Vontade Ferrenha.

Capítulo 19

Assim que chegaram a casa, Valentina guardou o carro na garagem. Deu um sorriso para Layse pegando a bolsa no banco de trás.

– Vamos entrando?

– Sim. Desculpe, fiquei admirada por ser a sua casa. Já passei por aqui de carro algumas vezes. Nunca iria imaginar que era sua.

– Para você ver o belo presente que a minha mãe me deixou. Vem comigo.

Entraram juntas chegando à sala de estar. Layse não conseguiu esconder sua surpresa diante da decoração de bom gosto que viu ali. Seus olhos percorreram o teto observando a pintura em duas cores. As bordas das paredes do teto até o chão foram pintadas num tom de amarelo ouro. A mesma combinava com a cor das cortinas das janelas que eram em um tom de caramelo. Os tapetes no chão eram de um tom amarronzado. O lustre a cima de suas cabeças era impressionante e chamava mais atenção pelo teto ser muito alto.

Valentina que estava parada ao lado dela aguardando o exame que Layse fazia em todo o ambiente, perguntou adivinhando o que ela estava pensando:

– Está imaginando porque o teto é tão alto?

– Sim. Por quê?

– A casa fica mais fresca no verão porque o ar circular melhor.

– Sei.

Os olhos de Layse percorreram os quadros nas paredes. Observou a imensa televisão fixada na parede no centro da sala. Admirou dois sofás em tom de caramelo. Os outros dois eram azuis. Achou interessante a quebra de cores que o azul provocou. Do outro lado do ambiente vislumbrou uma lareira e próxima a ela uma cadeira confortável. Viu duas plantas vistosas posicionadas ao lado da porta que dava para uma espaçosa varanda. No canto direito havia uma estante repleta de livros. Aproximou-se passando a ler alguns títulos curiosa.

– Você leu todos estes livros, Valentina?

– Li alguns. A minha mãe leu todos. Adorava sentar ao lado da lareira para ler.

– Imagino que sim. Desculpe, não quis ser abelhuda.

– Não tem problema. Pode perguntar o que você quiser.

– Foi a sua mãe que escolheu a cor da pintura das paredes?

– Por acaso foi. Eu preferia que fosse tudo branco, mas papai me tirou de cabeça porque branco suja fácil. Por mim as paredes seriam brancas e os móveis vermelhos. Contratei uma decoradora que fez algumas mudanças na casa toda.

– Sei. Imagino até como a cozinha deve ser. Essa sala ficou extraordinária!

– Também gosto muito. Os quadros e as luminárias fui eu que escolhi.

– Está tudo muito bonito!

Layse observou voltando os olhos para a segunda luminária e para os quadros novamente.

– Nunca entrei em uma casa assim. Por que queria os móveis vermelhos?

– Porque acho vermelho lindo. É a cor da paixão, da força, do sangue, do fogo. É quente. Você não acha?

– Acho sim. É a cor da tentação. To besta com essa sala! O que o dinheiro não faz.

– Tem toda a razão.

Valentina sorriu abraçando-a neste momento.

– Falando em tentação, venha para o quarto comigo. Estou doida para te beijar.

– Eu também estou louca para te encher de beijos.

Layse respondeu seguindo de mãos dadas com ela para o quarto.

Dados da autora: Um coração enamorado unido a outro encantado, quando entram em sintonia, atraem-se independentemente das circunstâncias. Quem nunca, nunca se deixou sucumbir por uma atração irresistível? Você está questionando ou afirmando, Astridy?  

Assim que entraram no quarto, Layse percebeu o quanto Valentina adorava a cor vermelha. Quase tudo ali era naquele tom. A cama e a colcha que a cobria, as cortinas, os tapetes do chão, a porta, os móveis. Só as paredes eram pintadas de branco.

– Você ama mesmo o vermelho.

Layse comentou surpreendida.

– Sim.

Valentina não perdeu mais tempo. Empurrou Layse para a cama deitando com ela. Começaram a se beijar dominadas pelo desejo. Layse teve um lampejo de consciência imaginando se Valentina já tinha levado outras mulheres para aquela casa. Embora não fosse o momento para questioná-la sobre o fato, interrompeu o beijo mergulhando os olhos nos dela.

– Você já trouxe outras mulheres nesta casa?

– Layse…

– Sim ou não?

– Sim, duas.

– Tá.

Layse deu-se por satisfeita voltando a beijá-la. Enquanto o fazia, desabotoava o fecho do vestido nas costas. Valentina abria os botões da camisa apressada. Layse tirou lhe o vestido  desabotoando o sutiã, livrando-a da calcinha. Valentina a livrou da camisa, do sutiã e da calça jeans. Layse mordiscou os lábios sussurrando:

– Sabia que você me queria nua.

– Sim, demorou demais.

– O trajeto até aqui foi longo.

– Uma hora de carro, segundos e segundos segurando a minha vontade de te pegar.

– Ai, Valentina. Você me deixa louca.

– A culpa é sua que me enlouqueceu desde que me deu o primeiro beijo.

– Tira a minha calcinha, tira. Não aguento mais esperar.

Valentina tirou-lhe a calcinha deitando sobre ela.

– Layse?

– Diga.

– Se em algum momento eu te magoar, você promete que não vai me tirar da sua vida?

Layse levou um susto segurando o rosto dela incrédula. Não fazia nem ideia como o coração de Valentina estava apertado.

– Que pergunta! É lógico que nunca vou te tirar da minha vida. Que conversa mais besta.

– Não é besta nada, só preciso ter essa certeza.

– Pode ter. Agora vamos fazer amor.

– Vamos.

Seus lábios voltaram a se unir. Os corpos roçavam-se suavemente. Layse entreabriu as pernas enlaçando a cintura dela. Com as pernas apertou mais o corpo de Valentina contra o seu, roçando a buceta contra a dela.

– Me sinto tão mulher com você.

– Eu também me sinto, Layse. Você me deixa louca.

– Outras mulheres também te deixam louca, não deixam?

– Por que tem que pensar nas outras?

– Para saber se está sendo sincera comigo.

– Estou sendo muito sincera quando digo que você me enlouquece.

– Ah, que bom. Preciso te chupar.

Layse abaixou as pernas girando o corpo agilmente. Deitou sobre Valentina beijando o rosto dela.

– Faz ideia como estou amando ter você, Valentina?

– Sim, Layse. Faço.

– Poder te beijar todinha, sentir o seu cheiro, o tremor do seu corpo, suas reações. Tudo em você mexe comigo.

Layse revelou admirando os lábios dela por alguns instante.

– A sua boca é gostosa demais. É linda, é…

– Digo que ela é sua se me beijar.

Valentina respondeu completamente rendida ao olhar apaixonado de Layse.

– Essa sua forma de me olhar me excita intensamente.

– Só o meu jeito de te olhar?

Layse questionou descendo a mão até o sexo dela. Deslizou os dedos pela buceta devorando seus olhos.

– Quando te possuo você se excita muito mais.

– Ai, safada… Ah…

– Mete estes dedos gostosos em mim, vem. Vou dar para você.

Valentina procurou na hora a buceta de Layse. Os dedos a percorreram enquanto sentia os dela possuindo-a.

– Aiiii que coisa boa…

– Bom vai ser sentir você gozando.

Layse respondeu devorando a boca dela. O beijo intenso só aumentou o prazer delas. Enquanto seus dedos provocavam loucuras em suas bucetas.

Valentina rebolava enquanto possuía Layse louca de desejo.

– Aiiiiiii… Valentina…

– Vou gozar…

– Eu também… Aiiiiiii…

– Ooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo…

– Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii…

Valentina procurou os olhos dela confessando:

– Nunca senti uma conexão tão forte como essa que estou sentindo com você.

– Por nenhuma mulher?

– Não, por nenhuma. Você também sente comigo, não é?

– É tão óbvio que nem preciso responder.

– Sim, é mesmo. Você gosta quando se toca pensando em mim?

– Claro que gosto, pensar em você me deixa encharcada.

– Me sinto envaidecida.

– É mesmo, Valentina? Acho que você se sente mais do que envaidecida.

– Está bem, fico feliz com isto.

– Feliz? Hum.

– O que mais quer que eu diga?

– A verdade, por exemplo.

– Que verdade?

– Que quando te contei que me tocava pensando em você ficou louca para transar comigo.

– Ah. Na verdade não sei se foi assim.

– Vi nos seus olhos.

– Ai, Layse! Está bem, senti sim. Aff…

Valentina tentou disfarçar o riso, mas Layse procurou seus olhos confessando:

– Você não consegue mentir. Tanto que eu sinto que está me escondendo alguma coisa.

– Gostaria de saber quem não esconde alguma coisa.

Valentina respondeu acariciando o rosto dela.

– Você também esconde alguma coisa de mim, Layse. Ainda assim não te pergunto o que é.

– Talvez. Sendo assim não posso exigir que você me conte também.

– Que tal combinarmos uma coisa?

– O quê?

– Não vamos exigir nada uma da outra. O que acha disto?

– Já não estamos nos exigindo nada, Valentina. Estou aqui porque quero estar. Não sou boba.

– Claro que não é boba. Por que está falando isto?

– Sei muito bem que poderia ter escolhido outra para passar essa noite com você. Só me escolheu porque quer transar muito comigo. Você me elegeu porque eu te excito sobremaneira. O que está sentindo por mim é puramente físico.

– Você também não disfarça a atração física que sente por mim. Temos uma química que me assusta. Nunca pensei que na cama você fosse despertar essa loucura no meu ser. Confesso que estou surpresa demais para entender os meus sentimentos.

– A adolescente sou eu. Eu sim deveria estar confusa com os meus sentimentos.

– Não se deu conta do quanto você é decidida quando deseja alguma coisa? Tenho orgulho de você por isto.

– Tem?

– Tenho sim. Nem todo mundo corre atrás do que almeja. Você deixou claro o seu desejo por mim e investiu nisto. 

– Digamos que você vale a pena. Carl Jung tem uma frase muito interessante sobre isto: “Aquilo que você resiste, persiste.” Fugir do desejo que eu sinto por você não o faria desaparecer. O pior que poderia ter acontecido seria receber um não. Se fosse o caso, eu teria que saber lidar com a rejeição. Se não tivesse seguido os meus instintos não estaria aqui agora. 

– Como foi que você amadureceu tanto assim? Isto me surpreende.

– Sofrendo. Eu acho.

– O sofrimento nem sempre amadurece. Grande parte das pessoas apenas se revolta quando sofre. Aprender é para poucos.

– Dou sorte de fazer parte da lista das que aprendem. Uma vez fui humilhada na escola por causa de um tênis velho que eu usava. Lembro que fiquei arrasada e corri para o banheiro. Não queria que ninguém me visse chorando. Então a professora foi atrás de mim. Ela olhou para o meu tênis e me perguntou assim: “O que é mais importante, Layse? Os teus pés ou este tênis?”

– O que você respondeu?

– Sabe que na hora, embora aquele tênis fosse velho era a única coisa que eu tinha para calçar. Tirando a sandália que usava no dia a dia. Para mim ele era o suficiente, mas quando ela me fez refletir sobre qual dos dois era mais importante, eu respondi sem titubear: Os meus pés são mais importantes.

– E a professora?

– Ela disse: “Isto mesmo. Essa era a resposta que esperava ouvir de você. Existem pessoas que não possuem pés e por isto não dão a menor importância para um tênis. Sendo assim não leve em consideração ao que as suas colegas disseram sobre ele.” Ela se voltou para sair do banheiro e eu falei: Professora? Não foi o que elas falaram do meu tênis que me deixou triste, se eu estivesse descalça, tenho certeza que falariam sobre os meus pés. O que me deixou arrasada foi imaginar quantas pessoas como elas ainda vou encontrar durante a minha vida.

– Você conseguiu ver muito além na sua reflexão. Algumas colegas de escola são só as primeiras pessoas desagradáveis com as quais convivemos. Tenho certeza que o sofrimento te fez amadurecer mesmo.

– Você também teve colegas assim?

– Tive, lógico! O fato de o meu pai ter dinheiro despertou muita inveja em algumas. Colocavam-me apelidos e costumavam debochar de mim por qualquer coisa.

– Agora tá parecendo que estamos no muro das lamentações.

– Também não é para tanto, não estamos aqui rezando. Essa foi boa! Você não faz ideia de como estou adorando conversar com você. Pode ter certeza que não consigo ser assim com ninguém. Não tenho muita vontade de conversar, só falo o essencial.

– Por que não sente vontade?

– Não sinto, é meio implexo. Depois que fico com uma mulher eu me fecho.

– Tem um motivo especial para isto acontecer?

– As conversas me cansam, me dão sono. Detesto assuntos inúteis. Imagine aquelas pessoas que vivem lendo. Imaginou?

– Sim.

– É isto aí. A pessoa lê, e continua lendo cada vez mais e a impressão que eu tenho é que ela é um poço de inteligência. Na hora que vou conversar percebo que ela não consegue se expressar. Fico me perguntando onde foi parar tudo que ela adquiriu durante as leituras. É uma coisa estranhíssima, sabe? Os assuntos são vazios, de uma futilidade insuportável, a conversa não flui. Chega aquele momento que fico de cara me perguntando para quê que as pessoas leem tanto. Você está me entendendo?

– Estou entendendo sim. A frivolidade também me incomoda.

– É exatamente isto! Eu acabo me sentindo meio que injusta por ver a coisa desta forma. Principalmente porque não é da minha conta se quem lê não consegue se expressar. É problema delas e na realidade, isto não interfere em nada na minha vida. Só que quando tenho que me relacionar com este tipo de mulheres, que vem contando que já leram centenas de livros e viram para mim e dizem que não tem assunto, é instantâneo, perco o interesse de tentar manter uma conversa. Como assim não tem assunto?

– É de estranhar mesmo.

– Só se as centenas de livros sejam apenas uma dúzia ou ainda, apenas dois. Talvez acabe por ser somente duas páginas no final das contas. Não tenho como explicar melhor como me sinto nesta situação. Por isto que prefiro não persistir em conversas que não vão levar a nada.

– Ainda assim você pode insistir em um diálogo, talvez se deixe levar pela má impressão que teve com uma única pessoa.

– Tenho certeza que não. Algumas começaram a falar sobre política e política é um assunto péssimo para se ter na intimidade. Aff, a coisa retrocede e a vontade passa. Juro que reviro os olhos de preguiça. Falam sobre roupas, aquela coisa de que foram às compras e babaram em todas. Os sapatos, minha mãe do céu! Tudo bem que eu também amo sapatos, principalmente os pretos e vermelhos, mas espera aí, também não é para tanto. Falam sobre os estudos. Este assunto vem sempre abarrotado de reclamações contra professores, os valores altos que pagam nas mensalidades das faculdades, as dificuldades para fazer o TCC. Metem a língua nas colegas, nos colegas, lamentam terem de estudar tanto. Oi? Sem estudo a vida só piora. Aff. Começam com um papo sobre o último modelo de smartfone que foi lançado. Precisam comprar, porque o aparelho tem isso, tem aquilo, que é o sonho de consumo, se não comprarem vão enlouquecer e blá, blá, blá. Não tenho a menor paciência mesmo.

– Você não faz ideia da cara que fez agora. Posso te imaginar soltando esse aff que é tão peculiar na sua fala. Quando não fala aff eu continuo imaginando que irá falar. Hahahahaha…

– Faço essa cara sim, porque isso me deixa boquiaberta. Com você isso não acontece. Pena é só essa nossa diferença de idade.

Layse sabia que Valentina não se sentia confortável com relação àquela realidade. Pelo menos não se tornou uma barreira entre elas. Podia até incomodá-la, mas o desejo estava sendo mais forte do que a questão moral que a perturbava. Seria uma questão moral? Questionou enquanto Valentina acariciava seu rosto e seus cabelos olhando-a com adoração.

Layse a observava silenciosa. O desejo praticamente saltava dos olhos dela. Não era apenas desejo, parecia algo como encantamento. Valentina estava profundamente atraída por ela e não conseguia mais disfarçar.

Continua…



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