– Você consegue entender essa língua? – Gabriela me perguntou enquanto iluminava as paredes.
– Kéchoa. Sei algumas coisas, alguns desses escritos diz que: Devemos amar a terra que vivemos, cuidar e cultivar para que nossos sucessores tenham a abundancia que temos.
– Eles eram uma civilização tão unida assim? Por vezes ouvi falar de rituais macabros para os deuses.
– De quem ouviu misturou algumas histórias, a civilização Quechua apenas buscava paz de espirito, eles eram muito agradecidos aos céus, por isso construíram a cidade aqui no alto dessa cadeia de montanhas, para estar mais próximos de seus Deuses, Viracocha que era o criador, o pai e a mãe de Inti e Quilla, respectivamente o Sol e a Lua. O Criador era quem dirigia o destino e os planos invisíveis.
– E a parte dos rituais? – A mulher tornou a perguntar.
– Naquela época a compreensão do povo para com seus Deuses era o fato de os Deuses não estarem satisfeitos com alguma conduta do povo ou de seu Rei, afastando assim a chuva, o sol, não dando em abundância o alimento, como eles veneravam forças da natureza, acreditavam que lhe dando oferendas, ajudaria em melhores condições. Mas o ritual que se refere são as Capacochas, esses sacrifícios humanos eram utilizados apenas em rituais solenes e era o povo que se oferecia, seja para comemorar a vitória de uma guerra, nascimento de um novo Inca- Rei e para a agricultura, se ela estivesse em maus pés. Mais uma coisa devemos acrescentar, os sacrifícios Inca não chegam aos pés dos Maias.
– Por que?
– Os Incas (Quechua – prefiro assim), sacrificavam objetos por muitas vezes: roupas, ouro, prata, couro e até mesmo as lhamas, o sacrifício humano foi mais utilizado quando os colonizadores chegaram, para que os Deuses ajudassem a vencê-los, eram feitos em templos em outras cidades do Peru, como Lima, Cuzco e etc. Antes de ser denominados como “Incas” foram realizados vários rituais de sacrifício, principalmente de crianças… mas isso fica para uma outra hora, precisamos realmente continuar.
– Ok, dois túneis além dos que interligam, por qual, Gio? – Peguei o mapa e entreguei minha lanterna para Elliot.
– Bem, nós entramos aqui, seguimos em linha reta, mas com uma curva de pelo menos 10° até chegar aqui. Provavelmente o da direita nos leva até uma das saídas de Machu Picchu, vamos pelo da esquerda, olhem bem para o chão, desde o Egito não pretendo levar mais sustos.
– Armadilhas?
– Não acredito que haja, mas apenas por segurança, essa era uma passagem comum para a Ama do Rei. – Seguimos de forma lenta até pisarmos em madeira. – Isso não está no mapa.
– Vamos entrar? – Falou a mulher animada.
– Para isso que viemos. – Os dois se afastaram e usei a picareta para abrir, subiu uma neblina de poeira. – Me lembre de pegar máscaras da próxima vez, Elli. – Iluminei o buraco e havia uma escada. – Primeiro o homem corajoso.
– Jamais, meu bem, sou historiador, você é a arqueóloga. – Deitei no chão para olhar o local, não era alto, mas cabia facilmente uma pessoa de pelo menos 1,80 de altura de pé. – Prata, a escada é de prata. – Elliot se jogou no chão para olhar.
– Uau, isso é tão fabuloso. Agora que já viu que é seguro pode descer. – Olhou sorrindo, ele era tão não gentil, eu sempre era a primeira a descer, mas quer saber? Tanto faz, eu adoro isso, posso sempre dizer que fui a primeira em milhares de anos…
– Imbecil.
– Espera, isso não é perigoso? – A mulher olhou para mim e meus olhos se demoraram um pouco mais do que deveria em seu rosto.
– O menos perigoso que já vi, não se preocupe. – Desci degrau por degrau e cheguei até o fundo. – Vocês precisam ver isso! – Logo meu amigo estava ao meu lado iluminando e a mulher chegou logo em seguida.
– Isso tudo é…
– Ouro. – Completei a mulher que estava de boca aberta. – Olhem esses pergaminhos, sabem quanta história pode haver neles. – Me aproximei passando as mãos levemente neles.
– Vê se pode, tanto ouro e ela acaricia esses pergaminhos como se fossem ouro. – Olhei de cara feia para ele e logo a mulher estava ao meu lado.
– Aqui deve haver mais história das guerras, da colonização intrusa que arrasou suas cidades, do seu povo, da sua cultura e agricultura…
– Isso é emocionante. Obrigada por permitir que eu viesse.
– Bem, você sabe, na verdade não permiti, apenas fiz porque era mais seguro. – Falei um pouco sem jeito.
– Eu sei, entendo seus motivos, mas de qualquer maneira… Obrigada.