4. Capítulo: Veronna
O relógio apontava duas horas da manhã. Mia entrou cambaleante em seu apartamento. Após o “acerto de contas” com Larissa, sentia-se liberta de uma relação mal resolvida e ao mesmo tempo frustrada por não ter conseguido recuperar-se do trauma que a traição de sua ex lhe causara.
Resolveu não pensar mais nesse assunto. Jogou-se na cama com um sorriso nos lábios.
“Foi uma ótima despedida” – Pensou, em seguida adormeceu.
Luna e Samantha voltavam pra casa comentando a ousadia da amiga.
__ É, minha amiga, não foi dessa vez que você conseguiu o seu carrinho. Mas também… Apostar que não conseguiríamos é quase uma traição ás Lascivas. – Sorria.
__ Vocês são malucas!
__ E fizemos bem feito. – Continuou.__ A Larissa entrando no bar dizendo que havia tido uma briga feia com a Mia e a Carol voltando do banheiro explicando que havia se sentido mal. – Gargalhava ao volante. __ Acabou que todo mundo ficou feliz. – Sorria para a amiga que não acreditava na sua tamanha cara-de-pau.
05:00h
O celular de Mia toca.
__ Oi. – Disse ainda de olhos fechados.
__ Oi mana! Pro seu bem eu espero que esse “Oi” sonolento esteja vindo do aeroporto.
Foi o bastante para Mia despertar completamente e pular da cama. Tinha adormecido com a mesma roupa que fora ao bar, estava com uma ressaca insuportável e suas três horas de sono serviram apenas para deixá-la ainda mais cansada.
__ Oi Sal! – Disse falsamente enérgica.__ Ainda não estou no aeroporto, mas estou bem pertinho, viu? Não se preocupa que eu chego lá nem que seja de jegue.
__ Mia você ao menos sabe a hora do seu vôo?
A fotógrafa lembrou-se que nem sequer passou o olho na pasta que seu irmão havia lhe dado ainda no escritório.
__Cla… Claro que sei. – Abriu ligeiramente a pasta e folheou até encontrar sua passagem. Assustou-se com a hora do vôo. __ Seis horas, tenho tudo sobe controle Samuel.
__ Assim espero, você sabe como os aeroportos estão infernais.
__ Sim, sim… Eu sei, preciso desligar, Sal. – Dirigia-se para o banheiro.__ Nos falamos, em… Em… – Correu novamente para consultar-se com a pasta, a qual era de praxe um estudo rigoroso antes de cada viagem. __ Em Veronna.
Ao desligar o celular, Mia correu para um rápido banho. Saiu enrolada na toalha e pegou novamente o aparelho.
__ Luna, vem aqui em casa urgente, preciso de você. – Disse enquanto se arrumava apressada.
__ Mia, embora não pareça, eu ainda estou dormindo. – Disse sonolenta.
__ Ok minha amiga sonâmbula, pega as chaves do carro e vem me levar para o aeroporto agora. E essa é minha primeira exigência de ganhadora da aposta.
__ Mas acontece que eu também ganhei e não é just… Mia?… Mia? – Não ouviu mais a amiga do outro lado da linha. __ Safada! Desligou na minha cara.
Minutos depois…
__ Bem… Esse é o meu vôo. – Abraçou a amiga.
__ Se cuida Mia. Esperaremos sua volta.
__ Breve volta, pode ter certeza. Ah! Dá isso pra Samantha. – Jogou as chaves do carro. __ Diz pra ela cuidar direitinho dele enquanto eu estiver fora, ta?
__ Pó deixar!
Para a fotógrafa, aquela seria mais uma das inúmeras viagens que fizera, exceto pelo fato de não estar nenhum pouco disposta a viajar em suas tão esperadas férias.
Já eram quase dez horas da manhã quando Mia conseguiu chegar ao aeroporto internacional de Fortaleza. O atraso no vôo a fizera perder toda manhã. Como era de costume, ligou para o irmão:
__ Sal, cheguei em Fortaleza.
__ Rápido esse seu jegue. – Provocou a irmã.
__ Se continuar, pego o primeiro avião pra casa. – Disse impaciente.
__ Desculpa, foi mais forte que eu. Tudo bem, agora é só encontrar seu guia e bom trabalho em Veronna.
__Eu espero que essa ilha seja um ovo e que eu possa tirar as melhores fotos em um dia pra voltar pra casa logo.
__ Você está parecendo uma menina mimada, sabia? Tenho que desligar, terei uma reunião agora. Não tenha pressa de me enviar as fotos, aproveite sua estadia nesse paraíso.
__ A maioria delas estarão no seu e-mail amanhã.
__ Você precisa namorar urgentemente. Tá ficando rabugenta.
__ Boa reunião, Samuel. – Desligou.
Esperava impaciente pelo seu guia, quando avistou de longe um rapaz franzino segurando uma placa onde estava escrito: “Senhorita Maria Anastácia Levien”. Foi o suficiente para estragar o restante do dia de Mia. Ela seguiu em direção ao rapaz com uma expressão nada amistosa.
__ Oi, eu sou a Mia. A fotógrafa que você espera, podemos ir.
__ Sim senhora. – Disse com um sorriso largo, obrigando a moça a desamarrar a cara. __ Pegou as malas da linda morena a sua frente e a conduziu para o carro que os aguardava.
__ Já que você será meu guia, tem umas coisinhas que você precisa saber. – O rapaz ouvia atentamente.__ Primeiro: Nunca me chame de Maria Anastácia e dona, senhora, senhorita… São totalmente dispensáveis. As demais coisas você vai descobrir com o tempo. – Sorriu para o simpático rapaz.
__ Pode deixar, Mia. – Retribuiu o sorriso.
__ Gostei de ver, você aprende rápido. Já vi que nos daremos muito bem.
Duas horas depois.
__ Esse é o Lumiére La Vi. O melhor hotel de Veronna.
Mia avistou o suntuoso prédio a sua frente. Fora criado para ser bem mais que um hotel a beira mar, sentia-se diante de um castelo.
__ Uau! É o hotel mais lindo que eu já vi, e olha que já estive em vários. – Olhou a sua volta. Toda ilha parecia um verdadeiro paraíso, viu a praia a poucos metros do hotel, bastava apenas atravessar o imenso jardim tropical que ornamentava o acesso à praia. A fotógrafa respirou fundo a brisa do mar.
__Você ainda não viu nada Mia. Vamos? – Apontou a entrada.
Ao entrar no hotel, foi recepcionada pelo administrador do lugar. Todos na ilha pareciam ter voz mansa e um sorriso contagiante. Mia esquecera completamente do mau humor que sentiu desde que tomou conhecimento de sua viagem. Observava cada detalhe do lugar enquanto era conduzida para seu quarto.
__ É esse Mia. – Abriu a porta e acomodou as malas.__ Estou a sua inteira disposição, a hora que for, é só ligar para recepção e mandar me chamar.
__ Tudo bem, mas não se preocupe, agora vou recuperar as energias e não tão cedo espero acordar. Ainda não sei seu nome.
__ Gutemberg, mas pode me chamar de Guto.
Mia não segurou o riso.
__ Temos mais em comum que eu imaginava. Você não tem cara de Gutemberg. Então… Nos vemos mais tarde, Guto.
Horas depois.
Mia e o rapaz caminhavam na praia. A fotógrafa vestia uma bermudinha branca e uma camiseta rosada que valorizava o contorno do seu corpo. Conversava descontraída com seu guia, em quem descobrira uma ótima companhia.
__ Essas piscinas naturais que se formam nos corais são o cartão de visita da ilha. – Explicava o rapaz.
__É lindo, Guto. – Desviou a atenção ao ver duas lindas loiras de biquíni. __ Estou realmente no paraíso. – Tinha um sorriso maroto no canto da boca.
Guto captou toda situação e apenas sorriu.
__ Não vai demorar muito para anoitecer. O que se pode fazer nas noites de Veronna?
__ Quase todas as noites o hotel promove um luau.
__ Ótimo, te procuro para irmos juntos. Agora eu gostaria de ficar um pouco só… Prometo que não vou me perder.
__ Tudo bem, pode ligar para esse número sempre que precisar. – Entregou um numero de celular para moça e retirou-se.
Decidiu caminhar sentindo o mar tocando-lhe os pés. Vendo toda aquela paisagem, desejou ter alguém especial para compartilhar daquele pedaço do céu.
A maré estava baixa fazendo com que os corais, que formavam verdadeiras esculturas, ficassem expostos tal como obras primas numa galeria de arte. Aproximou-se das rochas e sentiu-se tentada a mergulhar, mesmo que de roupa e tudo, numa das tão convidativas piscinas naturais. Abaixou-se e passou a imaginar-se numa das poças, de repente inúmeras bolhas começaram a surgir na superfície da piscina, o que chamou a atenção da fotógrafa fazendo-a inclinar-se próxima à água.
Das profundezas daquele pequeno poço, surgiu uma bela mergulhadora. Mia assustou-se com a inesperada aparição, desequilibrando-se, caiu em cima da moça que afundou novamente levando-a consigo.