Eram 9:10 AM
– Acorda!!! Mary!!! Acorda!!!
– Eiii bonitinha, o que foi?
– São mais de nove. Nossa aula começava ás nove!
– Aii cacete!! E aqui primeiro dia de aula, é primeiro dia de aula mesmo! Não quero que comam nosso fígado no primeiro dia!
– Então corre, enfia uma roupa e vamos logo!!
Arrumaram-se de qualquer jeito. Mary foi com um tênis de cada par. Juliana conseguiu se vestir direito, mas o rosto das duas denunciavam sono. Escovaram os dentes e saíram correndo para o Campus.
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Chegando no corredor das salas, as duas estavam perdidas. Não conseguiam achar a sala, até que com pressa, Juliana falou um pouco mais alto: -ACHEI! E entrou.
A professora se dirigiu a ela:
– Bom dia, em que posso ajudar-lhe.
– Bom dia professora. Perdão pelo atraso. Mas ainda não estou habituada ao fuso horário.
– Tudo bem, pode sentar.
Juliana olhava pra porta e nada de Mary, achou estranho mas pensou que ela tinha ficado com vergonha de entrar por conta do horário. Cinco minutos depois, e Juliana começou a perceber algo estranho. A professora falava de Antropologia, e ela já tinha feito essa matéria no seu primeiro período. 10 minutos depois e o papo sobre Clifford Geertz¹ foi se aprofundando e ela constatou o que não queria. Entrara na sala errada. Timidamente, foi se levantando para sair, quando a professora perguntou:
– Ora, mas já vais sair? Acabaste de chegar!
– Perdão Professora, mas entrei na aula errada.
A turma explodiu em risos inclusive a professora, e Juliana deixou a sala com o rosto queimando em brasa. No corredor encontrou Mary, sentada a espera dela.
– Por que você não me avisou???
– Porque você é uma maluca, gritou que era a sala e saiu entrando. Nem deu tempo de eu falar nada.
– Tudo bem. Descobriu qual é a sala?
– Sim, é aquela ali, duas após essa.
– Odeio essas salas com combinação de letra. Sempre confundem a gente.
– Coisa de Português, ao invés de numerar ficar botando esse anagrama de letras.
– Bom vamos lá então. Vamos tomar um grande esporro, mas a aula é de 4 horas. Temos que entrar.
Entrando na sala, o burburinho começou, o professor pediu silêncio e perguntou:
– Isso são horas?
– Perdão professor, somos novas aqui, viemos de intercâmbio e estamos meio perdidas.
– Está bem, mas que isso não venha a se repetir. Vocês são brasileiras?
– Sim somos.
– Percebi. Brasileiros são péssimos com horários.
– Mas professor…
– Bom, é Sr. Alvarenga, gostaria que me chamasses assim.
– Tudo bem, Sr. Alvarenga. Perdão pela interrupção.
– Vá sentar para não perderes mais conteúdo.
Sr. Alvarenga era um homem meio amedrontador. Apesar de baixinho, era gordinho, com o nariz pontudo e com a pele pálida, com cabelo apenas nas laterais da cabeça. Se assemelhava ao pinguim do Batman. Apelido dado por Juliana que rapidamente se espalhou.
A aula estava bem interessante. Era sobre A Mídia e os Diferentes Campos Atuantes. Mídia empresarial, Mídia de Massa e etc.. Mas, uma menina ao fundo da sala, chamou a atenção negativamente do Sr. Alvarenga, que interrompeu seu raciocínio e disse:
– A aula está chata?
A turma respondeu em uníssono:
– Nããão!
– Então por que aquela gaja estás a dormir durante a explicação. Acordem-na. Juliana, como queria aliviar a tensão entre ela e o professor, se dispôs a acordar a menina:
– Ei. Moça. Acorda. Ei! Acorda. EIII! Acorde!! EIIIIIIIIIII! E na última fala deu uma sacudida na moça que acordou brigando, porém, sem abrir os olhos:
– CACETE! O QUE VOCÊ QUER GAROTA CHATA??
– Cruzes que grosseria! Bom dia. Você tá numa sala de aula. O Sr. Alvarenga está querendo te esfolar garota. Vou voltar pro meu lugar, boa sorte pra você! Eu hein!
Ao mesmo tempo em que falou, pensou: “ Outra brasileira. Pena que é mal-educada. ”
A dorminhoca ainda de olhos fechados falou:
– Ô Sr. Alvarenga, foi mal aí! To com sono. Isso é faculdade, não é escola. Por tanto, boa noite.
E encostou novamente na carteira. Sr. Alvarenga, que a essa altura – sem trocadilhos – perdera a paciência, foi pessoalmente dar um chega pra lá na moça, e falou:
– O Brasileirinha, podes levantar mas pra já. Minha aula não é quarto pra tu dormires.
Nesse momento a mulher levantou da carteira. Era Alta, devia ter 1,83. Cabelos negros, olhos azuis de uma beleza rara e um corpo de fazer mortais e imortais se curvarem. Sr. Alvarenga não esperava por aquilo, e acabou se acuando já que a moça tinha o dobro da sua altura:
-Brasileirinha é o Cacete, que isso é nome de produtora de filme pornô!! Meu nome é Alexia! E tô saindo. Vou dormir no meu quarto. E não precisa ficar com medo não. Não mordo! – e rosnou em direção do professor com os olhos cheio de raiva.
Juliana estava perplexa e pensava:
“Mas que garota maluca! Não tem o mínimo de respeito pelo professor. Dormir na aula é a maior falta de respeito. E ainda fala daquele jeito comigo. Mas ela deve se dar bem na vida, já que pelo olhar do pessoal, ela deve ser bonita, e nesse mundo, imagem é tudo. Pena que ela tava de costas, fiquei curiosa pra ver o rosto dela. Nem reparei direito quando fui acordá-la. Mas isso é irrelevante também! ”
Todos voltaram ao normal, inclusive o “Pinguim” e assim a aula transcorreu até o fim na mais perfeita paz.
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Alexia saiu revoltada da sala, incrivelmente se achando com razão.
“Mas que absurdo! Estou com sono! Quem ele pensa que é pra falar assim? Só porque tem doutorado acha que tem o direito de falar como quer? E quem foi a garota que começou com essa merda toda? Ah, porque eu não abri os olhos àquela hora? Vou descobrir quem é essa infeliz e ela vai se ver comigo”