– Kayla, você não é uma noiva prestes a se casar, por favor, saia desse banheiro. – Belinda falou enquanto batia novamente na porta.
– Se você puder ter um pouquinho mais de paciência eu logo saio, existe mais de um banheiro na casa, você sabe disso, certo?
– Sim e já estou arrumada, faz mais de quarenta minutos que está trancada aí… – Então abri a porta e as palavras ficaram perdidas.
– Pronto, só preciso calçar a sandália. – Entrei no quarto e reparei que ela continuou com a mão suspensa no ar e a boca aberta como se fosse terminar o que estava falando. – Ei, Terra para Marte.
– Te espero lá embaixo. – E saiu, a observei enquanto descia a escada. Estava com um short reto de alfaiataria, uma blusa branca com quatro botões, colete na mesma cor do short e um salto alto, deixando suas pernas, que por si só já eram lindas, ainda mais torneadas.
– O que deu nessa mulher? – Perguntei enquanto fechava a porta.
– Deve ter morrido do coração com essa vista, prima, você está um arraso. – Largou o celular e me fez dar um rodopio no meio do quarto. – Só não deixe muitos mortos pelo caminho.
– Não pretendo deixar nenhum morto. – Peguei duas sandálias. – Qual das duas?
– A preta, vai fazer marmanjo babar.
– Deixa de ser boba. – Me sentei na beirada da cama. – Tem certeza que não quer vir conosco?
– Eu queria, mas minha amiga fez um drama, disse que já é raro eu vir para cá, não aceitar sair com ela é quase um insulto a nossa amizade. – Guardou o celular no bolso da calça. – Se bem que sair com vocês duas é sacanagem, não tenho metade dessas curvas, não vou chamar atenção nem do garçom.
– Deixa de ser boba, você é tão linda quanto nós duas juntas.
– Prima, nós duas sabemos a verdade, agora vai e arrasa.
– Prometo não fazer barulho quando chegar.
– Não se preocupa com isso, vou dormir com a minha mãe, ordens da Tia Vera, pra não ficar nós três emboladas aqui.
– Ah, entendo, bem, vou indo, bom cinema pra você. – Dei um beijo no seu rosto.
– Boa balada para vocês e comportem-se. – Deu uma piscada pra mim e saí do quarto.
– Uau, olha só que belo par teremos essa noite. – Maurice falou quando comecei a descer a escada, Belinda estava em pé ao lado do sofá e seus olhos não saíram da minha direção.
– Sem exagero, Maurice.
– Ele está certo, minha filha. – Minha mãe veio até o último degrau e segurou minha mão. – Você está com uma energia tão boa. Isso me deixa feliz e aliviada.
– Também estou me sentindo feliz, mãe. – Deixei um beijo em seu rosto. – Vamos, Bela?
– Uhum. – Ela deixou um beijo no rosto do pai e outro no da minha mãe, Tia Lena estava no quarto, fiz o mesmo e saímos, como sempre, ela abriu a porta do carro e esperou que eu entrasse para fechar a porta, se sentou do meu lado e antes de dar a partida comentou. – Você está realmente muito linda, está exalando, além de beleza, uma sensualidade natural. – Fiquei vermelha pelo comentário.
– Você também está linda, uma verdadeira Bela. – Deu partida no carro e em poucos minutos chegamos no local. – Nossa, que lugar incrível.
– É, parece que faz pouco tempo que foi inaugurado, chegamos bem a tempo da nossa reserva, espero que não se importe em pegar um barquinho a remo.
– Me importar? Eu vou adorar. – Segurou minha mão para que eu entrasse no barco e veio logo em seguida sentando ao meu lado.
– Boa noite, sou o Rodrigo e as levarei até o restaurante Redoma do mar, o caminho dura aproximadamente doze minutos. Tenho um vinho Branco, como pedido no ato da reserva. – Pegou a garrafa e as taças e nos serviu.
– Obrigada, Rodrigo. – Agradecemos e assim o rapaz começou a remar, a brisa marítima levava meu cabelo, o vento acariciava meu rosto, cruzei meu braço no de Bela e apoiei meu rosto em seu ombro.
– Obrigada por isso.
– Não agradeça, também estou tirando vantagem de sua companhia. – Acariciou meu braço e permanecemos em silêncio até chegarmos no pequeno cais em frente ao restaurante, ouvia uma música ao vivo suave, ela preenchia o lugar, que parecia cheio.
– Senhoritas. – Nos deu a mão para sair e logo fomos recepcionadas por uma mulher muito bem vestida.
– Boa noite, sejam bem-vindas ao Redoma do Mar, sou Marise e as acompanharei até a mesa reservada. – Caminhamos atrás da mulher e logo chegamos a nossa mesa, era de frente para o cais de Angra. – Dentro de instantes o garçom virá anotar seus pedidos. – Bela puxou a cadeira para que eu sentasse e logo se sentou em minha frente, Marise deixou dois cardápios em nossa frente. – Tenham um belo jantar.
– Obrigada, Marise. – Belinda agradeceu e logo me olhou. – E aí, gostou do lugar?
– Acho que nunca estive em um restaurante como esse, além de ter uma vista linda estou em ótima companhia.
– Obrigada pela parte que me toca, sei que disse que iríamos a algum lugar para dançar, mas esse me pareceu bem mais convidativo.
– Você acertou, sabe, não sou muito boa em danças e aqui é tão perfeito que não poderia ter escolhido lugar melhor.
– Então acertei o alvo. Quer continuar no vinho branco ou quer outra coisa?
– Prefiro continuar no vinho mesmo, este que tomamos no barco é uma delícia.
– Eu também adorei. – Logo o garçom chegou e pedimos uma garrafa do vinho.
– Gostariam de alguma entrada? Recomendo o coquetel de camarão ao molho de queijo gouda.
– Aceitamos a sugestão. – O rapaz saiu e voltei a observar o lugar, um rapaz no violão tocava Tom Jobim. – Essa música é linda, mas acredito que é sim possível ser feliz sozinho. – Falei olhando para Bela.
– Bem, como você sabe, eu ainda acredito no amor, mas sim, é possível ser feliz sozinho, mas totalmente triste quando não tem alguém para compartilhar a felicidade, tiro pela minha experiência. Sou feliz, mas não totalmente, é bom ter com quem compartilhar as conquistas, a felicidade, os sorrisos, além do carinho, claro.
– Vejo que você é uma típica romântica.
– Descobriu meu segredo. – Sorriu. – Sou apenas uma mulher que está sempre tentando fazer o melhor para com quem está ao lado.
– Eu te vejo assim, Bela, na verdade nem precisa te conhecer muito pra saber o quanto você é gentil. – Nossa entrada chegou e apreciamos o camarão, a música e a conversa.
– Você deveria conhecer Sicília, é simplesmente um pedaço do paraíso na Itália. Fui uma vez no ano passado para coordenar uma série de reportagens e me apaixonei, senti vontade de largar tudo e morar por lá.
– Com você falando desse jeito me sinto tentada a ir conhecer.
– Pois vá e eu serei sua guia. – Passava das dez da noite quando encerramos o jantar. – Estou pensando em fazer uma loucura.
– Ai, meu Pai do céu, sabe que pelo que me fala, suas loucuras são bem loucas mesmo.
– Nada de tão grandioso, apenas pedir mais uma garrafa desse vinho e voltarmos para casa, sentar na beira daquela piscina maravilhosa e continuar a conversa.
– Isso não me parece nada mal. – Dividimos a conta e prontamente ganhamos a garrafa de vinho. – Ainda não acredito que eles nos deram a garrafa de vinho.
– Olha, eles ganharam pontos comigo, irei recomendar no artigo de viagens da revista. – Voltamos contemplando a calmaria do mar e o balanço do barco. – Ainda bem que o caminho não é longo, uma blitz a essa hora poderia acabar com nosso final de noite.
– Talvez devêssemos voltar de táxi.
– Mas sairemos amanhã pela manhã, não acho confiável deixar o carro por aqui, não bebemos muito e o caminho é curto, Kay.
– Que fique bem claro que não estou de acordo, não se deve dirigir depois de beber a quantidade de vinho que tomamos.
– Você está coberta de razão. – Abaixou a cabeça. – Iremos de táxi, tudo bem? Acordarei um pouco mais cedo e venho pegar o carro.
– Obrigada. – Caminhamos até o ponto de táxi e entramos, menos de dez minutos e já estávamos entrando na ponta dos pés pelo portão lateral da casa. – Me sinto uma meliante.
– Somos duas. – Tirei a sandália e me sentei na borda da piscina. – Acha seguro entrar para pegar taças?
– Nem um pouco seguro, mas se não pegarmos as taças também não teremos abridor.
– Isso não é problema. – Ficou batendo o fundo da garrafa na palma da mão e logo a rolha já estava pela metade. – Viu, de alguma coisa a faculdade serviu.
– Era daquelas que bebia mais que estudava? – Peguei a garrafa de sua mão e tomei um gole. – Se importa de beber assim?
– Não me importo. E não, eu não era das que passam mais tempo bebendo que estudando, apenas tive meus momentos de rebeldia.
– Sabe que nunca cabulei aula? E raramente saia para beber com amigos.
– Você foi uma adolescente focada, não digo que eu não fui, mas tive algumas fases.
– Eu deveria ter tido essas fases também, seria mais interessante contar da minha adolescência. – Já estávamos chegando no final da garrafa quando me levantei sentindo o mundo girar. – Houston, eu tenho um problema com a gravidade.
– Acho que nossa adolescente nada rebelde iria gostar de te ver dessa forma. – Desci a alça do vestido ficando apenas com o conjunto de sutiã e calcinha. – Opa, opa, opa. Pensei que você fosse contra a nudez. – Voltei a me sentar ao seu lado.
– Tecnicamente eu sou contra, mas estamos em casa e não no meio da rua como ontem. Mas para sua informação, seria muito desconfortável dar um mergulho de vestido. – Deixei meu corpo escorregar para a água levemente gelada. – Você deveria experimentar essa água.
– Eu não vou ficar praticamente nua na sua frente.
– Isso não foi problema para você ontem.
– Mas hoje é diferente. – Segurei na borda da piscina ficando perto dela.
– E por que hoje é diferente?
– Por nada, apenas é diferente.
– Isso não é um argumento válido.
– E precisa ser válido? – Balancei a cabeça que sim chegando ainda mais perto dela. – Não, não, não… – Puxei e ela caiu dentro da água. – Você é louca? – Falou sorrindo.
– Acho que o vinho me deixou um pouco louca. Mas me diga, o que mudou?
– Mudou o fato de que não estou em condições de me controlar.
– E o que precisa controlar?
– A vontade de te beijar, Kay, estou assustadoramente desejando te beijar.
– Você é…?
– Não, anos atrás me envolvi com uma garota, eu deveria estar no segundo grau, mas definitivamente eu não gostei, só que você está fazendo despertar um desejo quase insano. – Me aproximei dela e deixei um beijo em seu rosto e voltei a mergulhar, parei apenas quando atingi a borda mais distante da piscina. Saí lentamente, sem olhar para trás, estava confusa com aquelas palavras, não exatamente com as palavras, mas sim com a reação do meu corpo, eu consegui finalmente explicar os toques longos, os olhares longos, eu também a desejava e isso não era correto. Subi lentamente até o quarto, lá fiquei andando de um lado para o outro, olhei pela janela e Bela não estava mais lá. – Me desculpe, vou só pegar uma roupa, dormirei no sofá.
– Não, não se desculpe e não irá dormir no sofá de jeito maneira. – Me aproximei dela. – Me desculpe por ter fugido.
– Não tenho que te desculpar, Kay, só acho que me precipitei. – Vi que começava a descer algumas lágrimas, a abracei o mais apertado possível, ficamos nesse abraço por alguns minutos impossíveis de contar.
– Eu só fugi porque sinto o mesmo. – Me afastei um pouco de seus braços para olhá-la nos olhos. – Você é uma mulher linda, inteligente, doce, gentil… Eu não sei o que fazer, mas não acho certo. – Encostei minha testa na dela.
– Eu ainda menos, só consigo pensar em como deve ser o toque de seus lábios. – Passou a ponta dos dedos por eles. – Como deve ser sentir o toque da sua língua na minha. – Umedeci os lábios e fechei os olhos.
– Me beija, Bela, por uma vez pelo menos eu preciso sentir seus lábios. – O toque foi sutil, suave, quase que receoso, não consegui controlar o suspiro, ele simplesmente escapou por minha boca. Suas mãos envolveram minha cintura aproximando o contato dos nossos corpos, ainda úmidos da piscina. Entreabri os lábios e senti sua língua buscando espaço para tocar a minha, segurei seu pescoço e o beijo se aprofundou, intenso, selvagem, guloso… Gentilmente ela me encostou na porta e a trancou.
– O que você fez comigo? – Falou no meio do beijo. – Simplesmente é o beijo mais gostoso de toda a minha vida. – E voltou a me beijar com mais vontade, eu não tinha palavras, só conseguia beijar os lábios dela. Nossos corpos tinham vida própria e o cérebro não mais mandava nos movimentos, apenas percebi que meu corpo estava sendo lentamente colocado na cama.
– Podemos ir um pouco mais devagar? – Falei sentindo o peso do corpo dela e notei que minhas pernas estavam presas na cintura dela. – Eu vim no seu colo?
– Eu não sei responder. – Colocou algumas mexas do meu cabelo para trás. – Não faço menor ideia de como paramos aqui. – E deu um daqueles sorrisos, de tão perto que seu rosto estava não consegui resisti e a beijei novamente, minhas mãos com toda delicadeza do mundo abriu o colete que ela usava e abriu os botões da camisa, nossas bocas se afastaram por alguns segundos, apenas o suficiente para que ela tirasse os dois e nossa pele entrasse em contato, suspirei com a suavidade da pele. – Você disse mais devagar, mas eu não estou conseguindo controlar.
– Você não está conseguindo controlar? – Virei meu corpo, me sentando em cima do seu quadril. – Eu não sei como controlar o que meu corpo está pedindo. – Ela sentou e aquela posição favoreceu nossas mãos curiosas que quase em sincronia desabotoou nossos sutiãs. Minha boca foi deixando um rastro de beijos até chegar em seu pescoço.
– Kay, isso é golpe baixo, você não faz a menor ideia de como está me deixando. – Olhei bem em seus olhos, segurei sua mão e levei para dentro da última peça que restava em meu corpo.
– Está como eu? – Senti seus dedos escorregando em meu sexo. – Hmmm. – Deixei uma mordida em seu ombro esquerdo, me afastei um pouco, fazendo que sua mão deixasse meu corpo, fiquei de pé em frente a cama e puxei seu short, logo ele estava em um canto qualquer do chão. Senti meu corpo ser puxado de volta para a cama.
– Eu ainda não tenho certeza se isso é real ou efeito do vinho.
– Acha que bebeu o suficiente para isso?
– Não, claro que não, era isso que eu desejava desde que te vi naquele vestido. – Colocou todo meu cabelo para trás. – Você irá culpar o vinho pela manhã?
– Irei culpar seus olhos, sua boca, seu corpo, meu desejo, menos o vinho… – Acariciei a lateral de seu rosto e voltamos a nos beijar, diferente de antes, era calmo, explorávamos cada cantinho do corpo com as mãos, as pernas se entrelaçavam, nossos corpos exigiam contato total.
– Você é linda, incrível, engraçada, gostosa, deliciosa, hoje naquele restaurante, me senti uma mulher muito sortuda, todos os olhos te buscavam quando entramos e eu só pensava: Bem, ela está comigo, pessoal. – Se encaixou sobre meu corpo. – Eu só não imaginava que fosse tão irresistível. – E a conversa acabou, a última peça de roupa foi tirada, por vezes nos beijamos para abafar os gemidos, suas mãos estiveram por todo meu corpo, arranhou, acariciou, tocou, entrou e me arrancou orgasmos alucinantes, eu apenas tentava devolver cada espasmo, cada gozo, cada beijo… tentei estar em cada pedaço de seu corpo desenhado, suave ao toque… – Eu adoraria ter um único poder nesse momento.
– E qual seria? – Estava deitada em seu braço direito e o esquerdo estava sobre minha cintura.
– Voltar no tempo, fazer essa noite ser eterna.
– Eu adoraria, mas podemos amanhecer… talvez repetir.
– Não sou de pensar muito em determinadas coisas, mas tenho medo de quando amanhecer você perceba que isso foi um erro.
– Olha pra mim. – Seu corpo virou para cima do meu. – Talvez essa tenha sido a única coisa certa que fiz em muito tempo. – Beijei sua boca e deixei meu corpo relaxar em seus braços.
– Falta tão pouco para amanhecer, acha mesmo uma boa ideia dormir? – Ainda de olhos fechados sorri e abracei seu corpo.
– Só um pouquinho, que tal?
– Não me responsabilizo se não conseguirmos acordar. – Beijou minha testa e descansamos, uma nos braços da outra.