– Alexia? ALEXIA! Acorde!
– Oi! Quem…ah é você…
Carlos acordara Alexia, que ficara a noite toda ao lado de Juliana, esperando essa acordar.
– Aqui é o CTI, como conseguiu ficar de acompanhante dela?
– Eu tenho muitas habilidades. E não queria deixá-la sozinha…
– Vá pra casa descansar, eu fico aqui com ela…e você precisa tirar essa camisa feia. Vai fazer com que ela durma mais e mais, só pra não ver esse escudo…
– Ponho até a camisa do Botafogo, se for pra ela acordar logo. Riram. Alexia resolveu dar-lhe palavras consoladoras:
– Soube de sua amiga, meus sentimentos.
Carlos teve seus olhos invadidos por lágrimas, mas ele não as deixou cair:
– Muito obrigada Alexia.
– De nada…mas eu não quero ir. Estou bem aqui.
– Eu, preciso de um momento com a minha irmã…por favor! Caso ela acorde, eu mando lhe chamar.
– Ok então.
Alexia ia se retirando, quando Carlos disse:
– Apesar de toda essa história, eu vi seu depoimento, e acredito sinceramente em você. Se Juliana resolver te perdoar, saiba que eu apoio a decisão de vocês.
– Obrigada Carlos, de coração. Seus pais não gostaram de me ver aqui…
– Tente entender os velhos. Você mexeu com a garotinha deles…
– Entendo…bom… qualquer novidade me ligue, aqui está meu telefone.
– Pode deixar.
Alexia se retirou e foi para casa tomar banho e tirar o cheiro de hospital. Carlos sentou ao lado da irmã, e segurando em sua mão falou baixinho:
– Jujuba! Que susto que você me deu menina. Já perdi minha irmã de consideração hoje, achei que fosse perder a minha de sangue e coração também. Não sei o que faria sem você. Você é a coisa mais importante na minha vida. Só reconheço minha vida, com você fazendo parte. Você que me ensinou tudo de certo e errado nesse mundo. Você que me apresentou a garota dos meus sonhos. Você que me deu suporte quando me descobri com AIDS. Sem você, eu não sou nada. Acorda logo, para podemos falar mal dos outros como sempre fazemos. E comemorar o título do nosso Glorioso, como tanto queremos. Te amo minha irmã…
O médico fez sinal para que Carlos saísse. Judith e Mário ainda queriam vê-la.
O dia se passou e ao final dele Juliana deu as primeiras reações de despertar. Era Judith que estava com ela no momento e logo chamou o Médico responsável.
Juliana despertou confusa, e perdida. A primeira coisa que perguntou, foi a coisa mais óbvia que poderia sair da boca dela naquele momento:
– Mãe..o…o…Botafogo foi campeão? Ou eu sonhei?
Judith começou a rir e chorar de emoção pela filha ter despertado de vez:
– Foi sim filha!! Foi sim!!
– Ah, que bom! E, como eu vim parar aqui? – ainda estava meio grogue
O médico de Juliana falou:
– Juliana, já vamos transferir você para um quarto, em um hospital particular, aonde sua família vai ter todo o tempo do mundo para conversar com você, está bem?
– Tudo bem – dizia uma Juliana ainda fraca
Assim que Juliana foi transferida e devidamente instalada no hospital particular que seu plano de saúde era conveniado, Carlos ligou para Alexia dando as boas novas. A morena vestiu a primeira coisa que viu na frente, e quando estava chegando ao Hospital, resolveu comprar Violetas, as flores preferidas de Juliana.
Juliana já estava a par de toda a situação, e ansiava por ver Alexia, e agradecer por ela ter salvo sua vida. Afinal, ela perdera muito sangue, e se não fosse pelo socorro, com certeza não se saberia se ela resistiria.
Alexia ligou para Carlos avisando que já estava no hospital, indo ao encontro dela, pedindo para ele “Limpar a área” e ele fez o favor de retirar todos do quarto.
Juliana não entendeu muito bem o porquê de todos terem a abandonado repentinamente, até suaves batidas na porta, fazer o óbvio ser constatado. O coração de Juliana disparou e ela ordenou:
– Pode entrar…
Alexia entrou extremamente receosa no quarto, e foi recebida por um lindo sorriso, mas olhos totalmente confusos com todos os fatos. A morena brincou:
– E como está a jornalista que é notícia em todos os jornais? – lhe mostrou as Violetas – São pra você!
-Obrigada! Coloque aqui do meu lado. E sim, já estou sabendo. Tenho até campanha no Facebook, como símbolo de necessidade de Paz entre as torcidas. Eu nem sabia que era tão querida assim. Olha a quantidade de coisas que recebi das torcidas organizadas. Pode ficar com as coisinhas do Flamengo, se quiser – sorriu
– Você nasceu para brilhar Juliana, eu sempre soube disso… – disse com um orgulho na voz
– Obrigada por ter salvo a minha vida… e… acreditado sempre em mim… – sussurrou
– Sério? Mas… se não fosse por mim você nunca teria saído do Estádio e sido baleada… foi minha culpa e … – Alexia parecia meio incrédula no que estava ouvindo
– Sério. As coisas acontecem, porque acontecem. Eu realmente não estou com raiva de você por isso. Sabe Alexia, esse tempo todo que não tive notícias suas, e depois a morte do seu… do Eduardo, o seu depoimento e tudo mais, me fez perceber que a minha raiva pela questão da bolsa de estudo, era mais orgulho do que outra coisa. Me senti enganada? Com certeza. Mas o pior pra mim, foi ver você abandonar nosso amor. Tantas juras, promessas. Trocamos uma aliança. De repente, tudo aquilo havia ido por água abaixo. Pra mim, seu sumiço significava que eu tinha sido só mais um capricho pra você, e que quando foi revelado a mim o joguinho que você fazia, perdi a graça. Eu nunca imaginei que você estaria fazendo aquilo tudo, pra me proteger.
– Você…entendeu? – perguntava incrédula
– Não concordo de você ter mentido pra mim nem pago meus estudos. Nós nem nos conhecíamos direito. Foi meio psicopata isso seu. Mas… por outro lado… você acreditou em mim, e no meu sonho. E por isso sou grata.
– Eu só fiz o que meu coração mandou. – sorriu emocionada
Juliana e Alexia se olharam profundamente, mas um pensamento fez com que Juliana recobrasse a consciência e apontou um pacote de cor alaranjada que estava em cima de uma mesinha de canto, no quarto.
– Pegue aquele envelope ali em cima da mesa por favor…
– Qual….este? – segurou o envelope
– Sim! Agora abra
Alexia viu uma grande quantidade de dinheiro dele e perguntou:
– O que é isso? – perguntou não entendo o porquê dela estar com aquilo nas mãos
– É todo dinheiro investido em mim que um dia prometi pagar ao seu pai. Inclusive o dinheiro gasto com as alianças…
– Eu não acredito que você tá fazendo isso! Você não tem dívida alguma com… – Alexia disse desapontada – acho que não tenho mais nada pra fazer aqui, então, passe um bom dia.
Alexia deixou o envelope em cima da mesinha ao lado de Juliana e saiu furiosa. Juliana chamou por Alexia em vão. Mais uma vez esse jeito precipitado da morena tinha feito a meter os pés pelas mãos. Juliana não podia ir atrás dela, pois estava com o soro no braço, mas rapidamente pegou o celular e ligou para Carlos, que foi correu para impedi-la de sair do hospital sem terminar de ter aquela conversa com Juliana.
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Quando olhei aquele envelope cheio de dinheiro, foi como se tivéssemos voltando ao dia em que Eduardo humilhou Juliana. Bem que eu estranhei aquela forma doce de falar, aquele agradecimento, que na hora eu estava sentindo mais raiva de mim por ter acreditado, que tristeza. Tive medo de nunca mais conseguir ter Juliana para mim. Ela só pensava em me devolver esse maldito dinheiro. Eu não o queria, não podia aceitá-lo. A única coisa que eu queria era o seu perdão, mas para isso eu também teria que merecê-lo.
Eu estava abrindo a porta do carro quando senti uma mão em meu braço. Já me preparava para bater em seja lá quem fosse, quando vi o olhar de Carlos, me pedindo para voltar ao quarto, que Juliana não tinha terminado a conversa. Disse que não queria conversar mais nada com ela. Que ela tava trazendo a tona assuntos que deveriam ser esquecidos. Foi quando ele me disse que algo ruim do nosso passado só é esquecido, quando é resolvido. Pensei naquelas palavras óbvias, mas cheias de significados e voltei ao quarto de Juliana. E dessa vez não entrei receosa pelos olhares desconfiados dos familiares, e pela presença dela mesma. Havia tomado uma decisão, e a faria naquele momento.
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Alexia entrou no quarto com a pose altiva que era conhecida por todos. Juliana já foi falando:
– Pode tirar essa pose, porque comigo você não vai ser assim! Eu preciso falar com a Lexy, e não com a Alexia bilionária cheia de pomposidade.
Alexia percebeu que de fato aquela pose não ajudaria em nada, mas era assim que ela era desde sempre, quando queria se proteger de algo, e naquele momento, ela queria não desabar emocionalmente na frente de Juliana:
– Olha Juliana, o homem que você disse que devia, morreu. E a mim você não deve nada. Não tem que me dar dinheiro algum.
– Tenho sim. Não importa as circunstâncias. Eu prometi. E estou cumprindo. Aceite isso, por favor. É o mínimo que você pode fazer depois de tudo– disse firmemente
Alexia viu que não tinha muito jeito e acenou com a cabeça positivamente. Um silêncio se fez no quarto, e quando Alexia iria começar a falar, Juliana começou:
– Você tem ideia do que é descobrir tudo o que descobri? A forma que descobri. Sair pelas portas do fundo de uma faculdade, deixando pra trás o sonho da minha vida?
– Juliana…
– E quando eu falo “o sonho da minha vida”, é do sonho de casar com você que eu falo. Eu amo o que faço, mas eu sabia que com a experiência que adquiri no exterior, teria maior facilidade pra ser empregada. Eu queria me casar com você, construir toda uma vida. Eu te amava Alexia. Só Deus sabe como eu te amava…
– Não ama mais?
– … e eu to muito ferida ainda por dentro. O fato de você NUNCA ter me procurado, matou meu coração aos poucos. Alexia sentiu seu coração diminuir de tamanho, pelo fato de Juliana ter ignorado sua pergunta:
– Mas eu já expliquei pelo vídeo e …
– Eu sei de tudo Alexia. Já vi e revi aquele vídeo milhares de vezes, mas…
Alexia se aproximou da loirinha, sentou ao seu lado, na cama do hospital e segurou sua mão:
-… mas eu te devo uma coisa: Me desculpa por tudo que te fiz sofrer. Se eu nunca tivesse feito o que fiz, você não teria o coração cheio de mágoas e ressentimentos. Me perdoa por todo o mal que te fiz, mas eu só queria o melhor pra você. Só queria desvendar você e amar você. Perdão se pareceu que fiz isso por capricho, mas não foi. Foi uma coisa meio psicopata mesmo, e só poderia dar errado. Perdão, meu amor, por favor, me perdoa!?
Juliana e Alexia já estavam em meio as lágrimas, e a loirinha respondeu:
– Eu não sou melhor do que ninguém para negar perdão. É claro que te perdoo. Mas…
– Sempre tem um mas… – disse a morena desanimada
– Hoje eu vejo que foi necessário passar por tudo isso. Se eu não tivesse continuado lá, você teria sido uma aventura. Ou talvez, tivesse tido problemas maiores com seu… com o Eduardo, caso resolvesse vir de vez para o Brasil. Não concordo com o que você fez, mas não podemos mudar o passado.
– E o que faremos?
– Bom, se você quer que eu comece a voltar numa boa com você, use esse dinheiro pra algo que você queira muito fazer. Algo que te faz bem. Um curso de música talvez?
– Você ainda lembra… – olhou ternamente emocionada para a loirinha
– Eu não me esqueci de você, nem por um minuto. – devolveu o sorriso e um olhar cheio da antiga paixão
– Juliana… – devolveu o olhar apaixonado
Alexia se aproximou de Juliana e lhe deu abraçou. Juliana devolveu o abraço, e a conexão daqueles corpos novamente fez cada uma estremecer por dentro. As duas apertaram o abraço e choravam mais fortemente:
– Me perdoa meu amor, me perdoa por todo mal que lhe fiz!
– Me perdoa você, por ter desconfiado do seu amor por mim. Eu deveria saber que alguma coisa tava acontecendo. E não deve ter sido fácil pra você também, com aquele monstro de prendendo.
– Não foi mesmo Ju, eu era vigiada constantemente. Repeti várias matérias em represália, mas chegou um momento que as ameaças a sua vida ficaram sérias demais, e resolvi terminar logo aquilo. Eu era um zumbi na faculdade. Não saia de lá pra nada. E nas férias, ficava trancada no meu quarto. Foi horrível aquilo tudo. Mas agora, eu quero uma vida nova. Eu quero você. Vamos recomeçar nossa história meu amor. Por favor!?
– Vamos dar tempo ao tempo Alexia, não quero apressar nada. Mas eu aceito voltar a ter você na minha vida. Nunca consegui me relacionar direito com mais ninguém, pois via seu rosto em cada abraço que recebia.
– Será como você quiser, minha linda.
E finalmente, as bocas encontraram o beijo que ansiavam há tanto tempo.