Eternizado Pelas Estrelas

Capítulo 37 – TODA A VERDADE

Juliana não sabia o que fazer. Estava totalmente congelada na porta de casa.  Judith estava com os olhos vermelhos, já Mário estava com a aparência firme de sempre.

Mary os convidou para entrar e Juliana deu passagem. Alexia vinha saindo do banho quando se deparou com seus “sogros” no sofá da sala. Ela por um momento se assustou, mas com a imponência que já é conhecida se limitou a dizer um boa noite e ir pro quarto. Foi quando Judith se pronunciou:

– Mary, podemos falar com nossa filha em particular?

– Claro dona Judith, vou levar vocês até o escri…

– NÃO! Seja lá o que vocês vieram falar, podem falar na frente de todos. Essa é a minha família agora – disse Juliana num tom irreconhecível

-Sua família?! NÓS somos sua família e temos o direito de conversar com você em particular – seu Mário foi tão ríspido quanto a filha.

– Olha gente, não to querendo confusão, melhor vocês irem pro….

– O que está acontecendo aqui?? – Madureira escutou o burburinho e veio saber o que estava acontecendo.

– Dona Judith, Seu Mário, esse é Roberto Madureira, meu pai.

– E vocês são os pais da Juliana, não são? – disse fuzilando-os com o olhar

– Sim, somos – Mário respondeu.

– Me acompanhem ao escritório, juntamente com Juliana e Alexia.

– Seu Madureira, o que eles quiserem falar, podem falar na frente de …

– Juliana! No meu escritório, com Alexia, JÁ. – disse firme, porém sério demais.

Em 5 minutos estavam todos reunidos no escritório. Madureira atrás de sua mesa, sentado, e os demais em cadeiras em volta da mesa. Judith sentada ao lado de Mário, que sentara ao lado de Juliana que estava do lado de Alexia. E a pequena reunião familiar começou:

– Olha, Judith e Mário, não quero me intrometer na sua família, e nem tão pouco achar que faço parte dela, mas o fato é que eu abriguei Juliana durante um bom tempo na minha casa, e acredito que tenho direito de intervir nesse papo quando for necessário. Pois só eu, Mary e Alexia sabemos o quanto Juliana chorou noites a fio por conta de vocês.

– Agradecemos a estadia de nossa filha Madureira, e não viemos aqui para brigar. Sabemos que nossa menina vai embora amanhã pra Portugal, e não queríamos que ela viajasse dessa forma com a gente. – dizia Judith com a voz trêmula

– Então por que não se dirige diretamente a sua filha, senhora?

Judith olhou na direção de Juliana, que apesar de estar com certa raiva, já trazia o coração amolecido. Mário permaneceu calado.

– Ju, minha menina, desculpe-nos pela forma com que tratamos você. É que para nós, isso não é normal. E nós entendemos que você está passando por experiências, foi para um país novo e sua cabeça virou do avesso.  É uma aventura de adolescente e nós sabemos que isso…

Juliana interrompeu:

– Se a senhora veio aqui, para falar que acha que isso tudo que eu to fazendo é por pura curiosidade e senso aventureiro, perdeu seu tempo.

– Não fale assim com a sua mãe! Nós viemos aqui para dizer que pegamos pesado com você. E que sentimos a sua falta. – Mário se pronunciou

Madureira ouvia tudo atento, a cada gesto, cada expressão. Ele era uma peça importante ali. E logo ele tomaria a palavra. Mas esperava o momento certo.

– Vocês vão me aceitar do jeito que eu sou. Uma homossexual? – Juliana foi direta

– Eu não acho que você seja filha. Você é muito novinha, não sabe das coisas ainda. Foi essa mulher que virou sua cabeça, e você ainda não percebeu. – virou para Alexia – você deve se afastar da minha filha, está destruindo minha família! –disse Judith, que já deixava as lágrimas escorrerem.

Alexia permaneceu com um controle que fugia de sua personalidade e Juliana enfureceu-se, levantou da cadeira com  dedo apontando para os dois:

– Vocês não sabem do que falam! Pensam que sou uma menina ingênua que não sabe de nada! Se for pra ser assim…

– Se for pra ser assim o que Juliana??? Vai abandonar seu pais por conta de uma aventura??? – Mário levantou- se da cadeira juntamente com o seu tom de voz.

– JÁ CHEGA!!!!!!!!!!!! – Alexia levantou da cadeira berrou o mais alto que conseguiu

Todos no escritório pararam de falar, até mesmo Madureira ficou com medo. Juliana estava com os olhos arregalados. E Alexia começou a falar:

– Não quero brigar com ninguém e tão pouco ser grosseira. – disse se sentando – mas parece que é só assim que vocês entendem. Me escutem, ok?

Ninguém se manifestou contra, e a morena continuou:

– Silêncio, ótimo. Assim está ótimo.  Então, deixe-me contar uma coisa para vocês. Eu sou de uma família tradicional de Vitória, no Espírito Santo. Tenho muito dinheiro e poderia estar em qualquer lugar do mundo essa hora. Se não fosse por essa linda loirinha que está aqui do meu lado. – segurou-lhe a mão – Quando eu conheci Juliana, a minha vida estava uma bagunça. Eu tenho sérios problemas com meu pai desde criança, e depois da morte de minha mãe só piorou, o que me fez ser uma mulher amarga, sem perspectiva, arrogante e grosseira. Achava que estava acima de tudo e de todos. Mas na verdade era só uma máscara de autoproteção, pois eu sabia que não significava nada pra ninguém. Mas, desde a primeira vez, que eu olhei nos olhos da sua filha, senti que algo dentro de mim mudou completamente. Não sabia o que era, mas era um sentimento bom.  E atribui a um sentimento de amizade. Eu não sabia o porquê, mas eu precisava me aproximar dela. A Mary até tentou nos afastar, pois ela tinha todos os motivos pra não gostar de mim por coisas que fiz e não me orgulho, mas, com o tempo, ela percebeu que eu não era uma pessoa tão ruim assim. De amizade, comecei a achar que era uma simples atração. Uma curiosidade, como a senhora mesmo faz questão de falar. Foi quando resolvi falar com a sua filha para tirar a história a limpo. E nossos olhos se encontraram novamente e eu percebi que eu nunca, nem diante do meu maior desejo ou maior medo, tinha sentido meu coração bater tão rápido, minhas pernas perderem a força, e estar tão sentimentalmente desarmada em frente a alguém. E aí me  dei conta, que eu tinha me apaixonado. Por uma mulher? É um mero detalhe. Me apaixonei pelos olhos verdes, pela alma doce e generosa dessa pessoa maravilhosa que está ao meu lado. Então, não diga que é uma aventura. Eu amo Juliana, com todo meu coração. Ela mudou minha vida. Ela é meu caminho, minha luz. E não consigo ver como isso pode ser algo errado.

Juliana chorava de emoção pelas palavras de Alexia e a abraçou, até Madureira estava emocionado.  Judith e Mário estavam claramente desconcertados, mas ainda não pareciam convencidos das palavras, foi quando Juliana decidiu tomar a palavra:

– Mãe, Pai, acho que tem algo que vocês precisam saber. – Juliana disse calmamente e olhando pra Alexia que aparentava uma expressão confusa, não sabia o que a loirinha iria dizer.

Os pais de Juliana assentiram com a cabeça, e esta continuou:

-No meu primeiro semestre de UFL, eu conheci um rapaz. E ele me envolveu, me levou para sair, e depois, tentou me estuprar…

– O QUE???????????? – Mário levantou transtornado

– COMO VOCÊ NÃO NOS CONTOU NADA?????????? – Judith acompanhara a reação do marido

– EU MATO ESSE FILHO DA MÃE!!! CADÊ ELE? – Mário disse socando a parede

– Acalmem-se por favor!!! Isso é passado. – Madureira dizendo isso, foi pegar um copo de água para os dois.

– Juliana, conte essa história direito. O que ele fez com você minha filha??? – perguntou Mário.

– Nada. Absolutamente nada!  – respondeu calmante levantando e puxando Alexia a se levantar também, e continuou – e se ele não fez nada, vocês devem agradecer a mulher que tanto odeiam e atribuem a culpa de minha “doença”. Ela me salvou dele, e ainda lhe deu uns bons socos.

– Você defendeu minha filha? Mas..mas..como… – Judith estava confusa com aquele excesso de informação.

Alexia e Juliana explicaram tudo o que aconteceu naquela noite, contou que a faculdade preferiu abafar o caso e obrigou Guilherme a indenizá-la.  Mário e Judith estavam atônitos, bebendo o copo de água oferecido por Madureira. Que sentiu que era hora de se pronunciar:

– Olhem, meus caros, não vou dizer que é algo fácil aceitar a homossexualidade de um filho. Pois a gente sempre sonha com um futuro linear pro filho sabe? Casar, ter filhos, netos, uma família tradicional. Eu tenho outro filho além de Mary, é o Armando. E quando ele se assumiu gay pra mim, senti como se meu chão se perdesse. Fiquei revoltado, quis expulsá-lo de casa, senti uma tristeza muito grande.  Mas, dias depois, eu vi que meu filho era um excelente Engenheiro Civil, inteligente, bem resolvido financeiramente, e que ele não se tornava menos meu filho, por amar homens, ao invés de mulheres. O passar do tempo foi abrindo a minha mente, e hoje em dia eu sou totalmente a favor do amor, seja lá em que forma ele venha. Convivi pouco com essas moças aqui, mas já deu pra perceber que elas se amam bastante. Não é uma besteirinha não.

Judith e Mário estavam de cabeça baixa. Madureira percebeu que era a hora de deixá-los sozinhos, e se retirou do escritório.

Alguns segundos se silêncio e Juliana se pronunciou:

– Mamãe, papai, eu amo vocês. Não me recriminem por isso! Só eu sei como foi difícil passar esse tempo todos sem vocês. – se aproximou de Judith, já tendo a fala prejudicada pelo choro – Mãe, você é meu anjo protetor, aquela que sempre esteve ao meu lado em cada conquista da minha vida, e pai – virou-se para Mário – você é meu herói, meu exemplo de que podemos correr atrás dos nossos sonhos, é meu encorajador. Eu não posso perder vocês. Mas – se afastou e deu a mão a Alexia – também não posso me afastar dela, ela é o amor da minha vida!

Judith e Mário nada falaram, apenas se aproximaram e abraçaram as duas moças. Até Alexia chorou com o gesto.

– Eu te amo minha filha, e se for ao lado dela que você vai ser feliz, vamos aprender a amá-la também! – disse Mário, abrindo um sorriso para as meninas

– Nos perdoem pelas palavras rudes que falamos para vocês? – Judith ainda chorava.

– Desculpe a mim mamãe, por ter falado daquela forma também. E abraçaram-se novamente.

Madureira percebendo o silêncio foi com Mary até o escritório e viu a cena da reconciliação familiar. Eles foram chamados para o abraço também, ao som de agradecimentos e desculpas. Alexia e Juliana se sentiram em família. Mas mal sabiam que aquela era uma provação fácil, mediante o que estava por vir.



Notas:



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