ficaria num lugar estranho esperando sua volta. Ela vive numa astronave de guerra, civis não ficam lá e esta é a vida dela.
– Tenho ordens para atendê-la sempre e, quando quiser falar com ela, eu devo avisá-la imediatamente.
– Ela já sabia!
Naquela noite, Gail veio se despedir.
– Isto é um comunicador. Quando quiser se comunicar, fale com Slovax, através dele. Para qualquer problema que surgir, a qualquer hora. Não precisa ir até lá. Recordações.
– Obrigada. Fui lá hoje, conversar com ele. – Nantani indagou, triste. – Sabia que seria assim?
– Não. Tenho que ir.
– Ainda não me despedi. Procura-me quando passar nas proximidades?
– Se você quiser. – Gail segurava o choro.
– Gail! – Nantani falara o seu nome. Saiu doce, murmurado, num tom que ela não sabia que tinha a capacidade de vocalizar. Jamais poderia dizê-lo a não ser pra ela, senão todos saberiam seu significado.
Gail, naquele chamado, descobriu a forma que Nantani declararia seu amor. Passaram a noite se curtindo, namorando, se amando, fazendo sexo como se jamais fossem se ver novamente. De manhã, Gail partiu.
Nantani retomou sua vida. Seus amigos comentavam sobre seu envolvimento com Gail e ela confirmou. Faziam perguntas mil e ela só respondia umas poucas e para os amigos mais chegados. Comunicavam-se, às vezes, não todas as vezes que queriam, pois isso seria constante, não podiam.
Seis meses depois, Nantani dava aula, quando houve um alvoroço na Faculdade. Abriu a porta e perguntou a um professor que passava, o que estava acontecendo.
Uma nave pequena do Consórcio pousou no Campus.
Abandonou a classe e correu junto com os curiosos. Viu a nave pousada. Não dava para ver seu interior. Havia um soldado próximo a porta fechada. Todos pararam olhando com curiosidade. Ela avançou, foi saudada pela sentinela e ao chegar junto à porta, esta se abriu. Entrou. Lá estava Gail, impecável, linda, perfeita pra ela. Estendia as mãos para ela. Segurou-as e seguiu o impulso para o abraço. Beijaram-se. Ela queria sentir, estava agitada.
– Calma. Tenho que saudar os grandes homens do poder e, se você continuar a me conferir assim, vai ser difícil. Passei aqui antes para saber se posso te esperar em casa.
– Quantos dias?
– Três.
– Só? Me espera lá.
Saiu e a nave partiu.
– Vamos poder conhecê-la?
– Só se nos vir andando pela rua. Não se atrevam a aparecer em casa, nos próximos dias.
Passados os três dias, nova despedida. Suas vidas se resumiam a encontros temporários. Férias, viagens. Nantani foi a Dolgat, conheceu a família real, gostou do que viu, mas não conseguiria viver ali, não sem Gail junto. Escreviam e guardavam para entregar nos encontros e ter algo uma da outra, quando distantes.
Após 12 anos da chegada do Consórcio, o planeta prosperara. Um dia mineiros acharam uma mina escondida pelos tartazianos, um tanto estranha. Havia lá material diferente, meio exposto. Chamaram os geólogos da Faculdade e Nantani, agora reitora, também veio, trazendo alguns cientistas.
Tah`plox, à primeira vista, parecia um mundo atrasado, com vilas de agricultores e mineiros, no entanto, era um planeta antigo. Já fora industrial, tecnológico, alcançaram desenvolvimento invejável. A ganância e egoísmo, havia quase destruído tudo, a flora e a fauna. A natureza tinha sido atingida com produtos químicos e gases tóxicos, o solo e água foram afetados. Os governantes acordaram, voltaram ao jeito antigo de vida, deixando a tecnologia para a agricultura e medicina, só utilizada quando necessária.
Quando os tartazianos estavam lá, houve um terremoto leve na área da mina, soterrando-a, fechando a entrada.
– Alguém se aproximou do material?
– Não sabemos.
– Não vigiaram para impedir a entrada de alguém?
– Não!
Uma criança se aproximou.
– Nós fomos ver as pedras. São coloridas e não parecem de verdade. Tenho uma em casa.
Nantani sentiu um mal estar. De repente, um mau pressentimento.
– Vamos pegar a sua pedra e colocá-la de volta na mina, está bem?
Era uma pedra de tamanho médio. Nantani colocou luvas, pegou-a e jogou-a dentro da mina de uma certa distância.
– Vá buscar seus amiguinhos que brincaram com você lá dentro.
– Tá bom.
Apanhou o comunicador.
– Major Slovax, preciso de auxílio urgente. Foi encontrada uma mina com artefatos tartazianos e muitas pessoas foram expostas.
– Estamos a caminho. Onde foi?
Pela ansiedade na voz de Slovax, soube que tinha razão. Ele sempre se mostrou calmo na resolução dos problemas que apareceram, desde que vivia no planeta.
– Providenciem para que todos os moradores da vila permaneçam aqui, sejam entrevistados, para sabermos se tiveram contato com isto e se todos estão bem. Professor, por favor, dê, se possível, uma verificada se foi nesta vila que morreram algumas pessoas de doença desconhecida, quando da época dos tartazianos.
– Não preciso verificar, eu me lembro. Foi daqui mesmo.
– Isolem a área.
Slovax chegou rápido com dois técnicos e materiais isolantes. Com roupas apropriadas, entraram na mina, pegaram poucas e pequenas amostras, em recipientes adequados e dissolveram com as armas, todo o resto. Ao saírem da mina, provocaram um desabamento na entrada, fechando-a. Menearam afirmativamente a cabeça para Slovax.
– Desgraçados. Procuramos por todo o planeta e não encontramos. Pensamos que não haviam tido tempo.
– Houve um desmoronamento na época e fechou a mina. O que é?
– É material radioativo, altamente venenoso para organismos vivos. Quando invadiam um planeta, traziam esta porcaria sintética que espalhavam quando partiam. A morte que isto provoca é dolorosa. Há tempos pararam de usar, porque matava muitos deles também, aí paramos de tentar encontrar a cura. Precisamos de ajuda médica adequada e urgente. Vou avisar a General.
– Não, avise-a sobre os fatos, mas não que fui exposta.
– Foi exposta?
– Fui. – Nantani contou-lhe a história das crianças.
– Ela tem que saber, Nantani.
– Não. Vai ficar preocupada sem poder fazer nada. Prometa.
– Não posso, eu…
– Prometa, ou vou dar um jeito de prejudicar essa aliança.
– Eu prometo.
Cientistas e médicos do Consórcio vieram rapidamente. Sabiam que os que foram poucos expostos, principalmente à distância, poderiam ser salvos. O problema era os que se aproximaram ou tocaram no material.
Uma semana depois, começou. As crianças ficaram muito doentes, febre alta, dor. Estavam fazendo o possível.
Gail veio fazer uma visita, verificar se houvera algum progresso no combate à doença. Sentiu de imediato que Nantani escondia algo, embora nunca antes tivesse tão carinhosa, tivesse se entregado tanto, ou amado-a tanto. Coisas que ela imaginava impossível, pois a cada retorno, parecia que o elo entre elas estava mais ligado, mas as demonstrações afetivas, pensava que já haviam atingido seu ápice, que só seria possível mantê-lo ali e agora o limite tinha sido ultrapassado. Estava feliz, mas intrigada.
– Quando vai embora?
– Não costuma perguntar isso, assim, de repente. Ou pergunta logo que chego, ou não pergunta. Faz dois dias que cheguei. O que foi?
– Nada. Só preciso saber.
– Mais dois dias.
– Mais quatro.
– Não posso
– Por favor.
– Por quê?
– Porque estou te pedindo algo que nunca te pedi antes.
– Vou pensar.
Levantou-se, apanhou o comunicador e chamou. Encarava seriamente Nantani.
– Slovax, quando me passou a história do material na vila, não me disse quem foi buscar a pedra com a criança e tomou todas as providências.
– Foi o pessoal da faculdade. Assim que perceberam a situação me chamaram e agi rápido.
– Quem era a responsável, major?
– Bom..hã, havia geólogos e …hã..
– A reitora estava lá?
– Estava.
– Por que não me contou?
– Ela me fez prometer.
– Ela foi buscar a pedra, com medo do que fosse e o quanto pudesse afetar o pessoal da vila?
– Sim senhora.
Desligou. Continuava olhando fixamente para Nantani.
– Sei o que você representa para o Consórcio, sei da tua importância e sei o que faria se soubesse. Não suportaria isso.
– E o que eu faria?
– Iria infernizar os médicos e pesquisadores, que estão fazendo o máximo e iria ficar ao meu lado. Não queria que você me visse definhando, quero que guarde o melhor de mim.
– Todos temos bons e maus momentos. O melhor de você é você estar viva. O melhor de você é teu amor, por mim e pelos outros. Não tinha o direito de me afastar nessa hora.
Virou-se e saiu. Nantani esperou uns minutos e seguiu-a. Sabia onde estaria. Havia um local alto, que oferecia uma panorâmica incrível das montanhas ao longe e o vale abaixo. Muitas vezes, viram a noite chegar, daquele lugar, de mãos dadas.
– É a segunda vez que faço meu General chorar. Não quero te debilitar.
Gail sentou-se no chão.
– Posso me aproximar?
Sem resposta. Foi-se chegando devagar. Sentou-se, deixando Gail entre suas pernas e abraçou-a por trás. Ela virou-se de lado e afundou o rosto em seu peito. Choraram juntas.
– Quanto tempo?
– É variável, mas não se sabe quanto, nem como.
Entrou em contato com a nave, explicou que precisava de férias e dispensou-os. Avisou sua família.
Depois de vários dias de sofrimento, as primeiras vítimas muito expostas, a começar pelas crianças, começaram a morrer. À medida que morriam, eram incineradas.
Numa noite, Gail acordou sobressaltada. Nantani gemia, estava queimando de febre. A partir daí, começou o pior da doença. Remédios fortes contra as dores e febres. Raras vezes saia de casa.
– Gail! Queria te pedir um favor.
O tom de seu nome, pronunciado por Nantani, não mudara, continuava a tocá-la profundamente.
– Diga.
– Queria ser incinerada ao ar livre, numa pira funerária como vários povos antigos, inclusive o meu faziam. Será que permitem?
– Será feito.
Gail só saia quando Lasax, a melhor amiga de Nantani ia visitá-la, ou sua mãe ficava lá. Providenciou a pira em seu local favorito. Um dia tiveram uma surpresa. A mãe de Gail, a rainha, veio visitá-las.
– Bom a senhora estar aqui. A General precisa de alguém que cuide dela.
– Não se preocupe, eu vou cuidar.
Às vezes, Nantani tinha tanta dor que não conseguia dormir, apesar dos remédios, respirava com dificuldade. Nessas horas, Gail sentava-se com as pernas cruzadas, fazia-a sentar-se de frente para ela, apoiando a cabeça em seu ombro e massageava-lhe as costas até que dormisse.
Os envolvidos no incidente estavam curados ou mortos. Só Nantani resistia. Gail conversava a este respeito com as mães.
– Não há esperança alguma de recuperação. Tenho medo, mas me pergunto por que ela está resistindo, como está aguentando.
– Às vezes, dependendo de quem está envolvido num assunto, ficamos imperceptíveis a determinadas coisas, ficamos cegos.
– O que você quer dizer, mãe?
– O que ela está dizendo é que só você não viu que Nantani está resistindo por você. Você não a deixa ir.
Gail ficou perplexa. Nantani acordou. Estava difícil respirar. Gail ajudou-a e ficou apoiando-a.
– Quero uma última promessa sua.
– O que é?
– Bom elas estarem aqui para ouvir. Você vai me prometer que depois que eu me for, você não vai se vingar. Não vai atacar os tartazianos. Promete?
– Não.
– Sempre tivemos uma vida digna e eu quero ter uma morte digna. Não quero vingança. Por favor, me prometa. – Nantani só obteve silêncio à sua súplica. Insistiu: – Gail? – A voz era um sussurro, começara a chorar.
– Prometo. Não haverá vingança. Não vou até lá atacá-los.
– É o suficiente.
As suas frases já não eram inteiras, falava entrecortado, aos poucos.
– Ali, naquela gaveta, tem umas coisas escritas para você. Não consegui terminar, ditei e Lasax escreveu as últimas palavras. Quando sentir minha falta, leia.
– Amor, você é minha vida, sinto tua falta a cada segundo que não te vejo. – Gail sussurrava. As mães saíram do quarto, sabiam o que seria dito. – Mas morro a cada minuto que vejo teu sofrimento. Descobri que há dor pior do que a solidão de quem foi amada, pior que a certeza de não mais te ver ou tocar. Eu nunca vou estar pronta, pode partir. Não estou pronta para tua falta, mas estou pronta para a ausência do teu sofrimento. Adeus, amor.
Nantani sorria.
– Obrigada!
Naquela noite, ela se foi.
Muitos ouviram o grito dado por alguém sozinha, no alto do planalto, ao lado de uma pira funerária, na madrugada.
Pela manhã, algumas pessoas estavam na casa. Estavam preocupados com Gail. Ela entrou, pegou o corpo no colo, levou-o para fora, onde um transporte aguardava. Um veículo aberto.
– Mãe, por favor, pegue o quadro.
A mãe trouxe o quadro, ela o apanhou e colocou de lado.
– O que ela vai fazer?
– Cumprir o desejo de Nantani.
– Temos que providenciar a documentação para isto. – Disse a mãe de Nantani.
– Quer dizer isto a ela? – Perguntou a rainha.
Gail colocou com delicadeza o corpo na prancha lisa, arrumou-o, beijou-lhe as faces e os lábios, colocou o quadro sobre as pernas e ateou fogo. Ficou lá olhando até o fim. Dali o vento espalharia seu pó, por todo o vale que ela tanto gostava. Voltou para a casa, apanhou as cartas e olhou em volta.
As mães entraram.
– Não, filha. Outras pessoas a amaram. Pensam diferente de você e tem o direito de preservá-la, da forma que quiserem.
Ela aquiesceu e saiu.
– Ela ia queimar tudo?
– Ia. Pra ela as lembranças não devem ser maculadas. O local onde a essência viveu, não deve ser tocado por mais ninguém.
– Vamos vê-la novamente?
– Improvável. Mas também não é mais ela, está incompleta.
Gail saiu do planeta, permaneceu em uma nave patrulha, esperando a chegada da sua. Em sua cabine, abriu a última carta, a que terminava com letra diferente.
“Os amigos, este planeta, meus alunos, minha família. Este é o meu mundo, minha vida. Nosso lindo lugar especial, minha alegria. Tua chegada, minha felicidade. Teu amor, minha essência. Meu amor por você, minha alma. Um dia, eu disse a Slovax que sem parte disso eu seria alguém pela metade, não poderia ir com você porque estaria sem minha base, minha fonte e não poderia viver plenamente sem você, porque simplesmente me seria impossível. Eu sei que a cada separação, a cada despedida, morríamos um pouco, mas havia o elo, a ligação do quanto aproveitávamos cada momento juntas, a esperança do renascimento a cada volta. Por tudo isso, eu sei como você está. Incompleta, pela metade, porque não haverá mais renascimentos, mas meu amor, aquele que eu demonstrava a cada gesto e sei que você entendia e raramente dizia com palavras, a não ser quando pronunciava teu nome, minha General, este permanece, é teu para sempre, mesmo que você queira esquecer, vai permanecer com você, em você.
Agora eu sei, agora não, há tempo já, porque vocês são importantes no Consórcio. – Gail percebeu que nesse trecho aqui a letra mudava. – Força e suavidade, o matar e dar a vida pelo que acredita, pelo que vale a pena, a raiva e o amor, a capacidade de combater e criar, com a mesma garra. São únicos, conscientes e íntegros.
Estava pronta pra você porque você é perfeita pra mim. Nossos corpos podiam se encaixar sem falhas. Minha pele só reconhece e aceita o teu toque. Meus olhos podem ver o mundo, mas principalmente podem ver você real, através dos teus olhos límpidos e francos e às vezes tão inocentes. Meu prazer começa ao te ver, chega ao extremo quando me amas, entra em coma quando te ausentas. Te encontrei, te gostei, te amei, te conheci e me tornei viciada nisso. Você se tornou meu complemento, meu ar, meu sol, meu centro em torno do qual tudo o mais gira, portanto viva. Enquanto você viver, estarei em você e tenho agora toda a eternidade pra te esperar. Acredito que tenha muito que aprender e quando você chegar, pra me iluminar, eu quero ser acadêmica aqui, pra ninguém a não ser eu te ensinar. Não sabia? Com relação a você, sou egoísta e possessiva, não gosto de outras pessoas a menos de um metro de distancia. Não tenho ciúmes, porque convencimento à parte, eu sei que só existo eu pra você, mas adoro nós e mais ninguém. Como não vou estar por aí, se aparecer alguém que te interesse, não fique braba, eu sei que você não pensa nisso, mas se tua carência falar mais alto, eu vou entender que será só … carência. Amor só pertence a nós. Guarde isso com você e minha falta será suportável. Acho que estarei sempre te vendo, seja lá onde eu estiver. Ficarei à parte se quiser é só avisar, não ficarei magoada, pode acreditar. Obrigada por ser quem você é. Obrigada pelas massagens, me fazia te sentir tão minha, tão parte de mim. Obrigada por me fazer dormir, a dor é realmente intensa, mas tua presença e teu abraço ajudam bastante a suportar. Por favor, cumpra a promessa.
Quando eu me for, estarei liberta de dores e agonia horríveis e você terá me libertado. Obrigada por isso também, por me libertar, por me deixar ir. Não direi adeus, estarei sempre contigo”.
A general Gail viveu e lutou, liderou e consolidou a paz e progresso em muitos lugares, por mais 15 anos. Virou lenda por seus feitos, por sua bravura e heroísmo. Quando contam suas histórias, comenta-se que tinha o hábito de conversar sozinha, antes de tomar as grandes decisões, embora sua tripulação dissesse que sabiam com quem ela falava.
FIM.