Três dias após a internação de doutora Helen, ela estabilizava e Renee estava com quase todos os preparativos em ordem para a partida.
Tinha contas espalhadas em vários bancos de diversos países, com inúmeras identidades. Apetrechos, equipamentos e maquiagens bioaderentes feitos nos laboratórios da Organização que podiam transformá-la em qualquer pessoa na multidão, não deixando qualquer vestígio de sua própria fisionomia. Levaria películas de digitais diversas, para aderir em seus dedos. Mas quase nunca abria mão de uma fisionomia de mulher madura, a não ser que a missão exigisse outro semblante.
Também havia implantado um equipamento em que poderia sintonizar e modificar tom e timbre de voz, ajustando quando desejasse e ao contexto das fisionomias modificadas.
Tinha à sua disposição várias casas espalhadas pelo mundo e a Organização alimentaria com dinheiro as contas bancárias, de forma que ela teria autonomia por tempo indeterminado. Torceria para Helen tomar um rumo para algum destes lugares, senão teria de alugar propriedades e isto incorria em um risco maior.
Estava disposta a aparar as arestas de caráter e dobrar aquela mulher, para fazê-la integrar algum dia a Organização, mesmo que nunca viesse a ter nada com ela. Agora era puro capricho, ou por saber lá no fundo, que ela não era uma pessoa má e de interesses mesquinhos. Apenas estava engajada em um contexto diverso do que a vida delineou para ela. Seria um desperdício deixá-la perecer.
Algumas pessoas mais chegadas a Renee foram comunicadas do teor de sua partida e tinham as mais variadas opiniões a respeito. Resolveram fazer uma reunião de despedida para ela, enquanto Helen ainda se convalescia.
A reunião seria realizada na casa de Loren, já que aquele dia a doutora teria alta e estaria na casa de Renee. Permaneceria acompanhada de uma enfermeira até que Renee chegasse.
A agente se aproximou da porta inspirando profundamente, pois sabia que enfrentaria vários ataques à sua decisão e, possivelmente, a pobre da Loren estaria sofrendo críticas por permiti-la ir. Tocou a campainha e esperou até que a porta se abrisse. Loren atendeu, bufando exasperada.
— Ainda bem que você chegou! Não aguento mais o pessoal nos meus ouvidos me crucificando.
— Calma, Loren; com meia dúzia dos meus ataques, a galera para de te atazanar.
— Muito bem!! Chegou a louca.
— Não amola, Werneck. Quer estragar o restinho do meu dia e do seu também?
— Aí galera, a Re chegou com a corda toda, não vai nem dar para travar uma conversa civilizada. — Arremeteu Irina.
— Não é bem assim, Irina, mas eu gostaria que vocês me dessem um pouquinho de atenção, pois queria esclarecer a minha partida, para depois a gente se divertir sem precisarmos toda hora discutir.
— E quem quer discutir? Queremos convencer você a tirar essa ideia maluca da cabeça. — Exaltou-se Ruth.
— Gente… Gente, assim não vai dar. Eu vou acabar indo embora. – Falou irritada.
Ocorreu um breve murmúrio, pois todos sabiam que Renee seria capaz de dar o fora dali sem qualquer culpa.
— Não vou ficar horas aqui, me explicando do porquê de minha decisão e também não acho justo, as pessoas ficarem acusando a Loren de não fazer nada. Apenas quero que vocês se lembrem que o fato da doutora Helen estar aqui, foi uma falha da nossa segurança. Não fomos bons suficientes para detectar que ela era uma agente. Não acho correto deixarmos a vida de uma pessoa ser tirada, quando esta, nunca deveria ter estado aqui e é exatamente isso que vai acontecer se eu não fizer nada. Agora eu queria que todo mundo se divertisse, porque é isso que eu gostaria de fazer hoje, com as pessoas que eu amo.
Houve um murmúrio brando novamente e as pessoas retornaram às suas rodas para conversarem.
Loren e Ruth se aproximaram de Renee.
— Curta e incisiva; gostei, mas não me convenceu.
— Ruth, não vamos começar…
— Espera aí, Re, não vem com esse papo mole não. O fato é que você está gostando dessa mulher e não pode nem pensar que ela possa se dar mal. – Ruth falou com os olhos cheios d’água e de uma só vez, abaixando a cabeça.
— Ops… Anne está me chamando, vou deixar vocês duas conversarem. — Falou Loren, se retirando rapidamente.
— Não faz assim, Ruth… — Disse Renee abraçando a amiga. — Dessa forma, você está me tirando por uma pessoa fácil e irresponsável.
No entanto, Renee sabia que apenas os seus sentimentos eram de amizade.
— Sei que você não é uma pessoa fácil e irresponsável, mas não consigo deixar de pensarem tudo que você possa estar sentindo em relação a ela e, isso me dói muito…
Renee não conseguia articular palavras de consolo para a amiga, que nutria por ela um sentimento muito maior do que ela poderia corresponder. Abraçou-a forte tentando transmitir-lhe alento, depois colocou o indicador embaixo de seu queixo, trazendo o rosto para poder fitá-la.
— Ruth, você tem que encontrar uma pessoa legal para você. Não pode ficar esperando por mim. Sabe que gosto muito de você, mas não desse jeito.
Aninhou o rosto da amiga novamente no ombro para abraçá-la.
— Não espero que você retribua, apenas sinto… só isso…
Ruth falou com a voz quase sumindo.
— Eu sei, mas assim, cada ação que eu tiver em direção a quem quer que seja, eu magoarei você e eu não quero isso.
Ruth assentiu com a cabeça, enxugando as lágrimas que já rolavam e ia se desvencilhando do abraço que, para ela era aconchegante e constrangedor ao mesmo tempo. Renee lhe deu um beijo no rosto e pediu um sorriso para comprovar a conciliação. Ruth lhe sorriu tímida, aceitando a constatação dos sentimentos de pura amizade que Renee lhe oferecia. Sabia que, o que Renee lhe dizia era verdade. Tinha que esquecê-la como mulher. Não havia mais como retornar ao passado. Desvencilhou-se e caminhou até onde todos estavam.
Todos se divertiram; ao final, se despediam com saudade antecipada e marcando uma grande festa para o retorno de Renee, como se isto fosse acontecer dali a uma semana.
A última a sair da casa de Loren, foi a agente. Envolveu a amiga em um grande abraço de agradecimento.
— Vê se você se cuida e volta inteira para a gente!
— Vou me cuidar. Agora estou encarando de outra forma. Vai me facilitar e vai me colocar mais objetiva nisso tudo.
— Não se esqueça que você irá se “afastar”, Renee. – Falou colocando os dedos em aspas na palavra. – Assim que hoje, ela ainda estará sob seu teto.
Deu uma entonação maliciosa a frase.
— Te conheço há tantos anos e às vezes você ainda me surpreende, Loren.
Esboçou um também sorriso malicioso e acrescentou.
– Não acha que sou uma devassa que me aproveitaria de uma convalescente, ou acha?
— Claro que não! Ter uma despedida com alguém que se rende aos seus encantos e que durante muito tempo não vai mais ter um contato estreito, não a tornaria uma devassa. Faria de você apenas uma pessoa saciada de seu desejo e caridosa por saciar o desejo dela.
Exclamou Loren sorrindo.
– Pense no que estou falando, é um bom conselho para despedida e muito provavelmente, te ajudará em algum momento em que precisar. Principalmente se você fizer direitinho e de forma que ela não esqueça tão cedo!
Renee enrubesceu, mas assentiu com a cabeça. Sabia do que Loren falava. Era provavelmente uma das táticas mais antigas da espionagem. Seduzir para conquistar. Lógico que Loren não falara só por isso e Renne sabia. Devia desconfiar que, se Renee estava envolvida em sentimentos pela doutora, Helen também teria reverberado os seus sentimentos.
Chegou à casa e foi ver como estava Helen. Encontrou-a lendo um de seus livros, em companhia da enfermeira.
— Olá! Como estamos hoje?
Perguntou sorridente e descontraída.
— Melhorando. Você está com jeito de quem bebeu.
— Só um pouco com uns amigos para comemorar um aniversário.
Mentiu.
— Ah! Então foi por isso que me deixou aqui, com essa “leoa de chácara”?
Renee riu largamente, conversou com a enfermeira para tomar conhecimento dos cuidados com a doutora e a dispensou.
— Vejo que está de bom humor! — Avaliou Helen com um ar inquisitivo.
— É. Estou feliz por vê-la bem.
Moveu a cabeça para o lado descontraidamente e tentou ler o titulo do livro que se encontrava na mão da doutora. Helen tentou olhá-la nos olhos, procurando algum fio da personalidade da mulher que deixara há alguns dias atrás, quando sofrera o colapso.
— Não precisa olhar-me desse jeito. Não sou outra pessoa, apenas estou tentando descontraí-la. Talvez tenha sofrido “aquilo” por eu estar pressionando-a demais. Não quero deixar uma má impressão de mim quando você se for. Pode não parecer, mas gosto verdadeiramente de você.
Renee, que estava em pé à frente de Helen, pegou uma cadeira, postou a sua frente com o espaldar ao contrário e sentou como estivesse montando em um cavalo. Colocou os braços cruzados sobre o espaldar, olhou-a intensamente procurando afundar-se em seus olhos negros. Delineou cada centímetro de seu rosto devagar e minuciosamente, deixando a sua “presa” perplexa e perdida. Rompeu o silêncio com um riso gostoso e suave e uma pergunta perturbadora.
— Responda uma coisa. Se, depois de amanhã, nós não nos víssemos mais; se você tivesse a possibilidade de terminar aquela “conversinha intima” que tivemos no dia anterior a sua visita no CAAP. O que você faria?
Helen permanecia perplexa e Renee ainda a bombardeava.
— Gostaria que você respondesse com a mais profunda sinceridade e pode estar certa que saberei se você mentir.
Helen se pegou imaginando em tudo que iria lhe acontecer. Iria embora e agora sabia que iria em dois dias, pois havia sido informada quando saiu da clínica. Com nada nas mãos, não teria a possibilidade de voltar para a sua agência. Todos nesta “profissão” sabiam que esse tipo de missão era suicida. Isto porque, era o tipo de missão em que se escondia até do próprio governo. Os recursos eram dispensados de forma obscura pela agência, sem aquiescência do alto comando governamental, pois o faziam por meras especulações. Se retornasse certamente a eliminariam, sabia dessa possibilidade quando aceitou o trabalho. Na verdade, não tivera muita escolha, então só lhe restaria desembarcar e sumir. Não poderia voltar àquele lugar que tanto mexera com ela, pois não tinha mais “o contato” que era Roger. Também nunca mais veria aquela mulher que a desestabilizava por inteiro, que fazia com que sua consciência nublasse e que fazia com que seu corpo estremecesse.
Permitiu-se em um momento, arriar as barreiras que havia levantado para se proteger. Percebeu, num segundo, todo perfume da outra abraçar o ambiente.
Renee rompeu seus devaneios.
— Helen… Helen… E então, o que você faria?
— O que eu faria? Provavelmente me entregaria por completo e sem restrições a tal “conversa intima”.
Renee, já tomada de excitação, se levantou em um arroubo, retirou a cadeira e se deitou sobre Helen. Olhou-a com carinho e depositou um beijo suave em seus lábios. A paixão começou a tomar os dois corpos e o beijo passou rapidamente da suavidade para algo forte e sôfrego, como se quisessem retirar dele toda a paixão que uma pudesse oferecer a outra. As línguas passeavam avidamente, tentando sorver os sabores das bocas que se excitavam, desde o dia em que se viram pela primeira vez, mas não se permitiram admitir.
Helen empurrou a agente, fazendo-a deitar no outro extremo do sofá, retirou sua própria blusa e a calça de algodão que usava. Ajudou Renee a se despir com afã e se posicionou por sobre o corpo de Renee. Apoiou os braços no sofá, acima da cabeça de Renee e se encaixou em uma de suas coxas. Pegou a mão da agente e a colocou em suas dobras, mostrando o quanto estava pronta. Pediu com a voz rouca de prazer(,) que a outra a penetrasse sem preâmbulos.
Renee estava tão excitada com a ação de Helen que não resistiu, mesmo querendo tocar todo o corpo da espiã, a penetrou. Observava Helen, em movimentos vigorosos, cavalgar e escorrer pelos seus dedos. Acariciava seus seios, ora suave e ora ardentemente. Gemia e a ouvia gemer. Falava ao seu ouvido, estimulando-a.
– Vai… Mexe gostoso, mexe.
Mordia e beijava qualquer parte que pudesse alcançar de seu corpo.
– Não para, me sente, estou toda dentro de você…
Helen explodiu em êxtase. Gozou extenuante e longamente. Aos poucos, acalmava seus movimentos. Não conseguira segurar todo aquele sentimento em ebulição dentro de si. Helen debruçou sobre Renee cansada, com um semblante sereno e uma expressão de prazer saciado. Tentava retomar o ritmo da respiração que se fez ofegante.
Apenas um segundo, um breve segundo para que ela começasse a beijar o corpo de Renee, acariciar seus mamilos e descer beijando o abdômen até o ventre. Desejava sentir seu gosto e ouvir seus gemidos, embalados na música do prazer que ela proporcionaria. Beijou seu púbis, suas coxas, sua virilha, levando Renee à loucura. Passou a língua suavemente na parte interna das coxas e depois pelo clitóris, aumentando os movimentos aos poucos.
— Rápido… mais rápido…
A voz embargada, denotando o prazer que Renee sentia, fez Helen aumentar mais o ritmo. Sorveu-a como se fosse um cálice de um liquido raro, que precisa ser apreciado e degustado com requinte. Renee atingiu o orgasmo, deixando esvair todas as suas tensões, preocupações e temores.
A agente da Organização puxou sua “inimiga” para abraçá-la, beijou sua testa, e esta, deitou ao seu lado e colocou o rosto entre as almofadas… Ainda se contraía em excitação. Renee percebendo, puxou-a novamente para si, beijou seus lábios sensualmente, passando os dedos de leve pelos seus braços e depois pelos seios.
– Quero você novamente.
Segurou seus seios, beijando-os e sugando. Helen se contraiu novamente em frenesi, enquanto Renee subia devagar e beijava o pescoço de Helen e depois a boca, avassaladoramente. Virou-a de costas. Beijou suas costas lentamente, desceu até o final do cóccix, traçando uma linha com a língua bem devagar da base da coluna até a nuca, resvalando para um dos ouvidos sussurrando:
— Quero entrar em você outra vez.
Helen não conseguia mais se conter de tanto prazer. Arfou e gemeu alto falando descompassadamente, quase não conseguindo emitir som.
– Entra…Por favor, entra…Não me deixe ficar assim…
Renee a penetrou, provocando uma onda de tremor e prazer. Os movimentos perduraram em um delicioso vai e vem por alguns minutos até não se conter mais e relaxou sobre o sofá, inerte, saciada e vencida.
Helen se recostou sobre os ombros de Renee e chorou… Chorou por todos os seus dias, por tudo que não viveu… Por tudo que poderia ter vivido… E num só golpe da vida… Havia acabado. Não poderia mais contar com aqueles dias de calmaria que vivera na universidade, não poderia mais aspirar sua liberdade, que um dia tentou almejar após aquela oportunidade, para a qual havia aceitado o trabalho.
Tentara com todas as suas forças se desvencilhar da agência, traçando clandestinamente planos para fugir. Foi quando esta missão lhe caiu no colo. Precisava concluí-lo com perfeição, dar a “Organização” de bandeja para a agencia e ganhar a sua carta de alforria. Agora estava tudo acabado. Teria mesmo que fugir, se esconder para o resto de sua vida, temendo algum dia ser encontrada desprevenida e ser morta sem ninguém para chorar ou lembrar dela.
Não quero nem tentar imaginar o que vem pela frente! Que loucura!!