Eu abri meus olhos e depois que vi a cara da Lúcia com a boca aberta e parecendo retardada, comecei a rir. Contei à ela tudo que aconteceu, quer dizer, nem tudo. Lógico que pulei umas partes. Mas o que interessava para a nossa conversa, eu contei.
– Hum. Eu sabia que ela era ‘seca’ em você. Ela não conseguia disfarçar, Olívia. Naquele dia no bistrô, apesar do showzinho dela, ela olhava para você te comendo.
– E o que isso quer dizer, exatamente? Que ela queria matar a curiosidade de trepar com uma sapatão e, depois que fez, tá beleza? E aí, depois não quer mais?
Lúcia gargalhou pelo jeito que falei e até engasgou com o vinho. Depois que tossiu bastante e se acalmou, voltou a falar.
– Não acho que é só curiosidade de hetero, mas também acho que não assumiria nem por um cacete. – Lúcia deu uma pausa na fala, colocou o cálice do vinho sobre a mesinha de centro e voltou a falar. – Olha, vou te contar uma história. Na verdade, são suposições do povo. Eu não estava aqui naquela época, mas as pessoas ainda falam e se lembram da Eva, quando ela se classificou para a Olimpíada. Isso aconteceu há dezoito anos atrás e ela foi um ícone aqui na cidade.
– É, eu sei que ela se classificou. Dizem que não foi para a Olimpíada porque estava grávida da Pepa.
– E assim, foi. Mas o que você não sabe é que, assim que ela se classificou, o pai dela a obrigou a casar com um homem. O cara era muito mais velho que ela, o triplo da idade mais ou menos. Alguns dizem que ela engravidou de um namorado e que escondia o namoro do pai, pois era um cara pobre. Aí, o pai para livrar a honra da filha, acertou o casamento com um empresário com quem fazia negócios.
– Você está me falando que o pai vendeu ela porque estava grávida? Porque para mim, isso é vender!
– Eu tô dizendo que essa é uma das versões, mas eu não acredito porque não “casa” com a cronologia. Pepa nasceu pouco mais de nove meses, depois do casamento. Não tinha como Eva estar grávida antes. Mas que o pai a “negociou”, ah, isso não tenha dúvidas.
– Deus! O pai jogou o sonho dela pela janela por um negócio? Será que foi isso?
– Pelo que tudo indica, sim. A não ser que ela não quisesse ir para a Olimpíada, mas duvido. O povo fala que ela era dedicada. Corria o mundo em muitos campeonatos e perseguiu a classificação olímpica. Quando ela se classificou, teve festa no clube. Deu entrevistas e ela estava sempre radiante. Imagina uma menina de dezoito anos, que treinava dia e noite, receber uma notícia como essa? Falavam que ela era a alegria em pessoa e que, depois do casamento, se tornou uma garota fechada e triste.
Eu levantei do sofá, com uma angústia infinita no peito. Parecia que tinha sido comigo. Peguei outra garrafa de vinho, abri e verti nas duas taças.
– Tá. A parte de “ Eva tem traumas e é complicada”, eu entendi. Até porque, eu teria traumas com um acontecimento desses na minha vida. Só que, o que isso tem a ver com ela transar comigo, apaixonadamente, e me dispensar?
– Esse fato dela ter “transado apaixonadamente” você não me contou. – Lúcia falou rindo.
– Ah, Lúcia! Você quer o quê? Que eu te dê detalhes?
– Lógico! Senão, como vou avaliar a situação e te ajudar? – Gargalhou.
Suspirei. A história de Eva me abalou. Fiquei atônita.
-Olha, eu não sou uma menininha que não sabe quando uma mulher se entrega ou não. A verdade é que ela que veio pra cima de mim e posso lhe dizer que não foi nada morno o que rolou.
– Bom, Olívia. Não sei o que passa na cabeça da mulher, mas apenas pense que, por mais que ela até sinta algo, mesmo que um tesão louco, não jogaria o nome Gallardo na boca do povo. Pensa só no escândalo.
– Lúcia, estamos num país em que gays se casam e são aceitos. Tem um monte de casais que conhecemos aqui em Valência e que levam suas vidas numa boa. Não estamos falando de um lugar que ainda está na idade média.
– Ah, Olívia. Deixa de ser ingênua! As pessoas casam e o povo não fala nada pela frente, porque a lei é cumprida. Se alguém desacatar, pode ter um processo nas costas. Mas daí a achar que é plenamente aceito? Sabe que ainda existe preconceito velado. Isso ainda leva tempo para naturalizar.
– Ok. Então ela fez um “freelance” comigo e me dispensou. É isso? Você acha que não vai rolar mais nada?
– Também não disse isso. Só estou falando que, para alguém como ela e a posição que tem aqui em Valência, acho complicado assumir, mas vai que caiu de quatro por você. Sei lá!
Nesse momento, pensei em Eva de quatro me oferecendo aquela… Balancei minha cabeça rindo, para dispersar a imagem que se formou na minha “mente criativa”. Eu estava ficando doida com aquela mulher.
A campainha da porta do prédio soou. Olhei para Lúcia, intrigada.
– Tá esperando mais alguém?
– Não. Não tenho a menor ideia de quem seja. Pior que essa “porra” não tem interfone. Vai ser a primeira coisa que vou colocar quando esse prédio for meu de vez. Espera um pouco que vou descer.
– Cuidado, Olivia. A cidade não está mais tão tranquila assim.
– Deixa comigo.
Abri a porta do meu apartamento e desci a pequena escada. Quando abri a porta que dava para a rua…
– Eva?!
– Oi.
Ela se aproximou e dei um passo atrás, para dar espaço para ela se abrigar no hall junto comigo.
– Eu queria me desculpar…
– Olívia, está tudo bem aí em baixo? – Lúcia perguntou lá da porta do apartamento.
Assim que Lúcia falou, eu e Eva olhamos para cima e pudemos ver Lúcia parada na porta, olhando para baixo, tentando divisar quem estaria ali. Olhei para Eva e a expressão do rosto dela tinha se transformado num semblante sério e os olhos transmitiam raiva
– Desculpe ter lhe incomodado essa noite, senhora Ávila.
Falou com seriedade, se virando para sair. Segurei forte o braço dela.
– Eva, você não está me incomodando. Deixa de besteira e sobe, vai!
– Me solta, Olívia! Parece que você já está em boa companhia! – Rosnou.
– Para, Eva! A Lúcia é minha amiga. Não nos víamos, desde que fui para o Brasil!
– Você não me deve explicações. Divirta-se com a sua amiga!
Ela deu um puxão no braço e se soltou, ganhando a rua rápido. Passei a mão pelos meus cabelos, desesperada.
– Merda! – Gritei. – Que mulher maluca e que porra de temperamento!
Tranquei a porta e subi.
– Desculpa, Olívia. Quando eu perguntei, não vi quem era. Só depois que escutei a conversa.
– Não esquenta. Você não teve culpa. Essa mulher que é maluca.
– É. Mas você já teve parte da sua resposta. Ela tá mexida com você, senão não vinha lhe procurar. Deve ter se arrependido de ter te dispensado daquela forma.
– A única certeza que isso me dá é que ela gostou de transar comigo, Lúcia. Isso não quer dizer que está apaixonada por mim.
– E esse ciúme todo de mim?
– Ué! Tem mulher que é possessiva e quer exclusividade, mesmo querendo só sexo com a gente. Sei lá o que passa pela cabeça dela. Eva só sabe arrumar briga comigo.
– Não tenha tanta certeza disso. Só digo uma coisa. Toma cuidado, amiga, porque essa história de vocês tá começando complicada, viu?!
E assim minha noite se estendeu, tomando muito vinho da granja “Tierra Roja”, ao som de jazz e com uma muito querida amiga, que amassou meu cano sem querer.
****
– Mãe, eu não vou dar conta de ficar todos esses dias no hospital com meu avô sozinha.
– Não precisa, minha filha. Os médicos o induziram ao coma, para dar tempo de verem o melhor procedimento a que submeterão seu avô. Eles estão avaliando se farão a cirurgia. Ele, na verdade, já está fora de perigo. O problema são as sequelas dessa queda.
– Então, o que a senhora quer que eu faça?
– Só quero que fique atenta, pois ligarão para você, caso algo novo aconteça ou decidam o procedimento. Aí quero que você me ligue, imediatamente. Ramirez ficará na direção da Granja.
– Posso acompanha-lo nas horas vagas?
– Quer mesmo se inteirar dos negócios da granja?
– Quero sim, mãe.
Eva sorriu e acariciou o rosto da filha.
– Pode. – Ela fechou um pouco o cenho. – Mas não atrapalha Ramirez, só observe e pergunte. – Sorriu novamente.
– Mãe, por que não vai amanhã de manhã? Já está tarde.
– Porque quero estar bem cedo em Alicante. Não é longe daqui, filha, e vou pegar o último trem. Leva menos de duas horas até eu chegar. Não se preocupe, não vou de carro.
– Está bem, mas esse povo é “mala”. Entrar em contato, hoje, para a senhora ir amanhã negociar?
– Eles não entraram em contato hoje. A reunião é só depois de amanhã, mas quero verificar, pessoalmente, quem são os compradores, antes de fechar qualquer negócio. Já fiz uma pesquisa prévia, mas nada melhor do que vermos de perto.
Eva beijou o rosto da filha e saiu levando uma pequena valise.
****
Era meia-noite quando Eva chegou em Alicante e pegou um táxi direto para a marina. Se dirigiu até um iate. Aquele era o iate que ela não desfez quando o marido morreu e ficava atracado na marina dessa cidade. Caminhou pelo atracadouro e, quando chegou, subiu calma pela rampa que dava acesso.
– Tudo bem, Arguijo?
– Tudo, senhora Maitê. A sua amiga já chegou.
– Ok. Pediu autorização para eu zarpar?
– Sim. Como a senhora pediu. Mas não poderá sair da Baia. Não foi isso que pediu?
– Sim, está tudo certo. Só quero dormir no mar. Me deixe colocar a valise no quarto, depois vou subir para a ponte e você solta as amarras. Quando liberar o iate poderá ir, Arquijo. Amanhã, antes de atracar, eu ligo para você me esperar aqui.
– Sim, senhora.
Desceu do deck para os aposentos do iate. Entrou no quarto e ouviu que alguém tomava banho. O marido de Eva tinha muito dinheiro e conseguia se ver isto nas proporções do iate. Não se ateve ao som do chuveiro e subiu novamente para a ponte, conduzindo o barco para fora da marina. Enquanto navegava até o limite permitido, sentiu braços a envolverem por trás.
– Mmm… Que perfume gostoso! – A mulher falou em seu ouvido, enquanto apoiava o queixo no ombro de Eva. – Pensei que só nos veríamos no outro mês.
– Tive que vir a Alicante. – Falou, sem muita expressão.
– Nossa, que recepção fria, Maitê!
Eva fechou os olhos e suspirou.
– Desculpa. Só alguns problemas. Vim antes, também, para espairecer. – Falou mais amena.
– Que negócios você tem que te deixam tão tensa? Você sempre está correndo e nunca podemos desfrutar mais do que uma noite…
– Serena, não estamos aqui para falar de nossas vidas. – Falou, rude. – Quando firmamos o contrato pela agência, nós duas sabíamos muito bem o que queríamos. Anonimato completo!
– Ih, calma! Foi só uma pergunta. – Serena se desvencilhou. – Eu sei bem o que queria. Só que estamos, há dois anos, nos encontrando. Às vezes, é frustrante acontecer só sexo. Você não sente isso?
Eva ia retrucar. Estava com o semblante duro, mas foi interrompida.
– Está bem! Esquece o que falei, Maitê! Vou esperar você no deck.
Serena falou, saindo da ponte, em direção às escadas. Eva inspirou fundo e tentou se concentrar no trajeto. Olhou para os instrumentos de navegação e achou que podia ancorar ali mesmo.
– Serena, por que está se questionando isso?
Eva perguntou, assim que desceu da ponte, vendo a outra olhando para o céu estrelado, sentada numa poltrona próximo a popa do iate.
– Maitê, eu sei que não posso abrir minha vida, mas isso me sufoca. – Respondeu triste. – Esquece o que falei. Você tem razão. Estamos aqui para ter aquilo que não podemos nas nossas vidas diárias.
Serena baixou o olhar, ciente de que se a outra mulher lhe perguntasse o mesmo, talvez não pudesse responde-la também. Quando procurou esta agência especializada de encontros, fez o contrato, pois as cláusulas de multas eram tão absurdas, tanto para a agência quanto para as partes, que era impossível haver manipulações ou chantagens. Ninguém teria condições de dispor de tanto dinheiro para as coberturas. Nomes falsos, cláusulas de sigilo de identidade bem amarradas e uma quantia muito gorda, em percentuais de contas pessoais e de negócios, para afastar qualquer pessoa com más intenções, se acaso estas conseguissem chegar até a agência. Isto era o que motivava muitas pessoas, nas mesmas condições que as duas, a fecharem contrato com ela.
Eva a olhou e se condoeu. Não pela outra, mas pelas duas. Muitas vezes, sentia-se da mesma forma, mas se segurava para não extrapolar. Ela tinha enviado a mensagem para Serena num momento de desespero. Queria fugir de Valência, da sua realidade e do sentimento sufocante e crescente que começava a abalar seu mundo particular. Falhara ao se permitir a loucura de ter uma mulher em seus braços na sua própria cama. Permitiu-se, na noite anterior, agir como se o que trazia dentro de si pudesse ser mostrado, livremente, sem censuras. Mas não podia. Nunca poderia viver um amor pleno, como aquele. Para ela, não passava de uma condenada à tortura de sua alma e de seus anseios.
Era evidente o sentimento de derrota e desespero das duas. As vivências, traumas, família e tudo o mais que pudesse quebrar a alma de alguém, se fez presente àquela noite, mesmo que elas mesmas não conhecessem, verdadeiramente, uma a outra. Mesmo que as palavras não fossem ditas, estava lá, latente entre elas. Os lençóis foram cúmplices de suas angústias, tanto quanto suas vidas. Pela primeira vez, elas não conseguiram se entregar, sem que não sentissem o peso assaltando o peito.
Eu nem lembro quais foram os sentimentos que eu tive, quando soube de toda a história que permeava a vida de Eva. Me compadeci, senti raiva, decepcionei, tive pena. Tantas emoções conflitantes que levei um tempo para assimilar.
****
Três dias se passaram e eu estava cada vez mais irritada. Tudo me irritava. Briguei com Carmem pela primeira vez, desde que a garota começara a trabalhar para mim. Fui dar aula no clube e, mais uma vez, Eva não estava. Quem estava à frente da turma era seu assistente e eu não queria perguntar para Pepa o que estava acontecendo. Temia que ela dissesse, simplesmente, que a mãe estava ocupada. Se ela falasse isso, me daria a certeza de que ela não queria me encontrar.
Ao final da aula, o povo já ia se dispersando e eu chamei de volta para que sentassem no tatame e eu pudesse fazer algumas considerações sobre a aula. Vi que Pepa trazia o celular e estava escrevendo algo. Lito estava na aula, logo não era ele que conversava com ela.
-Ei, Pepa! Ainda estou aqui. – Chamei sua atenção.
– Ah, desculpa, Olívia, era minha mãe. Ela chegou de viagem e mandou uma mensagem para me avisar. Só estava respondendo.
As palavras mãe e viagem, acenderam como um alerta e joguei com isto na hora, para saber mais.
– Ela não deve ter ido para longe, porque está só há três dias sem dar aulas…
– Não, não foi. Ela estava em Alicante, numa reunião de negócios.
– Então, senta aí, que daqui a pouquinho te libero para matar a vontade de falar com ela. Só mais uns minutos.
Sorri e ela me devolveu o sorriso, sentando no círculo. Eu fiquei entre feliz e aliviada. Afinal, naquele momento, pensei que não tinha sido o motivo do sumiço de Eva. Assim eu achava…
Voltei para a tienda mais tranquila e vi que a Carmem estava um pouco séria. Um pouco triste, até. Aquilo fez com que me condenasse pela bronca que dei nela. A verdade é que não tinha sido uma falha grave para eu falar de maneira tão rude, mas eu andava uma pilha. Suspirei, pois tinha que consertar isso. A garota era tranquila e uma boa menina. Não merecia a minha grosseria.
– Carmem. – Chamei.
– Oi. – Ela respondeu baixo e me olhou um pouco tímida.
– Quero me desculpar com você. Eu ando um pouco nervosa e agitada. Fui muito grosseira hoje, pela manhã.
– Não tem problema. Eu falhei mesmo. – Sorriu.
– Tá. Mas não era para tanto, me desculpe, ok?!
Ela meneou a cabeça, em sinal afirmativo.
***
– Mãe. Como foi a cirurgia?
– Bem, minha filha. Seu avô está fora de perigo. Os médicos dizem que, provavelmente, voltará com os movimentos das mãos, mas com muita fisioterapia e dedicação.
– Ele não vai andar mais, não é?
– Não, não voltará a andar, minha filha.
Pepa baixou o olhar. Embora achasse seu avô retrógrado e rude, gostava dele. Passou a sentir raiva de suas atitudes, desde que viu sua mãe ser agredida por ele, mas não conseguia ficar zangada muito tempo, já que com ela, ele sempre fora mais carinhoso.
– O que a senhora vai fazer com relação a ele?
– O que posso fazer além de contratar um cuidador, um enfermeiro e, um fisioterapeuta? Agora, a administração da granja me exigirá mais. Possivelmente, terei que diminuir as aulas do clube.
– Não acho. Aquilo lá é que dá à senhora alguma satisfação. A granja consome, mas vi a forma que Ramirez administra. Vovô implica com ele…
Eva sorriu para a filha. Começava a ver a vivacidade da juventude crescer e com ela, o senso crítico e a observação às coisas da vida. Estendeu a mão e acariciou o rosto da jovem. Não se conteve e puxou-a pelo ombro e a abraçou. Como precisava desse afago e carinho da filha! Coisa que ela mesma, muitas vezes, não se permitiu, imbuída na crença de que protegia a própria filha das mentiras de sua vida. Afastou-se e, ainda abraçada, viu os olhos da filha marejados. Pepa, constrangida, se apartou e passou a mão pelos olhos aguados pelas lágrimas inconvenientes.
– Para, mãe. Tirou o dia para me deixar envergonhada?
– Não. – Olhou a filha sorrindo. – Tirei o dia para fazer um carinho em você.
– Pois saiba que é a mesma coisa. Só “tô” assim porque “tô” na TPM.
– Está bem. Não vou mais deixar você com vergonha… hoje. – Riu novamente. – Vai na festa do clube?
– Essa eu não perco. A comida é muito boa, sempre, e minha galera vai estar lá! – Falou, entusiasmada.
– Vai com o namoradinho?
– Que namoradinho?!
Pepa falou mais assustada que queria transparecer. Eva notou a mudança de comportamento da filha. “Droga! Ela me vê como uma ameaça!”
– Pepa, eu sei que tem andado com aquele garoto do jiu-jitsu. Aquele das tatuagens.
– Mãe…
Pepa falou impaciente e Eva abanou a mão para que ela calasse.
– Pepa, não estou te recriminando. Só quero saber se ele é um bom garoto. Não me importa se tem tatuagens, se é o que está pensando que eu implicaria com o namoro de vocês. Quero só saber se é um menino bom e se é sério o namoro.
– Ah, mãe. Para mim, ele é legal. Veio para cá há pouco tempo e gosto dele. – Falou tímida.
– Estão saindo? Namorando?
– Acho que sim…
– Acha que sim?
– Ah, mãe. A gente tá saindo. Me pega todo dia no colégio e me traz aqui… Tô namorando sim. – Por fim, falou.
Eva riu.
– Tudo bem. – Ficou mais séria. – Não que eu goste de um rapaz que não fale com minha filha que está namorando. Não precisa falar para mim, mas você pelo menos, tinha que saber, não é?
– Mãe!