O juiz de paz já estava em seu devido lugar. Alexia convenceu Juliana de suas extravagâncias, e a cerimônia e festa aconteceriam no Salão Nobre do Copacabana Palace.
Estava todo decorado em tons de rosa claro e gelo. Violetas decoravam o corredor principal por onde passariam as noivas. Os convidados já aguardavam ansiosos, dentre eles estavam Alvarenga, Macieira, “Seu Manô” e alguns outros amigos de Portugal. Silveira, Hugo, Isabela e outros amigos da redação também estavam por lá, profissionalmente e pessoalmente. Como as duas eram famosas, o casamento era um evento e tanto, ainda mais por ser homossexual.
A orquestra começa a tocar uma música e os Padrinhos e Madrinhas começaram a entrar no salão. Do lado de Juliana: Mary e Carlos, Armando e Maurício. Do lado de Alexia: Marcela e Giovanna e Daniel e Jaqueline, sua esposa.
Só Oliveira não estava presente, mas este teria duas funções cruciais no casamento.
De repente, todos levantam. E a primeira noiva adentra o Salão. Alexia é trazida por Oliveira, e esta trajava um vestido longo, estilo tubinho, todo branco com um decote generoso, costurado com fios de ouro em suas extremidades, e seus cabelos estavam presos num coque, que deixava apenas alguns fios soltos nas laterais. Ao se colocar junto do Juiz de Paz, entra a segunda noiva, trazida por Mário. Judith já trazia lágrimas nos olhos, sentada na primeira fileira. Juliana estava simplesmente arrebatadora. Também vinha de vestido, mas em cor rosa bem clarinho, um pouco mais curto do que o de Alexia. Seu cabelo loiro ouro estava solto, tendo uma tiara prateada cravejada em diamantes decorando seus cabelos. Estava uma princesa.
O Juiz de Paz começou a cerimônia elogiando descontraidamente a beleza das duas mulheres ali presentes, e continuou:
– Hoje, foi me dada a missão, de unir mais um casal no laço da afeição eterna. Não compete a mim fazer julgamento de cor, sexualidade ou qualquer outra coisa que ouse ser usado como desculpa para que tal cerimônia não aconteça. É de importância estamos cientes, que hoje estamos celebrando o amor. O amor entre duas pessoas que tem uma das mais belas histórias que já conheci. O amor, o perdão e a confiança sempre são indestrutíveis quando se há um sentimento verdadeiro regendo nossas vidas. E desejo pessoalmente, toda a felicidade do mundo para vocês. Agora, a pergunta que todos sabem a resposta, mas que preciso fazer por burocracia…Alexia Bettencourt Cavalcanti, aceita Juliana Fernandes Te les, como sua esposa?
– É o que mais quero! Sim!
– E você Juliana Fernandes Te les, aceita Alexia Bettencourt Calvalcanti, como sua esposa?
– Sim! Certamente!
– Que entrem as alianças…
E o momento mais aguardado. Entra um Oliveira, sério, em um smoking preto, segurando uma delicada almofadinha com as duas alianças. Muitos risos foram ouvidos, seguidos de aplausos. Oliveira abriu um sorriso e cumprimentou todos os presentes de forma teatral. Ele era muito querido, e não tinha ninguém melhor destinado a fazer aquilo. Chegou perto das duas, e com um beijo no rosto de cada disse:
– Sejam felizes. Esse velho homem torce muito por vocês. As duas abraçaram Oliveira, e o Juiz de Paz prosseguiu:
– Agora, Juliana, Alexia, façam seus votos… Juliana começou:
– Muitas coisas já foram ditas entre nós. Coisas belas, coisas ruins. Eu não sei que coisas vou te dizer até o fim da minha vida, mas faço questão de lembrar-te todos os dias o quanto eu amo você. Minha mãe tinha razão: antes de embarcar para Portugal, me disse para “encontrar minha felicidade”. Eu encontrei, e não largo. Nunca mais. Eu amo você de todo meu coração Alexia, hoje, amanhã e pra sempre. E com essa aliança, eu me caso com você.
Colocou a aliança no dedo de Alexia, que muito emocionada, prosseguiu com os votos.
– Você é minha luz. É minha vida. Sempre quis o seu bem, e amar você plenamente. Amo seu jeito quando fica estressadinha e não para de balançar as pernas. Amo quando você xinga todos os palavrões do mundo vendo jogo do Botafogo. Amo quando você deixa a caixa de leite fora da geladeira…tá isso eu não amo tanto – sorriu e arrancou risadas dos convidados- mas, com o tempo, aprendemos a aceitar os defeitos e a amar mais ainda as qualidades. Parece que as mães estão destinadas a prever o nosso futuro. Quando li a carta de minha mãe, ela falou sobre o poder do amor, o quanto ele me mudaria. E foi através das palavras dela, que eu não desisti de você. Mesmo com tudo indo contra mim. Se eu sou uma pessoa melhor hoje, eu sou assim, por você. Você é meu caminho. Você é a minha felicidade. Quero passar o resto da vida com você, e quando nossa hora chegar, tenho certeza que partiremos juntas para o outro lado, para continuar vivendo o nosso amor plenamente. Uma vez você me disse uma coisa, e vou repeti-la agora: “Sempre quando você cair, mesmo que tenha sido por minha causa, eu vou estar com a mão estendida para te ajudar. Você vai segurar a sua mão na minha, para que juntas possamos fazer, o que não conseguimos fazer sozinhas.” E agora eu seguro a sua mão e com essa aliança, eu me caso com você, e te torno minha, e me torno sua, para sempre!
Colocou a aliança no dedo de Juliana, e ambas já choravam muito quando o Juiz diz:
– Eu as declaro: Esposa e Esposa. Mulher e Mulher. Como quiserem se chamar. Parabéns, assinem aqui o contrato de união estável, por favor!
Assim que assinaram, Alexia falou:
– Quando o casamento homossexual for legal no Brasil, nos casamos de novo.
– Pode ser algo mais discreto dessa vez?
– Farei um esforço pra que sim.
Quando iam descer para passar por todo o salão novamente, o Juiz de Paz fala pra Alexia:
– Ei pera!! Você não beijou a noiva!
Beijaram-se comportadamente arrancando aplausos e “urrus” dos convidados.
———–
A festa já varava a noite. Juliana estava conversando animadamente com seus pais, enquanto Alexia falava com Daniel, o que queria falar há muito tempo:
– Daniel, eu sei da verdade.
Daniel se engasgou com um Martini que estava tomando.
– Verdade? Do que você tá falando?
– Eu sei que foi você que matou o Eduardo. – disse abaixando a voz
Daniel ficou pálido igual a uma vela, e sentou-se no banco do bar:
– Mas… como soube? – perguntou passando a mão na testa suada
– Ora Daniel, eu não sou idiota. Você prometeu a minha mãe que faria de tudo pra garantir meu patrimônio. Sabia que legalmente, talvez não fosse conseguir atingir todos os objetivos. Resolveu por um fim num problema que assolava nossa família há décadas.
– Você… não está chateada…
– Não Daniel, só gostaria que tivesse me contado. Eu soube de como subornou as autoridades para que o caso fosse abafado. Só nunca consegui descobri o que aconteceu de fato.
– Desculpa Alexia, mas achei que você já tinha problemas demais. Eu contei do segundo testamento para Eduardo, e disse que ele estava na casa de São Conrado. Me certifiquei de ir lá antes de Eduardo e desligar os circuitos de câmera, e apagar todos os registros existentes. Atrai ele para lá, e entreguei o testamento. Ele ficou transtornado e me chamou de traíra, por saber daquilo há tanto tempo. Disse que o dinheiro dele iria conseguir tudo, e aquilo não iria impedir nada. Mas foi quando ele falou mal sua mãe, que me descontrolei de vez. E tomei coragem pra fazer o que premeditei fazer. Dei um tiro certeiro na testa, de uma posição que pudesse evidenciar um suicídio – mesmo sendo num lugar incomum para tal – e montei toda uma cena para que se acreditasse nisso.
– Entendi…e como a polícia chegou em você?
– Não chegou. Apenas aleguei que você estava exausta dessa história e paguei uma pequena fortuna para que o caso fosse arquivado.
– Acabou usando do mesmo artifício dele. – constatou
– A sua felicidade estava em jogo, não iria arriscá-la de novo. Não tenho orgulho do que fiz, mas fiz pela memória de sua mãe. Porém, fique a vontade se quiser me denunciar e…
– Jamais. É um segredo que morrerá conosco. Você e Oliveira se tornaram como pais pra mim. Só tenho a agradecer a dedicação e o carinho de todos esses longos anos.
Eles se abraçaram, quando chegou Marcela e Giovanna:
– E i amiga! E aí, se divertindo? – perguntou Marcela, Daniel pediu licença educadamente e se retirou
– Sim, e muito feliz também. Olha nunca pude me desculpar…
– Ei… nem pense nisso. Nós descobrimos tudo lembra? E Juliana já teve uma longa conversa conosco. Não há necessidade de outra. Te amamos. E viemos desejar parabéns. Mas temos que ir pra casa, tem uma criança lá implorando por nossa atenção. – Giovanna desandou a falar
– Filho… quem diria… – Alexia disse sorrindo
– Daqui a pouco vocês estão tendo um também… – Giovanna continuou a falar
– Eu quero e muito. – Alexia deu um olhar sonhador para as moças
Juliana interrompe, já meio alta pela quantidade de vinho ingerida:
– Oi minhas lindas meninas!!! O que mandam!? – Abraçou cada uma de um lado
– Já tão indo pra casa. Filho… – Alexia debochou
– Ah, entendo. Em breve teremos um também não é amor? – se soltou das meninas e agarrou na cintura da esposa
– Claro! Estava justamente falando disso.
– Já contou pra elas como faremos?
– Não… mas não é assunto pra agora…
– Ah é sim! Ficamos curiosa. Pode ir contando. – Giovanna pedia com as mãos juntas, igual uma criança
– Bom… – Alexia começou – Resolvemos inseminar Juliana, por ela ser mais nova que eu. O doador terá minhas características físicas, que se misturarão com as de Juliana. Depois programamos um segundo filho, com meus óvulos, que já estão congelados, gerados na barriga de Juliana por um doador com as características dela. Vamos ter dois filhos, isso já está decidido.
– E estou muito ansiosa por isso! – disse animadamente beijando Alexia
– Ansiosa para o que?? – Interrompeu Mary
– Elas vão ter dois bebês! – disse Giovanna convicta
– Como??? Tão grávidas?? – Mary assustou-se
– Não MARY! Giovanna que é linguaruda. Elas pretendem ter, mas não hoje! – riu Marcela
– Ah tá. Mesmo porque a família Teles já espera um novo herdeiro…
– O que? Mas… que ALEGRIA!! – Juliana pula nos braços da cunhada – Vamos ser titias amor!!
Giovanna e Marcela olham curiosas, pois sabiam da condição de Carlos, e Mary tratou logo de explicar para elas, que ficaram maravilhadas.
– Nosso filho não foi feito enquanto fazíamos amor, mas nem por isso não foi feito com tal sentimento. – Mary encerrava sua explicação
– Fazer amor? Olha, você não abominava esse tipo de expressão? – Juliana lembrou que Mary tirara sarro da cara dela com essa expressão há uns anos atrás
– Você tinha razão Juliana, tudo muda quando a gente ama verdadeiramente alguém.
E as moças ficaram ali, um bom tempo conversando, até que as noivas decidiram ir para o apartamento que elas comparam no Leme, passar sua lua-de-mel.