UM AMOR SURREAL

6. Das canções de amor que quis cantar pra você – Reconquistar quem se foi

Todos Enquantos

Todos meus tantos são teus
Todos enquantos
Todos meus santos… ateus!
Desde quando nosso encantamento feneceu
Finjo-me anjo, orfeu!
Alivia o alvoroço
Com o cuidado teu
Diz quanto é tanto?
Eu não sei nem bem
Por onde procurar
Há um ledo engano
Em não querer ver
Que é dom: recomeçar!
Todos meus tantos são teus
Todos enquantos
Finjo-me drama… Romeu!
Faz de conta que ainda somos
Quem nos escreveu!
Torna-te quem tu és:
Canção
Clarão
Crescente
Transcender
Não arrisque crer na intuição que em vão
Nos faz desvanecer

TEATRO MÁGICO

Já tem quase um ano que nos separamos, ainda

hoje não sei o exato motivo dessa distância, mas

você tomou a decisão e devo respeitar. Acho que

a correria, a falta de tempo e mil outras coisas,

mas não acredito que seja falta de existir um

gostar e tesão. Hoje sei pouco de você,

decidimos nos afastar completamente, ainda que

tenha sido dito que haveria a amizade.

Não sei se as coincidências da vida, a sorte ou o

destino, nos fez cruzar de novo o caminho uma

da outra. Eu e uma amiga temos uma empresa

de buffet e decoração, devido ao nosso

empenho, conquistamos bons clientes. Alguém

da empresa que você trabalha nos contratou

para realizarmos um café da manhã e almoço

num sábado para comemorar mais um ano da

empresa. Seria um dia todo de comida e música.

Apesar da imensa correria, tudo estava dentro

do planejado, organizado e correndo bem.

Cheguei bem cedo e comecei a ajeitar a mesa do

café da manhã, outros funcionários foram tomar

conta do palco onde teria um show de uma

banda de amigos e minha sócia estava cuidando

da decoração.

Estava de costas separando as frutas, e sinto

alguém se aproximando, já viro e falo:

– Ei pega pra mim os frios pra colocar aqui!! – me

assusto vendo que é você parada na minha

frente.

– Acho que eu devo ser servida hoje! – diz

sorrindo.

– Ahh, não sabia que já tinha gente aqui, além da

minha equipe. – digo meio sem graça e sem

reação.

Te vejo pegar uma amora e apenas ir embora.

Me pego pensando por que se aproximou e por

que simplesmente saiu. Apenas para eu te notar

ou não percebeu que era eu? Como fui a que

levou o fora, me permito ficar chateada e não me

reaproximar.

As pessoas começam a chegar e a ocupar as

muitas mesas espalhadas pelo imenso jardim. A

manhã é agitada e divertida, todos parecem

apreciar o café e a boa música. Não vejo você e

na verdade, tento me manter ocupada na

cozinha que providenciamos. Ainda deve ser um

sentimento de tristeza que carrego aqui.

Antes de servir o almoço, resolvo tirar um

tempo para fumar e descansar um pouco. Vou

até a parte do fundo onde ficam algumas árvores

e uns bancos de madeira. Escolho a mais

distante e me sento, acendo um cigarro e abro

meu livro chamado Arroz de Palma e viajo com

ele.

– Esse livro eu te dei logo que saiu, achei que já

tinha lido. – você de novo só que agora, ao meu

lado.

– Na verdade eu deixei guardado, tinha outras

coisas pra ler antes. – digo sem olhar pra você.

Senta-se ao meu lado, cruza as pernas e me olha

com ar provocador.

– Tudo está ótimo, parabéns!

– Obrigada.

– Fico muito feliz de ver o quanto vocês

cresceram.

– Obrigada. – me levanto e caminho de volta ao

trabalho.

– Vai mesmo me deixar aqui??

Apenas te olho e volto a caminhar mais

rapidamente. Sei que pareceu infantil, mas é

engraçado como a mágoa vem lá do fundinho da

gaveta onde colocamos, e sobe de uma vez só,

ainda que consegui contê-la a tempo.

Nosso relacionamento durou 3 anos, nossas

famílias e amigos sabiam que éramos um casal e

tudo foi muito tranquilo. Até que você começou

a chegar cada vez mais tarde, as mensagens e

telefonemas que antes eram mimos diários,

tornaram-se apenas uma fonte de informação do

tipo: estou em reunião, vou me atrasar, não

poderei te encontrar hoje. Me esforcei para não

deixar esse tanto faz nos consumir, mas não deu

pra lutar sozinha contra ele. Você acabou

deixando que ele nos consumisse e apenas foi

embora, alegando que precisava de um tempo e

que estava sufocada.

Me dedico com afinco ao almoço e evito sair da

cozinha, não quero mais te encontrar, pois ainda

dói sua presença. Quando vejo que todos já se

serviram, começo a recolher algumas coisas

para adiantar. Noto que você está numa mesa

próxima de onde estou, e sinto que me persegue

com o olhar. Ao invés de me sentir

entusiasmada, me sinto mal, meio que invadida.

Quando arrumo minha parte, decido ir embora.

Acho que você notou, de repente vai até o palco

e conversa com a vocalista da banda, e sobe no

palco e começa a falar:

– Oi gente, muitos me conhecem, pra quem não,

me chamo Bel e gostaria de pedir uma música

especial. Ela tem a ver com uma parte da minha

história que acho linda, mas que por um erro

meu, acabei apagando. Espero que gostem!

Desce do palco e ouço as primeiras notas. Me

arrepio inteira, pois é uma música que amo e

que ouvi muito no começo da nossa separação,

chama Todos enquanto do Teatro Mágico. Ela

me faz pensar num amor partido que ainda não

se apagou de vez nos corações das pessoas

envolvidas.

Você desce me olhando intensamente e eu

apenas fico parada com uma colher e dois copos

nas mãos. Se senta e canta a música toda

olhando na minha direção, eu tento disfarçar o

máximo, mas não deixo de me sentir

emocionada. Será que se arrependeu e tem

vontade de voltar ou apenas está me testando?

O fim do dia chega e guardamos tudo na van.

Sento do lado do passageiro, não tenho

condições de dirigir. Durante o caminho, eu e

minha sócia comentamos o sucesso que foi e,

mesmo ela sacando o que aconteceu, não toca no

assunto.

Os dias passam calmos e para não pensar ou

esperar nada de você, trabalho cada vez mais.

No começo da manhã de uma quinta, quase dez

dias depois da festa, recebo uma mensagem:

“oi Clara, sei que já faz um bom tempo, mas

adoraria te convidar para jantar, aceita?”

Me pega de surpresa e sinto um misto de raiva e

mágoa.

“oi Bel, adoraria mas tenho trabalhado e

estudado muito a noite, me desculpe.”

“novas receitas?”

“sim, testando novos pratos”

“tem testado na empresa ou na sua casa?”

“na empresa”

Mais nenhuma outra mensagem. Me arrumo e

saio para trabalhar, lá pelas seis horas da tarde

resolvo ir ao mercado comprar os ingredientes

para uma torta vegetariana que vi em um

programa de televisão. Demoro cerca de uma

hora para voltar para a empresa e noto que não

tem mais ninguém. Todas as luzes apagadas e

um silêncio completo. Quando ligo a luz do salão

me surpreendo com uma mesa delicadamente

arrumada com duas taças cheias de vinho

branco, um lindo vaso com uma rosa branca, um

castiçal com três velas e pratos e talhares para

duas pessoas.

Começa a música que tocou na festa, sinto um

arrepio e olho em volta para entender o que está

acontecendo. As luzes se apagam, ouço passos

até a mesa e vejo você acender as velas.

– Acredito que quando alguém vale muito a pena,

e só percebemos quando deixamos que ela saia

da nossa vida, temos que mostrar os motivos

que ela tem para voltar.

Diz já puxando a cadeira e fazendo um gesto

para que eu me sente. Não sei onde isso vai dar,

mas resolvo embarcar. O vinho gelado é ótimo e

harmoniza com o peixe assado e legumes.

Conversamos sobre amenidades, nada falamos

sobre nosso relacionamento ou algo mais

pessoal.

Quando terminamos você se levanta e me tira

para dançar.

– Sabe adoro dançar com você e hoje é uma noite

especial.

– Sim está sendo bom. – digo me levantando e

me aproximando de você.

Sinto você encostar seu rosto no meu pescoço,

mas não faz menção de me beijar ou algo do

tipo. Estamos abraçadas e não falamos nada

durante toda a música. Quando acaba, você se

distancia e diz:

– Olha Clara eu quero te reconquistar, mas sei

que será aos poucos e não tenho pressa. Sei que

pra você foi complicado o término e quero que,

se você achar que deve, volte comigo

conhecendo quem me tornei e perceba o quanto

amo você.

Me surpreendo pois não esperava isso, imaginei

uma cena onde você me agarraria, precipitaria

tudo e acabaria com o encantamento. Fico feliz

com essa atitude.

– Também prefiro assim, pra que pressa né? –

digo com sorriso genuíno no rosto.

– Bom vou arrumar tudo e vou embora.

– Vamos juntas lavar a louça.

Enquanto arrumamos tudo, a conversa flui

naturalmente e é muito acolhedora a situação.

Faço um café e tomamos sentadas no degrau da

cozinha.

– Bom agora vou embora, muito obrigada! – me

beija no rosto, pega suas coisas e te acompanho

até a porta.

Nos dias que seguem conversamos por

mensagens. No sábado bem cedo, você toca a

campainha.

– Que surpresa!

– Desculpa não ligar, mas como da última vez

você gostou de ser surpreendida, resolvi

arriscar! – e me dá um sorrido encantador.

– Opa, e qual é a surpresa de hoje??

– Só digo para colocar um tênis, uma camiseta e

uma calça de moletom, pega também uma toalha

e já coloca o biquíni!

– Eita…. aventura na mata??

– Confia em mim?

Enquanto me troco e arrumo as coisas, me

pergunto onde me levará e se devo mesmo ir,

afinal já me machuquei criando expectativas,

mas algo no meu coração me dizia pra ir e

percebi que estava em paz com essa decisão.

Entramos no seu carro e seguimos ouvindo

música alta e cantando juntas. Chegamos num

lugar meio afastado e você me pede pra descer.

– Vamos caminhar um pouquinho, mas garanto

que valerá à pena!

Sigo você por uns 5 minutos e me deparo com

uma linda cachoeira.

– Meu Deus que lindo!!!

-Agora vamos aproveitar que ainda está vazia!!

Tiramos nossa roupa e mergulhamos no lago.

Nadamos por muito tempo, entramos embaixo

da cachoeira, rimos muito e falamos um pouco

de tudo.

Depois de quase uma hora, você se aproxima.

– Que tal comermos algo?

– Então também tem piquenique??

– Claro Clara!!

Vamos até uma parte plana e você começa a

tirar as coisas, primeiro estende uma toalha e

vai colocando suco, lanches e frutas.

– Nossa que linda surpresa!

Comemos e aproveitamos pra descansar e secar

ao sol. Estou deitada de costas e sinto você se

aproximar.

– Que tal agora um último mergulho antes que

aqui fique lotado de gente?

– Humm mas já sequei!

– Garanto que não se arrependerá!

Entramos novamente e você me diz para ir até

perto da queda de água, porém ao lado de uma

pedra. Quando chegamos você me puxa em um

abraço terno.

– Saudades disso. – e me beija na boca.

Ficamos nos beijando e como que por instinto,

nossas mãos vão redescobrindo nossos corpos.

Você me encosta numa parte mais lisa da pedra

e sem dizer nada, tira meu biquíni, deixo e tiro o

seu também. Não quero racionalizar agora,

quero apenas sentir e me permito. Você me vira

e fico de costas pra você, me apoio com as mãos

na pedra e sinto as suas tocarem meus seios,

enquanto me beija e morde minha nuca. Os

beijos e mordidas ficam mais intensos e desce

sua mão até minhas coxas e a outra brinca com

meu seio. Fico cada vez mais ofegante e solto um

gemido quando te sinto entre minhas pernas,

explorando onde tantas vezes você esteve.

– Quero você agora, nunca senti tanto prazer

como sinto com você. – sua voz está ofegante e

isso me deixa ainda mais excitada.

Abro as pernas e você se ajeita melhor, sinto

todo seu corpo colado ao meu, sua mão agora

dentro de mim e os movimentos que faz estão

cada vez mais intensos. Você puxa meu cabelo e

morde meu pescoço enquanto seus dedos

encontram aquele lugar que chamam de ponto G

e que me faz gemer mais alto, sinto que você

enlouquece e que vou gozar.

– Não vou aguentar mais…- digo em uma voz

entrecortada.

– Goza pra mim delícia.

O gozo vem numa explosão louca, meu corpo

treme todo, encosto minha cabeça ao lado da sua

e você me abraça com força. É bom sentir tudo

isso de novo e me largo no seu abraço. Sentir

você em mim e comigo é bom demais.

– Agora quero te levar pra casa e …

– E transar comigo dia todo?? – digo rindo.

– O dia, o fim de semana, mas pensei melhor e

quero que seja pra vida inteira.

Me viro e você segura meu rosto com as mãos,

estou com os olhos marejados, quando vou falar

algo, você coloca sua mão na minha boca

delicadamente e diz:

– Me deixa te mostrar que mereço uma segunda

chance?

Apenas te abraço com toda ternura e beijo sua

boca.

– É preciso de coragem para se permitir sentir

não? – digo sorrindo pra você.



Notas:



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