FREYA: A RECONSTRUÇÃO

Capítulo 7 – Descoberta Explosiva

Freya: A Reconstrução

Texto: Carolina Bivard

Revisão: Naty Souza e Nefer

Ilustração: Táttah Nascimento


Capítulo 7 – Descoberta Explosiva

 — Está confortável? 

Saga andava ao redor da cadeira da cativa, observando cada nuance à sua frente. 

— Pode se transformar. Esse rosto da ministra espacial me deixa agoniada. – Saga gargalhou. – Eles acharam que eu cairia nessa cilada? Se montaram uma armadilha para mim… Seu comunicador “intradérmico” não funciona aqui. Já vi que está com um. Essas paredes bloqueiam sinais. 

Barns se transmutou, voltando a sua aparência original, quase desfalecendo pelo longo tempo que ficou transmutado. 

— Ótimo! – A criminosa falou, arrancando risos do companheiro delinquente. – Uma pena… Aprecio o rosto de Kara Lucrétia… Muitas vezes conversei com ela lá na clínica. Às vezes eu tomava o lugar do meu amigo aqui, – apontou seu comparsa – e conversei bastante com ela. Uma mulher inteligente. Até hoje não entendo como ela se apaixonou por uma terráquea. 

— Mesmo uma terráquea que descobriu um planeta para os freynianos poderem se assentar?

A criminosa espremeu os olhos irritada, diante do questionamento do agente. Ele tinha as mãos presas para trás na cadeira e as próximas palavras que Saga verbalizou, saíram cuspidas com ira.

— Essa mulher não era para ter sobrevivido na época da guerra! Teve sorte! – Gritou histérica. – Se aqueles terráqueos imbecis da República e de Cursaz tivessem feito o trabalho deles direito, hoje teríamos outro planeta dentro do Espaço Delimitado só nosso. Eu garantiria isso. A Olaf não existiria mais e eu, não precisaria ter um filho de Kara!

Ela chutou a perna do agente, saindo da sala, resmungando a esmo.

— Todos um bando de imbecis incompetentes. Mas o que eu poderia esperar de uma raça tão inferior?… 

O grupo se escondia próximo a entrada dos túneis da caverna. Kara imediatamente acionou sensor de sondagem portátil para verificar possíveis dispositivos de segurança no local.

— Ou eles estão muito seguros de que não seriam encontrados, ou existe alguma armadilha que os sensores não captam. Não detecto nenhum dispositivo de alarme ou segurança. – Kara afirmou. 

— Fiquem aqui. Deixem-me verificar.

Bridget se aproximou mais da entrada, com cuidado, e logo retornou para o abrigo entre as árvores em que estavam.

— Ela é esperta. Tem câmeras na entrada que são mais velhas do que minha “tatara-tataravó”. São câmeras que não entram em nenhum circuito atual. Ela deve ter desenvolvido algum modelo alternativo de identificação numa rede que criou.  

— E o que faremos? – Helga perguntou. – Se não pudermos nos aproximar sem que ela veja, tudo irá por água abaixo.

Kara tomou à frente.

— Me esperem aqui.

Antes que Bridget pudesse interceder, Kara saiu, tomando um caminho circundando a borda da entrada entre as árvores.

— Droga! – Bridget exortou. – Kara é impulsiva. Vou segui-la.

Helga segurou o braço de Bridget, fazendo a comandante encará-la com irritação.

— Olhe e observe. Você precisa confiar mais em sua esposa, Brid. Ela não é nenhuma desvairada. 

A comandante olhou para onde a Olaf apontava. Viu entre as árvores Kara chegar a uma clareira na parte direita da caverna e se transformou em um animal da espécie “canis lupus”. Bridget já havia visto esse animal nas pesquisas da fauna daquele planeta.  Era um tipo de lobo característico das regiões frias daquele continente. Embora o governo ainda não tivesse explorado invasivamente, tinham escaneado a maioria do planeta em termos de fauna e flora. 

Bridget segurou e apertou a empunhadura de sua arma com força. Os nós dos dedos ficaram brancos, todavia não a retirou do coldre. O antigo hábito de segurar a sua arma quando estava nervosa retornara. 

— Como?…

— Ela é uma alomar primordial, Brid. Nós alomares somos transmorfos em essência, mas temos a limitação da genética. Só conseguimos transmutar para formas híbridas com seres humanoides. Um alomar primordial tem a capacidade de transmutar para qualquer organismo vivo, contanto que não tenham dimensões muito pequenas. Mesmo um “primordial” não poderia se transmutar para um microrganismo, ou mesmo um animal pequeno, como um coelho.

— Mas um animal de grande porte, parece que sim.  

Bridget se perdeu em pensamentos. Sua mente estava confusa e suas emoções conflituosas. 

— Ela sempre será a Kara que você conhece, Brid. Sei que é um choque para você e não ache que para mim também não é. Há mais de dois milênios que não temos alomares primordiais. Para nós, era um mito. Mas pense, Kara é aquela que conheceu e sempre será. Nada de sua personalidade mudará. 

Bridget sacudiu a cabeça. Tinha que se concentrar e não podia pensar em como a vida dela com Kara seria dali para frente. Pelo menos, não naquela hora.

— Ok. Vamos observar para saber o que ela fará.

O tal lobo do gelo, como fora vulgarmente classificado pelos pesquisadores, subiu a encosta da entrada da caverna e se aproximou de uma das câmeras, abaixou, cheirando-a e se assustou, quando câmera moveu se direcionando para o animal. O lobo simplesmente pulou raivoso sobre o objeto, destroçando-o com os dentes. 

Logo depois, o lobo voltou as suas orelhas para um novo barulho que escutou do outro lado da elevação. Caminhou cautelosamente e mesmo com a quantidade de neve que cobria o passo, suas patas quase não afundavam na neve, tamanha a destreza ao andar. Ao aproximar do objeto, ele se moveu outra vez e o lobo, raivoso pulou sobre ele, destruindo-o.

O coração da comandante disparara. Era um belo animal. A postura altiva, dava-lhe imponência e leveza, fazia-o andar com graça e beleza. Ele pulou do alto do morro e aterrizou exatamente na entrada da caverna e sem nem ao menos olhar a volta, entrou. 

— O que está acontecendo?

— A merda de um lobo destruiu nossas câmeras da entrada e entrou em nosso esconderijo.

Saga respondia a Rurik, tentando ver em seu “plate” o que acontecia do outro lado do planeta, onde ficava a base de sua operação. 

— Recebi um sinal de aproximação e fui verificar. Era esse animal idiota que se assustou com a nossa câmera externa de vigilância. Agora ele entrou e só temos mais duas câmeras. Eu falei para você que eram poucas!

Saga gritou com o companheiro.

— Você sabe quanto tempo levei para conseguir essas quatro câmeras? Não se encontra em qualquer esquina, e ainda paguei uma “grana” por elas, além de me arriscar. Só colecionadores tem essas porcarias. Devíamos ter colocado câmeras comuns.

— Ah, sim! E nos arriscar sermos pegos por rastreamentos. Ainda estamos no jogo, porque uso essa tecnologia defasada. 

— Isso não é defasado, é pré-histórico! 

Saga olhou para o companheiro com raiva. Imediatamente se transmutou em um humanoide de três metros de altura, envolvendo o pescoço dele, com uma única mão, quase o sufocando. Aproximou seu rosto disforme, no qual fez questão de aumentar de tamanho, encarando-o nos olhos.

— Não questione, nunca mais, minhas decisões. Se estamos aqui, e você tiver sua vingancinha medíocre contra Kara Lucrétia, será por minha causa! Acha que me aliei com você por sua inteligência? 

Saga o largou e o companheiro caiu no chão quase desfalecido. Ele tossia e ela voltou a focar no que o plate mostrava da caverna. Transmutou-se novamente para a sua forma original. 

Olhou pela visão periférica e viu que seu companheiro de crime estava se recompondo. Na opinião dela, a visão daquele homem era ordinária. Pensava somente em uma vingança pessoal. Ela pessoalmente não tinha raiva de Kara Lucrétia, ou mesmo da Olaf, que a prendera anos atrás. Sua ira era contra o sistema que considerava obtuso e limitado. Os alomares eram superiores, mais inteligentes e mais capazes em tudo. 

— Droga! O lobo entrou em nosso depósito!  

Tentou mover com cuidado a câmera para acompanhá-lo e ver o que o animal faria. Ele sumiu de sua área de visão. Moveu um pouco mais a câmera através de um comando no plate para achá-lo. Em dado momento, conseguiu ver o animal, deitado distraidamente sobre uma rocha, como se descansasse, todavia quando moveu a câmera para focar precisamente nele, o lobo elevou a cabeça encarando a câmera, rosnou e pulou no objeto que se movia.

— Merda! Merda! 

Rurik se aproximou de Saga, com cuidado. Tinha se recuperado e tomou cuidado ao falar com ela. A renegada estava muito irritada e ele temia outra onda de fúria.

— Animais se assustam com barulhos e coisas que não identificam…

Ele deixou que ela concluísse seus pensamentos. Não queria aborrecê-la mais.

— Vou ter que deixar a última câmera parada, para que esse animal imbecil não a destrua. – Voltou-se para Rurik. – Fique com o plate. Faça sondagens térmicas. Só temos mais uma câmera no salão principal e não quero perdê-la com esse lobo idiota.

 Kara estava há muito tempo dentro da caverna e a agonia tomava conta de Bridget e Helga. O lobo saiu e correu para a floresta, aliviando-as da tensão. Viram quando ela se transmutou na mesma clareia que havia se transformado anteriormente. Deixaram que ela chegasse até elas.

— Eles montaram um verdadeiro quartel general dentro daquela caverna. Tem um salão com muitos equipamentos e, após ele, tem uma câmara onde parecem viver. Cama, local para cozinhar e uma grande estação de trabalho, em que julgo ser de onde observam toda a capital. Os equipamentos são bastante antigos, integrados a um sistema recente. Não sei como fizeram isso. 

Kara observou que Bridget reparava em cada movimento seu, além de olhar seu corpo com curiosidade. Sentiu-se frágil.

— Está com medo de mim? – Kara perguntou receosa.

— Medo? Claro que não. O lobo era “irado”! Só peço para não se transformar em uma daquelas grandes cobras de florestas tropicais, porque essas, eu odeio. Aí sim, a gente teria problemas.

Kara e Helga riram e a engenheira-médica sentiu um alívio enorme ao escutar sua esposa falar com tanto humor. 

— Pode deixar. Eu nunca toquei em um animal desses para me transmutar e nem mesmo gostaria disso. 

— Já tocou em algum lobo?

Bridget perguntou, mas logo sacudiu a cabeça. Não tinham tempo para aquele tipo de conversa.

— Não importa. Depois a gente vê isso e, também, o fato de você não ficar desgastada com a transmutação. Sei que Helga se debilita a cada mudança.

A comandante estava intrigada com aquele comportamento peculiar.  

— Isso ainda veremos com os médicos. Não sei responder. Simplesmente não me sinto exaurida.

 — Nos diga se podemos entrar sem problemas. 

— Acredito que sim, Brid. Devem ter sensores térmicos para sondagem… Aliás, tenho que pegar o meu. Deixei na clareira, antes de me transmutar. – Kara se lembrou, todavia continuou a explicar. – Eles não poderão nos ver, até chegarmos ao salão da vigilância. Lá não consegui disfarçar para destruir a câmera.

— Estão me ouvindo? 

  Decrux chamou pelo transmissor auricular. 

— Estamos. – Helga respondeu.

— Não precisarão colocar vigilância no salão principal. A caverna só tem essa entrada. Se colocarem no túnel e no salão de equipamentos, saberemos que eles retornaram. 

— Não sei, não, Decrux. Se eles vierem para cá com Barns, e o colocarem na outra sala, não teremos visão.

Eu fiz algumas melhorias em meu sistema de sondagem com tipo de linguagem que eles utilizam, pelos dados que Kara inseriu. Agora minha sondagem está mais precisa e posso fazer varredura dentro do salão. Não estarão às cegas. 

— Perfeito! – Bridget exclamou. – Então, vamos. 

Kara foi até a clareira e pegou a pulseira que anulava a leitura de emissões térmicas do corpo.  Através de sensores de sondagem, conseguiram chegar ao salão em que havia equipamentos diversos. Aquele era o depósito de Saga e seu comparsa. Era um local enorme e os olhos de todas vagavam por todo o ambiente, etando-as. 

— Temos que acionar o Ministério de Segurança para invadir. Eles têm explosivos guardados aqui para destruir metade da capital!

— Acalme-se, Helga! Não iremos chamar ninguém. Pare de pensar como governante e pense como uma agente. Acha que conseguiremos pegar Saga se desmontarmos o esconderijo? Chamaremos a segurança, quando soubermos do paradeiro dela.

— Brid está certa, Helga.

Kara se aproximou, tocando o ombro da amiga. Também estava assustada com a quantidade de equipamentos e armamentos que estavam naquele lugar, porém, era mais objetiva. 

— Se invadirmos esse lugar com tudo, ela sumirá nesse universo imenso e não saberemos o que poderá fazer depois. Além do quê, Barns ainda está com ela. Vamos seguir o plano e pegá-la.

Helga se acalmou e pousou no chão a maleta que carregava, abrindo-a. 

— Então vamos nos apressar. 

Espalharam microcâmeras e, com injetores, instilaram microsensores de movimento em diversos locais. Fossem entre reentrância de rocha e até mesmo dentro de maletas de explosivos, eram dificílimos de ver a olho nu, e muito provavelmente, não conseguiriam localizar. Se Saga pretendesse explodir algo, teriam como rastreá-la. 

Retornaram a nave auxiliar e tomaram seus assentos. Antes que Bridget pudesse ordenar para Decrux ativar a dobra ponto a ponto, sentiu um calafrio. Quando se deu conta, estava no hangar da nave principal. Aquele procedimento já não fazia mais efeito sobre a comandante, entretanto, quando olhou para trás, viu que abalara Helga e Kara. Elas abraçavam o próprio corpo, sentindo os efeitos da viagem em “dobra estática”. Decrux entrou na pequena nave.

— Veja o que fez com o “seu amor”!

A comandante tinha um tom de ironia, ao apontar a Olaf que ainda sentia os efeitos no corpo. Decrux se abaixou, fazendo um carinho no rosto da esposa.

— Me desculpe, amor! Era para ser uma brincadeira com Brid.

— Por favor, não faça mais isso. – Helga respondeu com dificuldade. – Depois de tantos anos, o corpo de Brid já está acostumado, mas o nosso não. 

A comandante sorria ao ver que Decrux recebeu uma reprimenda da esposa, todavia, logo desmanchou o semblante de divertimento, pois viu que no lugar das mãos, Kara tinha patas de lobo. Bridget se agachou diante da poltrona da engenheira-médica preocupada. 

— O procedimento afetou Kara. – Falou aflita. 

— Estou bem. Já, já, volto ao normal. 

A Ministra Espacial tentava acalmar a todas, entretanto, ela não sabia se o que falava era verdade. Sentia que todas as células de seu corpo estavam fora do lugar.

— Venha. Vou te levar para a enfermaria. 

— Não, Brid. Quero ir para o nosso alojamento. Quero dormir um pouco e não farei isso na enfermaria. 

— Me desculpe, Kara. Realmente fiz uma burrada. Fui impulsiva, pois tenho sempre essa brincadeira com Brid. 

— Não é culpa sua, Decrux.

Falava enquanto era amparada por Bridget. Começava a melhorar e concentrou-se para que seus braços transmutassem e retornassem ao normal. Conseguiu com certo esforço, porém, ela como médica-geneticista sabia o que aquilo significava. Ela ainda estava instável e, mesmo que se sentisse bem e no controle, ao menor sinal de mudanças moleculares, descompensava.

Os médicos entraram no hangar, pois o monitor fisiológico que implantaram sob a pele da nuca da ministra espacial mostrava sinais de desequilíbrio. 

— Vamos levá-la para a enfermaria.

A doutora Kiara foi impositiva, no entanto, o doutor Fredrik que estava avaliando no tablet as funções fisiológicas de Kara, amenizou a preocupação.

— Ela está voltando ao estado fisiológico normal. 

A ministra encarou os médicos, ainda apoiada em Bridget. 

— Vocês avançaram nas pesquisas?

— Sim. Temos alguns resultados, mas precisamos fazer nova bateria de exames. – Doutor Fredrik respondeu.

— Então irei à enfermaria fazer os exames, entretanto, assim que acabar, dormirei em meu alojamento. Quero ter um sono tranquilo para me recuperar. Se vocês estavam me monitorando, viram que fiz uma transmutação “limpa” e retornei ao normal, enquanto estava no planeta. Descompensei somente quando fizemos a dobra, o que me parece razoável, em vista das condições a que fui submetida nesse estágio de adaptação para um alomar. 

Não era exatamente a resposta que a doutora Kiara queria, porém sabia que se forçasse, a ministra poderia até se recusar aos exames. 

— Está bem, então vamos. – A doutora respondeu.

Kara se voltou para Bridget.

— Estou melhor. Vou com eles e, no mais tardar, daqui a quarenta minutos estarei em nosso quarto.

— Ainda considera o alojamento aqui da nave “nosso quarto”? Pelo que me lembro, tem mais de um ano que não dorme aqui comigo.

A conversa entre as duas era em tom baixo e particular, dificultando para que os outros ouvissem. Elas se encaravam divertidas.

— Lógico que é nosso quarto! Proíbo você de pensar o contrário e ninguém mais, além de mim e você, dorme naquele alojamento, ouviu bem?

— Sim, senhora! 

Bridget respondeu alegremente e deixou que Kara caminhasse em direção ao médicos. Voltou-se para Decrux e Helga. 

— Vamos para a ponte para conversarmos sobre nossa estratégia. Depois descansaremos. 

Caminharam em direção à ponte. Helga perguntou assim que entraram:  

— E Olsson, não acordou?

— Digamos que ele está num sono profundo…

Decrux respondeu e Helga a olhou inquisitiva.

— Eu sou subcomandante dessa nave e minha comandante me ordenou que o fizesse dormir. Foi fácil aspergir um sonífero pelo duto de ar.

— Por que quer afastar Olsson, Brid?

— Já falei que só confio em nós. Quero que as decisões sejam nossas e não quero que ele saiba o que encontramos naquela caverna. – Bridget foi enfática. – Essa mulher burlou todo sistema de segurança do planeta e ainda tem um comparsa que foi desafeto de Kara. Sabe me dizer, com certeza, se ela não tem mais ninguém a ajudando? 

A Olaf sabia que a comandante Nícolas tinha razão. Debatia-se entre seus deveres como governante e a seriedade da situação.

— Bom… Você está no comando dessa missão. Estou aqui somente como mediadora. 

Helga declarou, sabendo que assumia a responsabilidade perante os ministérios, se acaso algo saísse errado. Contudo, tinha certeza de que Bridget queria somente pegar a criminosa. Ela não era Olaf de Freya por acaso. Conseguia ter percepção das intenções das pessoas. Além da genética alomar que lhe dava essa condição de percepção empática e de sentidos, treinara durante anos, antes de assumir o cargo na antiga Freya. Raramente conseguiam enganá-la, a não ser que fosse um outro alomar, com as mesmas condições genéticas dela. 

Na guerra contra Cursaz, há mais de doze anos, ela avisou aos ministros que o dirigente da corporação com quem negociavam, não era confiável e escondia a verdadeira intenção. Entretanto, os ministérios votaram a favor da negociação comercial e quando se recusaram a assinar o acordo, por não concordarem com as exigências, a corporação Cursaz atacou, destruindo o planeta natal. 

No tempo de exílio dos freynianos, o que Helga sofreu no Espaço Delimitado da República, a fez pensar como alguém que precisava sobreviver para juntar seu povo novamente. A comandante Bridget Nícolas a ajudara e, também, a sua nação, colocando inclusive a própria vida em risco. Hoje, Freya estava renascendo, em um planeta descoberto pela amiga, longe do Espaço Delimitado e em um sistema solar em que os outros planetas eram amistosos.

Não tinha dúvidas de que a apoiaria, mesmo que significasse enfrentar problemas com o governo de Freya.

— E agora? Qual o plano? – Helga perguntou convicta.

— Vamos rastrear a capital ou proximidades. Akas é uma cidade remodelada e nova. Não há muitos lugares em que possam se esconder, exceto, algum ou outro lugar que ainda esteja em construção, ou locais fora da cidade, como casas isoladas, ou fazendas que se instalaram nas imediações, para produção.

Decrux não concordava. Akas, a capital de Freya, embora fosse uma cidade planejada e construída há pouco mais de dois anos, também tinha seus esconderijos. 

— Está esquecendo dos inúmeros galpões que foram construídos para abrigar trabalhadores e materiais na época das obras da cidade. Hoje, muitos estão vazios, esperando serem desmontados, ou mesmo, serem realocados e destinados para abrigar alguma indústria e até mesmo, vilas para trabalhadores e suas famílias. 

— É verdade, Decrux. A maioria dos complexos de galpões já foi reestruturada, mas existem muitos que o governo está decidindo o que fazer, pois não servem a esse propósito. Estão vazios.

Helga concordou com a esposa. 

Bridget não tinha esse conhecimento, pois quando saiu do Ministério de Segurança para trabalhar em sua área primária, no Centro de Antropologia, deixou de se interessar pela política e reorganização do governo. A conversa entre Decrux e Helga a despertou.

Ela andou a esmo, pensando nos próximos passos. De posse daquela informação, voltou-se para as duas amigas mais animada.

— Agora sinto que temos uma vantagem. – Virou-se para Decrux. – Mantenha Olsson dormindo por enquanto. Tem como ele desconfiar de que foi sedado?

— Não creio. Eu esperei que ele se deitasse e pegasse no sono, antes de aspergir a substância no ambiente. É inodora e não o deixará de “ressaca”, se é o que quer saber. 

A comandante ainda andava pela ponte, planejando uma abordagem. Era certo que Decrux sondaria aquela área.

— Então, certifique-se de que ele dormirá por mais horas. Verifiquei o arquivo dele de atividades. Antes de ser eleito para essa missão, vi que participou de três dias de treinamento intenso, com direito a poucas horas de sono.

— Ele é um agente experiente, Brid. Será que “cairá nessa” de que sucumbiu ao cansaço?

— Acredito que sim, Helga. Não será fácil, mas agiremos com naturalidade. Vocês me protegerão desse escrutínio alomar dele. Terão que fazer. Serão duas alomares e uma IA. Eu sou o ponto fraco e tentarei não ficar com ele sozinha no mesmo ambiente, para que não tente me avaliar.

— O que está pensando em fazer?

— Nesse momento, nada. Somente descansar com Kara e vocês também. Meu corpo já começa a sentir as mais de trinta e seis horas desde que tudo começou e podem ainda não sentir, mas vocês também ficarão exaustas. Principalmente Kara que se transmutou e ainda não sabe como o corpo dela reage.

— Quer que deixemos a sondagem suspensa por horas? Saga não vai descansar, enquanto não conseguir o que quer.

— Se ela é tão inteligente quanto dizem, irá sim. – Bridget respondeu convicta. – Ela está se sentindo segura agora, mesmo se tiver descoberto que Barns não é Kara. – Olhou diretamente para Helga. – Quando vocês transmutam, se desgastam. Ela não só transmutou várias vezes, como passou por momentos de estresse. Esse não é só um momento de pausa, bem como o momento de reavaliar nossos passos e o dela também. 

— Mesmo assim, não seria a hora de continuarmos sondando para descobrir onde ela está?

Bridget revirou os olhos, sorrindo da ingenuidade de Helga, no que fez Decrux se adiantar, antes da comandante debochar da esposa.

— Meu amor… – Decrux se aproximou, segurando a mão da esposa. – … Agradeço que não faça distinção do que eu sou para um humanoide, contudo, às vezes se esquece de que se casou com uma IA orgânica e que eu interajo precisamente com esta nave.

Helga entendeu, envergonhando-se. Ela se esquecera que sua esposa interagia completamente com os sistemas, mesmo que estivesse dormindo. Aquela nave fazia parte dela como se fossem uma só.

— Entendi. – Falou ligeiramente ruborizada. – Estaremos descansando, enquanto ocorre a sondagem nos galpões. Certo. E depois?

— Se Decrux achar algo, antes de acordarmos, ela nos chamará. Se não, deveremos dormir pelo menos por seis horas, para nos recuperarmos e daremos andamento às buscas.

Bridget respondeu, embora ansiosa e com certa dúvida, sabia ser a melhor alternativa. Aprendera por experiência própria que ninguém conseguia pensar ou agir direito, privado de tantas horas de sono. Não queria incorrer neste erro, lembrando que já havia quase perdido a vida em uma situação parecida.

— Tem certeza de que essa mulher não é louca o suficiente para agir com imprudência, Brid? Mesmo que esteja exausta, pode querer se adiantar em seus planos. 

— Se ela for imprudente, não é tão esperta quanto faz parecer, Helga. Poderá tomar alguma dianteira inicialmente, mas a exaustão a fará errar e é nisso que estaremos na vantagem. Eu mesma já vi você desfalecer por transmutar muito tempo, sem descanso. Se lembra? 

— Me lembro, Brid, e sei muito bem como é. É algo fisiológico dos alomares. Não quer dizer que ela não poderá usar alguma droga para se manter de pé e nos pegar desprevenidas.

— Quando você foi exposta à drogas na época que estava em cativeiro, como se sentia?

Helga se lembrou da época em que mais sofreu no Espaço Delimitado.

— Eu ficava muitas vezes desorientada. Não pensava com clareza. Minha sorte foi aquela cientista que me ajudou. 

— Manteremos esse plano então, Helga. Se Decrux achá-la, teremos que ver as condições em que estarão no esconderijo para planejarmos o “assalto”. Aqui na nave temos tudo que necessitamos. 


Nota: Olá, Pessoal! Como vocês estão? Hoje souberam um pouco mais o que a Saga quer e o que um alomar primordial pode fazer. Semana que vem saberão um pouco mais dos planos de nossas heroínas. 😉 

Um beijão a tod@s

 



Notas:



O que achou deste história?

10 Respostas para Capítulo 7 – Descoberta Explosiva

  1. Oiee, Bi!
    Muito bom, como sempre!!!
    Demorei um pouco, mas cheguei!!!
    Essa Saga se acha muito e por isso vai cometer um erro fatal por sua arrogância e desprezo, megaego tem!
    Brid um pouco assustada, essa daí n se adapta fácil às mudanças ou ao diferente, mas demorar um pouquinho, espero que enquanto duro esse jogo todo!!!
    Vai ter filhinho, né?! N vai acabar a estória de guerra( q amo e um drama, melhor!!)sem mostrar a parte do filho…mais de um parágrafo, por favor!!!
    Enfim, amooo TD de Freyaaa! Essa nova temporada tá showw!!
    Espero que esteja bem!
    Beijão

    • Oi, Lailicha!
      “Essa Saga se acha muito e por isso vai cometer um erro fatal por sua arrogância e desprezo, megaego tem”; ela tem um super ego mesmo e acredito que isso lhe dê forças no objetivo, mas concordo que poderá ser a derrubada dela. rs Veremos.
      kkkk Eu sei que gosta de drama e vai ter drama sim, mas não sei se será o que pensa. rsrs
      Valeu o carinho Lailicha! Espero que esteja tudo bem com vocês aí!
      Um beijão e fica na paz!

    • Oi, Blackrose!
      Sim, fez sim. rsrs Eu já tinha começado a escrever esse capítulo quando você comentou e achei graça da sua referência. rs
      Ontem elas tiveram um momento pra elas. rs espero que tenha gostado.
      Um beijão!

    • Oi, Carla!
      É ela é sim. Daquelas pessoas que se prepararam a vida inteira para um momento e ele chegou. Saga está bem focada. Quanto a loba, imaginei que um alomar primordial tinha que ter características maiores que um alomar comum. rs
      Obrigadão pelo comentário!
      Um beijão pra você!

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