Recomeçar

Capítulo 6 – Novas sócias

Não consigo entender isso tudo que está acontecendo. Como assim a minha Nanda é advogada e amiga do Ricardo?! E agora sócia do escritório?! Que loucura! Quando nos conhecemos ela disse que cuidava dos negócios da família. Nunca falou nada sobre ser advogada.

Lua percebendo que eu não estava ali, me cutucou por baixo da mesa. Tinha que tentar prestar atenção no que estavam falando.

– Como assim nova sócia, Ricardo?

– Luana, você sabia que depois que passasse no concurso, eu não poderia continuar atuando aqui no escritório. E muito menos que eu iria te sobrecarregar. – Ricardo respira fundo. – Então, fui buscar alguém que pudesse me substituir com o mesmo talento e garra que nós sempre trabalhamos aqui. Por isso convidei a Fernanda. Apesar de estar afastada do dia a dia de um escritório, ela foi aluna brilhante e chegou a atuar em um grande escritório em São Paulo, até que resolveu deixar a carreira de lado para se dedicar aos negócios da família.

– Um dos motivos de estar aqui é esse. – Ouvimos a voz da Fernanda. – A partir de agora vou ajudar em tudo que for possível no comando do escritório, espero contar com sua ajuda Luana.

Ela continua me ignorando.

– Eu só queria saber por que tudo isso aconteceu sem meu conhecimento? – Luana questiona.

– Você estava de férias Luana. Viajando, por que eu iria atrapalhar suas férias se podia resolver isso sozinho? Você não perde nada com esse novo arranjo, pelo contrário. Inclusive, as coisas vão melhorar, porque vamos ter mais uma sócia.

– É sério isso Ricardo? Quantas pessoas vão virar sócias do escritório? – Luana começa andar pela sala.

O clima estava começando a ficar estranho. Ricardo levanta agradece a presença de todos. Diz que depois todos ficarão sabendo das mudanças pelas quais o escritório passaria. O mais importante já sabiam, que tínhamos uma nova sócia. E dispensou a todos para voltarem ao trabalho. Eu levantei e já me encaminhava para a saída quando Ricardo me chamou de volta.

– Mariana fica, por favor.

– Luana, você estava de férias. – Disse Fernanda, que fez uma pausa, olhando para mim, como quem diz, acalma sua amiga. Ela então, se vira novamente para Fernanda.

– Como para você continua tudo igual. Não vejo porque tanto nervosismo.

– Lua, se acalma e escuta o que eles têm a dizer. – finalmente falo alguma coisa.

Luana lança um olhar magoado para o Ricardo e de raiva para Fernanda.

– Tenho certeza que você vai gostar dessa nova sócia. – Ricardo fala com um sorriso.

– Eu esperava mais de você Ricardo. Eu achava que alem de sócios éramos amigos. Que qualquer problema que nós tivéssemos aqui no escritório, nós resolveríamos juntos, mas já vi que não é assim. Daqui a pouco nem vai precisar mais de mim. Já têm as sócias perfeitas. – Luana vai em direção à porta.

– Lua, espera. Não sai assim. A outra sócia é a Mariana. Nós sabemos que o escritório não andaria tão bem se não fosse pelo trabalho perfeito que ela faz. Tudo bem que não dá para ser na mesma proporção que nós recebemos, mas com certeza vai ser bem mais que o salário fixo que ela recebe. É lógico que nada disso tá fechado. Eu estava esperando você voltar pra gente conversar e acertar tudo. – Disse Ricardo tentando explicar sua decisão.

Agora eu caio sentada. Como assim eu vou ser uma das sócias do escritório? E mais louco ainda, sócia da Fernanda!

– Confesso que não estou entendendo mais nada. – Levanto, ando pela sala em direção à janela.

– Ricardo seja mais específico com tudo isso, pelo amor de Deus! – Luana pede.

– Eu só to tentando fazer as coisas certas. Mas parece que não estou agradando. Como vou me afastar do escritório, quis deixar as coisas encaminhadas. Claro que por fora vou ajudar vocês, mas preciso garantir que as coisas vão ficar bem. Não podia me dar ao luxo de alguém te roubar da gente. Por isso a oferta de sociedade. Não é grande coisa, mas como vou sair da linha de frente, tiro 10% da minha parte para você e divido os 60% restante com a Fernanda. Ou seja, seremos os três advogados com o mesmo poder de voto, e você será sempre o voto de minerva Mari.

– Ou seja, serei sempre jogada aos lobos, grande presente Ricardo. – Falo contrariada, porque sei que toda vez que entrarem em atrito a coisa vai sobrar pra mim.

Percebo que mesmo sem me encarar Fernanda acompanha todos os meus gestos.

– Sinceramente preciso pensar sobre isso tudo.

– Eu vou para a minha sala. Depois conversamos. – Luana se sai da sala sem olhar pra trás.

– Eu preciso finalizar uma pesquisa. – Olho para os dois. – Deixa a Lua digerir isso tudo e depois a gente conversa novamente.

– Tudo bem, mas ainda temos uma coisa ligada à chegada da Fernanda para resolver. – Finalmente ela me encarou. Desviei o olhar.

– Não dá para esperar para ver isso depois do almoço?

– É importante Mari. Principalmente porque você vai precisar nos ajudar com a Lua. – Ricardo faz cara de cachorro pidão.

– Já vi que vou ter que amansar a fera. Injusto isso aí doutor Ricardo, bem injusto. Você sabe como ela fica uma fera quando você apronta alguma coisa. – Levo minha mão direita à nuca. Típico gesto de quando estou estressada. – Vamos lá. Qual vai ser a bomba?

– Na verdade ela não vai ser obrigada a fazer nada que já não faça normalmente. Aliás, ela é a melhor na área. – Escuto a voz profunda da Fernanda. Ainda não me acostumei com isso. – Também precisarei da sua ajuda Mariana. – Finalmente a encaro novamente. – Preciso da ajuda de vocês no pedido de guarda das minhas filhas.

Para tudo, como assim ela é casada, ou melhor, pelo visto está separada. Mas ela tá apaixonada por alguém. Não estou entendendo mais nada.

– Nesse caso é melhor a doutora esperar para conversar com a Luana. Ela é a advogada. Eu estou na equipe de suporte. Nem adianta me falar nada nesse instante, para não ter que repetir tudo depois. – Eu estava sem chão, sem saber o que falar. Mas jamais ia permitir que ela me visse assim.

– Eu realmente preciso finalizar a pesquisa, ou o Jorge, um dos nossos advogados, corre o risco de perder a causa. Assim que a Luana estiver disposta, conversamos todos juntos. – Eu precisava me afastar da Fernanda.

Há pouco mais de seis meses eu conversava com a Nanda. Uma mulher extremamente atraente, extrovertida, jovial e simpática. Agora eu estava na frente de uma completa estranha. Estava me sentindo perdida sem saber o que fazer.

Marta, a secretária, entra na sala avisando de um telefonema urgente e, Ricardo sai para atender.

Levanto para sair também. Fernanda anda em minha direção. Rapidamente viro as costas.

– Mariana, nós precisamos conversar.

– Como já disse doutora, melhor esperar a Luana e falar tudo de uma vez.

Não tinha dúvidas de que ela iria falar comigo a respeito de nossa “amizade”.

– Você sabe que não é sobre isso Mari.

– Não me recordo de nenhum outro assunto que nós tenhamos em comum doutora. – Finjo uma indiferença que não sinto.

– Desculpe fingir que não te conhecia Mariana. Espero que você entenda que ia ficar difícil explicar de onde nos conhecemos. – Fala de maneira fria. Completamente diferente da pessoa que conversava comigo na internet.

Respondi da mesma maneira.

– Sem problemas Fernanda. Não precisa se preocupar. Da minha parte acabamos de nos conhecer. Se é só isso, depois nos reunimos para falar sobre o seu caso.

Segui em frente e saí da sala com o coração na mão. Infelizmente me dei conta de que a pessoa pelo qual me apaixonei só devia existir em meus sonhos. Como isso foi acontecer comigo?

Segui para a minha sala e logo depois Luana entrou.

– Você não bate mais na porta não Luana?

– Ih, a poderosa te pegou de jeito mesmo hein.

– Tá doida Luana?

– Você acha mesmo, que apesar de tudo que aconteceu, eu não percebi como você ficou quando viu a cara da mulher. – Riu debochando. – Foi amor à primeira vista meu bem?

– Acho melhor você voltar para sua sala e procurar algo pra fazer. Se você não tem nada pra fazer, eu tenho bastante coisa.

– Tá bom, tá bom. – Lua coloca as mãos para o alto em sinal de rendição. – Já tô indo, mas depois você vai me explicar essa história direitinho viu!

– Tem história nenhuma não, Luana. Tchau. Bom trabalho. E fecha a porta quando sair.

Respiro aliviada, pois levei um susto, achando que Luana havia percebido alguma coisa.

Pego meu celular. Vou à minha galeria de fotos. E vejo a última foto que ela me enviou. Linda, sorrindo com o pôr do sol ao fundo.

Meu telefone vibra, é uma mensagem da minha irmã perguntando se podia almoçar comigo, pois precisava de ajuda para resolver um problema. Oh Deus! Mais alguma bomba vindo por aí. Respondo para ela passar daqui à uma hora.

Meio-dia. Chamo o elevador e quem está dentro dele? Fernanda.



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