Luz para florescer

Capítulo 6

Eleonora acordou cedo naquele domingo e desde o momento em que se levantou, atendeu a todos os telefonemas da casa. Andava pelo sobrado tão ansiosa que o irmão comentou:

– Meu Deus! Se esse príncipe encantado não ligar logo, a Elê vai desenvolver duas ou três úlceras antes da hora do almoço.

Como resposta, recebeu um tapa.

– Ai, ai! Ande logo, príncipe encantado, porque já começou a fase de espancamento dos fracos e oprimidos.

Antes que levasse um outro tapa, André saiu correndo para a área da piscina. Finalmente, por volta das onze horas, Suzana ligou.

– Alô – atendeu Eleonora.

– Eleonora? Suzana.

– Oi.

– Oi. É…Você pode sair agora?

– Claro.

– Então…Eu passo aí para te pegar em trinta minutos. Está bom?

– Está ótimo.

– Perfeito. Até daqui a pouco.

– Até.

Eleonora desligou o telefone e disparou escada acima. Experimentou umas dez roupas diferentes. Quando percebeu que o seu tempo estava se esgotando, optou por uma roupa que sabia que lhe caía muito bem: um top de tricô marrom e vermelho e uma mini-saia de sarja branca, sandália, bolsa, batonzinho básico e cabelos escovados até ficarem brilhantes. Pronta. Olhou-se no espelho. Pronta para matar. Desceu as escadas em tempo de ver pela janela o Jaguar preto parar na frente da casa.

– Mãe, “tô” saindo. Qualquer coisa me liga no celular – gritou Eleonora.

– Eleonora, aonde você vai? – disse D. Clarisse vindo dos fundos da casa. Contudo, apenas pôde ver Eleonora entrando rapidamente em um carro preto. – Mas, que menina impossível! Deixe essa saidinha chegar em casa. Onde já se viu…- D. Clarisse voltou resmungando para onde estava.

Suzana não tinha dormido direito pensando na sua situação. Levantou com cara de poucos amigos e Camilla comentou:

– Céus! Ainda bem que eu vou sair com o Mike para almoçar. Ele, pelo menos, não vai me aparecer com a cara de quem pode assassinar o primeiro desprevenido que se atrever a lhe passar pela frente.

Suzana grunhiu algo incompreensível como resposta.

– Você tem certeza de que não quer ir com a gente, Suzie?

– Tenho. Além de não ter vocação para segurar vela, eu já tenho outro compromisso.

– Tem, é? Por acaso, é o senhor misterioso que vem mexendo tanto com você ultimamente, héin, héin?

– Camilla, não encha! Suma! Tchau. Bye. Arivederci.

– No matter, baby. Você vai acabar me contando o que é, ou melhor, quem é esse mistério. Fui!

Logo depois, Suzana ligou para Eleonora. Trinta minutos após o telefonema estava, pontualmente, à porta da casa dela. Nem precisou chamá-la porque ela já vinha descendo pelo jardim do sobrado em direção ao carro. “Ai, Jesus. Ela precisa ser tão sedutoramente… Uma gracinha”.

Eleonora entrou no carro e olhou para Suzana com aquele sorriso de derreter as calotas polares e falou:

– Aonde vamos, madame?

– Eu pensei em irmos ao apartamento da minha amiga Camilla, onde estou hospedada. Ela saiu e lá poderemos conversar com tranqüilidade – respondeu Suzana.

– Por mim, está ótimo.

Suzana não disse mais nada, parecendo absorta em seus pensamentos. Eleonora, desta vez, bem à vontade e nem um pouco intimidada pelo silêncio da outra prosseguia falante como sempre.

– Uau, esse carro é o máximo – disse passando a mão pelo banco de couro. – Sabia que ele é o carro de linha mais veloz do mundo?

Suzana ergueu as sobrancelhas e olhou um pouco surpresa para a garota, mas nada comentou. Eleonora continuou:

– Ele não é um pouco baixo demais para você? Digo, um pouco desconfortável para alguém da sua altura?

Desta vez, Suzana respondeu:

– Não. Eu gostei dele no momento em que o vi. E, se eu gosto, eu compro. Além do fato, é claro, de ser o mais veloz carro de linha do mundo – sorriu levemente.

Ao chegarem, Suzana pediu que Eleonora ficasse à vontade e perguntou se ela queria um suco ou um refrigerante. Ela respondeu que não queria nada. Suzana foi até o bar e serviu-se de uma dose de whisky sem gelo e tomou um longo gole. Repentinamente acanhada e sem saber bem o que fazer, Eleonora ficou olhando a decoração. Suzana, sabendo que teria que começar a conversa, deixou o copo sobre o balcão do bar e se aproximou.

– Eleonora – chamou Suzana, já preparada para desfiar o discurso que elaborara durante a noite insone e expor-lhe o quanto a situação delas era delicada (para dizer o mínimo). Pensara, durante horas, numa forma delicada de explicitar à jovem, todas as complicações advindas de uma relação como a delas, ainda mais, levando-se em consideração a idade de Eleonora e…

A elaboração mental dissipou-se como névoa efêmera no momento em que Eleonora pousou os olhos cor de esmeralda sobre ela. As palavras morreram na garganta e Suzana fez uma cara tão desnorteada que Eleonora esqueceu por completo a timidez que lhe acometera ao entrar no apartamento. Subitamente segura do seu poder sobre a bela jogadora, aproximou-se de Suzana e passando a mão pela nuca da mulher mais alta, agarrou-lhe suave e firmemente pelos cabelos e a puxou para si num beijo há muito ansiado.

Desta vez, Suzana permitiu-se experimentar sem reservas o tumulto de sensações que lhe acometia por ter Eleonora nos braços. Extirpou qualquer censura. Recusou-se a qualquer raciocínio. Rendeu-se à insanidade dos sentidos e perdeu-se na maciez da boca de sua jovem apaixonada, no calor provocante da pequena mulher ao encontro da sua pele, tão incandescente que ameaçava incendiar-lhe as entranhas qual fogo em madeira ressequida.

Instintivamente, Suzana subiu uma das mãos pelas costas nuas por sob o top de Eleonora enquanto a outra descia até as suas nádegas puxando-a para si como se a força desse contato pudesse aplacar o latejar do desejo pulsando em seu íntimo com uma intensidade extremamente tão próxima da dor.

Eleonora limitou sua consciência ao prazer indescritível de estar nos braços da mulher amada e mil vezes desejada. Mergulhou sem reservas na loucura principiada por um beijo capaz de despertar a vontade desvairada de engolir, sorver uma pessoa por todos os orifícios possíveis. Descobriu-se, de repente, ousada e sensual, e quando Suzana a puxou pelo quadril, abriu as pernas despudoradamente, erguendo, nesse movimento, a mini-saia para acima das coxas, abraçando a perna longa e vigorosa com as suas, oferecendo-lhe o calor úmido do seu íntimo…A certeza tátil do seu desejo e do que Suzana poderia conquistar se quisesse tomar para si.

A resposta veio imediata. Suzana gemeu profundamente e afastou a boca um instante para recobrar a respiração descompassada. Olharam-se intensamente. Um par de olhos azuis turvos de desejo fitou o rosto afogueado e o arfar irregular do peito da menina à sua frente. Suzana percebeu, então, o inevitável: desde sempre isto esteve para acontecer e ela nunca fizera, de verdade, nada para deter a fatalidade desse fluxo de acontecimentos. “Dane-se!”.

Suzana tornou a baixar a cabeça na clara intenção de continuar o beijo. Mas foi impedida por um toque delicado no queixo. Em seguida, Eleonora afastou-se um pouco e sem tirar seus olhos dos intrigados olhos azuis, tirou lenta e decididamente o top por cima da cabeça.

Suzana abriu a boca, senão apenas de surpresa pela inesperada ousadia de uma menina, mas também para poder absorver mais ar aos pulmões assoberbados pelo coração batendo todos os recordes de velocidade.

Fitou o colo de pele clara e aveludada salpicado por pequenas sardas que desciam até os seios firmes, de mamilos rosados e pequenos. Absolutamente perfeitos. Suzana deixou escapar uma expiração abafada. Sem titubear, tirou também a blusa leve que vestia e o sutiã meia taça que caíram abandonados no tapete grená.

Olhos verdes translúcidos pareciam sorrir de tão brilhantes.

Eleonora, sem desviar o olhar e agora, visivelmente sorrindo, tirou as sandálias e a saia. Suzana, também com um sorriso pairando nos lábios, tirou os sapatos e a calça jeans. Jogou-os sobre o sofá. Admiraram-se intensamente. Eleonora sentia a pulsação nas têmporas. Suzana estendeu o braço. Eleonora tomou-lhe a mão e foi puxada para os braços da mulher que amava. Ah! O toque da pele da pessoa desejada. Sua textura, seu calor. A maciez dos seios, o deleite do contato das pernas nuas, a confusão de sensações…

Deitaram-se, beijando-se sobre o tapete. Devoravam-se num beijo antropofágico. Experimentavam-se, num passar de mãos contínuo, desordenado, profuso da mais pura sofreguidão.

Suzana rolou e colocou-se por cima de Eleonora. Começou por beijar cada pedaço do rosto da sua pequena amante. Desceu para o pescoço e mordiscou-o levemente, seguiu descendo pelo colo, passou a língua, como uma brisa, por um dos mamilos. Eleonora gemeu alto. Beijou e lambeu com volúpia o abdômen definido. Com desesperadora lentidão, foi tirando a calcinha, roçando os lábios e a língua primeiro pela virilha e descendo pelas coxas firmes, joelhos, pernas até os pés. Livrou-se da calcinha. Eleonora, de olhos fechados, arqueava o corpo e respirava com força a cada toque. Sentiu-se momentaneamente abandonada, abriu os olhos para ver Suzana tirando a sua calcinha e exibindo-se em toda sua esplendorosa nudez. Soltou uma exclamação de admiração. Suzana deitou-se nua sobre ela.

Indefinível a sensação.

Tão simples o ato. Tão erótico o efeito.

Abraçaram-se, esfregaram-se, procurando sentir na pele cada pedaço da pele da outra. Suzana capturou um dos seios de Eleonora com a boca e passou a suga-lo, intensamente excitada. Mordiscava, lambia, passava de um para outro com uma fome desesperada.

Eleonora puxava Suzana pelos cabelos enquanto soltava sons inarticulados. Enlaçou o torso da morena com as pernas e encostou o sexo pulsante e molhado em seu ventre e começou a movimentar os quadris, enlouquecida. Foi a vez de Suzana emitir um gemido longo e soluçante e passar a se movimentar ao ritmo de Eleonora que já não mais gemia, arfava e tremia.

– Pelo amor de Deus, Suzana.

Ao pedido feito com voz abafada, Suzana respondeu tomando o caminho dos pelos macios e louros entre as pernas de Eleonora. Lânguida, mas segura, a morena mergulhou a língua na maciez molhada que se abria para ela. Eleonora balbuciava palavras ininteligíveis enquanto respirava pesadamente e arqueava o tronco, procurando instintivamente a língua insinuante. O orgasmo intenso não demorou muito, tamanha a excitação da pequena loira que com as mãos sobre o rosto, soluçava como se chorasse.

Suzana elevou-se até ela e pegou uma mecha de cabelo loiro que beijou delicadamente. Deitou-se ao lado ainda segurando a mecha de cabelo. Eleonora tirou as mãos do rosto e se virou para a mulher ao seu lado. Olhou nos olhos dela. Suzana perguntou baixinho:

– Tudo bem?

Eleonora não disse nada, apenas balançou a cabeça assentindo. Levou a mão ao rosto de Suzana e o acariciou. Puxou-a para si. Abraçou-a. Colou a boca em seu ouvido e sussurrou:

– Meu amor, eu nunca estive melhor. O que você me fez sentir é…Indescritível! – presenteou-a com um sorriso largo e malicioso. – Agora, minha bela Suzana, é a minha vez.

Eleonora girou sobre Suzana e sentou-se em seu ventre. Inclinou-se e prendeu os longos braços morenos atrás da cabeleira negra. Suzana olhava maravilhada a visão privilegiada dos seios da sua amante. Eleonora desceu a cabeça para beijar voluptuosamente a boca de Suzana. Sugava, gulosa, a língua, os lábios e o queixo voluntarioso. Arqueou o corpo para deter-se no pescoço macio e forte que ela tanto admirava. Beijava, lambia, mordia os músculos poderosos. Sentia nos lábios o latejar da artéria pulsando vigorosamente no pescoço. Baixou o corpo até sentar-se no baixo ventre de Suzana, deslizou as mãos pelos braços longos até descansa-las sobre os ombros morenos, abocanhou um dos seios de Suzana com uma fome de séculos. Movida por um instinto desconhecido, passou a contornar os mamilos com a língua, primeiro lentamente e cada vez mais rápido até Suzana gemer alto. Mordiscava a ponta do mamilo ereta e intumescida, passava ao outro seio deliciando-se com o corpo magnífico da bela jogadora e ainda mais com os sons entrecortados que escapavam da boca de Suzana, delatando o efeito devastador das suas carícias na mulher que amava. Suzana falou com voz abafada:

– Agora, meu amor.

Eleonora perguntou com delicadeza:

– O que eu faço, meu amor, minha Suzana?

– Ponha a sua mão em mim.

Eleonora obedeceu prontamente e colocou a mão na umidade morna e delicada de Suzana. Sem que ela dissesse qualquer outra coisa, começou a massagear com firme suavidade o clitóris túmido. Um gemido alto confirmou que ela acertara. Ao lado do amor de sua vida (ela o sabia com firme convicção), observava, maravilhada, o rosto dela transfigurar-se na iminência do prazer.

– Eleonora, me penetre.

Sem titubear, Eleonora escorregou os dedos para o interior quente e macio de Suzana que comprimiu as pernas em torno da sua mão e a abraçou com força enquanto espasmos constantes tomavam o corpo moreno e o peito arfava irregularmente.

Gozou intensamente.

Permaneceram abraçadas ainda por longos minutos.

Suzana se afastou um pouco e olhou para os límpidos olhos verdes. Com um sorriso leve pairando nos lábios, perguntou:

– Quantas vezes você já fez isso, garota?

Eleonora sorriu de volta, buliçosa.

– Por acaso, a senhorita quer avaliar a extensão da minha vastíssima experiência sexual?

– Vastíssima?!! – exclamou Suzana, levantando-se sobre um dos cotovelos e fitando Eleonora com olhos interrogadores e ligeiramente divertidos.

Eleonora riu com gosto.

– Por que? Te incomoda o fato de eu ser uma mulher experiente?

– Eeeeeeu? Não. È apenas e tão somente curiosidade. Você se importaria de me dar um breve histórico de tão larga vivência, que deixaria Casanova roxo de inveja?

Eleonora enfiou a cabeça nos cabelos cor de ébano e falou baixinho:

– Eu não tenho nenhuma larga experiência, Suzana. A não ser um ex-namorado por quem eu julgava estar apaixonada aos dezesseis anos e que foi o primeiro homem da minha vida, eu não tive mais ninguém. Você foi a primeira mulher que eu já beijei e com que eu fiz amor…

Afastou o rosto para olhar os olhos azuis.

– E, Deus, eu vou agradece-lo cada dia da minha vida por isso, Suzana. Porque eu te amo e não consigo pensar em nada mais intenso e bonito do que o que eu vivi hoje com a mulher que eu amo.

Suzana capturou o queixo levemente trêmulo da linda menina com quem fizera amor. Olhou-a com infinita ternura e lhe deu um beijo leve nos lábios.

– Eu brinquei com isso, minha pequena Eleonora, foi porque em toda minha vida eu sequer cheguei perto do que eu senti nesta tarde com você. É tudo muito novo para mim também. Pelo menos, com essa intensidade…E também, temo dizer, com tanta complicação envolvida. Devo admitir que não estou acostumada a ter que medir ou dar conta dos meus atos. Isso me incomoda e me irrita muito. Eu queria poder…

Eleonora pousou a mão pequena nos lábios de Suzana.

– Isso não importa agora. Não agora. Mais tarde, minha bela Suzana. Beije-me, por favor, e me ame novamente.

Não foi preciso pedir outra vez.



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