– Senhora Gallardo, seu pai quer lhe ver e pediu que avisasse assim que a senhora chegasse.
Quando Eva chegou à sua casa naquela noite, foi recebida pelo garoto que guardava os carros e ele passou o recado do pai para ela. Eva se sentiu sufocada. A alma estava nublada pelos sentimentos que a acompanharam, depois que fizemos amor, conversamos e nos despedimos. Tentava pensar com clareza, mas nada do que fizesse, tirava a nuvem sombria de dentro dela. Subiu as escadas devagar, num cansaço emocional infindo. Alçou a mão na fechadura da porta do quarto do pai, inspirou tomando alento e entrou.
– Boa noite, pai. Queria falar comigo?
Olhou a enfermeira de seu pai que estava sentada numa cadeira próxima da varanda lendo um livro. Semblante fechado, demonstrando visível contrariedade. – “Que horrores essa garota tem escutado da boca de meu pai?” – Pensou, sabendo do terrível gênio dele e que, esta, era a segunda enfermeira que ela contratara, desde que retornou do hospital.
– Pode nos deixar uns minutos? Chamo você, quando terminar de falar com meu pai. – Pediu Eva para a enfermeira.
A moça fechou o livro e saiu. Parecia aliviada por deixar o quarto. Assim que a porta se fechou, o senhor Gallardo atacou.
– Você quer que eu morra rápido, mas não vai conseguir. Quer me deixar jogado nesta cama!
Ela o olhou, não acreditando no que escutava. Colocou os melhores profissionais para trata-lo e ele conseguiu que dois fossem embora, com sua intolerância e suas atitudes irascíveis.
– Por que diz isso, pai?
Falou sem alterar a voz, e muito menos retrucar à provocação. Ela se policiava para não desmoronar. As emoções afloradas e a lembrança da tarde, se misturavam em seu íntimo, fazendo com que a culpa por seu pai agir com ela daquele jeito, viesse forte em sua mente. Tudo que ele fizera com ela, sabia que tinha um motivo. Ela amara uma mulher e agora, na plena idade, se permitiu a estes sentimentos, novamente.
– Você me larga aqui o dia todo, sem nenhuma informação sobre os negócios e a granja. Está querendo tudo para você, não é? Quer viver a sua vida vadia, com meu dinheiro, se livrando de mim! – Continuou a atacar.
A condição dele não permitia que gritasse, mas a fala e as acusações, cortavam a alma de Eva como navalha. Olhou a cama hospitalar e os equipamentos que acompanhavam. Cerrou os olhos e um sentimento de culpa lhe assomou. “Deus, me perdoe! Eu desejei que ele se fosse… Eu desejei isso.”
– Não, pai. Eu não estive por esses dias aqui justamente por estar envolvida com os problemas da granja. – Falou num tom mais baixo que o normal.
– Você não vai levar nada de mim, Eva. – A voz saía com dificuldade. – Vou chamar o advogado e Ramirez. Essa granja estará com eles até eu levantar da cama, ou morrer. Saiba que não deixarei nada para você. Tudo vai ficar para Pepa! Ela vai saber quem você é. Vou contar para ela a vagabunda pervertida que você é. Ela vai lhe odiar!
– Não, pai! Eu não faço mais essas coisas, o senhor sabe disso. Pode passar a granja para Pepa e deixar Ramirez na administração, mas não fala nada para Pepa. Ela não merece!
Falou apavorada com a possibilidade de sua filha saber de seu passado. De sua filha lhe odiar por isso. Seu pai lhe odiou. Quando Eva fitou diretamente o pai, viu um vislumbre de satisfação nos olhos dele. “Deus! Ele não pode ser tão perverso. Me perdoe, meu Deus. Como eu queria acabar com isso…”
– Trate de vir me ver, religiosamente, todos os dias! E chame Ramirez aqui. Se você fizer o que digo, talvez esconda sua sujeira de Pepa. Agora sai que não quero ver sua cara até amanhã!
Esse mundo que Eva me falou, era mais intrínseco nos sentimentos destroçados, ao longo dos anos, pelas ameaças constantes que o pai imprimia. Algo difícil de entendimento para quem não viveu. Ninguém imaginava os abusos psicológicos que este homem fazia, desde a tenra idade de Eva. Ah, ela era forte! Foi o que pensei, quando um dia, me deparei com toda a verdade.
Ela saiu, ganhando o corredor em direção ao seu próprio quarto. Abriu a porta afoita e se escorou, assim que a fechou. A respiração pesada fazia com que seu peito doesse, tão intensamente, que colocou sua mão sobre ele, comprimindo-o. – “Minha filha, não…” – Pensou.
***
Não vi Eva por duas semanas e a agonia crescia. Também não perguntei por ela, nem à Pepa e nem no clube. Tinha certeza que depois daquela tarde, ela estava me evitando. Sabia que seria difícil para nós duas, no entanto me entristecia.
Andava impaciente e irritada, a ponto de Lúcia me procurar no meu apartamento num domingo qualquer, à noite. Quando a campainha do prédio tocou, não sabia que era ela e não me movi do sofá. Estava zapeando na televisão e era aquilo que queria fazer. Apenas circular pelos canais a esmo e não pensar em nada. O celular tocou. Vi o visor e deixei que caísse na caixa postal. Uns segundos depois, chegou uma mensagem pelo aplicativo. – “Sei que está em casa. Não me faça não procura-la mais!”
– Merda!
Falei impaciente. Lúcia sabia como me convencer. Eu não queria vê-la, mas também não queria que ela ficasse mal comigo. Era muito querida para mim e me remoía do que fazia com ela. Desci para abrir a porta.
– Você tá horrível, Olívia!
– Eu sou horrível.
Fechei a porta e a vi subindo, desequilibrada com muitas coisas na mão. Adiantei para ajudá-la. Segurei algumas coisas e abri a porta do apartamento para que ela passasse.
– Agora só te vejo se eu venho aqui… – Reclamou.
– Não precisava se incomodar. Tô legal. – Falei apática.
– Tô vendo. – Retrucou. – Vou fazer o que, se gosto desse seu mal humor crônico? – Resmungou, colocando as coisas sobre a mesa.
– Se a gente se encontrar mais vezes, vamos ficar que nem balão. Só comemos e bebemos. – Falei, olhando ela desembrulhar as coisas.
– Transamos também. Desgasta a energia. – Riu e eu a olhei com pesar. – Tá. Não transamos mais. – Suspirou. – Só que você está péssima e eu não gosto de te ver assim.
– Lúcia…
– Para! Sei que não vou competir com a Eva, ok?! “Por los cojones”1, Olívia! Já se olhou no espelho? – Explodiu.
– Não e nem quero. – Me joguei no sofá e peguei o controle.
– Tudo bem. – Suspirou. – Você tomou banho hoje? Vocês brasileiros tomam banho a toda hora.
– Tá frio. Tô me adaptando aos costumes.
– Está me chamando de “marrana”2?
Olhei para ela e ri. Lúcia tomava banho todo dia, pois ela era do extremo sul da Eha. Tinham costumes diferentes, mas não poderia dizer que todos em Valência o fizessem. Pelo frio, ou cultura, se banhar todo dia não era o que todos faziam lá. Falavam que nós, brasileiros, nos banhávamos demais.
– Você não é “marrana”, o que não quer dizer que a maioria daqui…
– … por acaso Eva toma banho todo dia?
A voz dela saía cínica e o tom era provocativo. Gargalhei da insinuação. Lúcia sabia a minha opinião com relação a quem não tomava banho. Podia estar maior frio, mas sem banho não dava para mim, afinal, as casas de hoje em dia tinham aquecimento, não tinham?
– Pelas vezes que estive com ela, sim. Pelo menos, eu vejo ela tomando banho no clube quando dá aulas. Posso dar um crédito por isso, não? – Respondi descontraída.
Lúcia sorriu, abanando a cabeça.
– Duvido, mas você é uma mulher apaixonada. – Gargalhou, me levando junto.
– É sério. Ela toma banho todo dia. Não seja maldosa. – Ri, embarcando na brincadeira. – Ah, Lúcia, desculpa. Você é a pessoa mais maravilhosa que conheço. E eu sou uma pessoa horrível.
Falei, entristecida. O que eu mais queria era ter me apaixonado por Lúcia. Ela era mais que amiga. Era uma mulher excepcional.
– Mmm… Falando pessoa em vez de mulher… Essa doeu. – Deu de ombros. – Bom, mas vamos ao que interessa. Comer, beber e deixar as coisas fluírem. – Decretou. – Pela sua prostração, já vi que se encontrou com ela de novo. Devem ter transado igual a cães no cio e ela te deletou novamente.
– Quase isso, mas em nada tem a ver com isso. Ela me procurou e se abriu comigo e, sinceramente, eu a entendo. – Encolhi os ombros e relaxei. – O pior de tudo é isso. Ela não vai sair da vida dela, mas se abriu e sei que gosta de mim. Isso me dói muito. Não sei de tudo, mas sei de algumas coisas que passou e que ainda passa. Ela, mais uma vez, propôs que tivéssemos algo às escondidas. Isso me mataria. Não é para mim.
– Bom, pelo menos ela admitiu para você o que sente. Já é alguma coisa para eu começar a vê-la com outros olhos.
– Ela detesta você. – Ri jocosa.
– Tudo bem. – Deu de ombros. – Por mim, ela podia se jogar de “la Peineta3”.
Gargalhamos.
– Você é má. – Afirmei e continuei rindo.
– Não sou má. Ela me trata com desdém e ainda faz você ficar nesse estado. Quer que eu sinta o que por ela? – Lúcia coçou a cabeça. – Me deixa abrir o vinho. Dessa vez, não é da granja dela. Me recusei a comprar quando o cara me ofereceu.
Eu ri e, incrivelmente, me senti melhor. Lúcia tinha esse dom. Embora não quisesse ver alguém, tinha que admitir que ela era muito mais minha amiga do que eu dela. Ela não desistia de mim.
– Eu pensei que estivesse assim por que ela está doente, mas tô vendo que antes dela cair doente, fez o “sonzinho” dela de novo.
Quando Lúcia falou nisso, me ajeitei no sofá prestando mais atenção à ela.
– Como assim, ela tá doente?
– Ué? Você não sabia? – Lucia me inquiriu, assustada. – Sei pelo Lito, pois tem acompanhado a Pepa no hospital.
Cerrei meus olhos.
– Internada? Não sabia. A Pepa não tem ido as aulas. Então foi por isso?
– Eva está internada desde quarta-feira à noite. Desculpa, Olívia, eu pensei que você soubesse.
– O que ela tem?! – Perguntei alarmada.
– Os médicos ainda não sabem. Parece que quando chegou do clube, um dia desses, foi ver o pai e depois foi para o quarto. Pepa havia chegado com ela. Foi para o próprio quarto para fazer os deveres de colégio, mas não conseguia se concentrar. Estava agitada, pois tinha se classificado para a competição regional de esgrima, naquela noite. Foi procurar a mãe para conversar e a encontrou desacordada. Chamaram o serviço médico.
– Ela havia me falado da seletiva de esgrima. Isto foi essa semana que passou.
Senti um bolo se formar no estômago. Eu estava tão cega nos meus sentimentos e tão arrasada desde o dia que ficamos juntas, que me neguei a saber qualquer coisa sobre Eva.
– Olívia, você está bem? – Escutei Lúcia me questionar, ao longe. – Você está branca, garota!
– Tudo bem. Só uma vertigem.
– Toma um gole. – Lúcia me estendeu uma taça de vinho. – Desculpa, mesmo. Achei que soubesse, pois foi dar aulas durante estas semanas…
– Eu sou uma besta, Lúcia. Esse é o motivo de não saber. Não me encontro com Eva há dias e não queria procurá-la também.
– Você não é uma besta. Normal, por tudo que está passando.
– E como a Pepa está? Deus, Lúcia, a menina deve estar surtada!
– Ela está muito nervosa. O Lito tem dado uma força, mas ela não quer sair do hospital. Tem voltado para casa de dia, pois tem acompanhado as coisas da granja, porém à noite vai para o hospital. Considerando que o avô está na cama, até que tem segurado bem as pontas.
– Quero que o avô dela se foda! Espero nunca encontrar esse cara! – Soltei minha revolta.
– O que é isso, Olívia? Você não é assim. O que o senhor Gallardo fez a você?
– Não é nada. Desculpa.
Abanei a cabeça, arrependida de ter expressado minha opinião a respeito do canalha. O pouco que Eva tinha me contado do que aconteceu com ela, me fazia querer ficar longe daquele cretino. Não convenci Lúcia. Ela era uma mulher muito perceptiva.
– Tudo bem. Não quero que me conte. Já entendi que sabe alguma coisa dele e que não é muito boa.
– É isso. – Inspirei forte. – Eu vou tomar um banho, Lúcia, e espero que me desculpe, mas tenho que ir ao hospital.
Lá ia eu, na minha impulsividade, contra todo o bom senso. Ia para o hospital para saber de Eva. Vi um sorrisinho sarcástico no rosto de Lúcia.
– O que foi?
– Você. – Riu mais aberto. – Eu tive muito ciúmes quando tudo começou, mas na boa? Está engraçado ver você toda apaixonadinha. – Gargalhou.
– Ah, vai se ferrar, Lúcia! – Levantei amuada indo para o banheiro.
****
Cheguei ao hospital e me informei sobre o quarto em que Eva se encontrava. Por sorte, a recepcionista era a mesma que estava no dia em que peguei Eva no hospital e levei para casa. Segui o corredor com meus batimentos acelerados. Abri a porta, caminhei pé-ante-pé pelo pequeno corredor que antecedia o quarto e coloquei a cabeça para dentro, tentando divisar o ambiente. Vi Pepa sentada em uma poltrona, ao lado da cama em que Eva se encontrava.
– Oi, Pepa! – Falei baixo. – Desculpa, eu só soube hoje. Encontrei com Lúcia e ela me falou.
Pepa fez um sinal para que eu me calasse e se levantou da poltrona em que estava. Fechou o livro que tinha na mão, pousando em uma mesa de canto. Eva parecia estar dormindo. Se dirigiu até mim e saímos para o corredor. Fiquei surpresa com a atitude da garota. Ela me abraçou forte e começou a chorar.
– Shiii… Calma. Vai ficar tudo bem.
Eu falava acariciando os cabelos da menina, mas fiquei apreensiva diante da reação dela. Eu estava com medo. Medo de que algo muito sério estivesse acontecendo com Eva. Meu peito se apertou e minha garganta parecia ressecada. Mal conseguia engolir a saliva.
– Não fica assim. Sua mãe é uma guerreira… – Tentava convencer a ela e a mim.
– Droga, Olívia. Meu avô é um babaca! – Ela soluçava.
Eu concordava com ela, mas nem por isso podia externar.
– Ei, me conta por que seu avô é um babaca e o que isso tem a ver com sua mãe.
Ela foi se acalmando, mas se mantinha agarrada a mim. Era confortador e uma situação estranha ao mesmo tempo. Havia pouco tempo que nos conhecíamos, porém parecia que Pepa confiava muito mais em mim do que em qualquer outra pessoa.
Pensei que encontraria gente visitando Eva Gallardo no hospital. A posição que a família tinha nos diversos braços daquela sociedade davam essa impressão, mas, incrivelmente, o corredor e o quarto estavam vazios e apenas a Pepa fazendo sua vigília.
– Ninguém veio ver sua mãe? – Perguntei angustiada.
– Na semana passada sim, mas ontem pedi que deixassem entrar apenas o Lito, a Lúcia, o Alonso e você, caso viesse. Esse pessoal só vem aqui por convenção, Olívia, já te falei isso.
– Tá, tá. Entendi. Você estava querendo sossego.
– É. E sossego para minha mãe também. Eu não sei o que vou fazer, se alguma coisa acontecer a ela…
Quando ela falou isso, desandou a chorar novamente. Ela estava me assustando, de verdade.
– Não vai acontecer nada com sua mãe. Por que está falando isso, Pepa? O que Eva tem?
– Eles não sabem… Ela tem momentos de consciência, mas fala coisas desconexas. Estão mantendo sedada e fazendo exames. O doutor Alvarez, que é o médico dela, disse que ela o procurou semanas atrás. – Pepa começou a chorar novamente.
– Ei, o que ele disse? – Eu falei baixo para não a assustar, no entanto milhões de coisas passavam pela minha cabeça.
– Ele disse que ela tinha uma calcificação no seio direito, mas que isso poderia não ser nada e fez pedido de novos exames. Eles estão fazendo tudo agora, desde ultrassom de mama até tomografia na cabeça. Não me falaram os resultados de nada.
– E por que não?
– Eu sou menor. Só estou ficando aqui porque meu avô, através do advogado, fez uma autorização judicial, por ser a única apta da família. Não queriam me deixar ficar.
– Pelo menos seu avô pediu para a justiça autorizar… – Falei bobamente.
Ela se desaninhou de meus braços e seu olhar continha raiva.
– Porque eu o ameacei! – A voz de Pepa se tornara grave. – Meu avô tem culpa nisso. Ele vive atormentando minha mãe. Eles acham que eu não percebo, mas eu vejo e escuto. Ele é mau com ela, só não sei por quê! – Ela arfava, enquanto falava. – Eu disse para ele que se não autorizasse, que ele ia morrer naquela cama sozinho porque eu não ia mais vê-lo.
– Calma, Pepa! Senta aqui. – Puxei a menina para sentar nuns bancos de espera, perto de uma janela. – Me conta o que houve. Eu não estou conseguindo entender. Por que acha que seu avô tem culpa disso que aconteceu com sua mãe?
Ela inspirou, procurando se acalmar e tentando organizar os pensamentos.
– Meu avô sempre brigou muito com minha mãe. Só não entendo a razão, pois ela faz tudo para ele. – Ela deu uma pausa. Parecia cansada. – Ela tem tido vertigens e gripes constantes e ele não admite nem que ela fique doente! – Pepa alterou a voz. Respirou fundo e voltou a falar. – Ela dá aulas no clube e ele implica, mas disso ela nunca abriu mão. Vai para as aulas, volta e vai para o haras e a vinícola acompanhar os negócios. De uns três anos para cá ela começou a viajar para reuniões com compradores. Até nisso, com o temperamento que ele tem, passou a melar os negócios, mas ele não reconhece. Semana passada, ela foi vê-lo todos os dias de manhã, antes de sair e à noite, quando chegava. Não escuto mais os gritos dele com ela, porque ele não consegue mais falar alto. Só que na quarta-feira, eu e minha mãe estávamos muito felizes, porque eu participei da seletiva e consegui índice para o regional de esgrima na categoria florete.
Ela baixou a cabeça e uma lágrima correu por seu rosto. Eu a trouxe para um abraço. Pepa chorando daquele jeito me afligia. Eu estava cada vez mais nervosa com os acontecimentos e louca para saber o que houve. Pepa aprumou-se e voltou a falar.
– Mas quando chegamos e passávamos pelo quarto de meu avô, Ramirez estava na porta e estava com um semblante preocupado. Disse que meu avô queria vê-la. Nos despedimos e fui para o meu quarto para estudar, só que eu estava agitada. Estava feliz que tinha conseguido ir para o regional. Eu consegui na mesma especialidade de minha mãe, entende? Queria conversar com ela, pois já passou por isso. Foi quando eu ouvi uma porta bater e, quando saí do quarto, Ramirez estava no corredor olhando em direção à porta do quarto de minha mãe, assustado. Disse para eu vê-la, pois meu avô e ela haviam discutido e ele não entendia muito bem o que aconteceu e nem o motivo.
– Ramirez não falou os termos da discussão?
– Naquela hora, não. Só depois.
– Continua.
Eu estava intrigada. Não compreendia por que o pai de Eva a tratava assim. Era algo que não conseguia alcançar. Esse cara me irritava cada vez mais.
– Eu entrei no quarto e vi minha mãe caída no chão. Gritei e Ramirez entrou. Tentamos acordá-la e não conseguimos. A colocamos na cama e chamamos a emergência médica. Quando ela deu entrada no hospital e os médicos a levaram para dentro, eu perguntei a Ramirez o que havia acontecido.
– Ramirez sabe tudo que aconteceu no quarto de seu avô?
– Sim. Ele disse que meu avô mandou chama-lo mais cedo, avisando que um senhor chamado Pablo chegaria e, que Ramirez conduzisse esse senhor até ele. Assim ele fez. Mais tarde quando o homem foi embora, meu avô chamou Ramirez de novo e disse que queria que ele ficasse de posse de um envelope que estava na cabeceira. Mandou que chamasse minha mãe assim que ela chegasse.
– E foi quando você e sua mãe chegaram que ele a chamou.
– Foi. Disse que meu avô chamou minha mãe de vadia. Ele ficou desconfortável com a situação e quis sair, mas meu avô disse para ele entregar o envelope para minha mãe. Ramirez entregou e quando minha mãe abriu, meu avô continuou a xingá-la e falar que todo mundo saberia o que ela fazia por aí.
– Como assim? Não entendi. O que tinha no envelope?
– Ramirez falou que eram fotos dela e que havia uma outra mulher também, mas não conseguiu divisar direito.
Eu gelei ao escutar aquilo. Será que o cretino do pai de Eva colocou gente atrás dela e o cara nos fotografou?