Última semana de aula. Apesar da correria de final de período, com a entrega de todos os trabalhos, provas, e tudo mais, Juliana se mantinha tranquila. Já passara em quase tudo. Alexia, pela influência da loirinha, também aumentou bastante suas notas. Só uma coisa incomodava Juliana: ela andava notando as pessoas mais distantes que o normal.
Ela nunca foi de sair, ir em choppada, ou nas festinhas que tinham por lá. Mas conversava com as pessoas, e tinha algumas amigas, menos chegadas que Mary claro, mas tinha. Mas nas últimas duas semanas, estava sendo ignorada, evitada.
Quando chegou no quarto, cansada da última prova do Sr. Macieira, Mariana sentou do seu lado.
– Vai descer pra almoçar?
– Não.
– Amiga precisamos conversar…
-Não.
– É importante…
– Ai! Agora não Mary. Tô morta de cansada. – disse deitada e de olhos fechados
– Precisa ser agora! – enfática e séria
Juliana abriu os olhos e viu uma expressão muito séria no rosto de sua amiga. E se sentou na cama:
– Por que essa cara? O que houve?
– Amiga, está rolando um boato aí que eu não tô gostando muito não.
Juliana gelou. Não queria contar de Alexia para amiga ainda. Tinha medo da rejeição que poderia sofrer.
– Que boato? – perguntou apreensiva.
– Que você está tendo um caso, que não é correto!
Juliana respirou fundo. Sabia que o momento havia chegado. E decidiu falar:
– Olha Mary. Não é boato. É verdade. Mas, não seja preconceituosa comigo por favor. Eu me apaixonei sim. E posso dizer que é totalmente recíproco!
Mary olha assustada pra Juliana:
– JULIANA!! Eu não acredito!! Como você pode ser tão cara-de-pau! – deu um soco no colchão
– Cara-de-pau!!?? – revoltou-se – Posso saber o por que disso? Eu não sou um ser humano livre pra amar, seja lá quem for? Eu não mando no meu coração Mariana!! – Levantou da cama
– Mas Juliana. Ninguém nunca vai te entender! Vão sempre te diminuir. Diminuir todo seu esforço. Vão achar que você tá tirando proveito. Vão te ver como uma puta!!
– Puta!!!?? MARIANA!!! Eu esperava uma reação ruim de você, mas não uma ofensa!! – Disse apontando o dedo da cara de Mary
– Juliana! Não sou eu que estou falando. São os outros.
– Que se danem os outros! Eu quero viver a minha vida e ser feliz! – foi pra janela e ficou de costas para a amiga
– Bom. Se é assim que você quer e decidiu, não posso fazer nada. Mas eu aconselharia você sair da turma do Sr. Alvarenga, antes da direção descobrir.
– Por que eu tenho que sair? Eu vou pegar a matéria dele período que vem.
– Por que?? Juliana, a direção não vai gostar de saber que você tá dormindo com seu professor né!
– O QUE?????????? EU? DORMINDO COM O ALVARENGA?? TÁ MALUCA? Juliana caiu na gargalhada. Mary não estava entendendo nada:
– Você tá me assustando. Por que está rindo?
– Por que eu não tenho nada com aquele cara. A não ser profissionalmente.
– Mas…pera…mas você tá alguém. Com quem?
Juliana olhou para amiga. Depois do que tinha acontecido, não tinha como esconder. E qualquer coisa seria mais bem recebida que o “relacionamento com o pinguim”
– Amiga. Eu tô me relacionamento há um tempo com alguém sim. E espero que entenda….
– Ah! Já até sei quem é!
– Sabe?
– É a Alexia? Juliana corou.
“Será que estava tão na cara assim?” – pensou
– É sim Mary. Mas…como?
– Olha eu desconfiei disso no início. Quando fiquei aquele final de semana fora, e fomos almoçar. Sei lá. Mas depois eu esqueci disso, e veio esse boato todo.
– Nossa. Não pensei que…
– Ju. Ninguém tem o direito de julgar ninguém. Meu irmão é gay. E eu sempre aceitei super bem. Tudo bem que agora os garotos em geral vão chorar lágrimas de sangue quando você se assumir, mas, conte com o meu apoio.
Juliana se emocionou.
– Obrigada Mary. É muito importante, pra mim, ouvir isso. Você não faz ideia.
– Amiga é pra isso, mas, o que você vai fazer? Esse é um boato que realmente pode te prejudicar. Sabe, pessoal viu você se dando bem nas provas. Recebendo recomendações, elogios. Maldade na cabeça deles né.
– E na sua também, não é? – Disse com voz triste
– Eu não acreditei não, tá? Eu não sabia como te contar que estavam falando isso. Mas na hora que você começou a concordar que tava com alguém, nem me liguei em pensar em outra pessoa.
– Tá! Deixa isso pra lá. Agora eu tenho que pensar como vou desmentir isso. Essa situação é péssima.
– Você vai contar pra Alexia?
– Mas é claro. Vou agora lá no quarto dela contar, aproveitando que a chata da colega de quarto dela não tá em casa.
– Ok então. Eu vou descer pra almoçar. Te espero lá?
– Não sei se vou me sentir bem, com todo mundo me olhando estranho.
– Bom, vou lá então que tô com dor no estômago. Depois volto pra cá, tá?
– Tudo bem.
Mary e Juliana saíram do quarto. Enquanto uma descia para o refeitório, a outra subia as escadas que davam pro andar de cima, temendo a reação que Alexia teria.
—-
– Minha Linda! Que surpresa boa vir aqui esse horário! Como despistou a Mary? – Deu um rápido beijo
– Não despistei – fala sério
– Ela não está em casa? – Alexia ia falando com Juliana e arrumando o quarto
– Está.
– Então…como?
– Contei pra ela sobre nós, Lexy.
Alexia ficou completamente surpresa. Ela queria assumir Juliana há muito tempo, mas a loirinha sempre pedia para esperar mais.
– Meu bem! Isso é uma ótima notícia! Você tá merecendo um beijo daqueles! Quando se aproximou de Juliana, foi impedida pela mesma, que disse:
– Ainda não terminei! – e apontou a cama para Alexia se sentar.
– Opa! Vai me levar pra cama também? Hoje é um dia de grandes notícias! – brincou
– Alexia, senta e vamos conversar – disse séria e com cara fechada
– Nossa, tudo bem. Diga.
Juliana contou tudo o que Mary havia explicado para ela, o boato que formaram. Falou que estava com medo que isso a prejudicasse perante a Direção da Universidade, que ela perdesse sua bolsa.
Alexia, tomada por uma raiva gigante, pegou Juliana pela mão e disse:
– Vamos resolver isso agora.
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Mary conversava animadamente com algumas meninas na mesa do refeitório. Estava quase terminando seu almoço. Quando ela escuta um arrastar de cadeiras, e uma voz imponente:
– Olá pessoal! Hi People! ¡Hola amigos!
Ela ganhou a atenção de todos! Estava em cima de uma das mesas do refeitório.
– Quem não falar português, que o amiguinho do lado faça o favor de traduzir. É o seguinte. Fiquei sabendo que a minha amiga Juliana está sendo vítima de um boato ridículo, que não vem ao caso mencionar. Gostaria que cada um cuidasse mais de suas próprias vidas, e fizessem o que vieram fazer aqui, que é estudar. Eu não vou admitir que ninguém aqui faça mal a minha amiga. Estamos entendidos?
Um silêncio tomou conta do lugar. Era a primeira vez que Alexia usava o medo que tinham dela como algo bom. Até que se ouviu uma voz – não foi identificada- que disse:
– Vai bater na gente também? – e risadas explodiram
Alexia teve os olhos escurecidos de ódio. E quando ia abrir a boca, foi impedida por Juliana, que subiu na mesa e disse:
– Não, ninguém vai bater em ninguém não. E o único caso que eu tenho nessa universidade, é esse aqui ó… E beijou Alexia no meio de um refeitório lotado.