Todos Enquantos
Todos meus tantos são teus
Todos enquantos
Todos meus santos… ateus!
Desde quando nosso encantamento feneceu
Finjo-me anjo, orfeu!
Alivia o alvoroço
Com o cuidado teu
Diz quanto é tanto?
Eu não sei nem bem
Por onde procurar
Há um ledo engano
Em não querer ver
Que é dom: recomeçar!
Todos meus tantos são teus
Todos enquantos
Finjo-me drama… Romeu!
Faz de conta que ainda somos
Quem nos escreveu!
Torna-te quem tu és:
Canção
Clarão
Crescente
Transcender
Não arrisque crer na intuição que em vão
Nos faz desvanecer
TEATRO MÁGICO
Já tem quase um ano que nos separamos, ainda
hoje não sei o exato motivo dessa distância, mas
você tomou a decisão e devo respeitar. Acho que
a correria, a falta de tempo e mil outras coisas,
mas não acredito que seja falta de existir um
gostar e tesão. Hoje sei pouco de você,
decidimos nos afastar completamente, ainda que
tenha sido dito que haveria a amizade.
Não sei se as coincidências da vida, a sorte ou o
destino, nos fez cruzar de novo o caminho uma
da outra. Eu e uma amiga temos uma empresa
de buffet e decoração, devido ao nosso
empenho, conquistamos bons clientes. Alguém
da empresa que você trabalha nos contratou
para realizarmos um café da manhã e almoço
num sábado para comemorar mais um ano da
empresa. Seria um dia todo de comida e música.
Apesar da imensa correria, tudo estava dentro
do planejado, organizado e correndo bem.
Cheguei bem cedo e comecei a ajeitar a mesa do
café da manhã, outros funcionários foram tomar
conta do palco onde teria um show de uma
banda de amigos e minha sócia estava cuidando
da decoração.
Estava de costas separando as frutas, e sinto
alguém se aproximando, já viro e falo:
– Ei pega pra mim os frios pra colocar aqui!! – me
assusto vendo que é você parada na minha
frente.
– Acho que eu devo ser servida hoje! – diz
sorrindo.
– Ahh, não sabia que já tinha gente aqui, além da
minha equipe. – digo meio sem graça e sem
reação.
Te vejo pegar uma amora e apenas ir embora.
Me pego pensando por que se aproximou e por
que simplesmente saiu. Apenas para eu te notar
ou não percebeu que era eu? Como fui a que
levou o fora, me permito ficar chateada e não me
reaproximar.
As pessoas começam a chegar e a ocupar as
muitas mesas espalhadas pelo imenso jardim. A
manhã é agitada e divertida, todos parecem
apreciar o café e a boa música. Não vejo você e
na verdade, tento me manter ocupada na
cozinha que providenciamos. Ainda deve ser um
sentimento de tristeza que carrego aqui.
Antes de servir o almoço, resolvo tirar um
tempo para fumar e descansar um pouco. Vou
até a parte do fundo onde ficam algumas árvores
e uns bancos de madeira. Escolho a mais
distante e me sento, acendo um cigarro e abro
meu livro chamado Arroz de Palma e viajo com
ele.
– Esse livro eu te dei logo que saiu, achei que já
tinha lido. – você de novo só que agora, ao meu
lado.
– Na verdade eu deixei guardado, tinha outras
coisas pra ler antes. – digo sem olhar pra você.
Senta-se ao meu lado, cruza as pernas e me olha
com ar provocador.
– Tudo está ótimo, parabéns!
– Obrigada.
– Fico muito feliz de ver o quanto vocês
cresceram.
– Obrigada. – me levanto e caminho de volta ao
trabalho.
– Vai mesmo me deixar aqui??
Apenas te olho e volto a caminhar mais
rapidamente. Sei que pareceu infantil, mas é
engraçado como a mágoa vem lá do fundinho da
gaveta onde colocamos, e sobe de uma vez só,
ainda que consegui contê-la a tempo.
Nosso relacionamento durou 3 anos, nossas
famílias e amigos sabiam que éramos um casal e
tudo foi muito tranquilo. Até que você começou
a chegar cada vez mais tarde, as mensagens e
telefonemas que antes eram mimos diários,
tornaram-se apenas uma fonte de informação do
tipo: estou em reunião, vou me atrasar, não
poderei te encontrar hoje. Me esforcei para não
deixar esse tanto faz nos consumir, mas não deu
pra lutar sozinha contra ele. Você acabou
deixando que ele nos consumisse e apenas foi
embora, alegando que precisava de um tempo e
que estava sufocada.
Me dedico com afinco ao almoço e evito sair da
cozinha, não quero mais te encontrar, pois ainda
dói sua presença. Quando vejo que todos já se
serviram, começo a recolher algumas coisas
para adiantar. Noto que você está numa mesa
próxima de onde estou, e sinto que me persegue
com o olhar. Ao invés de me sentir
entusiasmada, me sinto mal, meio que invadida.
Quando arrumo minha parte, decido ir embora.
Acho que você notou, de repente vai até o palco
e conversa com a vocalista da banda, e sobe no
palco e começa a falar:
– Oi gente, muitos me conhecem, pra quem não,
me chamo Bel e gostaria de pedir uma música
especial. Ela tem a ver com uma parte da minha
história que acho linda, mas que por um erro
meu, acabei apagando. Espero que gostem!
Desce do palco e ouço as primeiras notas. Me
arrepio inteira, pois é uma música que amo e
que ouvi muito no começo da nossa separação,
chama Todos enquanto do Teatro Mágico. Ela
me faz pensar num amor partido que ainda não
se apagou de vez nos corações das pessoas
envolvidas.
Você desce me olhando intensamente e eu
apenas fico parada com uma colher e dois copos
nas mãos. Se senta e canta a música toda
olhando na minha direção, eu tento disfarçar o
máximo, mas não deixo de me sentir
emocionada. Será que se arrependeu e tem
vontade de voltar ou apenas está me testando?
O fim do dia chega e guardamos tudo na van.
Sento do lado do passageiro, não tenho
condições de dirigir. Durante o caminho, eu e
minha sócia comentamos o sucesso que foi e,
mesmo ela sacando o que aconteceu, não toca no
assunto.
Os dias passam calmos e para não pensar ou
esperar nada de você, trabalho cada vez mais.
No começo da manhã de uma quinta, quase dez
dias depois da festa, recebo uma mensagem:
“oi Clara, sei que já faz um bom tempo, mas
adoraria te convidar para jantar, aceita?”
Me pega de surpresa e sinto um misto de raiva e
mágoa.
“oi Bel, adoraria mas tenho trabalhado e
estudado muito a noite, me desculpe.”
“novas receitas?”
“sim, testando novos pratos”
“tem testado na empresa ou na sua casa?”
“na empresa”
Mais nenhuma outra mensagem. Me arrumo e
saio para trabalhar, lá pelas seis horas da tarde
resolvo ir ao mercado comprar os ingredientes
para uma torta vegetariana que vi em um
programa de televisão. Demoro cerca de uma
hora para voltar para a empresa e noto que não
tem mais ninguém. Todas as luzes apagadas e
um silêncio completo. Quando ligo a luz do salão
me surpreendo com uma mesa delicadamente
arrumada com duas taças cheias de vinho
branco, um lindo vaso com uma rosa branca, um
castiçal com três velas e pratos e talhares para
duas pessoas.
Começa a música que tocou na festa, sinto um
arrepio e olho em volta para entender o que está
acontecendo. As luzes se apagam, ouço passos
até a mesa e vejo você acender as velas.
– Acredito que quando alguém vale muito a pena,
e só percebemos quando deixamos que ela saia
da nossa vida, temos que mostrar os motivos
que ela tem para voltar.
Diz já puxando a cadeira e fazendo um gesto
para que eu me sente. Não sei onde isso vai dar,
mas resolvo embarcar. O vinho gelado é ótimo e
harmoniza com o peixe assado e legumes.
Conversamos sobre amenidades, nada falamos
sobre nosso relacionamento ou algo mais
pessoal.
Quando terminamos você se levanta e me tira
para dançar.
– Sabe adoro dançar com você e hoje é uma noite
especial.
– Sim está sendo bom. – digo me levantando e
me aproximando de você.
Sinto você encostar seu rosto no meu pescoço,
mas não faz menção de me beijar ou algo do
tipo. Estamos abraçadas e não falamos nada
durante toda a música. Quando acaba, você se
distancia e diz:
– Olha Clara eu quero te reconquistar, mas sei
que será aos poucos e não tenho pressa. Sei que
pra você foi complicado o término e quero que,
se você achar que deve, volte comigo
conhecendo quem me tornei e perceba o quanto
amo você.
Me surpreendo pois não esperava isso, imaginei
uma cena onde você me agarraria, precipitaria
tudo e acabaria com o encantamento. Fico feliz
com essa atitude.
– Também prefiro assim, pra que pressa né? –
digo com sorriso genuíno no rosto.
– Bom vou arrumar tudo e vou embora.
– Vamos juntas lavar a louça.
Enquanto arrumamos tudo, a conversa flui
naturalmente e é muito acolhedora a situação.
Faço um café e tomamos sentadas no degrau da
cozinha.
– Bom agora vou embora, muito obrigada! – me
beija no rosto, pega suas coisas e te acompanho
até a porta.
Nos dias que seguem conversamos por
mensagens. No sábado bem cedo, você toca a
campainha.
– Que surpresa!
– Desculpa não ligar, mas como da última vez
você gostou de ser surpreendida, resolvi
arriscar! – e me dá um sorrido encantador.
– Opa, e qual é a surpresa de hoje??
– Só digo para colocar um tênis, uma camiseta e
uma calça de moletom, pega também uma toalha
e já coloca o biquíni!
– Eita…. aventura na mata??
– Confia em mim?
Enquanto me troco e arrumo as coisas, me
pergunto onde me levará e se devo mesmo ir,
afinal já me machuquei criando expectativas,
mas algo no meu coração me dizia pra ir e
percebi que estava em paz com essa decisão.
Entramos no seu carro e seguimos ouvindo
música alta e cantando juntas. Chegamos num
lugar meio afastado e você me pede pra descer.
– Vamos caminhar um pouquinho, mas garanto
que valerá à pena!
Sigo você por uns 5 minutos e me deparo com
uma linda cachoeira.
– Meu Deus que lindo!!!
-Agora vamos aproveitar que ainda está vazia!!
Tiramos nossa roupa e mergulhamos no lago.
Nadamos por muito tempo, entramos embaixo
da cachoeira, rimos muito e falamos um pouco
de tudo.
Depois de quase uma hora, você se aproxima.
– Que tal comermos algo?
– Então também tem piquenique??
– Claro Clara!!
Vamos até uma parte plana e você começa a
tirar as coisas, primeiro estende uma toalha e
vai colocando suco, lanches e frutas.
– Nossa que linda surpresa!
Comemos e aproveitamos pra descansar e secar
ao sol. Estou deitada de costas e sinto você se
aproximar.
– Que tal agora um último mergulho antes que
aqui fique lotado de gente?
– Humm mas já sequei!
– Garanto que não se arrependerá!
Entramos novamente e você me diz para ir até
perto da queda de água, porém ao lado de uma
pedra. Quando chegamos você me puxa em um
abraço terno.
– Saudades disso. – e me beija na boca.
Ficamos nos beijando e como que por instinto,
nossas mãos vão redescobrindo nossos corpos.
Você me encosta numa parte mais lisa da pedra
e sem dizer nada, tira meu biquíni, deixo e tiro o
seu também. Não quero racionalizar agora,
quero apenas sentir e me permito. Você me vira
e fico de costas pra você, me apoio com as mãos
na pedra e sinto as suas tocarem meus seios,
enquanto me beija e morde minha nuca. Os
beijos e mordidas ficam mais intensos e desce
sua mão até minhas coxas e a outra brinca com
meu seio. Fico cada vez mais ofegante e solto um
gemido quando te sinto entre minhas pernas,
explorando onde tantas vezes você esteve.
– Quero você agora, nunca senti tanto prazer
como sinto com você. – sua voz está ofegante e
isso me deixa ainda mais excitada.
Abro as pernas e você se ajeita melhor, sinto
todo seu corpo colado ao meu, sua mão agora
dentro de mim e os movimentos que faz estão
cada vez mais intensos. Você puxa meu cabelo e
morde meu pescoço enquanto seus dedos
encontram aquele lugar que chamam de ponto G
e que me faz gemer mais alto, sinto que você
enlouquece e que vou gozar.
– Não vou aguentar mais…- digo em uma voz
entrecortada.
– Goza pra mim delícia.
O gozo vem numa explosão louca, meu corpo
treme todo, encosto minha cabeça ao lado da sua
e você me abraça com força. É bom sentir tudo
isso de novo e me largo no seu abraço. Sentir
você em mim e comigo é bom demais.
– Agora quero te levar pra casa e …
– E transar comigo dia todo?? – digo rindo.
– O dia, o fim de semana, mas pensei melhor e
quero que seja pra vida inteira.
Me viro e você segura meu rosto com as mãos,
estou com os olhos marejados, quando vou falar
algo, você coloca sua mão na minha boca
delicadamente e diz:
– Me deixa te mostrar que mereço uma segunda
chance?
Apenas te abraço com toda ternura e beijo sua
boca.
– É preciso de coragem para se permitir sentir
não? – digo sorrindo pra você.