Passaram uns dias,e não se tivera nenhuma notícia por parte dos pais da loirinha. Porém. Juliana já estava melhor e totalmente a vontade na casa de Mary. Já tinham conhecido Madureira, o pai de Mary que as recebeu com muito carinho e fez questão de deixá-las a vontade. Conheceram também Armando, o irmão gay assumido de Mary, com que passavam horas conversando. Ele era muito divertido inteligente. Devia ter um pouco mais de 30 anos , e era Engenheiro Civil.
Depois de assistir um belo por-do-sol na janela do quarto de Mary que tinha como a vista a orla da praia de Copacabana, Alexia e Juliana resolveram se juntar a amiga, Madureira e Armando que estavam na sala conversando. Não demorou muito para que a campainha tocasse: Era Carlos. Estava muito bem arrumado e logo que entrou, foi fazendo o convite:
– Estou pronto! Vamos?
– E para aonde estamos indo sem mesmo saber que íamos? – pergunta Alexia
– Você, sua namorada, Mary, Armando e o Senhor também, seu Madureira, irão comigo e uns amigos para um bar karaokê, com banda ao vivo em Ipanema. Vai ser demais, e essa noite são todos meus convidados!
– Eu estou velho demais para um programa desses, mas vocês devem ir crianças. Vão se distrair um pouco! – dizia seu
Madureira, com preguiça só de pensar na ideia de sair de casa.
– Ah, eu não sei. Não estou muito afim de sair – Juliana falava desanimadamente
– Ah que isso Ju! Você tem que sair, distrair um pouco essa cabeça! Eu topo Carlos! – disse Mary
– Eu também! – Armando acompanhou a irmã
– Eu também e Juliana vai comigo, pois eu vou arrastá-la! – sorriu maliciosamente
– Ah é? E eu posso saber o que a senhora vai fazer? Ninguém vai me obrigar a nada! Nada me tira desse sofá! – Juliana se enterrou mais ainda no sofá.
– Ah não? – estalou os dedos – com licença a todos
Alexia levantou Juliana e a colocou sobre os ombros, que gritava:
-Me solta Alexia!!! Que mania que você tem que fazer isso – gritava balançando as pernas.
– Me deem 40 minutos e estaremos prontas!
Juliana foi reclamando até baterem a porta do quarto. Uns segundos depois ouviu-se um silêncio.
– Eh! Essa morena sabe mesmo como calar a boca de uma mulher! – Armando comentou enquanto ria da cena com os outros presentes na sala.
Carlos ficou conversando com Madureira, enquanto Mary e Armando foram se arrumar. 40 minutos depois, Juliana saia do quarto junto com Alexia arrumada para sair.
– Nossa!! Vocês estão muito gatas! Juliana em especial, tá maravilhosa! – Comentava Carlos
– Obrigada mano! – sorriu envergonhada
Madureira não se conteve em perguntar:
– O que você fez pra convencer essa teimosa a sair com eles?
– Eu tenho muitas habilidades, Madureira. E algumas eu me reservo em não contar!
Juliana deu um tabefe no ombro de Alexia e roxeou de vergonha para a diversão dos que estavam por ali. Nesse momento, Armando saiu, juntamente com Mary.
Carlos ficou estático. Mary estava simplesmente maravilhosa, em um vestido lilás que ia até o joelho, de cintura marcada e com um decote generoso na frente. Armando brincou:
– Estou tão lindo assim pra você ficar com essa cara, gato?
– Eu..não..eu..sim você está ótimo Armando!
– Obrigado, apesar de saber que esse olhar não foi pra mim. É uma pena, você daria um ótimo bofe.
Madureira apesar da aparência imponente, era um homem muito mente aberta, e nem se incomodava com os comentários do filho, muito pelo contrário, se divertia.
Carlos estava visivelmente embaraçado, e Mary também. Todos que estavam naquela sala perceberam a troca de olhar intensa entre os dois.
Despediram-se do patriarca da casa e foram se divertir.
—–
O lugar era muito bonito. Tinham dois ambientes. Um era aberto, para os fumantes. E mais para dentro do bar, encontrava-se um ambiente fechado e climatizado muito agradável. A banda já tocava enquanto um senhor idoso arriscava cantar “Detalhes” do Roberto Carlos.
– Entendeu como é pessoal? Você olha naquele caderninho ali as músicas disponíveis, e pede pra banda qual que vocês querem cantar e divirtam-se.
Chegando na mesa que Carlos reservara, uma surpresa pra Juliana.
Seus amigos da UCF estavam todas lá. Com a correria das viagens, tivera pouquíssimo tempo para vê-las. E mesmo quando conseguia era muito rapidamente. Se não era por falta de tempo de Juliana, era por conta de problemas pessoais dos amigos. Ela se emocionou ao vê-los e correu para abraçá-los. Alexia observou a cena e fez questão de se aproximar, Juliana apresentou:
– Bom pessoal, essa aqui é Alexia, minha namorada.
– Prazer Alexia! – eles responderam
Juliana ficou curiosa em saber por que nenhum deles havia se espantado, mas deixou para lá.
Sentaram-se todos e pediram alguns petiscos. Juliana procurava Carlos com os olhos, mas não o encontrava. Apesar de estar momentaneamente feliz, sentiu a tristeza novamente invadir seu coração. Lembrou das duras palavras da sua mãe, e de toda a confusão. E de como os pais não faziam questão alguma de falar com ela. Não entendia como um amor que eles diziam ser incondicional fora tão fraco diante de uma situação daquelas.
Ela sempre tinha sido uma boa filha, tirado ótimas notas, estava estudando em uma universidade estrangeira, até uma certa fluência em inglês já tinha adquirido graças as aulas de Giovanna e a matéria que fizera, na qual havia saído super bem. Era uma ótima filha. A não ser pelo fato de ser gay. E isso ela não conseguia entender o porque. E nunca entenderia.
Foi quando uma voz a tirou de seus pensamentos:
– Essa música vai para a minha irmã Juliana, que eu amo demais e jamais deixarei de estar ao seu lado.
Juliana sente seu coração bater forte, e fica vidrada vendo o irmão cantar:
Made a wrong turn (Segui o caminho errado)
Once or twice (Uma ou duas vezes)
Dug my way out (Cavei até conseguir sair)
Blood and fire (Sangue e fogo)
Bad decisions ( Decisões ruins )
That’s alright ( Tudo bem)
Welcome to my si ly life ( Bem vinda a minha vida boba )
Juliana já estava completamente emocionada, e algumas lágrimas escorriam pela face dela, e pela face de Mary também. A loirinha estava tão concentrada no irmão, tão surpresa por ele estar cantando maravilhosamente bem, que nem percebeu quando Alexia saiu de seu lado. Só se deu conta quando a viu com o outro microfone, dando continuidade a segunda parte da música:
Mistreated (Mal tratada )
Misplaced, misunderstood ( Deslocada, incompreendida) Miss know it, it’s a l good (Sabichona, mas tudo bem )
It didn’t slow me down ( Isso não me parou)
Mistaken ( Errada )
Always second guessing (Sempre em dúvida) Underestimated (Subestimada)
Look I’m sti l around ” ( Olha ainda estou por aqui )
Carlos e Alexia juntaram as vozes em um dueto maravilhoso para cantar o refrão da música:
Pretty pretty please (Querida, querida, por favor)
Don’t you ever ever feel ( Nunca, Nunca se sinta )
Like you’re less than, less than perfect ( Como se você fosse menos, menos que perfeita)
Pretty pretty please (Querida, Querida, por favor)
If you ever ever feel (Se você se sentir)
Like you’re nothing (Como se fosse um nada)
You’re a perfect to me “ ( Vocé é perfeita para mim)
Juliana não sabia se chorava ou se sorria, ou se invadia aquele palco para abraçar o irmão e beijar o amor da sua vida. Eles estavam conseguindo o que queriam, levantando a autoestima que havia sido estraçalhada por Judith e Mário. Terminado o refrão Carlos agora cantava uma parte da música novamente sozinho:
You’re so mean ( Vocé é tão má)
When you talk (Quando fala)
About yourself (Sobre você mesma)
You’re wrong (Você está errada)
Change the voices (Mude essas vozes)
In your head (Na sua cabeça)
Make them like you instead ( Faça eles gostarem de você dessa vez)
Alexia e Carlos voltam a unir suas vozes:
So complicated (Tão complicado)
Look how we are making (Veja como estamos conseguindo)
Fi led with so much hatred (Cheio de ódio)
Such a tired game ( Um jogo tão empatado)
It’s enough ( Já chega)
I’ve done a l I can think of (Eu fiz tudo o que pude)
I’ve chased down a l my demons (Eu persegui todos os meus demônios)
I see you do the same” ( E vejo que você está fazendo o mesmo )
Nesse momento, o bar inteiro já estava cantando o refrão com os dois. Era raro ver uma pessoa cantando bem ali, quanto mais duas pessoas e com a emoção que cantavam.
Tanto Carlos quanto Alexia não desgrudavam dos olhos de Juliana. De repente, Carlos puxa um gorro que estava dentro do bolso da calça, coloca na cabeça e canta o Brigde da música, que puxava pra um lado de Rap, enquanto Alexia se divertia com a cena no fundo do palco com os gestos de rapper feitos pelo rapaz:
The whole world is scared (O mundo inteiro está assustado)
So I swa low the fear (Então eu engulo o meu medo)
The only thing I should be drinking (E a única coisa que eu deveria beber) Is an ice cold beer (Era uma cerveja bem gelada)
So cool in lying (Facilmente mentindo)
And we tried tried tried (E nós tentamos, tentamos) But we try too hard (Mas nós tentamos demais,)
It’s a waste of my time (É um desperdício do meu tempo)
Done looking for the critics (Cansei de procurar pelas criticas)
Cause they’re everywhere (Porque elas estão por todo lado)
They don’t like my jeans (Eles não gostam do meu jeans,)
They don’t get my hair (Não entendem o meu cabelo)
Stringe ourselves (Sempre tão rigorosos com nós mesmos)
And we do it a l the time (E somos o tempo todo)
Why do we do that? Why do I do that? (Por que fazemos isso? Por que faço isso?)
Why do I do that?” (Por que faço isso?)
Carlos tira o gorro e o joga pra Juliana,para o delírio dos presentes, os dois voltam a cantar juntos, para terminar a música, com uma pequena alteração a última frase do refrão:
Juliana, you’re a perfect, to us! (Juliana, você é perfeita pra nós)
Alexia e Carlos são ovacionados! Juliana está de pé aplaudindo junto com os demais. Os dois fazem referências teatrais e saem do palco. Juliana corre na direção de Alexia e a beija. Os presentes aplaudem mais ainda, sendo os homens os mais animados. Se houve algum repúdio aquela cena, ninguém viu, ou ouviu. E as duas também nem se importavam com isso.
Juliana dizia ainda por detrás de lágrimas de felicidade e um sorriso arrebatador:
– Você é incrível!!!
– Eu? Não, a ideia foi toda do seu irmão! Agradeça a ele.
Se afastou da morena e foi falar com seu irmão, mas parou automaticamente quando viu que ele estava ocupado, beijando sua melhor amiga Mary. Ela girou 180° e falou com Alexia:
– Amor…eles…ai que lindo!!! – Dizia com pulinhos de felicidade
– Isso tava na cara que ia acontecer, só o tempo iria confirmar. Torço por eles!
– Eu também!
E se beijaram mais uma vez.
Quando todos já estavam novamente sentados, ouve uma insistência muito grande para que Juliana cantasse:
– Ah Ju! Depois de uma surpresas dessas você vai me negar, mana?
– Ai Carlos, minha voz é péssima. Não dá. Sério. Não vim preparada hoje pra isso.
– Por favor, amor! Só uma musiquinha.
– Não! E não insistam.
Nesse momento uma mulher pega o microfone e resolve cantar “Catedral” da Zélia Duncan. De fato aquele não era o tom da moça, Alexia falou:
– Você não pode ser pior que isso… – dizia Alexia disfarçadamente tapando seus ouvidos
– Nem adianta. Não vou! E não insista. – falava irredutível
– Promete que um dia você canta pra mim?
– Prometo meu amor!- e beijou os lábios da morena De fato ninguém convenceu a loirinha a cantar naquela noite. Lá pelo meio da madrugada, algumas pessoas foram se despedindo e todos acabaram indo para casa.