EU…
— Minha princesa! — recebi o corpo grandinho para a idade sobre mim.
Aninhou-se me beijando o rosto, “dengando” como certa pessoa que eu conhecia.
— Por que não me acordou, mamãe?
Olhei pra você e vi o transtorno transfigurando sua tez. Me levantei com ela no colo.. Que peso!
— Andou comendo cimento, meu bebê?
Saí do quarto com ela nos braços, explicando mais uma vez que não era pra entrar no quarto das mamães sem bater primeiro e nunca tão tarde da noite, exceto por um motivo: estar dodói. Me disse que sentiu sede, pois mami Cris esquecera de por a água na cabeceira da cama; viu minhas malas e foi me ver. Pediu desculpas. Beijei-lhe a testa e acomodei-a na cama.
— Dorme, filha. Quando amanhecer teremos um dia cansativo, cheio de diversão, está bem?
Beijei-a mais uma vez e saí, não antes de dar um beijo gostoso no meu cavaleiro, que quase roncava. Precisava ver isso com Lúcia. De volta ao quarto, te encontrei daquele jeito peculiar: esparramada na cama, por sobre meu travesseiro. Me coloquei no lugar dele e teus braços e pernas me envolveram e ouvi o sonzinho gostoso, dengoso, pedindo paz para dormir e o fizemos. Dormimos o sono dos justos e extremamente cansados.
VOCÊ…
O sol iluminava o quarto inteiro quando abri os olhos despertando do sono bom. Seu lado da cama estava ocupado por um vestido leve com bordados delicados e desenhos florais por todo ele. Um bilhete…
“Logo que o vi, te vi dentro dele, descalça e caminhando na praia. Veste e vem nos encontrar. Te amo.
P.S.: tem desjejum pronto na cozinha, o seu preferido. Bj.”
Fiquei pensando no quanto sua presença mudava minha vida. Até ontem um vazio incômodo, certa tristeza, uma melancolia que não era minha. Agora, parecia que o sol morava em mim. A alegria de um simples acordar. Tua delicadeza. Suspirei maravilhada com essa sensação de proteção, de amor. Precisava ir até você e aproveitar ao máximo. Pensei na segunda-feira e uma dorzinha má veio ao meu encontro. Me desfiz do pensamento imediatamente. A única coisa que interessava era ter você perto.
Uma hora depois, me encaminhei à praia e lá estavam os três: todos esbranquiçados de protetor solar, principalmente no rosto. Giovanna nas suas costas e Gian correndo atrás com um cavalinho de pau que comprei para ele. Não pude deixar de reparar no bronzeado de seu corpo, em como ele estava cada vez mais sarado. Lembrei daquela infeliz que estava lá o tempo todo e o sorriso sumiu de meu rosto, foi quando você me viu e sorriu lindo. Forcei um sorriso em retribuição, mas tive a nítida impressão que você notou. Deixou Giovanna no chão e veio até mim, me encarou daquele jeito de quem descobre pensamento. Tentei disfarçar e desviar o olhar, então me puxou o rosto pelo queixo.
— Então? Vai me dizer por que esse riso sem graça? Estava pensando em quê? Deixa eu adivinhar…
— Não precisa! Sabe muito bem em quem eu pensava! Aposto como vão à praia juntas e ela te vê assim e ainda mais estando no mesmo quarto! — me virei para que você não visse a raiva tomando conta de mim.
–Te expliquei isso, vida. Semana que vem ela vai para um quarto só dela, já reservou desde o dia que chegamos. Só que as vagas seriam liberadas apenas agora por causa da alta temporada e quando vou à praia, vou só pra lembrar você. Aquele lugar é só nosso, você sabe. — me virou e me abraçou com força. — Te amo mais que tudo na vida. Sinto muito que te incomode tanto a presença de uma pessoa que, pra mim, é apenas útil para estar aqui. — seu semblante foi mudando, ficando angustiado.
— Não, por favor, me perdoa. — te beijei leve. — Não fica assim, por favor. Eu é que não me controlo, desculpa. — seu sorriso voltou.
— Só se você tirar esse vestido e der um mergulho comigo. — falou me acariciando a cintura.
— Ué, não foi você quem me pediu para vestir? Agora quer que eu tire?
— Porque é uma delícia te ver tirando ele pra mim.
— Ah, é? Pois vai ter que me pegar primeiro, Sra. Love!
E corremos pela praia como loucas, acompanhadas dos gêmeos que se acabavam de rir com suas tentativas falhas de me alcançar. Dia perfeito é o que eu diria.
EU…
— O que vamos fazer amanhã? — acomodei-me melhor no seu abraço.
Os gêmeos tiravam o cochilo da tarde depois que almoçamos. Aproveitamos esta pausa para conversar e descansar um pouco.
— Linda, eu não sabia que você vinha. Marquei com as meninas um almoço aqui em casa, mas vou desmarcar.
— Não, não desmarque. Meu voo só sai segunda à noite. Também tenho saudades delas. Vida? — você respondeu com um resmungo. — Tenho tido um sonho comprometedor lá em Djerba que me deixa em maus lençóis muitas vezes. — dessa vez você fez questão de me olhar desconfiada.
— Sobre?
— Bom, primeiro gostaria de levar os chiquititos pro cinema. Está estreando um desenho novo da Disney. — teus olhos brilharam.
— E?
Me enrosquei mais nos seus braços (como fosse possível). — Vamos chamar Bertha para tomar conta deles logo mais à noite. — disse isso bem juntinho ao seu ouvido. — Quiero ver-te bailar, mi corazón, hoje à noite. Quero ver os olhos de cobiça das pessoas sobre você. Quiero bailar contigo. Tenho sonhado com isso quase todos os dias e, quando acordo, estou quase me sufocando de desejo. — o brilho de teu olhar se tornou mais intenso.
— E? — teu sorriso safado me deixou sem graça.
— E o quê? — meu rosto queimava de vergonha.
— Como você resolve isso? Como lida com tanto desejo?
Me apartei imediatamente do seu corpo. –Vamos nos apressar ou perderemos a sessão das cinco. — falei um pouco ríspida e fiquei ainda mais desarvorada quando ouvi a tua sonora gargalhada.
Já ia te dizer uns desaforos, mas quando te olho na cama, seminua e ouço o som de teu sorriso gostoso, atiro-me em cima de você e te prendo os braços acima da cabeça. Você não resiste, mesmo sendo mais forte. Colo os lábios em teu pescoço bem próximo a sua orelha e sussurro.
— Quer mesmo saber como faço para aliviar o fogo intenso? Sabe muito bem quem está no mesmo quarto que eu…
Se arrependimento matasse. Você me empurrou pro lado e levantou-se sem dizer uma palavra trancando-se no banheiro.
— Vida abre! Sabe que estava brincando, por favor!
Silêncio. Maldita brincadeira sem graça! Como pude ser tão… Tão… Babaca! Um nó na garganta. Fui preparar os gêmeos.
Depois de uma hora, gêmeos bonitinhos e arrumadinhos, Bertha ajudando nos últimos detalhes e eu me preparando para encarar a fera. Você estava deitada, agarrada ao travesseiro. Me aproximei e, quando ia falar, você interrompeu.
— Se for esperta vai ficar calada! Sabe como fico quando estou chateada. Fez a merda, agora aguenta! Pode ir com as crianças, eu vou ficar.
Teus olhos estavam vermelhos. Havia chorado e eu era a grande culpada. Não tinha o que dizer a não ser pedir desculpas e sabia o quanto isso te irritava. Estava impotente diante da situação, mas também sabia que você não estava melhor do que eu e, isso, era o que mais me doía.
Me vesti e saí com eles. Perguntaram-me de você. Tínhamos por norma nunca mentir para eles, mas, nesse caso, não tinha alternativa. Disse que você estava um pouco cansada. Fiz-lhes as vontades. Estava sem ânimo para argumentar o que fosse.
Enfim chegávamos em casa. Gian dormia e eu tive que carregá-lo nos braços, arrastando Giovanna que, sonolenta, vinha cambaleando pelo caminho. Bertha preparava o jantar. Levei-os pro quarto. Troquei a roupa de Gian que nem se mexia. Sono pesado e aquele ronquido preocupante. Giovanna, mesmo sonolenta, preferiu tomar banho antes de deitar. Nossa menina era mesmo um espanto. Beijos de boa sorte e dormiram. Bertha ainda estava na cozinha. Parecia adivinhar meu estado de espírito dando aquele sorriso confortador. Desejei-lhe boa noite e fui para o quarto. Abri a porta bem devagar e, para meu deslumbramento, teu perfume me invadiu poderoso. Uma música suave tocava e, quando pude te ver, meu coração quis saltar pela boca. Você usava um lingerie branco, de renda. Acabara de prender o sutiã, de costas para a porta. Eu não conseguia ver mais nada, sentia apenas como sendo arrastada por um ímã potente me deixando bem pertinho. Perto demais para perceber teu arrepio quando deixei meu hálito escapar e tocar tua pele quente.
— Perdoa…
Você virou-se e vi a fragilidade enorme em seus olhos. Medo e uma vontade que se demonstrou no momento em que me tomou a boca numa fúria intermitente.
— Você é minha! — repetia cada vez que parava de me beijar e me tocava com força. — Vamos, quero te lembrar porque não pode ser de mais ninguém.
— É só o que quero minha ama… Mi Reina…
A boate estava muito cheia, o suficiente para me deixar nervosa. Você percebeu e segurou minha mão, apertando forte. Encontramos um lugar bem discreto. Sentamos. A música parecia bater dentro de mim inteira, numa vibração alucinógena. Teu corpo começava a reagir aos apelos das pancadas, e minha fantasia estava prestes a ser realizada. Vi com prazer teu corpo levantar e se insinuar descaradamente para mim, indo totalmente contra ao ritmo frenético do bate-estaca. Suavidade… Lentidão… Encostei meus lábios em seu ouvido.
— Vou pegar um drink pra gente. Não saia daí… — lambi vagarosamente de sua orelha até sua boca dando-lhe um beijo molhado.
No bar, sentei de modo que pudesse observá-la. Continuava dançando. Fiz o pedido enquanto discava um número em meu celular.
— Manda a música. — desliguei e me voltei para ver tua imagem quando a voz de Sade (By your side) te fez mirar diretamente a mim.
Me virei para o barman, segurei meu drink e apreciei cada movimento seu. Teus olhos me chamavam, teu corpo me chamava. Uma mulher se aproximou vagarosamente de ti, te rodeando, mas sem tocar. Meu olhar não desgrudava do seu. A comunicação era plena e, com um simples e discreto acenar de cabeça, te revelava a segunda parte de minha fantasia. O espetáculo era seu. Você comandava. Numa infinita sucessão de gestos sensuais, era criada uma dança voluptuosa. A mulher tinha uns olhos lascivos para tuas carnes. Chegava perto. Insinuava beijar seu pescoço. Mãos que não percorriam, mas incendiavam apenas na intenção. Por um momento você se dedicou a dançarina a sua volta, se envolvendo até retroceder a minha imagem sentada naquele bar. Levantei lentamente de onde estava e fui me aproximando. A voz de Sade se retirou no momento em que, sem precisar dizer nada, afastei a intrusa. Coloquei a marguerita em sua mão, a qual você sorveu de um gole só.
— Sede… — lambeu os lábios me provocando.
— Quero você agora. — eu sussurrei com a boca colada na sua.
— Sim… Vamos pra casa… — se apertava em mim.
Segurei suas mãos apertando-as com força. — Não. Quero aqui, agora.
Sem que você esperasse te empurrei para o canto escuro que ficava entre a mesa e a pista de dança te imprensando contra a parede.
— Está louca… — tua voz quase não saía de tanto tesão enquanto eu já te acariciava sem o menor cuidado entre as pernas, puxando tua calcinha pro lado.
— Bendito vestidinho curto…
— Endless… Espera…Ahhh! — meus dedos já mergulhavam em teu buraco quente e úmido com força.
— Vem! Vem!
Me esfregava em tua coxa já sentindo as contrações de tua vagina em meus dedos. Mordia seu ombro, chupava teu pescoço (que puta marca eu deixaria para seu total descontentamento no dia seguinte), e teu orgasmo maravilhoso encharcou minha mão para seu desespero.
— Merda! Me molhei toda! Vai ficar aparecendo…
Te beijei, agora com carinho, retirei meu casaco comprido e te cobri.
— Vamos, minha fantasia ainda está longe de se realizar.