Opa! Não se preocupem, não errei a postagem. Ocorreu uma passagem de tempo na história que logo será explicada através de flashbacks! 


CAPÍTULO 13

O soldado olhou para a mulher ensangüentada e coberta de lama. Havia poucos instantes, quase a atropelara quando ela saiu de entre as árvores indo cair desmaiada no meio da estrada. Estava muito machucada, mas, aparentemente, não havia ferimentos graves.

Abaixou-se e aproveitou as gotas da chuva que, havia poucos minutos cessara e, novamente, se iniciava para limpar-lhe um pouco a face. Seus olhos perspicazes, avaliaram os traços delicados, mas distintos de seu rosto, no entanto, foi a longa cabeleira castanha que lhe chamou a atenção. Então, como o clarão de um raio a brilhar no céu em noite de tempestade, ele a reconheceu.

Seu instinto o fez erguer-se rapidamente e, atento a qualquer movimento que pudesse vir da mata, levou-a para o jipe.

Afastou-se do veículo um minuto depois e entrou na mata caminhando sorrateiramente por alguns metros. O suor lhe brotava na fronte e misturava-se as gostas de chuva. O medo era um aliado que o mantinha ainda mais alerta.

Não havia sinal de que alguém estivesse escondido ali ou que a estivesse seguindo, então retornou para o jipe e o pôs em movimento rapidamente. Durante todo o caminho até o acampamento, ele a observou de esguelha. Tinha no bolso uma foto, a mesma que todos os soldados que serviam em companhias que faziam fronteira com o território rebelde receberam. Nela o rosto de uma mulher de ar sério e olhar misterioso e duro. Contudo, o que havia lhe chamado à atenção, na primeira vez em que vira a fotografia, foi a cor dos cabelos que, no papel, ganhavam um tom acobreado. Notava agora, que fora apenas o reflexo da luz solar e que de nada tinham do tom vermelho.

Todos os soldados que trabalhavam próximos as fronteiras e florestas de domínio rebelde tinha recebido ordem de atirar contra qualquer grupo rebelde armado ou não, que encontrassem. Até aí, nenhuma novidade. Mas, havia uma segunda ordem. Se entre os rebeldes que encontrassem houvesse uma prisioneira que se assemelhasse a mulher da foto, ela deveria ser resgatada. Se o resgate não fosse possível, deveriam matá-la.

Ele suspirou aliviado por não ter que atirar em uma mulher tão bela e jovem. Como soldado, cumpria seu dever ao pé da letra, mesmo discordando das ordens que recebia. Estava no exército havia muito tempo para saber que, do modo que o país estava sendo conduzido pelo General Cortez, não demoraria muito para que o resto do povo que lhe era fiel acabasse por se unir aos rebeldes. Mas, ele seguiria suas ordens até o fim, mesmo discordando delas.

Era um soldado.

Eva despertou em meio ao chacoalhar e trepidação. Estava tonta e desorientada.

Observou, com certa dificuldade, que se encontrava em um veículo em movimento, mais precisamente uma ambulância.  O enfermeiro ao seu lado sorriu-lhe um sorriso de canto de boca. Um gesto mecânico, o mesmo que ele devia dirigir aos pacientes todos os dias, uma tentativa de passar segurança e dizer que estava tudo bem.

– Para onde estamos indo? – perguntou um pouco débil, a boca seca e com o sabor metálico de sangue.

Outro sorriso do enfermeiro que respondeu, enquanto verificava o soro.

– Para a ala médica da Central de Inteligência. Assim que a Central foi informada sobre o seu resgate, uma ordem foi enviada pelo Coronel Castilho de que a transferissem imediatamente para lá mesmo sob os protestos do médico do acampamento que considerava que ainda não se encontrava em bom estado para uma viagem tão longa. Mas, parece que ele se enganou, afinal, estamos quase chegando…

Antes que terminasse a frase, Eva o golpeou na cabeça com alguma coisa firme e dura que, devido a não estar completamente ciente de seus sentidos, não saberia definir o que era.

Sentiu uma dor aguda nas costelas com o movimento brusco, mas o enfermeiro estava desmaiado. Retirou o soro e esperou alguns minutos até ter certeza de que estava sob o domínio de seu corpo. Aproximou-se da janelinha que dava para a cabine do motorista. Um soldado o acompanhava. Logo a frente, ela avistou um jipe com mais quatro soldados armados e em estado de alerta. Eram a segurança da ambulância. Pelo pouco que pôde divisar da paisagem, estariam entrando nos limites da capital em uma hora.

Tinha de sair dali o mais rápido possível.

Calçou as botas, que estavam largadas ao lado da maca, e antes de poder ter certeza do que queria realmente fazer, abriu a porta traseira da ambulância e saltou. O impacto fez com que seus ferimentos doessem ainda mais, mas forçou-se a não pensar na dor e se pôs a correr para a mata. Não demoraria muito para que percebessem sua fuga.

Correu o mais forte e rápido que a dor lhe permitia.

Árvores, galhos secos, espinhos, lugares escorregadios, a lama, a chuva, tudo era um obstáculo a ser ultrapassado. A tormenta tornou-se mais forte e com ela o corpo de Eva pareceu se tornar mais pesado, o ar faltava-lhe e as forças a abandonavam.

A noite se aproximava e, pelos seus cálculos, supondo o tempo que levaram para descobrir sua fuga, seus perseguidores estavam a pelo menos cinco quilômetros de distância dela. Ainda não era o suficiente para deixá-la tranqüila, no entanto, necessitava urgentemente de parar para repor as energias e curar suas feridas.

Parou por alguns segundos, analisando o lugar em que se encontrava em meio à escuridão que começava a dominar todo o ambiente, e chegou à conclusão que estava um pouco mais de dois quilômetros da cabana em que se reunira com seu tio e os dois membros da família Hernandes. Sua melhor chance seria se dirigir para lá, mas, para isso, precisava despistar os soldados. Sangrando da forma que estava seria muito complicado, mas precisava tentar.

Caminhou na mata, um pouco desorientada pela escuridão, caindo, erguendo-se, esgueirando-se, machucando-se ainda mais. Quebrou galhos, deixou pegadas, manchas de sangue que levavam a várias direções, mas não àquela que realmente seguia. Seguiu essa espécie de ritual por uma hora até que se deu por satisfeita e, torcendo para que desse certo, se dirigiu a cabana onde se atirou ao chão assim que atravessou a porta.

Seu corpo inteiro doía, mas nada doía tanto quanto a saudade do corpo de Camila e dos momentos que haviam compartilhado em uma cabana no meio do nada como aquela em que se encontrava.

Fechou os olhos e ela veio à sua mente. Seus lábios inchados e levemente arroxeados pelas agressões e frio, sentiram o toque macio dos lábios dela. E, antes de cair em sono profundo, Eva lembrou-se de cada gesto, toque, beijo e carícia que trocaram.

– Precisamos conversar!

– Estou ouvindo – respondeu depois de longo tempo de silêncio em que Camila pensou em se retirar.

Ela jogou o resto de seu cigarro pela janela e Camila se pôs a observar a silhueta de seu corpo na semi-escuridão. Eva havia abalado seu coração quando ainda eram novas demais para compreender o amor ou a paixão, mas havia algumas horas ela, Camila, tomara a iniciativa de se provar beijando-a e o que descobrira, aliás o que confirmara ao fazer isso, é que estava apaixonada pela prima havia anos.

Sempre negou para si essa possibilidade quando pensava nela e no dia em que partira. Agora, não havia mais argumentos que dissessem o contrário. O beijo que trocaram deixava claro o que sentia, mas os momentos seguintes a ele foram ainda mais arrebatadores para lhe dar essa certeza. Bastou Eva sair da cabana, daquela maneira intempestiva, para que percebesse que não podia e nem queria ficar longe dela.

Havia tentado dormir com os outros, mas a prima não saía de seus pensamentos, nem o desejo de tê-la em seus braços novamente. Por isso, foi procurá-la para se explicar com a esperança de que ela também tivesse sentido o mesmo.

– Bem, quero… – começou a falar sem saber, ao certo, o que dizer.

Eva a interrompeu com um gesto.

– Um instante – pediu.

– Sim, claro.

Eva desceu do carro e, curvando-se para que Camila visse seu rosto e a ouvisse melhor, disse:

– Vem comigo – ao que foi prontamente obedecida pela outra.

Se dirigiram para trás da cabana e Eva usou o casaco que vestia como capa para que ela e Camila não se molhassem. Ficaram tão próximas que foi quase impossível a respiração e os batimentos cardíacos de ambas não se alterarem.

Por trás da cabana, havia uma espécie de galpão que, na verdade, era uma construção pequena destinada ao armazenamento de lenha para o inverno. Foi para lá que elas se dirigiram.

Uma pilha de lenha a um canto era tudo que havia ali e foi em sua direção que Eva caminhou. Afastou um pouco da lenha no fim da pilha. Embaixo havia um pedaço velho de madeira, uma tábua, parecia ter sido jogada ali desleixadamente por alguém. Eva ergueu a tábua e, ajudada pela luz emitida pelos raios da tempestade lá fora, visualizou um alçapão que abriu e desceu seguida por Camila.

Quando fechou o alçapão, um mecanismo oculto no chão, empurrou a tábua e um monte de lenha sobre ele para oculta-lo novamente.

Lá dentro, Eva acendeu um lampião e Camila pôde observar um verdadeiro arsenal espalhado pela sala em que estavam. Havia caixas e mais caixas de munição e armas empilhadas e espalhadas pelo chão, em uma prateleira havia uniformes militares e Camila olhou para Eva inquiridoramente.

– Esta cabana é um dos muitos pontos de armazenamento de armas das FL. Pensei que soubesse disso. Tio Silas, nunca lhe falou?

– Não – respondeu com um suspiro de raiva. Pelo visto, havia muita coisa que não sabia e que seu pai fazia questão de lhe esconder.

– Meu trabalho na Agência de Inteligência é descobrir possíveis agentes rebeldes infiltrados no exército e demais Agências ligadas ao governo, prende-los e conduzi-los para interrogatório. Já o meu trabalho para as FL é fazer justamente o contrário, defender e ajudar a manter as identidades dos espiões seguras e mais um pouco. Também trafico armas do exército para as FL. O que vê aqui é apenas uma pequena amostra do que temos espalhado em esconderijos próximos a lugares estratégicos.

– Meu pai nunca me falou de onde vinham as armas, também nunca me importei em saber, pois meu trabalho era tornar aptos homens e mulheres para o combate.

Eva sorriu-lhe.

– Nunca esperei menos de você – disse e caminhou em direção a uma porta no fim da sala sem perceber o rubor que surgiu na face da prima.

Entraram no que deveria ser um quarto, não tinha mais que dois metros de largura, mas era espaço suficiente para uma cama de solteiro caindo aos pedaços, uma mesinha e um pequeno armário destinado ao armazenamento de comida. Obviamente, aquele local era destinado ao descanso de quem trazia ou ia buscar as armas.

Eva depositou o lampião sobre a mesinha, caminhou até o armário e pegou dois copos e uma garrafa de rum como Camila veio a identificar depois. A espiã retirou as botas encharcadas e sentou na cama com as pernas cruzadas sobre a mesma, acendeu um cigarro e despejou um pouco da bebida nos copos entregando um a Camila e sorvendo todo o conteúdo do seu de uma só vez.

Encheu o copo novamente e disse, em meio a fumaça:

– Agora você pode falar. Creio que aqui não há possibilidades de sermos interrompidas.

Camila percebeu um brilho diferente em seu olhar, lembrando-lhe o de um felino à espreita de sua caça.

– Sim, imagino que não há mesmo.

Camila a imitou, sentou na cama e tentou retirar as botas, mas a tipoia em seu braço e a dorzinha fina que se insinuava pelo ombro sempre que fazia algum esforço, deixava a operação bastante complicada.

Eva se curvou, ajudando-a carinhosamente e Camila lhe sorriu agradecida voltando a sentar na cama, também com as pernas cruzadas. Estavam frente a frente. Ela tomou sua bebida fazendo uma pequena careta no final de cada gole e Eva a achou linda mesmo assim.

Estava nervosa por estarem sozinhas, mas queria ter mais de Camila, sentir mais dela, tendo a certeza de que não voltariam a ser interrompidas.

– Sobre o que queria me falar? – perguntou.

Camila a olhou séria.

– É…

– Espere um pouco – Eva a interrompeu novamente.

Tomou o copo que ela segurava entre as mãos e depositou sobre a mesinha ao lado da cama junto com o seu próprio.

– É que tem algo que preciso fazer antes que continue – explicou muito séria.

Aproximou-se mais de Camila, deixando seus rostos tão próximos que seus hálitos se misturavam. Acariciou com doçura a face dela.

Camila ergueu sua mão até o rosto pousando-a sobre a de Eva, entrelaçando-a com a sua, enquanto lhe dedicava um sorriso tímido. Pareceu ser o sinal que a espiã esperava para continuar, então a puxou para o beijo que tanto ansiavam.

Outra vez, se acendeu a chama da paixão nelas e o desejo que as consumia. Camila estava tão extasiada com as sensações que lhe percorriam o corpo e que jamais imaginou experimentar em um beijo, que deixou um gemido escapar-lhe por entre os lábios e Eva deliciou-se com isso.

Eva sentiu um arrepio prazeroso percorrer sua espinha quando a mão dela pousou sobre o seu seio e puxou Camila para mais perto, grudando seu corpo ao dela, sentindo o desejo lhe invadir junto com a loucura de sabores e sensações que aquele beijo lhe trouxe.

– Eu quero você – disse em um sussurro rouco e seu coração bateu mais forte quando ouviu Camila repetir a mesma frase.

O beijo ganhou o acompanhamento de carícias e gemidos. Os olhares imploravam por algo mais, como suas palavras haviam deixado claro, minutos antes.

– Por favor, seja minha – pediu a Camila e a moça a presenteou com um sorriso cristalino e cheio de paixão. Os olhos negros devorando-a, enquanto mordiscava os lábios carnudos e rosados.

Eva deixou um suspiro longo escapar quando a viu se livrar da tipoia e desabotoar a blusa verde água que usava. Os seios médios e de bicos rosados, foram libertados do sutiã, sob um olhar febril da espiã que se atirou sobre eles com beijos e carícias, enquanto Camila deixava gemidos prazerosos escaparem.

– Eva – ela chamou baixinho.

Eva se afastou para mirar seu olhar que estava tão cheio de paixão e desejo que sentiu uma forte contração em seu ventre. Sua pele ardia, seus lábios tinham sede dos dela.

Camila lhe sorriu, puxando-a para si, prendendo seu olhar ao dela.

– Faça amor comigo – pediu e Eva não pensou duas vezes para lhe roubar o ar dos pulmões com outro beijo louco e apaixonado.

Nada, nem ninguém, nunca lhe preparou para àquele momento e ela se sentiu imensamente feliz por isso, pois estava descobrindo um prazer diferente ao percorrer os caminhos do corpo de Camila. As mãos se desfizeram das roupas que vestiam e os corpos uniram-se sentindo o calor do desejo e da paixão que as consumia.

Nada mais foi dito, apenas sentido, provado, tocado e Eva se sentiu inundar pelo êxtase junto com o prazer de Camila. Nada poderia ser mais perfeito, nada jamais seria.

Eva ouviu um clique, abriu os olhos, estava de volta ao chão da cabana e com o cano frio de uma arma apontada para ela.



Notas:



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