Paula
Não conseguia despachar o Cacá. Ele me aporrinhou o dia todo para saber com quem estive o fim de semana e quando cheguei em casa ainda tive que lavar a louça que ele deixou de pirraça, durante o fim de semana. Pirraça sim, pois o Cacá não costumava fazer isso, ele sabia que eu odiava sujeira.
Comecei a fazer o jantar e pensava em tudo que passei com ela no fim de semana. Nem acreditava. Foi mágico, maravilhoso, intenso! Meu Deus! Nem em meus melhores sonhos, nunca imaginei ter alguém assim! Estava nas alturas. Deixei o assado no forno e fui tomar banho. Escolhi uma roupa simples e confortável. Era minha casa e queria mostrar o meu jeito no dia a dia. O assado já cheirava e quando cheguei à sala, escutei um barulho na maçaneta. O trinco girou e quem me aparece?! O Cacá. Eu queria mata-lo! Era a minha casa. Será que ele não se tocava?
— O que você está fazendo aqui?
— O que você está escondendo?
— Como assim? O que eu estou escondendo?
— Qual é, Paula? Você me deu a chave do seu apartamento, nunca ligou para a hora que eu chegava e, desde o fim de semana, você está esquisita e se esquivando de mim…
— Não estou me esquivando de você, apenas…
— Apenas?
— Apenas… Quero privacidade!
— Não cola. Você saiu com a morenona e não quer me contar!
— Para, Cacá! Será que vou ter que contar para você, toda vez que sair com uma mulher?
— Não, claro que não! Se você sair todo fim de semana com alguém, eu não vou querer saber, mas se você sair, depois de um longo e tenebroso inverno de estiagem, vou querer saber!
— E por quê?
— Porque aí vou saber que você tá pagando coraçãozinho apaixonado por alguém. Aí vou querer saber se a pessoa merece ou não estar com você!
Fiquei chocada! De filha única, passei a ter um irmão que nem conhecia meus pais.
— Sai. Agora!
Abri a porta e fui empurrando o Cacá para fora de casa. E se a Aghata chegasse? Como eu ia explicar para ela que poderia confiar em Cacá? Ele era meu amigo e sabia que ele não falaria para ninguém, mas não tinha conversado isso com ela!
— Sai, Cacá, depois a gente conversa e eu te prometo que conto tudo. Está bem assim?
— Não. Eu quero agora!
— Sai, Cacá! Vai embora!
— Qual é, Paula, sou seu melhor amigo e você não vai me contar o que está acontecendo? Você nem saiu comigo no sábado e, depois, desligou o celular! Hoje você estava sorrindo de orelha a orelha no trabalho e não quis me contar nada, agora me diz que hoje eu não posso ficar no seu apê e tá fazendo uma comida que nunca fez pra gente!
— Cacá, a gente é amigo! Você não é meu irmão ou meu namorado!
— E amigo confia no outro! Você está me escondendo coisa! É a gostosona, não é? Pode confiar em mim, Paula, eu não vou contar pra ninguém!
— Eu não posso, Cacá! Sai.
— Qual é?! Você passou um fim de semana inteiro com a gostosona e não quer me contar?
Parei de empurrar o Cacá. Quando ele queria, sabia ser um pé no saco! Mas ao mesmo tempo, eu mudei com ele num fim de semana, da água para o vinho.
— Olha, Cacá, eu não posso te contar nada. Você tá sendo injusto comigo! Deixa eu conversar primeiro com ela, tá bom?! E para de chamar de gostosona!
Foi aí que a gente viu ela no corredor. Eu dava sempre furo com ela…
— Paula, por que não chama o Carlos Eduardo para jantar conosco?
Eu e Cacá a olhamos atônitos e ela, simplesmente, ria.
— Ei! Não vão me chamar para entrar?!
Ela falou, ainda sacaneando a gente.
— Cla-Claro, subsecretária!
O Cacá é um idiota nessas horas… Eu pensei.
Tivemos mais algumas discussões de criança, por conta dele, e acabou tudo bem. No jantar, tudo correu agradável e gostei de ver o Cacá e ela interagindo legal. Na realidade, eu fiquei reparando nela e no Cacá discutindo coisas bobas como futebol e eu adorei. Quando o jantar acabou, acho que ele tomou chá de “simancol” e disse que ia embora. Já não era sem tempo, porque eu estava doida para dar uns “agarros” nela. Quando ele saiu, me virei para ela e me pendurei no seu pescoço. Já estava enlouquecida! Passei o dia inteiro pensando nas coisas que eu faria com ela à noite!
— Seu jantar estava maravilhoso! Obrigada por me proteger, mas acho que o Cacá ainda está chateado com você.
Desvencilhei-me do pescoço dela e a olhei, no fundo dos olhos.
— Aghata, eu sou lésbica assumida sim, mas Deus sabe o que eu passo. O pior de tudo não é gente como o Gustavo, por exemplo, que fala as coisas na cara. Não que não me incomode, ele é um babaca, mas pelo menos sei o que ele pensa ou o Cacá que é um cara em um milhão e, dificilmente, vou encontrar um amigo igual a ele. O pior são pessoas de minha convivência que não dizem nada, agem naturalmente, mas pensam coisas a meu respeito e eu, uma hora ou outra, acabo “pescando”. O que eu quero dizer é que eu sei que não é fácil; e você é uma pessoa pública. Sei que precisa se preservar, mas uma coisa eu não vou admitir no nosso relacionamento, não quero que você arrume nenhum namorado de fachada. Isso não!
Eu disse nosso relacionamento e nem sabia se era isso que estávamos tendo e também não sei nem por que falei aquilo. Fiquei vermelha, pois já colocava imposições sem ao menos saber se ela queria ter um relacionamento comigo.
— Desculpe, eu… Na realidade não era isso que eu queria dizer, é… Quer dizer… eu… não sei nem se você quer firmar um compromisso…
Ela gargalhou alto me deixando sem graça.
— Você fica uma gracinha quando está sem graça, sabia?!
Eu fiquei mais vermelha ainda. Ela tinha o poder de me fazer perder a linha de raciocínio. Não sabia onde enfiar a minha cara. “Que vergonha, Paula Atanar!” Pensei. “Lésbica, desvirtuadora de moças de família e ainda louca possessiva!” Se eu fosse ela, eu correria de mim!
Ela sorriu e acariciou o meu rosto com uma de suas maravilhosas mãos enquanto segurava minha cintura com a outra, aproximando nossos corpos. Ela sorriu novamente e aproximou seus lábios dos meus e falou, sussurrando sensualmente:
— Eu quero namorar você! Você aceita namorar comigo?
Quando ela falou isso, meu peito quase explodiu de felicidade. Não sabia que meus sentimentos já eram tão fortes por ela. Mas sabe aquela coisa de sininhos que dizem que a gente ouve? Pois é, eu não ouvi sininhos, ouvi uma música de natal inteira. Ao invés de eu beijar aquela boca espetacular e me pendurar no pescoço dela, eu só conseguia sorrir igual à Monalisa e acabei me perdendo naquele olhar azul translúcido.
— Então?
Ela perguntou. Eu não consegui dizer nada. Colei meus lábios nos dela e iniciei um beijo lento e cheio de carinho. Eu queria transmitir, através de meu beijo, tudo que eu estava sentindo naquele momento, mas acho que seria impossível. Ela intensificou o beijo e, quando terminamos, eu olhei para seus olhos, novamente.
— Eu aceito!
Sorri e ela sorriu também.
— Então, você já pode falar comigo como uma namorada. Que regras tem esse namoro?
Ela sorriu, cinicamente, e eu voltei a ficar sem graça.
— É… Não são regras, apenas uma coisa que já vivi e não gostei muito…
— Então, já namorou alguém que não queria assumir?
— Não, já namorei alguém que não queria se assumir para mim.
— Entendo. Não se preocupe, eu não pretendia não assumir nosso relacionamento. Apenas as coisas aconteceram e nós não conversamos muito a esse respeito nesse fim de semana. Acredito que você saiba bem por que…
Droga! Eu estava vermelha igual um pimentão novamente. Acho que ela gostava de me ver dessa cor. Vivia provocando essas coisas em mim e depois ficava rindo da minha cara. Desvencilhei-me do abraço e me virei para a cozinha, falando.
— Ainda falta a sobremesa!
Ela segurou meu braço e me puxou, novamente, me enlaçando.
— Eu já tenho a minha sobremesa exatamente aqui.
Alguém já morreu por fazer sexo a noite inteira e depois ir trabalhar direto sem descansar? Por que se nós continuássemos a nos encontrar todo dia à noite, era isso mesmo que ia acontecer comigo. Como foi o final daquele filme “9 semanas e ½ de amor“, mesmo? Eu não me lembro muito bem, também esse filme é mais velho que o dobro da idade da minha avó, mas acho que alguém morreu neste filme de tanto transar, se alguém não morreu chegou quase lá.
Ela me beijou de novo, passando as mãos pelas minhas costas. Meu corpo estava todo colado ao dela e esquentei de cima a baixo. Por todas as forças do universo, eu achava que tinha me apaixonado nos meus dois relacionamentos anteriores. Tudo que eu sentia nos braços dela, nos beijos dela fazia com que o que eu tinha tido antes parecer uma gota no oceano de tão pequeno. Comecei a me assustar novamente. E se para ela era só uma novidade? Separei-me do abraço com dificuldade e colei minha cabeça em seu peito.
— O que foi?
— O que você sente… Quer dizer, você quer comigo um compromisso de verdade, não é?
Fiz a pergunta da forma mais débil que alguém poderia fazer. Nem parecia que eu era uma pessoa voltada para os estudos. Eu não conseguia ser uma pessoa muito coerente com ela. Ela colocou dois dedos em meu queixo e me fez olhar para ela.
— Ei! Olha para mim e escuta. O que eu sinto por você, eu nunca senti por ninguém em minha vida.
Ela me olhou com um olhar tão desesperado que eu fiquei arrependida de ter me mostrado tão insegura. Abracei-a novamente e, dessa vez, meu sorriso se fez maior. Ela beijou o topo da minha cabeça.
— Quer conhecer o meu pequeno refúgio?
— Vou adorar, mas não vou nem colocar o pé no seu quarto.
— Ué! Por quê?
— Se eu entrar lá, você sabe que eu não sairei antes de amanhecer e, infeliz ou felizmente, eu terei uma reunião com seu chefe, amanhã de manhã, para negociar os termos do projeto.
— Eu não acredito que vai me trocar por ele! – Falei rindo.
— Acredite, se fosse só por minha vontade, eu estaria lidando só com você e com o Carlos Eduardo.
— Está bem, mas namorar um pouquinho no sofá pode?
Ela deu aquela gargalhada gostosa que eu adorava.
— Há muito tempo que eu não namoro comportadinha no sofá.
— Vai ser no sofá, mas quem te falou em comportadinha?
Ela deu outra gargalhada e foi me conduzindo até o sofá. Ela se sentou e eu sentei, comodamente, no colo dela. Aspirei o perfume em seu pescoço e segurei o lóbulo de sua orelha entre meus lábios para depois suga-lo.
— Isss! Ah! Você não tem jeito, assim mesmo no sofá só vou sair daqui amanhã.
— Essa é minha intenção.
— Eu acredito. — Ela sussurrou.
Meu sofá era uma chaise e assim conseguiríamos nos esticar e ficar confortáveis. Peguei o controle remoto do home teather, acionei e um som de blues começou a tomar o ambiente. Ela estava deitada, comodamente, e eu disse para ela me esperar que eu já voltaria. Fui até meu quarto, estava receosa do que faria, mas pelas suas atitudes e a forma como fez amor comigo no fim de semana, eu acreditava que ela iria gostar. Retornei a sala com um dildo e um prendedor na mão e a olhei, maliciosamente. Se eu não quisesse convencê-la de usar, eu riria muito da expressão de seu rosto. Estava com os olhos enormes e a órbita ejetada.
— Você quer usar isso em mim?
— Não. — sorri. — Eu quero que você use em mim e com o tempo… Quem sabe… Você se sentirá cômoda para eu usá-lo em você. Mas só se você quiser e quando quiser.
Seus olhos passaram do espanto ao desejo em tempo recorde.
— Eu nunca usei um… — Enquanto eu me aproximava, ela falava um pouco acanhada.
— Você sempre teve homens. Não se preocupe, certamente, você usará melhor esse, do que qualquer um deles usaria os seus próprios. Eles têm o equipamento, mas não sabem usá-lo. Não sabem o que fazer para satisfazer uma mulher…
Deitei por cima dela no sofá e comecei a beijá-la, deixando o dildo de lado. Ela retribuía aos meus carinhos e começava a se soltar. Fui despindo-a devagar, beijando as partes do corpo que eu desnudava. Ela começou a tirar minhas roupas também e a me beijar.
Seus gemidos estavam fortes e, certamente, ela pensava em como usaria ele em mim. Não me preocupava tanto, pois era só ela sentir a interação. Não tinha mistério e depois, quando ela estivesse excitada e percebesse a minha excitação, fluiria. A roupa tinha ido parar no chão, e nós já estávamos nos acariciando, intensamente. A dor entre minhas pernas já estava insuportável. Beijava, mais uma vez, os lábios maravilhosos de Aghata que começava a dar sinais de que queria me penetrar com os dedos. Peguei o dildo com o prendedor ao lado e me afastei um pouco de seu corpo estirado. Ela viu a minha intenção de passar as tiras por trás dos seus glúteos para prendê-lo do outro lado e elevou o quadril para facilitar. Eu sorria e enquanto prendia pacientemente, ela me olhava entre assustada e excitada. Apertei as tiras para ajustar melhor.
Com certeza, ela gostaria de usá-lo. Ele tinha uma proeminência pelo lado de dentro que tocava o clitóris. Eu sorri quando eu apertei a correia e ela sentiu o roçar do dildo em seu bulbo de nervos e gemeu. Ela ficou vermelha. Para variar um pouco, não tinha sido eu a ficar envergonhada. Terminei de prender e me debrucei sobre seu tronco dobrando o dildo para frente, assim eu poderia recomeçar as minhas carícias. Beijei um mamilo muito eriçado e comecei a passear minha língua em volta dele. Passei ao outro seio e o ondular dos quadris de Aghata denunciavam que ela estava ficando excitada com minhas ações.
Encaixei-me, sentada na parte alta de suas coxas quase em seu púbis, segurando o dildo em uma de minhas mãos entre minhas pernas. Sorri para ela e comecei a manipular o dildo. Os olhos dela pegaram fogo! Eu mesma não estava me aguentando mais, na perspectiva dela me ter.
Deitei-me do lado oposto do sofá e estendi meus braços para chamá-la para mim. Ela veio receosa e, ao mesmo tempo, entusiasmada. Quando ela se apoiou sobre mim, eu abri minhas pernas e conduzi o dildo em direção a minha entrada; ela foi suave, parecia recear me machucar. Essa atitude me fez amá-la mais. Estava lubrificada e coloquei a extremidade em mim.
— Vem… me penetra, devagar…
Minha voz era abafada e rouca de tesão. Ela forçou o dildo para dentro devagar e um pouco desajeitada. Essa ação poderia ser ruim se não fosse ela, se não fossem os seus braços fortes e bem delineados a me segurar, se não fosse seu dorso torneado e belo a me envolver, se não fosse o som de sua voz tremula a ouvir…
— Ah! Que delícia…
— Empurra mais um pouco, vai…
— Uh! Não estou te machucando?!
— Nãoo… Vem!
Sussurrei, outra vez, ofegante. Ela começou num ritmo de vai e vem discreto e lento.
— Uh! Gostoso… mais forte! — eu ofegava.
Ela pareceu esquecer toda a prevenção. Eu a olhava e em seus olhos via que estava tomada de desejo. Movia sua pelve em um ritmo que me enlouquecia e eu arremetia contra seu sexo estreitando os movimentos. Parecia que eu a sentia dentro de mim por ver seu corpo maravilhoso movimentando, suada, arfando, desejosa de mim. De repente, senti algo que me levou a loucura e que nunca pensaria que, nesse primeiro momento, poderia acontecer por sua inexperiência com mulheres. Colocou uma de suas mãos sobre meu púbis e acariciava meu clitóris com seu polegar enquanto me penetrava. A outra mão passou por baixo de meus glúteos, entre as pernas e massageava entre a minha entrada preenchida com o dildo e meu anus.
— Ah… Aghata… Aghata… Amor… Mais forte agora! Eu vou…. Estou… UH!
Desabei em um orgasmo intenso e gostoso! Uma delicia!
Amoleci e não posso dizer que sou boa amante, pois a partir do momento em que ela me estimulou em meu clitóris e cheguei ao meu clímax, não consegui direcionar uma só palavra de amor para ela, só gemidos e agora o meu corpo se encontrava completamente lasso. Ela retirou devagar o dildo, ainda me fazendo estremecer. Estava sensível, mas vi que a afetou também. Seu corpo estava desabado por cima do meu e ficou imóvel por um tempo. Comecei a acariciar seu cabelo macio, sem ao menos me dar conta.
— Eu nunca imaginei sentir algo tão… Tão… Sei lá, não consigo nem descrever.
Ela disse. Eu apenas sorri e perguntei onde ela havia aprendido amar assim.