Diferentes?

Capítulo 39 – Deixando o castelo e construindo um lar

— Cléo?

— Mmm… Fala.

Estávamos abraçadas e deitadas em nossa cama. Curtíamo-nos em silêncio num carinho gostoso e estava com a cabeça no peito dela. Sophia fazia carinhos com as pontas dos dedos em minha cabeça e olhávamos displicentes através da vidraça que dava passagem à varanda e a vista do mar.

— Temos que escolher a data e planejarmos nosso casamento.

Retesei-me. Levantei a cabeça e mirei seus olhos.

— Você quer fazer cerimônia e tudo? Quer dizer… Eu pensava que queria casar no civil e fazermos uma festa com amigos, mas você quer casar com cerimônia?

— Claro! Presta atenção, Cléo. Este fim de semana, nós vamos para São Paulo e vamos falar com meus pais, depois de tudo que ocorreu. Minha vida mudou de uma forma assustadora em muito pouco tempo e a sua também. Tivemos que encarar coisas que as pessoas, às vezes levam anos. Veja a minha filha, por exemplo. Ela tinha medo de falar de sua vida para mim! Logo eu que sempre tentei ser uma mãe compreensiva. Tudo bem que não dizia “amém” a tudo, pois isto também não achava o correto. Também neguei muitas coisas a ela, principalmente na adolescência. Mas é diferente, pois a gente tem que dar freio acima de tudo, contudo nunca a recriminaria por sua forma de amar e ela não viu isso.

— Sophia, independente de qualquer coisa, você é a mãe dela. Os filhos tem outra forma de enxergar quando estão perdidos. Principalmente quando se trata de assuntos tão invasivos e polêmicos. Meus pais são meus maiores amigos, mas na juventude, minha maneira de trabalhar as coisas em minha cabeça era conversando com a Donna. Corria para eles quando o “bicho” realmente pegava.

— Tá, eu até entendo, mas…

— Mas?

— Tudo bem, só que eu estou pensando em nós e nessa situação. Fomos expostas, nos amamos, tenho uma vida no trabalho em que isso poderia dar tudo errado e agora as coisas estão nos lugares. Para que me esconder? Para que na menor oportunidade, pessoas sem caráter possam cair de pau e atrapalhar o que reconquistei?

— Você acha que agora que o caldo entornou, para termos paz na nossa relação e não nos prejudicarmos com futuros imbecis que cruzem nosso caminho, temos que escancarar de vez?

— É mais ou menos isso. Olha, se casarmos e mostrarmos que estamos dispostas a encarar nossa vida juntas, eu poderia te levar a qualquer recepção de trabalho, jantaríamos em restaurantes e frequentaríamos lugares públicos sem maiores problemas. Mesmo as pessoas nos encarando diferente no início e ainda causando certo “frisson”, não poderiam nos afrontar e com o tempo, nos verem juntas, passaria a ser natural.

Recostei minha cabeça em seu peito e fiquei imaginando como seria. Essa coisa de fazer um casamento mais aberto… mais público me assustava. Fiquei calada por alguns minutos, recebendo o carinho que Sophia fazia em minha cabeça e vagueando meu olhar na paisagem através da vidraça.

— E aí?

Ela perguntou suavemente me tirando de meus pensamentos.

— Público, mas nem tanto.

— Hum?! O que está imaginando?

— Quero fazer em uma ilha como aquela que você e Bartolomeu alugaram quando a “merda” toda aconteceu. Todo mundo pode saber, mas só estarão quem realmente quisermos. Você pode até chamar o pessoal da empresa, caso queira, mas sem essa de exposição de mídia. Estou casando com você e não com o mundo inteiro.

— Certo.

Sophia segurou meu queixo e trouxe meu rosto para perto do seu, beijando meus lábios logo em seguida.

— Então vamos pensar em uma data e vamos começar a programar nosso casamento.

— Sophia?

— Fale.

— Quem leva o nome de quem nesta história?

— Não havia pensado nisto.

— E como a gente vai se vestir?

— Como assim?

— É… bem, eu queria casar de vestido…

— Tá. Você tá pensando que alguém vai ter que ir de fraque, por acaso? Esta, não serei eu!

Começamos a rir de nossas dúvidas bobas, mas a verdade é que nunca tínhamos imaginado em qualquer época de nossas vidas, que um dia pudéssemos casar com uma mulher.

Sophia desceu um pouco mais na cama e me estreitou nos braços, nos deixando coladinhas. A noite estava fria e ficar embaixo da coberta agarrada a ela era reconfortante. Lembrei-me de um tempo que, quando dormia com meus namorados, não conseguia ter esta intimidade toda e nem este aconchego.

— Sophia?

— Humm…

— Lembra quando rolou a primeira vez em Angra?

Sophia sorriu, acho que retornando as lembranças daquele dia.

— Sim. Quando acordei com o peso de seu corpo sobre o meu, fiquei quietinha só para não acordá-la e poder olhar e sentir você. Mas meu corpo começou a reagir e a esquentar com o seu. Eu tinha que fazer alguma coisa para te acordar e…

— …Usou de ironia.

— Sim. O que eu poderia fazer? Acha que eu diria, “Cléo, se você não sair de cima de mim eu perco minha cabeça”? Ou, “Cléo, não sei que loucura é essa, mas estou ficando alucinada com você”?

— Você armou aquilo? Quero dizer, você sabia que não tinha lugar para mim lá no hotel?

— Essa parte não foi armação. Acho até que já lhe falei isso.

— É. Acho que sim, mas na época, não me pareceu muito convincente.

— Eu realmente achei que teria quartos disponíveis, pois faço essa exigência no contrato, mas depois de instaurada a confusão eu pensei, por que não? Você estava mexendo com meu imaginário e eu queria te conhecer melhor. O que me incomodava é que não conseguia entender, muito menos refrear estas emoções. Isto estava acabando comigo, mas a vontade de tê-la por perto era maior e quando percebi que poderia coloca-la em meu quarto, não me furtei de fazê-lo.

Eu sorri ao escutá-la, contando o seu lado da história. Então não foi só um impulso que a levou a me amar aquele dia.

— Apesar do que aconteceu depois me levando a ir embora, eu fiquei dias lembrando-me de como fizemos amor. Eu não acreditava que tivesse feito amor com você e que havia sido tão bom.

Sophia puxou meu rosto para que a olhasse.

— Desculpe-me ter magoado você tanto. Eu magoei a mim também, mas creia-me, quando a ficha caiu, e fomos para a palestra, eu só pensava que eu era casada e em tudo que representava aquilo. E você era uma mulher! Assustei-me como nunca em minha vida. Mas a impressão de seu corpo e a sua presença, não saía de mim. Naquela semana fui para Oslo e depois das reuniões, voltava para meu quarto de hotel e tentava racionalizar tudo, mas só conseguia dormir quando rememorava nossa manhã de amor. Quando retornei e te vi no aeroporto me esperando, meu coração acelerou. Deus! Foi a melhor imagem que eu podia ter visto naquele momento. Havia discutido com Cássio, pois ele fez todo processo do pós-doutorado dele sem me participar e só soube lá em Oslo que ele já havia ido para os Estados Unidos.

— Sorte a minha.

— O que?

— Que ele é tão burro!

Sorri para ela e ela gargalhou.

— Acho que foi sorte nossa Cléo. Passar aquela noite com você em sua casa, começou a delinear uma possível mudança na minha vida “confortável”, como eu costumava colocar para mim mesma. O problema é que o que aconteceu com Dago e Erick me chocou. Eu estava entre o meu conforto e os sentimentos que começaram a borbulhar tão rápidos e de uma forma tão devastadora dentro de mim. Mas você parecia resoluta, resolvida realmente a encarar e isso balançava a minha certeza de não seguir em diante. Eu não entendia por que estas dúvidas não surgiam em sua cabeça.

— E surgiram. Acho que eu tive uma vida mais aberta, Sophia. Tinha a Donna como melhor amiga e desde nova, via a vida dela com mais naturalidade, eu acho. Eu tinha o suporte de conversar com alguém também e você não.

— É… Cléo?

— Mmm?

— O que sente quando faz amor comigo?

Eu não entendi bem, a princípio, a pergunta de Sophia.

— Como assim, o que sinto?

— Não quero dizer o que sente sexualmente. Quero saber o que traz na alma.

Elevei minha cabeça para olha-la.

— Filosofando? – Sorri. – Tenho uma sensação de plenitude, Sophia. Como aquela coisa da bioquímica em que a enzima carreadora se encaixa perfeitamente à molécula.

O sorriso e o olhar de Sophia foram de tamanha felicidade, que eu não pude me sonegar a vontade insana que tive de beijar seus lábios. Não vagueávamos somente por nossa vida futura, mas também pelo passado nada remoto e nada convencional que tivemos. Paramos de nos beijar e a olhei novamente, mas neste momento meus pensamentos eram de preocupação.

— Tudo bem para viajarmos na sexta-feira para São Paulo?

— Sabe que para mim será tenso, Cléo… Mas não tem como não entrar neste embate com ela. Estava evitando, mas ela não desiste e o tamanho da obsessão é tanto, que desta vez me surpreendeu. Nunca imaginei que ela pudesse ligar diretamente para você com o intuito de chegar a mim.

— Como disse ela não se criou comigo, mas eu já previa isto. Da forma que você me contava como ela reagia a tudo relacionado a você e a Mel, ela não sossegaria até falar com você.

— Huhum. Eu sei.

Abracei-a mais forte procurando aconchega-la. Sophia aceitou o abraço colocando sua mão em meu abdômen por baixo da blusa de meu pijama e acariciando displicente. Um arrepio percorreu minha coluna. Com toda a certeza ela não tinha ideia do que o seu toque ingênuo conseguia fazer em meu corpo.

— Sophia…

— Mmm.

— Você poderia fazer este carinho por cima da blusa?

— Que?

Ela parou sua mão e me olhou interrogativa.

— Você está me arrepiando.

Ela levantou minha blusa e observou minha pele eriçada. Seu sorriso, aquele safado que vocês sabem… É. Aquele mesmo que me excita toda vez que ela dá. Pois é. Ela sorriu daquele jeito e logo em seguida beijou meu pescoço e galgou com seus lábios até chegar ao meu ouvido, inflamando mais meu desejo.

— Deixe-me dar um jeito neste arrepio…

Segurou o lóbulo de minha orelha entre seus lábios e sugou-os delicadamente para depois gemer suave fazendo com que eu sentisse meu líquido escorrer entre minhas pernas.

— Ah! Sophia… Eu tenho… eu tenho que acordar cedo amanhã.

Falei de forma débil. Ela subiu sua mão até meus seios acariciando-os enquanto falava baixo e ofegante com seus lábios ainda colados a meu ouvido.

— Temos duas alternativas. Uma é pararmos agora e irmos dormir impacientes e a outra é fazermos amor e dormirmos como anjos.

— De anjos não vamos ter é nada, mas prefiro a segunda alternativa de qualquer forma.

Falei apressada despindo minha blusa e puxando-a para junto de meus seios. Ela não hesitou. Sugava um, enquanto descia sua mão entre minhas pernas, massageando minha vulva por cima da calça do pijama. Céus! Ela tinha um poder terrível sobre meu corpo. Empurrei-a de costas na cama e retirei rápido minha calça, me posicionando logo em seguida sobre seu ventre. Coloquei meu dedo em riste sobre seu rosto.

— Fique exatamente onde está.

Era impressionante como eu não tinha nenhuma vergonha de expor meus desejos a ela.

— Sim senhora!– Falou séria. — A senhorita é que manda.

 Desfez o tom de seriedade assumindo um semblante de expectativa e desejo. Engatinhei sobre ela até posicionar meu centro sobre sua boca, oferecendo a fonte de meu desejo despudoradamente para que tomasse em seus lábios. Não me vi frustrada, pois ela, logo em seguida tomava para si o que lhe oferecia.

Passeou sua língua ao longo de minha vulva, para logo em seguida, sugar meu bulbo rígido.

— Iss! Issoo Sophia… gostoso… assim…

Ela segurou minha pelve, pois parecia que tinha tomado vida e não conseguia parar de mover sobre seu rosto e seus lábios. Sua língua quente conseguia tocar todos os pontos erógenos de meu centro de prazer de uma forma impar. Sentia-me tocada na alma. Minhas entranhas contraíam em uma profusão de deleite inimaginável. Suas mãos delicadas tateavam meus glúteos de forma suave e apaixonada e ao mesmo tempo, me levando a um estado de euforia que me deixou na borda. Não havia som, ou ruídos que pudessem obliterar o ritmo de nosso amor. As descargas elétricas passearam desde meu clitóris até a mais arraigada essência de meu corpo. Levitei por segundos nas tonalidades do gozo que ela me ofereceu com sua boca… sua alma. Perdi minhas forças e desabei.

Minha mente vagueava quase sem direção. Meu juízo se perdia com ela, mas minha vontade de oferecer-lhe o que ela me presenteou, fez-me retornar quase de imediato as carícias de seu corpo. Beijei sua boca pintada com meu gosto. Cobri seu pescoço com meus lábios, desci por seu peito até alcançar seus seios e deliciar-me na aureola morena que se apresentava a minha frente. O bico rígido propiciava meus ouvidos, saborear os gemidos roucos que vinham de seus lábios.

— Chupa mais forte, Cléo! Assim… Ahhh!

— Ahhh! Sophia! Você é gostosa demais! Fala… Geme para mim…

Ela elevou seu tronco segurando-me pela nuca e arrebatando um beijo sedento. Falou-me entre os lábios.

— “Me pega”, vai! “Me pega forte!”

Ensandeci. Aquela mulher forte e resoluta me pedindo para toma-la me deixou a beira da loucura. Desvencilhei-me por momentos de seu corpo abrindo a gaveta da cabeceira e pegando o “nosso brinquedo”.  Quando olhou, vi seu olhar brilhar e não tive mais dúvidas. Ela me auxiliou a coloca-lo rápido para que nosso momento não passasse. Virou-se de costas apoiando na cama em seus braços, me oferecendo sua abertura que cintilava molhada. Alguém na vida poderia ser mais feliz neste momento? Aproximei-me e beijei suas costas, cuja pele eriçou ao meu toque. Meus braços circundaram seu dorso até chegar a seu núcleo acariciando-o delicadamente e sentindo-o enrijecer mais ao meu toque. Encaixei a extremidade do dildo em sua abertura sem que me abstivesse da gostosa tarefa de afagar seu corpo.

— Uh! Vai Cléo. Me toma…

Deslizei para dentro de sua cavidade sentindo que ela recebia como se fosse a extensão de meu corpo.

— Entra em mim… Ah!

Ela estava tão molhada que entrava sem barreiras e movia cadenciada… suave… quente…

— Ah Cléo! Gostoso… issooo…

Meu dedo escorregava em seu clitóris enquanto minha pelve movia de encontro à dela.

— Cléo!

Ela gritou em seu orgasmo enlouquecendo-me e quase me fazendo perder em meus movimentos. Estoquei forte. Ela arqueou o corpo. Gemi junto com ela e depois de instantes, relaxamos sobre a cama, exauridas.

Custei a me desvencilhar do “strap” que prendia o dildo a meu corpo, mas depois que o fiz, acomodei-me em seus braços. Sophia me abraçou apertado. Seus olhos fechados e seu leve sorriso me deram a certeza de que não importava a forma, mas em nossa relação, seria permeada de descobertas. Assim seria para nós.

Depois de um tempo, conversei com Donna sobre relações e ela mais uma vez me presenteou com a sua “magnânima sapiência”, como ela mesma costumava colocar.

 “Cléo, não há “receita de bolo”. O que dá certo para você e Sophia pode ser diferente para outros e vice-versa. É uma questão de vivenciar o que cada um é e o que cada um sente ao se relacionar”.

Sábia Donna.



Notas:



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