Em Qualquer Lugar

Capítulo XI – Afinal o que aconteceu?

­Aghata

Quando ela me convidou para namorar no sofá, fiz até uma brincadeira… Achei uma gracinha, mas quando ela se levantou, foi ao seu quarto e trouxe um objeto na mão… Um dildo! Me apavorei! O que ela queria? Eu gostei tanto de me relacionar com alguém que não tinha nenhuma relação de poder comigo! Eu recebia e dava, isso era bom!

Aí ela disse que queria que eu usasse nela, disse que se eu estivesse bem com aquilo, até poderia usar em mim, mas só se eu quisesse. Foi aí que eu vi que meu “preconceito” era infundado. Não existia relação de poder, havia só o dar e receber, o experimentar e curtir e se não curtisse… Não rolaria mais, não era imposto. Isso definitivamente nunca aconteceu com mais ninguém em minha vida. Aí minha imaginação foi até Júpiter e voltou. Senti uma vontade de senti-la por dentro incontrolável, mas como eu faria?!

Ela colocou o dildo de lado e começamos a nos acariciar. Já estava enlouquecida com a loirinha quando ela colocou o dito cujo em mim. Fui a Júpiter e voltei, novamente. Estava muito excitada e quando ela prendeu em mim, ele tocou meu clitóris supersensível e me derrubou!

Enfim ela conduziu; eu estava meio desajeitada, mas quando a penetrei, senti em mim cada movimento que eu mesma fazia e me perdia nas palavras que ela proferia. Resvalava para dentro dela macio e agradável e tinha uma emoção de estar em comunhão com ela. Era forte, poderoso e gostoso. Eu estava em meu limite e queria que ela sentisse o mesmo que eu sentia… Para mim, não valia se fosse só para mim, era quase inconsciente, pois cada empurrão que eu dava e entrava nela, ela gemia e me deixava mais louca, quase à beira da irracionalidade. Comecei a acariciar seu clitóris para ela gozar comigo. Eu já estava quase lá. Estava me controlando, porque senão, eu empurraria com mais e mais força até me saciar de vez. Estava à beira do descontrole e acariciei também na parte de seus glúteos, quase em suas entranhas, Ah! Ela estava gemendo e estava quente e molhada! Isso me deixou alucinada e inconsequente. Empurrava meus quadris mais forte e minha excitação atingia um grau que eu estava escorrendo meu próprio suco por minhas pernas. Era loucura e paraíso!

 Ela gemeu seu orgasmo e eu desmoronei, tremendo. Meu gozo chegou forte, avassalador, quase um desconectar de minhas energias e razões. Joguei-me impotente sobre ela. Não conseguia levantar nem um dedo sequer.

— Eu nunca imaginei sentir algo tão… Tão… Sei lá, não consigo nem descrever. — Eu disse…

Ela me acolheu em seus braços, sorrindo e me perguntou onde eu havia aprendido a amar assim. O fato é que eu nunca tinha realmente amado alguém e o meu trabalho, ligado à ela, começava a me incomodar. As coisas poderiam não sair exatamente como todos queriam…

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Já havia passado um mês. Tínhamos escrito o projeto e eu já tinha apresentado ao André e à junta da secretaria. De vez em quando, eu via o Roberto e o Gustavo na secretaria para falar com o André, eles estavam ansiosos, mas eu já era mais do que acostumada com o processo moroso desse tipo de investimento que a secretaria desempenhava, apesar disso sempre me incomodar. Continuava a namorar a Paula e nos víamos todo dia. Ela nunca me perguntava o que estava acontecendo; era discreta. Nossa vida pessoal era uma e nosso trabalho era outro. Gostava disso. Sem pressões, sem expectativas exageradas e sexo muito bom! Aliás, o melhor que já tive em minha vida, se é que já tive algum sexo bom na vida antes dela.

Era quarta-feira e o André pediu para eu chegar cedo à secretaria, pois ele ia anunciar a saída dele e me anunciar como a nova secretária. Esse seria o anuncio formal, só para a prefeitura, assinatura de papeis e trâmites burocráticos. Pensamos em fazer um anuncio depois para imprensa e divulgação também da candidatura dele para vereador. Lógico que faríamos uma festa para os empresários e buscar apoio político também, mas isto faríamos depois com mais calma, para a notícia assentar.

Cheguei à secretaria e tinha um burburinho danado com imprensa e tudo. Os repórteres me assediavam e eu não estava gostando da imprensa ali. Eles me paravam a cada passo e perguntavam alguma bobagem só para colocar qualquer notícia em seus jornais. Se imaginassem que a sua futura secretária de ciência e tecnologia havia sido uma delinquente na adolescência e que encontrou o caminho da medicina, através de um programa interno do instituto da infância e adolescência para delinquentes infanto-juvenis, o que será que eles achariam? Eu ri do meu próprio pensamento. Seria mordaz se eu não tivesse me livrado de todo o meu passado para esquecer.

— Senhora Munhoz! O que está achando de ocupar um cargo desse nível?

Eu parei e olhei bem nos olhos do interlocutor. Suspirei. Não valia a pena ser tão rabugenta como eu costumava ser, começaria a me desgastar no cargo, antecipadamente.

— É um cargo de muita importância e demanda grandes responsabilidades também para com o nosso município. Estou orgulhosa, sim, mas devo dizer que isso me deixa muito apreensiva, pois tenho que apresentar resultados nos próximos anos para quem paga o meu salário, que é o povo.

Um burburinho se fez na antessala e eu emendei.

— Senhores, eu estou atrasada. Devo me apresentar ao secretário; se vocês forem pacientes darei uma entrevista coletiva logo após a posse, com licença.

Entrei rápido no corredor da secretaria que levava à sala de André. Estava irritada. Abri a porta e vi que ele não estava só.

— Bom dia, André. O que está havendo aí fora? Não tínhamos combinado de convocar a imprensa em outra ocasião?

Não me importei com os dois empresários que estavam na sala, pois era comum eles virem à secretaria a convite de André, sempre para angariar apoio.

— Eu sei. Não fique tão irritada. Eu ontem à noite não tive tempo de te contatar, pois estava tratando de assuntos relativos ao lançamento da campanha. Mas… — Ele suspirou. — Os boatos ficaram mais intensos e eu achei por bem antecipar e dar a coletiva hoje, de uma vez. Espero que você me acompanhe, pois você é parte disso e tem responsabilidades também.

Passei a mão por minha nuca, meus músculos estavam tensos.

— Ok! Eu sei que eu tenho responsabilidades…

Depois de assinarmos todos os papeis para dar entrada no RH e ser enviado para assinatura do prefeito, fomos para o auditório. Tinha de tudo, até câmeras de tv.

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Paula

Eu estava no laboratório com o Cacá e ele estava me sacaneando, pois me encontrou no sofá, nua com a Aghata no meu apartamento, é claro. O pior é que eu nem podia brigar com ele, pois quando ele queria dormir lá, depois que eu e Aghata começamos a namorar, sempre me perguntava se podia ou não ir para lá. Eu tinha lhe autorizado a ir e me esqueci disso. Tinha se tornado comum eu e a Aghata irmos lá para casa namorar no sofá. Ela gostava de ir lá para casa, não sei porque, pois sua casa era maravilhosa. Ele retrocedeu assustado e voltou pela porta; eu me vesti e pedi para Aghata ir para o quarto. Quando ele entrou, parecia que sua bebedeira tinha se curado em um instante. Pediu-me desculpas, só que passado a noite ele não perdeu a oportunidade de me azucrinar.

— Cara, você quer me matar mesmo, além de ver minha melhor amiga nua, ainda tinha uma gata muito gostosa em cima dela… – Gargalhou.

— Você quer parar de chamar minha namorada de gostosa. Amigo chama a namorada do amigo de gostosa?

— Depende… Se pegar ela nua… E depois eu sou seu amigo, mas não sou cego! E eu que achava que pegava gatas! – Riu mais alto.

Lancei uma chuva de tapas em seu braço e ele se defendia rindo de nosso ritual, quando o Roberto chegou ao laboratório.

— Desculpa, chefe.

O Roberto balançou a cabeça não se importando muito. Ele já havia visto inúmeras vezes eu e o Cacá brincando. Ele achava criancice, mas não se importava muito.

— O que foi, Roberto?

Perguntei.

— Eu estava vendo o jornal da manhã no meu escritório e parece que eles vão transmitir uma coletiva do André e da Aghata. Ao que tudo indica é o anúncio da troca na secretaria. Vocês querem ir ver?

— Claro!

 Falei na hora. Já estava acostumada a não falar de trabalho com a Aghata. Sabia que ela não gostava de misturar o nosso relacionamento com o lado profissional, mas isso era demais! Pô, ela podia dizer que ia fazer o anuncio para eu poder ver, né?! Isso eu ia reclamar com ela depois…

Fomos ao escritório do Roberto e sentamos no sofá e ele na sua cadeira, aos poucos o pessoal do laboratório chegava e ia se amontoando. Os termos do projeto já tinham sido conversados e aceitos pelas duas partes e estávamos só esperando a aprovação da secretaria e a homologação em diário oficial. Já tínhamos tido reuniões, também, no laboratório para distribuir as tarefas para a execução do projeto. Eu estava feliz, pois, pela primeira vez, teria um projeto idealizado por mim e que eu iria coordenar.

Começou a transmissão da coletiva. André fazia um discurso de quão era importante o desenvolvimento de novas tecnologias e anunciou a sua saída e a entrada da Aghata na secretaria. Em seguida anunciou a sua candidatura a deputado federal. Deputado federal? Como assim?! Ele tinha falado o tempo todo em câmara de vereadores. Percebi um olhar de Aghata em direção a ele e, por um breve momento, achei que ela estava confusa também, mas ela tornou a olhar para o público e as câmeras impassível. Foi aí que o meu pequeno, mas agradável mundo desabou! Ele falou de um projeto que estava sendo lançado, descreveu nosso projeto, dizendo que foi descoberto por Aghata e anunciou o idealizador do projeto. Para a minha surpresa, não fui eu nem o Cacá. Ele anunciou o Gustavo que entrou no palco aplaudido e cumprimentou a todos na mesa com um aceno de mão. Olhei à minha volta. Todos do laboratório estavam atônitos, inclusive Roberto e…

Bem, eu não conseguia nem parar de olhar a tela, nem me mover para nada. O Gustavo disse que o projeto iria ser executado na Universidade Federal, com o apoio do futuro deputado federal André Carceiro; fez um discurso piegas sobre grandes ideias, força de vontade e amor à pesquisa. Eu olhava, através da tela, o rosto de Aghata que estava imparcial e as lágrimas escorriam pelo meu rosto. Uma dor profunda explodiu em meu peito. Em minha cabeça, só pensava como eu tinha sido uma grande idiota que foi ludibriada por uma mulher e seu colega de trabalho! Ela não era só uma mulher. Era a mulher que eu mais amei em minha vida!



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