Eternizado Pelas Estrelas

Capítulo 32 – DE TODO O CORAÇÃO

Carlos foi buscar as meninas no aeroporto. Em casa, Judith e Mário preparavam com muita animação um lanche para as meninas.

Quando chegaram, finalmente em casa, Judith automaticamente começou a chorar e a encher a filha de beijos. Mário cumprimentou Alexia e a deixou confortável com a promessa de que faria o possível para que ela se sentisse a vontade. Judith falou com Alexia também, lhe dando as boas-vindas.

Inocentemente, Judith avisou ao casal que elas dormiriam no mesmo quarto, pois o quarto de hóspedes estava sendo usado como escritório para um projeto que Carlos estava montando, que era um mistério ainda para todos. As meninas se olharam como que comemorando o fato de poderem dormir juntas, e Carlos sorriu discretamente, quase que lendo os olhares das duas.

Os primeiros dias na casa de Juliana foram tranquilos. Não deram nenhum sinal do tipo que relação que tinham, realmente pareciam só amigas. A grande tortura era a noite. Com o quarto de Juliana grudado no de seus pais, sexo era algo impossível de acontecer. Alexia já estava desesperada pela falta de sentir Juliana, e esta começava a dar sinais que iria arrastar a morena para qualquer canto da rua só pra sentir novamente sua boca no lugar que tanto ansiava a sua presença.  Mary veio visitá-las diversas vezes, e saíram juntas muitas vezes também. E Carlos as acompanhava, junto de uma amiga soropositivo que ele conhecera num grupo de autoajuda: Luciana. Ele dizia aos quatro ventos e Luciana era como uma irmã para ele.  O que Mary gostou muito de saber, pois era notório o seu interesse por Carlos.

E assim, passaram-se dois meses. E nada de Juliana e Alexia revelarem a natureza de sua relação para Judith e Mário. Até que …

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Alexia e Juliana estavam deitadas, uma em cada ponta do sofá.  Judith e Mário também estavam na sala.  Juliana zapeava os canais da Televisão, e não encontrava nada de interessante para assistir. O tempo estava muito chuvoso e frio. E elas não queriam sair de casa. Carlos, que havia passado boa parte do dia trancado em seu misterioso escritório, resolve aparecer na sala:

– E aí meninas? O que faremos hoje? – perguntou animado

– Hoje? Nada! Quero ficar em casa – dizia uma Juliana sem paciência, ainda passando os canais.

– E você Alexia? O que me diz? Vamos tomar alguma coisa no barzinho aqui perto!

– Nem pensar. Acompanho Juliana. Esse tempo tira o ânimo pra tudo.

Carlos olha para o relógio percebe que Juliana não para em um canal e toma o controle da mão dela.

– Ei!!! O que pensa que está fazendo? – disse fazendo menção em levantar.

–  Estou salvando a noite de vocês! Tem um seriado na TV, que eu acho a cara de vocês.  – olhou para TV, e colocou no canal desejado – o nome é Xena: Princesa Guerreira.  E ela tem uma melhor amiga chamada Gabrielle. Elas se parecem fisicamente com vocês. E na personalidade também.  – sentou-se perto da TV – Olhem! Vai começar.

Alexia e Juliana olham desconfiadas pro irmão, mas resolvem assistir o episódio, juntamente com Judith e Mário.

– Am… – percebendo rapidamente que a chamaria de amor, conseguiu corrigir – …Lexia…ela é igualzinha a você! Olha só. Que impressionante!! Apesar de que acho seus olhos mais azuis.

– Já você…é essa atriz todinha.  – apontou pra TV – olha só! Até o jeito de franzir o nariz enquanto ri!

As duas se olharam com ternura, o que não passou desapercebido por Judith, que falou:

– São parecidas mesmo. Mas só na aparência. Não sei não, essas duas desse seriado aí, pra mim, são mais que amigas! – dizia com tom de reprovação.

– E a senhora acha que são o que? – perguntou Alexia com interesse

– Sapatão! – disse com certo asco da palavra, balançando a cabeça.

– E se forem mãe? Qual o problema? – indagou Carlos

– Se forem, é um absurdo. Isso é contra tudo. Não é normal! – respondeu Mário

– Acompanho a opinião de seu pai, filho.

Alexia e Juliana nada falaram, apenas escutavam.

-“ Não é normal?” Que coisa preconceituosa mãe! Me admiro você, que sempre foi religiosa e condenou o preconceito e enchia a boca pra falar que só quem pode julgar é Deus.

– Não é preconceito filho. É a realidade. O normal é um homem amar uma mulher, e vice-e-versa. O que estiver fora desse padrão, é safadeza!

– Safadeza?? – Juliana se levantou e tomou a palavra – é safadeza quando duas pessoas se amam?

– Essa coisa de homossexualismo não é amor não filha. É sacanagem. É coisa do demo!

– “Coisa do demo” mãe, é matar, roubar, enganar, fazer maldade, ser falso. Amar nunca pode ser um coisa ruim. – Juliana disse se sentando novamente

Alexia permanecia calada. Fazia um esforço enorme para não levantar e jogar tudo na mesa de uma vez, mas preferiu deixar Juliana fazer isso. Era o momento dela, os pais dela, a família dela. Deixou que ela resolvesse. Só interviria se as coisas fugissem do controle.

– Que pensamentos são esses minha filha? É esse país estrangeiro que mudou sua cabeça. Aliás, por que estamos discutindo por conta de um seriado? É tudo de mentirinha mesmo! – disse Judith se encaminhando pra cozinha.

– O seriado é mãe, mas sua filha não! – disse de cabeça abaixa, mas firme

Foi a vez de Mário falar:

– Eu sei que você não é de mentira, mas o que tem a ver com este assunto? – disse Mário mentindo para si mesmo sobre o que entendera.

– É filha. Eu hein! Não quero falar sobre essas coisas não. Não faz bem pra ninguém. Isso é doença!

Carlos enfureceu-se e levantou rapidamente no chão indo para perto dos pais e falando em voz alta:

– Doença??? Doença sou eu que tenho mãe!!! Tenho HIV, sou privado de ter uma vida completamente normal. Inspiro cuidados o tempo inteiro!!! Isso é uma doença mãe!  Ou vai dizer que preferiria um filho com HIV à um filho Gay?

Mário disse secamente:

– Acaba sendo a mesma coisa, esses viados tudo tem AIDS. Isso que dá ficar de sem-vergonhice!! E pode abaixando seu tom de voz!! Que coisa é essa agora de defender os gays? Virou viado?

Carlos dá um soco na parede para não acabar gritando com seus pais mais ainda. Ele não suportava aquele tipo de preconceito. Ainda mais sabendo que estavam falando da sua irmã. Não admitia aquilo.

– Mano!! Calma por favor. Papai tá falando besteira.

– Me deixa Juliana. Eles têm que aprender a respeitar as pessoas!

– Gente! Vamos parar com isso!! – virou-se para Carlos – Pra que você foi mostrar esse seriado?? Olha a confusão que deu. Essa série está proibida nessa casa!

Alexia resolve se pronunciar, e diz calmamente:

– E porque está proibida Dona Judith?

– E você ainda pergunta por que? Olha o que uma serie dessa fez com a minha casa. Estávamos bem, em paz. É por isso que eu falo, quando se dá brecha pra esse tipo de coisa, é o que acontece!

Alexia fez menção em responder, mas foi impedida por Juliana:

– Mãe me responde agora!! Qual o problema de duas mulheres se amarem com todo o coração????

– É DOENÇA!!! – disse Judith já se desesperava pela informação que viria a seguir!

– ENTÃO ME CONSIDERE DOENTE, POIS EU AMO A ALEXIA DE TODO MEU CORAÇÃO!



Notas:



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