Marcela e Giovanna observaram todo o desenrolar da história através da janela da cozinha:
– Ora…parece que elas se entenderam!
– Pelo visto sim! Que bom, Alexia, apesar de minha amiga, é chata naturalmente. Quando briga com Juliana é pior ainda! – Marcela esboçou um sorriso.
Giovanna e Marcela estavam sentadas em dois banquinhos na mesa da cozinha.
– Marcela, tenho que ser sincera. Eu estou a achar essa festa um …como vocês brasileiros falam mesmo? Ah sim…um saco!!
– Que isso amiga, tá super animada. As pessoas não param de dançar, a sala tá lotada!!
– Eu sei, mas, eu não conheço metade das pessoas que estão aqui. Sabe, é como se eu tivesse sozinha no meio dessa gente. I’m so sad! (estou tão triste) – Giovanna tapou a boca – desculpe, odeio quando falo inglês sem querer. Pode achar-me esnobe.
– Hey baby! I don’t care! ( Ei querida! Eu não me importo) – sorriu
– Good! – sorriu de volta – eu tinha outra ideia de despedida.
– Conte-me então. Essa noite, eu faço questão de ser seu gênio da lâmpada! Você tem três desejos! – fez uma reverência teatral!
– Podes ser a “Jeannie, é um gênio”? Eu adorava ela!
– Serei o que você quiser! – imita o gesto da Jeannie, personagem de uma série da década de 60 que é reprisada até hoje – me diga, qual seu primeiro desejo? Giovanna faz cara de pensadora e responde:
– Quero sair dessa festa! – pediu juntando as mãos como numa prece
– Seu desejo é uma ordem!
Marcela pegou na mão da loirinha e sentiu uma estranha sensação percorrer seu corpo, e saiu puxando ela, pela mesma saída escondida que Alexia e Juliana saíram. Chegando na calçada da casa, Giovanna disse:
– E então, como vamos embora se estou sem auto?
– Já ouviu falar em pernas?
– Ah não!! – fez beicinho – teremos que andar muito até o centro!
– E o que você quer fazer no centro há uma hora dessas?
– Meu segundo desejo! – sorriu sapecamente
– Opa! Então diga, oh fiel ama, o que desejas?
– Um grande, gostoso e suculento – fez uma pausa dramática a ponto de fazer Marcela pensar bobagens – cachorro-quente!
– Mas é claro. Só não falo novamente o “é pra já”, pois andaremos uma meia-hora ainda!
– Não importa. Vamos, estou em ótima companhia!
Marcela sorriu de satisfação e foi andando ao lado de Giovanna. Apesar de já ser madrugada, as ruas eram bem iluminadas e não estavam completamente desertas. Não tiveram grandes problemas para chegar no centro de Lisboa. Encontraram uma lanchonete 24h e se deliciaram com um cachorro-quente, que era tão grande que um só bastou para as duas.
– O melhor cachorro-quente da minha vida! – Dizia Giovanna com a boca ainda suja ao redor
– Gi!! Sua boca tá toda suja! – ria – limpe dos lados! Tá cheio de molho!
E como nos grandes clichês, Giovanna não conseguiu limpar direito e Marcela se ofereceu:
– Vem aqui, deixa que eu limpo.
Pegou um guardanapo que tinha na mesa e delicadamente limpou a boca da menina. Naquele momento, com aquela proximidade dos seus dedos dos lábios da loira, ela percebeu o que não queria aceitar há um tempo. Ela achava que era influência do relacionamento mágico de Alexia e Juliana. Ou até mesmo uma curiosidade nunca saciada. Todas as vezes que as quatro saiam juntas, ela se sentia confortável em parecer o par de Giovanna. E esta sempre a tratou reciprocamente. Mas naquele momento ela percebeu que estava querendo e muito beijar aqueles lábios doces e rosados que ela limpava com tanto carinho. Giovanna percebeu o olhar da menina, e pareceu pensar em muitas coisas em um só instante, e sorriu, meio timidamente. Marcela despertou e se deu conta da situação que estava, e pigarreando disse:
– Bom, acho que já está limpo o suficiente – riu timidamente
– É. Eu também acho. Vamos pra casa?
– Sim, claro. – disse meio desanimadamente
Foram caminhando pela rua, quando uma fina chuva começou a cair sobre a cidade. As duas estavam quietas, quando Marcela perguntou:
– Então, qual vai ser o terceiro desejo? Um guarda-chuva? – riu
– Ora pois! Não seria de todo mal!
Marcela soltou uma rápida gargalhada, e intrigou Giovanna:
– Mas, de que estais a rir?
– “Ora pois” – continuava rindo – isso é tão piada de português! Giovanna fingiu ficar brava:
– Ora! É nosso jeito de falar!- deu a língua
A chuva aumentou de volume e as duas começaram a andar mais apressadamente, até começarem a correr. Correram por 20 minutos até o alojamento. Estavam exaustas e se jogaram na grama do campus!
– Eu… nunca mais… vou correr… tanto assim – dizia uma Marcela esbaforida
– Eu… estou… fora de forma… completamente! – dizia entrecortadamente pela necessidade de respirar.
Ficaram assim um tempo, recebendo a água da chuva que ensopava suas roupas:
– Não tem sentido isso! – riu
– O que não está a ter sentido nessa sua caixolinha, Marcela?
– Corremos igual a duas desesperadas pra fugirmos da chuva, e estamos aqui deitadas. Nunca estive tão molhada! A frase soou estranho e arrancou risada das duas, apesar do aparente rubor na face na morena. Quando as risadas cessaram, Giovanna sentou na grama e disse para Marcela:
-Gênia! Meu terceiro desejo!
– Ah é verdade! Diga, oh soberana ama, o que queres?
Giovanna olhou para o céu e falou mais alto com os braços abertos:
– Quero ver as estrelas!
Marcela, que permaneceu deitada, achou o pedido curioso:
– Oh ama, eu não sou astrônoma, mas olhe o tempo como está! Isso será impossível essa noite!
– E quem estás a dizer que é necessário olhar para o céu sempre que quisermos vê-las? – disse virando-se para Marcela
E num ato totalmente surpreendente abaixou seu corpo e beijou a morena.