Músicas:

Quase Nada. (Zeca Baleiro)

https://www.youtube.com/watch?v=GNz9h4JdjFc

Camila, Camila (Nenhum de Nós)

http://www.youtube.com/watch?v=5WOk2x_yNDk

Sunny – Jennyfer Hunter

Abri a porta e lá estava ela com um olhar diferente de todos os outros que já me destes. Sorri de forma condescendente àquela presença e fiz sinal para que ela entrasse. Ao fechar a porta, a primeira coisa que fiz foi lançar-lhe uma pergunta, muito embora quisesse beijá-la. Mas Camila não me deu ouvidos. Sequer se deu o trabalho de me responder. Foi avançando pausadamente até chegar a mim, que estava ainda parada diante da porta fechada. Fiquei imóvel, inerte, totalmente sem saber o que fazer à medida que ela se aproximava. Camila colou o seu corpo no meu, pegou minhas mãos e as prendeu com as suas na altura da minha cabeça. Aquela mulher se posicionou de uma forma que era completamente impossível me desvencilhar, mesmo que eu quisesse de verdade. Olhou nos meus olhos… movimentou sua boca até meu ouvido e sussurrou dentro dele: – Quero você! Preciso!

Tomou minha boca e a molhou com um beijo carregado de volúpia, desejo… sua língua se insinuava por dentro dos meus lábios tentando invadir qualquer espaço. Minhas mãos presas não me deixavam explorar aquele corpo quente que comprimia o meu a ponto de me deixar completamente excitada. Eu queria segurá-la, agarrá-la e tirar sua roupa, mas Camila estava voraz, sedenta… como se precisasse de mim para sua sobrevivência. Soltou suas mãos, mas apenas para dar continuidade à tortura. Ordenou que eu não a tocasse e nem me mexesse. Retirou minha blusa e adorou ver que eu estava sem outra peça por baixo. Alisou os meus seios por sua extensão enquanto me observava respirar freneticamente. O primeiro a sentir o calor de sua língua foi o direito para logo depois vir o esquerdo. Alternava entre eles como se nunca mais os pudesse ter novamente. E a sensação que tive foi a mesma… eu sentia que não nos veríamos mais. Era como se fosse uma transa de despedida. Só que enquanto ela estivesse se fartando comigo, eu tentaria não pensar nisso.

Camila pausou a tortura apenas para me pergunta de forma sedutora e completamente safada: – Sabe o que eu quero agora, gostosa?

A respiração alterada, arfada quase não me permitiu responder. – O quê? Diz…

Aquela mulher sorriu diabolicamente e disse: – quero que goze pra mim… na minha boca! Goza, Sunny!

Cada palavra daquela me causava um arrepio inexplicável e ia aumentando ainda mais o meu desejo. Voltou a sugar meus seios, só que desse vez, com pressa como se realmente aquele momento fosse acabar num piscar de olhos. Retirou minha bermuda… parou por um instante para observar a calcinha de rendas brancas e soltou: – Como você é linda!

Segurou-me por um dos braços e mandou que eu fosse para o sofá. Assim que sentei nele, Camila agilmente ajoelhou-se em minha frente… abriu minha pernas… olhou e gostou do que viu. Aquele sorriso era de uma safadeza tamanha… Levou o dedo médio até a boca… sugou e o enfiou em mim ao mesmo tempo que sua boca cobria um dos meus seios, me fazendo contorcer. Movimentava aquele dedo com precisão… segurou minha nuca e puxou-me ao seu encontro, enfiando novamente aquela língua ébria e macia entre os meus lábios. O vai e vem do seu dedo estava me deixando louca…era estonteantemente enlouquecedor… Aquela mulher que outrora não sabia o que queria, estava sendo a dona total da situação. Era isso o que ela queria? Me comer? Isso ela teria.

A imagem da Camila descendo até o meio das minhas pernas foi um tanto quanto… turva… escura… minha visão começou a ofuscar… já não conseguia distinguir mais nada, qualquer outra forma dentro daquele quarto, que não fosse o sorriso dela. Quando Camila encostou sua língua em meu sexo, explodi…tremi…receei inteiramente para ela, que intensificou as passadas de língua e me sugou cada vez mais rápido, num ritmo alucinante… enquanto eu rebolava na cara dela, Camila arranhava e apertava forte as minhas coxas, aumentando ainda mais o prazer que me proporcionava. Ela se afastou do meu sexo… olhou pra mim e pediu:

– Quando gozar, grite o meu nome!

Estava tão excitada que segurei sua cabeça e praticamente enfiei ela de novo no meio das minhas pernas enquanto eu pedia para ela me fazer gozar logo… Camila lambeu…sugou… devorou… até que eu não consegui mais segurar a vontade de me libertar. Retesei todo o corpo e disse: – Vou…goz…

Ela continuou me sugando até que veio a explosão de sentimentos ímpares… Abri os olhos para olhá-la e gritar por seu nome, mas todo êxtase pareceu desfalecer, perder força assim que vi aquele rosto conhecido gargalhando pra mim… minha única e automática ação foi gritar, não por tesão e sim por espanto: – Flávia!!!

O corpo suado, tenso e com a respiração descompassada saltou da cama me fazendo sentar num rompante desesperador. Olhei para os lados tentando identificar o ambiente em que me encontrava. Onde estava Camila? E Flávia? O relógio foi o delator do que tinha realmente acontecido… 03: 23 da madrugada. Levei as mãos à cabeça e deixei o corpo cair sobre a cama novamente. O pesadelo tinha sido tão real que era possível sentir o cheiro da Camila em minha pele… e o mais incrível é que eu estava molhada.. .excitadíssima… era como se realmente tivesse acontecido. Mas… o que Flávia tinha que aparecer no meu sonho?

O sono foi embora, fugindo como o diabo fugia da Cruz… e ali fiquei… solitária, taciturna, compenetrada… repassando cada cena, transformando o momento num momento completamente sadista.

Vi o dia chegar por meio dos seus raios claros e invasivos. O meu corpo estava cheio de dor, reflexo da aflição, da agonia e sofrimento causados pela experiência surreal da noite.

Era preciso mais do que força para levantar e arrumar a casa. Precisava mesmo era de vontade e coragem para encarar Camila mais tarde. Sabia que não seria como havia pensado. O que me fazia crer nisso? Aquelas palavras que me dissera ao telefone tinha um tom …digamos que de nunca mais.

“Eu vou, mas o que te falei antes é a pura verdade, e não um enigma que você precise decifrar ou interpretar. Pelo contrário, é muito simples. Não quero ser sua amiga, é só sexo. Será que é tão difícil assim de entender?”

Se ela soubesse a força que fiz para dizer ” – Sim. Pode vir.” Teria desistido de vir perder seu tempo. Sim, porque se em algum momento passou por aquela cabecinha complicada fazer da minha igual complicação, vai se dar muito mal.

Como dizia meu avó quando alguém queria ser mais esperto que ele em situações de sua total experiência: “-Dessa escola eu fui expulso por saber demais.”

Bastava-me arrumar para a vinda dela. O som já estava ligado enquanto eu andava entre os cômodos da casa. Mas confesso que a única música que chegava na minha mente eram aquelas palavras. Cruéis? Não! Apenas desnecessárias. Vejo como uma forma fraca que ela encontrou para brincar com meus sentimentos. Se era assim que ela queria, tudo bem. O que era dela estava guardado para o momento propício.

Tinha aprendido uma coisa nessa minha vida. Se o que desejo não é o melhor para mim, apenas deixo o desejo passar. Não é questão de não lutar pelo que queria. Mas sim, de enxergar que não podia ganhar sempre. Eu sabia distinguir o que era bom do ruim. Aprendi a escolher ou pelo menos a ouvir o que queria naquele momento. Para mim, tinha ficado claro que eu e ela podíamos nos dar bem, mesmo que estivesse na cara as nossas diferenças. Mas se ela não estava disposta a esse trabalho, não iria implorar por algo que nunca tive.

O último cômodo a ser arrumado foi o quarto. Forrei a cama e ao deslizar a mão pelo lençol, as lembranças de nós duas naquela cama vieram com toda a força. O que minha cabeça queria comigo? Me enlouquecer? Me desestabilizar? Eu não podia ser fraca diante dela. Precisava manter a minha calma para enfrentar com sabedoria qualquer que fosse a palavra proferida por ela.

Ao passar pela sala indo em direção ao meu quarto, começou a toca uma música no rádio que me fez prestar atenção em sua letra, enquanto me vestia.

“De você sei quase nada

Pra onde vai ou porque veio

Nem mesmo sei

Qual é a parte da tua estrada

No meu caminho

Será um atalho

Ou um desvio

Um rio raso

Um passo em falso

Um prato fundo

Pra toda fome

Que há no mundo

Noite alta que revele

Um passeio pela pele

Dia claro madrugada

De nós dois não sei mais nada

De você sei quase nada

Pra onde vai ou porque veio

Nem mesmo sei

Qual é a parte da tua estrada

No meu caminho

Será um atalho

Ou um desvio

Um rio raso

Um passo em falso

Um prato fundo

Pra toda fome

Que há no mundo

Se tudo passa como se explica

O amor que fica nessa parada

Amor que chega sem dar aviso

Não é preciso saber mais nada.”

(Quase nada, de Zeca Baleiro)

Quando a música terminou, estava eu sentada na cama pensando… tentando encontrar onde eu tinha perdido as rédeas da minha vida. Talvez em ter aceito aquela proposta de ter só sexo dela. Se eu tivesse jogado limpo desde o começo, poderia ter Camila… talvez, talvez. Só era claro que por eu não ter sido mais direta, por ter feito um joguinho infantil, tinha simplesmente de ouvir que ela não queria nada além de sexo. E pra piorar agora ainda tinha o encosto da amiga inseparável dela voltando a todo momento para me atormentar. Será que ela estava trazendo Flávia consigo?

Balancei a cabeça num desejo inútil de sumir com meus pensamentos idiotas. Era claro que Flávia não viria a tira-colo. Afinal, não seria um encontro a três. Nem queria. Flávia não me agradava em nada. Ela era até uma mulher bonita e divertida, mas era atirada demais e sem qualquer senso de escolha. Lembro-me bem de sua investida em mim na praia. Mal ela sabia que meu coração tinha disparado diferente quando vi Camila. Mas essa, sempre tão na defensiva, nem teve coragem de falar comigo mesmo tendo visto que meus olhos não saiam dos dela.

– Medrosa!

Soltei alto ao mesmo tempo que levante-me decidida.

Peguei o celular e liguei:

– Tá onde?

– Oi, Sunny. Em casa. Por quê?

– To indo aí.

E sem dar tempo para ela questionar qualquer coisa, desliguei o telefone. Peguei as chaves, o capacete e saí.

Sabia que Camila podia chegar a qualquer momento, mas eu precisava disso. Precisava esclarecer algumas coisas.

Em questão de minutos eu estava diante da porta do apartamento da Lú, que abriu a porta no segundo toque da campainha.

Sua feição era de espanto por minha ida tão repentina assim.

– Sunny, o que aconteceu?

Dei um beijo nela e entrei logo em seguida. Olhei para a sala à procura de mais alguém.

– Ive não está. Volta só a noite.

Falou como se soubesse que eu preferia conversar só com ela.

Sentei no sofá de dois lugares e esperei ela sentar no outro. Assim que o fez, perguntei:

– Lu, preciso desabafar. Estou a ponto de estourar… Camila tá vindo pra cá, mas sei, na verdade sinto que não será bom…

E desandei a falar. Contei sobre Gabi até chegar na ligação que eu tinha feito para Camila. Luciana escutava tudo atentamente. Não me interrompeu uma vez sequer. E assim que eu terminei de falar, ela deu sua opinião. Achou que tinha sido muito bom da minha parte ter tomado a iniciativa, mas que diante do comportamento estranho da Camila, não sabia exatamente o que estava por vir.

Então contei sobre o sonho e perguntei se aquilo podia ser algum presságio, agouro, sei lá.

Ela ficou séria e devolveu a pergunta pra mim.

– O que você acha, Sunny?

– Eu não acho nada… por isso vim aqui. Sabe o que ficou na minha cabeça aqui… martelando forte depois desse pesadelo? Que Flávia pode ser um problema pra mim.

O que acha, Lú? Por favor, fala alguma coisa. Já sei! Me responde… As duas já tiveram algo?

Luciana levantou do sofá e foi até a janela. Ela queria disfarçar qualquer sinal de instabilidade que a pergunta causou. Eu sabia que ela conhecia bem a Flávia, de longa data.

– Vai, fala, por favor!

Ela voltou-se de frente para mim e abriu o verbo.

– Sunny… Flávia e Camila se conhecem a muitos anos. Desde a faculdade… são amigas inseparáveis. Quando Flávia apareceu na vida da Camila, essa já estava apaixonada por Sandra. Lembro dela me contando que Camila não olhava para mais ninguém. Só queria saber como podia chamar atenção daquela guria que andava sempre com um instrumento musical nas costas ou nas mãos.

– E ela ajudou? Na conquista?

– De uma certa forma, sim. Flávia era feliz vendo Camila feliz. E depois do desaparecimento da Sandra, foi ela que deu todo o apoio de que Camila podia precisar.

Fiquei em silencio, unindo as peças do quebra-cabeça que eu tinha inventado.

Às vezes acreditamos tanto em algo, que começamos a enxergar coisas. E eu estava condicionando a minha mente a acreditar que naquele mato tinham dois coelhos.

Sentei ao lado da minha amiga, segurei suas mãos e pedi pra ela ser a mais sincera possível comigo.

– Camila teria algo com a Flávia?

Lú não podia acreditar que estava ouvindo aquilo de mim. Mas com muita sabedoria, me respondeu sem hesitar.

– Sinceramente eu não sei. Mas se rolar algo, com certeza será forte. As duas se combinam, Sunny. Flavia sabe de tudo sobre Camila. E Camila também sobre Flávia. Posso até dizer que se não aconteceu nada até hoje, foi só e exclusivamente porque Sandra existia.

Deixei rolar uma lágrima solitária por meu rosto. Sequei antes que ela pudesse ser notada por minha amiga. Assim que sequei, levantei dizendo que ela tinha me dito o que eu precisava ouvir. Era tudo o que eu não queria ouvir, mas que com certeza, faria eu agir da melhor forma com Camila. Lú me acompanhou até a porta e perguntou se eu ficaria bem.

– Vou tentar, Lú. Te ligo, tá bem?

– Por favor… faça isso.

Nos abraçamos e logo em seguida eu saí.

Exatos quarenta minutos depois deu ter chegado à minha casa, ouvi o motor de um carro parando enfrente. Olhei por detrás da cortina… era ela.

Estava pronta… preparada para tomar conta da situação, pois a melhor defesa era o ataque.

Assim que soou a campainha, abri a porta e lá estava Camila com um olhar diferente de todos os outros que já me destes. Meu sentimento era de já ter visto aquela cena. A recebi com um sorriso. Olhei para suas mãos… nenhuma mala ou bolsa que indicasse sua permanência aqui. Sem perder o charme, ainda sorrindo, pedi para que ela entrasse. E ao fechar a porta ataquei, pegando-a de surpresa:

– O que está acontecendo entre você e a Flávia?

Se fosse como no sonho esse seria o momento em que ela nada responde e vem pra cima de mim para me dar prazer. Mas como era realidade, ela permaneceu de pé diante de mim, com uma feição preocupada. Suspirou, como se tentasse se libertar de algum mal e olhando pra mim revelou:

– Estamos … nos conhecendo.

Ela aguardou a minha reação. Talvez pensasse que eu iria fazer mil questionamentos ou quem sabe até um barraco. Mas não… isso não correspondia a minha natureza.

Sorri pra ela e perguntei se queria um copo d’água. Disse que não, mas mesmo assim eu fui até a cozinha e peguei uma garrafa e dois copos. Coloquei encima da mesinha e falei:

– Senta, Camila. Não paga nada não.

Meio que desconcertada, sem jeito ela aceitou e sentou. Fiz o mesmo, ao lado dela… ficamos em silêncio. Ela fitando ponto do chão da casa… e eu, para ela.

– Camila, olha pra mim.

Ordenei e ela obedeceu, levantando sua cabeça lentamente até fitar meus olhos. Quando os tive nos meus, continuei:

– Você veio aqui para me dizer que está conhecendo melhor sua amiga de anos. Não é mesmo? Pois então… não se preocupe em me dar detalhes da sua vida.

Ela balbuciou alguma palavras, mas a cortei na mesma hora. – Por enquanto eu falo, Camila.

Não pedi com arrogância. Apenas pedi, nas entrelinhas, que ela respeitasse meu momento. – Sabe… quando eu te conheci de fato, no dia em que nos falamos pela primeira vez… no apartamento da Flávia… eu vi uma mulher assombrada pelo passado e morta para a vida no presente. Uma garotinha perdida que queria sua vida de volta, pois não tinha coragem de se permitir sequer olhar para frente. Era a coitada, a infeliz dentre as amigas. A sofredora ao extremo. Mas… também vi uma mulher que pedia socorro com os olhos. Que suplicava para a vida lhe apresentar algo ou alguém que pudesse iluminar um pouco da escuridão em que você vivia.

Fiz uma pausa enquanto a observava calada…

– O que eu fiz por você, Camila, tenho certeza de que nunca vai esquecer. E sabe porquê? Porque não foi nenhuma das suas amigas que conseguiu te fazer sorrir novamente, que te fez sentir o tesão correndo nas veias…. que te estimulou a abandonar a figura da coitada e se transformar numa mulher determinada.

Me diz… quando que você iria sair de Blumenau para querer dormir com alguma outra mulher que não fosse Sandra? Nunca né?

Ela abaixou o olhar…

– Se eu disser pra você que não estou decepcionada, será uma grandiosa mentira. Eu sei que não agi da melhor maneira. Quis fazer ciúmes com a minha amiga e pelo visto, mesmo não tendo acontecido nada entre mim e ela naquela noite, não causei nada em você. Eu tenho que admitir que agora vejo claramente, que eu servi, ou melhor, eu apareci na sua vida para te encorajar a viver. Mesmo que isso tenha me custado caro, fico feliz por ter aberto o caminho para Flávia.

Não posso te cobrar nada. Nunca pude. Afinal, você nunca quis nada além de sexo, não é? Fantasiei algo contigo, pois você também me apresentou um mundo novo. Só que vejo que nossa relação não podia ir além disso. Não temos nada a ver.

Não é verdade, Camila?

– Sim.

Ela se arriscou a responder.

– Mas sabe o que me deixa mais triste nisso tudo, Camila? É a sua aproximação com Flávia. Você ficou dois anos presa no seu mundo sombrio… aí eu faço todo o trabalho de libertação e vem ela e pronto! Te ganha assim facilmente. Isso sim é uma razão para eu me decepcionar contigo.

– Sunny… eu…

Ela ensaiou alguma objeção ao que eu tinha dito até agora. No entanto, coloquei meu dedo em sua boca, pedindo que ela permanecesse calada.

Cheguei mais perto… passei os dedos em seus cabelos negros…

Pude ver Camila se arrepiando. Não sabia qual a intensidade do envolvimento entre as duas, e na verdade nem cabia a mim saber. Mas era muito bom ver que ela ainda reagia ao meu toque…

Aproximei meu rosto do dela a ponto de sentir o aroma que saía de sua boca… Segurei sua cabeça com minhas mãos… e depois contornei seus lábios com meu polegar… estimulando-a a abrir sua boca para assim me permitir beijá-la. Um toque suave, brando… um beijo cheio de ternura e além de tudo, cúmplice. Após o beijo, Camila passou a mão acariciando meu rosto e carinhosamente me disse:

– Sunny… eu sinto muito se … de alguma forma te magoei. Eu quero que saiba que você foi e sempre será importante pra mim. Como você disse, sempre me lembrarei de ti como a pessoa responsável por me fazer ver que havia vida após a Sandra.

Não sei do meu futuro, seja com Flávia ou não… mas sei que apesar de sentir uma atração sexual fortíssima por ti, nossa relação não iria pra frente.

Eu tive que concordar.

Ela segurou minhas mãos e perguntou se podíamos ser amigas. Soltei um sorriso para disfarçar minha angustia e pensamento.

– Camila… sinceramente, nesse momento não conseguirei ser sua amiga. Não era esse o meu propósito contigo. Mas vou continuar te respeitando e te tratando bem. Só que não tem como a gente continuar, pelo menos por enquanto, com uma amizade. Vai passar… um dia vai passar.

– Sunny… você é linda demais… e sabe… gostosa também.

Deu aquele sorriso safado de quem tem propriedade no que falava… – Eu não mereço uma pessoa tão radiante como você. Quero muito que seja feliz e sei que um dia você vai encontrar alguém que te complete de verdade.

– Vou sim, Camila. Mas não tenho pressa. Deixo acontecer naturalmente.

Ela pediu um abraço e disse que jamais esqueceria de mim… jamais.

Quando nos afastamos, estávamos chorando…

Doía sim esse momento de … despedida. Afinal, eu não podia ser indiferente a tudo o que tinha acontecido. Aquela mulher havia sido responsável por me apresentar um mundo de possibilidades. Restava-me conhecê-las.

Camila levantou dizendo que ela estava indo embora. A mim cabia acatar sua vontade e acompanhá-la até a porta. Mas antes, pedi pra ela esperar.

Fui até o quarto, peguei um embrulho pequeno e levei para a sala.

– Queria te dar isso.

Estiquei o braço, entregando-lhe o pacote pequeno.

– O que é isso, Sunny?

– É só uma lembrança… abre.

Ela olhou com ternura para o embrulho. retirou o papel e abriu a caixa.

Era um par de brincos bastante delicados feitos por mim, que tinha a inicial de seu nome feita de miçangas bem minúsculas.

Seu sorriso iluminou seu rosto no momento que ela viu o presente. Agradeceu diversas vezes e pediu desculpas por não ter me dado nada.

A levei até o carro…

Nos despedimos com um abraço forte… Ela ligou seu carro, olhou pra mim mais uma vez e arrancou… Queria que ela tivesse levado consigo toda a minha mágoa e decepção.

Entrei em casa… era noite já… Joguei as chaves sobre a mesinha… caminhei até o quarto… apertei o power do minisystem que ficava na cabeceira e me joguei na cama… para minha surpresa e martírio, a primeira música que tocou veio trazendo o choro forte, convulsivo… como uma tempestade que surge para inundar, mas também para trazer nossas possibilidade para a terra fértil.

“Depois da última noite de festa

Chorando e esperando amanhecer, amanhecer

As coisas aconteciam com alguma explicação

Com alguma explicação

Depois da última noite de chuva

Chorando e esperando amanhecer, amanhecer

Às vezes peço a ele que vá embora

Que vá embora…oh…

Camila, Camila, Camila …. “

Antes de pregar no sono, recebi um sms em meu celular. Era dela… Camila… e dizia assim: – Ah… se todas fossem como você! Sorri e me permiti dormir. Amanhã seria um outro dia. Um belo e novo dia…



Notas:



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