Alicia viu o movimento antes que a palma direita de Renato estivesse na metade do caminho para seu rosto. Tudo o que ela precisou fazer foi inclinar o corpo para trás, mais meio passo, e foi o suficiente para que o tapa do homem passasse em frente a seus olhos. A surpresa por ter errado paralisou Renato por alguns instantes e Alicia aproveitou para dar um passo para trás.
– Então é assim que quer resolver as coisas? – ela pergunta abrindo os braços e encarando o rapaz – Não me diga que, além de tudo, você também é um desses trogloditas que acreditam que bater em homossexuais vai fazer com que eles sejam “normais” – ela questionou em tom de deboche.
– Pode não resolver, mas vai lhe ensinar uma boa lição sua – ele falaria alguma outra coisa, mas Alicia disse mais alto cortando-o antes que conseguisse terminar.
– Ah, já que você é tão ignorante, antes de você começar a usar as palavras lésbica ou sapatão de forma pejorativa para se referir a mim, vou te contra uma coisinha. Bissexual – ela falou quase soletrando a palavra – É assim que se chama. Pessoas que gostam tanto de homens quanto de mulheres. Agora vamos, use a criatividade – ela provocou com um sorriso falso no rosto.
– Renato, Pelo Amor de Deus – Talitha falou dando um passo na direção dos dois – Para com isso. Vai pra casa, antes que faça algo de que se arrependa depois.
– Pois eu não vou me arrepender mesmo – ele garantiu puxando para cima as mangas da blusa de malha que estava usando.
Alicia apenas indicou para que a amiga não se aproximasse, algo que Talitha não deveria e nem iria fazer depois dessa declaração do irmão. A veterinária não gostava de brigar, nunca apoiou a violência como forma de resolver qualquer situação. Mas, naquele momento, tudo o que ela queria era ver Renato tentar lutar contra ela. Isso porque estava morrendo de vontade de ter uma justificativa para acertar a cara do sujeito. E, quando ele avançou contra ela lhe dirigindo um soco com a mão direita, ela teve tudo o que precisava. Na porta da clínica Talitha e Maia soltaram outra exclamação de susto e medo ao ver o homem partindo para cima de Alicia.
Mas ela apenas ergueu o braço esquerdo dando um passo a frente e bloqueando o golpe do rapaz. Alicia prendeu o braço de Renato no seu forçando o ombro dele para cima fazendo-o reclamar de dor. Antes que ele pudesse reagir ela acertou-o no joelho direito fazendo-o cair no chão, logo depois ela o soltou se afastando.
– Agora você deve ter se arrependido – ela falou se afastando alguns passos do homem que massageava o ombro com a mão esquerda – Já pode ir embora – Alicia apontou para o carro estacionado que ainda tinha a porta aberta.
Mas Renato não pretendia ir, sua mão direita que estava apoiada no chão se fechou em torno de algumas pequenas pedras que estavam na calçada. Quando Alicia baixava a mão após indicar o Vectra, num movimento rápido, ele arremessou as pedras na direção do rosto da veterinária que ergueu os braços para proteger os olhos. Talitha e Maia gritaram o nome dela, mas quando Alicia tirou os braços da frente do rosto já era tarde. O corpo grande e pesado de Renato se chocou contra o seu, ela não pode manter o equilíbrio e caiu de costas.
O impacto de suas costas contra o chão expulsou todo o ar que ela tinha nos pulmões e sua cabeça batendo no chão a deixou levemente desorientada. Renato aproveitou esse tempo para conseguir se sentar sobre o quadril dela mantendo-a no chão enquanto se preparava para socar o rosto da veterinária outra vez. O golpe da mão direita acertou a bochecha de Alicia jogando seu rosto para o lado. O segundo golpe, com a mão esquerda, foi parado quando ela ergueu os braços. Logo em seguida ele tentou outro golpe com a direita, mas Alicia se moveu rápido.
Ela inclinou o tronco para o lado esquerdo tirando sua cabeça da linha de golpes de Renato e, rapidamente, passou seus braços para o mesmo lado jogando o tronco para frente. Suas mãos agarraram o cós e a lateral do jeans que o homem usava e ela voltou a se deitar no chão usando toda sua força para puxar o rapaz. Ele teve que coloca as duas mãos no chão, um pouco acima de onde a cabeça de Alicia tinha estado, para se impedir de cair com o rosto na calçada. Ela aproveitou que não havia mais peso em seu quadril e girou saindo debaixo do corpo dele. Se apoiou nas costas de Renato e, quando colocou os pés no chão, se impulsionou acertando uma joelhada nas costelas dele fazendo-o rolar pelo chão.
Renato se levantou logo depois que Alicia já estava em pé e avançou contra ela outra vez, mas a veterinária foi mais rápida e conseguiu manter o equilíbrio quando ele tentou jogá-la no chão outra vez. Quando Renato lhe agarrou pela cintura e tentou derrubá-la ela jogou os pés para trás, agarrou o pescoço dele com o braço esquerdo e usou o direito para acertar uma cotovelada nas costas dele que caiu sobre um joelho. Tudo o que ela fez foi soltar o pescoço dele então chutar seu peito fazendo-o cair novamente. Quando Renato se ergueu e tentou avançar contra Alicia outra vez braços fortes o agarraram pelas costas puxando-o para trás. Alicia apenas abaixou os braços quando enxergou a figura de Carlos, com um curativo na testa, agarrando Renato pelas costas e mantendo-o no lugar.
O rapaz havia passado na delegacia após o incidente na estrada, onde alguém havia lhe ajudado a conter o sangramento, e depois voltou ao seu trajeto para a clínica onde iria deixar algumas coisas que sua mãe havia separado para Maia. Quando chegou na esquina Carlos viu o Vectra, reconheceu a placa e pegou o celular discando para o delegado informando que o carro estava parado em frente a Clínica Ferraz. No segundo seguinte, quando ele ergueu o olhar da placa, identificou Renato avançar o primeiro soco na direção de Alicia que defendeu e o colocou de joelhos.
Avisou ao delegado o que estava acontecendo enquanto saia do carro, viu Renato jogar Alicia no chão e se apressou. Desviou o olhar para descer do 4×4 quando olhou de novo para os dois do outro lado da calçada viu ela em pé e ele caído. Carlos então desligou a ligação e correu na direção deles, mas não chegou antes de Renato tentar a última investida contra Alicia. Quando a veterinária conseguiu jogar o homem de volta ao chão Carlos já havia chegado, por isso conseguiu se antecipar e agarrar Renato no instante em que ele se ergueu para avançar contra Alicia outra vez.
O gerente de banco começou a se debater e gritar para que o soltassem enquanto encarava Alicia com ódio, ela apenas manteve os braços abaixados e ficou parada no mesmo lugar. Já Talitha acordou do choque e deu alguns passos para perto do irmão, mas ainda mantendo distância.
– Para com isso, Renato! – ela gritou para que o irmão mais velho a ouvisse – Olha a besteira que você está fazendo. Você vai acabar consigo mesmo!
– Ouve tua irmã. Já fez merda o suficiente por um dia – Carlos disse apertando mais os braços que seguravam o homem, mas Renato não ouvia ninguém.
Ele conseguiu acertar a cabeça no rosto de Carlos que afrouxou o aperto permitindo que Renato conseguisse se soltar. Ele então avançou contra Alicia mais uma vez, mas antes que a alcançasse um peso em suas costas o jogou no chão e ele foi obrigado a colocar as mãos a sua frente para amortecer a queda, mas logo elas estavam sendo colocadas para suas costas. Ao mesmo tempo o delegado entrava na frente de Alicia que havia erguido a guarda, mas que baixou os braços outra vez ao reconhecer quem havia se colocado a sua frente.