Depois desse encontro com a Ágatha, mais uma semana se passou e não tivemos mais contato. Nesse ínterim, Enzo me convidou para o seu aniversário que seria no próximo sábado, na casa da família Médici. Encontraria com a ruiva novamente é lógico, mas precisava ser madura.
Hoje é quinta-feira, o mesmo dia em que sairia o resultado dos laudos que apontavam se a Kathleen havia sido agredida ou se os machucados eram provenientes de queda. Estava trabalhando, mas meu cérebro só pensava nesses benditos laudos me deixando ansiosa e apreensiva. Bibi tratou de tirar minha atenção da tela do computador ao perceber minha angústia.
–Gigica, você tá mastigando muito esse lápis. Desse jeito vai quebrar o lápis ou o seu dente. -Bibi não parava de rir.
–É que não me aguento mais de ansiedade, Bianca.
Algum tempo depois apareceram no escritório, a minha sogra com o envelope nas mãos sobre o resultado dos “maus tratos”, acompanhada da Natalie que chegou feliz da vida abraçando a mim e a mãe.
–E aí, mãe?! Qual foi o resultado? A Ágatha bateu mesmo na minha sobrinha? Se ela bateu, eu mesma vou quebra-la em vários pedaços. -Bibi comentava furiosa.
–Sei que deveria abrir esse resultado apenas na frente da Giovanna e da Pietra, mas como avó, médica e ser humano confesso que abri o envelope assim que recebi o laudo e fiquei chocada… -Marcela falava com um olhar triste. Nesse momento a fala da Ágatha sobre a minha sogra saber a verdade sobre o transplante renal veio com força na minha cabeça e eu não consegui esconder o olhar de ódio que direcionei para a doutora Marcela, contanto que ela percebeu. -Algum problema, Giovanna? Prefere que eu diga o resultado em outro momento?
–Não sogrinha, pode falar agora. Seria tão bom se além do resultado dos laudos pudéssemos descobrir outras verdades que ainda não foram reveladas. -falei de maneira irônica tentando esconder toda a raiva que me corroía. Nessa hora Natalie, a doutora Marcela e Bianca me olhavam de maneira estranha como se não entendessem ao que eu estava me referindo.
–O que significa essa fala, Giovanna? Há outro assunto sobre o qual queira conversar? -minha sogra perguntou curiosa. Só aí me toquei que minha raiva estava explícita e esse não era o momento ideal para resolver esse assunto.
–Claro que não, doutora Marcela! Pode falar logo o resultado do exame, por favor? -tentei perguntar educadamente, mas chamava minha sogra apenas de tia. Chamá-la de doutora com certeza deixou as coisas mais estranhas. Por sorte a voz infantil da minha afilhada me salvou daquela situação embaraçosa.
–A Ágatha nunca bateu na Kathleen, dinda. A minha prima mesmo disse que inventou essa história, mas não sei o porquê, ela não quis dizer. -Natalie falou apressadamente.
–Natalie, não interrompa sua avó! -Bibi falou repreendendo a filha. -É verdade o que a Nat falou, mãe? Se for verdade, a promotora Médici merece um pedido de desculpa.
–Sim Bianca, é a mais pura verdade. Aqui estão todos os resultados e a conclusão da perícia. Não houve maus tratos. -não sabia se ficava aliviada por saber que o amor da minha vida não era um monstro ou se ficava triste pelo excesso de mentiras da Kathleen.
–Meu Deus! A que ponto chegaram as mentiras da Kat… -apenas sussurrei para mim mesma.
Minha sogra e Bianca precisaram se ausentar, enquanto isso fiquei na companhia da Natalie, lhe ajudando com o dever de casa, mas minha afilhada percebeu que minha mente estava muito longe dali.
–Dinda, não briga com a minha prima. Ela errou por mentir e fazer você sair de casa, mas tenta entender… A Kathleen não é uma criança ruim, ela apenas acha certo as coisas que a Rafaela e os pais dizem pra gente, mas a mamãe já me disse que eles estão errados e eu não quero mais ser amiga da Rafaela. Eu não sou ruim e nem chata como ela. -Nat disse notando meu semblante de preocupação enquanto estava sentada no meu colo e me enchia beijos, mas a maneira a qual Natalie se referiu ao meu irmão, minha sobrinha e minha cunhada me colocaram em estado de alerta.
–Tem razão minha linda. A Kat não é ruim, é minha filha e eu que sou muito explosiva, mas preciso entender a origem de alguns comportamentos… -respondi analisando a maneira pela qual poderia conversar melhor com a minha afilhada. -Nat, o que a Rafinha, o Renan e a Rebeca falam pra você e pra Kat quando dormiam lá? E por que você não quis mais brincar com a Rafa e nem dormir por lá?
Notei que ao voltar para o Brasil, Natalie também era uma criança bastante difícil, problemática, agressiva e xingava bastante, mas depois que a Bianca passou a trabalhar menos e a criança deixou de ser tão próxima da filha do Renan construindo novas amizades e trocando os finais de semana que dormia na casa da minha sobrinha para ficar com a família, o comportamento da minha afilhada havia melhorado bastante. Agora eu notava que acontecia o mesmo com a minha filha… Apesar de ter a personalidade forte, minha filha obedecia a regras e era carinhosa, mas era incrível que o comportamento mudava completamente quando ela estava próxima da prima e dos tios, agora estava mais do que óbvio que algo acontecia na casa do Renan, mas eu precisava saber o que era… No dia em que Kathleen destratou Iara e no dia em que levei um tapa, minha filha havia dormido na casa do meu irmão nos dias anteriores. Esses pensamentos foram deixados de lado ao ouvir o que Nat tinha para me dizer.
–Tia Gi, o Renan e a Rebeca não são legais. O Renan sempre fala pra Rafa e pra gente que os negros precisam tá separados de nós e que se fazia isso antigamente na África e que na guerra tinha um homem bigodudo que matava negros porque eles são inferiores. Um dia a Rafinha me contou que a Rebeca bateu muito nela porque não aceitou que a melhor amiga dela na escola fosse uma criança negra. Eu não quis mais dormir lá porque os pais da Rafa brigam muito, e teve uma vez que a Rafa tava batendo no Apolo, ele tava sofrendo e chorando… Ela perguntou se eu queria bater nele, eu disse que não e que ela não deveria fazer isso porque o Apolo sofria, então a Rafa me chamou de covarde e disse que eu não representava os brancos e não deveria mais ser amiga dela, e eu também não quero essa amizade pra mim. -Natalie me contava todo esse relato e eu ficava perplexa com cada fala. Além do meu irmão e da minha cunhada ensinarem um comportamento extremamente racista e desumano para a filha, era óbvio que Nat sem saber estava citando na sua fala sobre o Apartheid e a Segunda Guerra Mundial. Como meu irmão poderia pensar que esse comportamento era correto? Nem parece que éramos filhos do mesmo pai e da mesma mãe. O pior de tudo também era que minha sobrinha estava com sete anos e crescia acreditando que esses comportamentos eram naturais. Agora já estava maltratando o Apolo, um gatinho persa que meus pais haviam lhe dado de aniversário. Qual seria o próximo passo desse comportamento todo? Precisava também salvar a minha sobrinha apesar de ainda não saber como.
–Natalie, quantas pessoas sabem de tudo isso que você acabou de me falar? Preciso que você entenda que o Renan e a Rebeca estão completamente errados nas suas colocações, e a Rafaela também é vítima da maneira que é educada. Eu ainda não sei o que fazer, mas prometo que vou tirar a Rafinha de toda essa situação o mais breve possível.
–Na verdade só você sabe dessas coisas, tia Gi. Eu não achei necessário contar pra outras pessoas e a mamãe não achou estranho eu não querer mais ser amiga da Rafa, tô lhe contando essas coisas pra senhora não achar que a Kat é ruim. Ela apenas tem alguns comportamentos que o tio Renan ensinou.
Combinei com a Nat de que aquele seria o nosso segredo… Passei mais um tempo enchendo minha sobrinha/afilhada de beijos até que comentei sobre o aniversário do Enzo, mais do que depressa ela adorou a ideia e me encheu de abraços. Nessa hora a porta é aberta, e vejo Pietra chegando acompanhada de uma Kathleen bastante ciumenta.
–Natalie, por que tá abraçando tanto a minha mãe? Ela é minha mãe e não sua. -Kat falou em um tom típico de ciúmes.
–Calma prima! Sua mãe é minha tia e minha madrinha, adoro ela. Oi tia Pietra. -Nat falou indo abraçar minha esposa.
–Que modos são esse, Kathleen? Agora lembrou que sou sua mãe? Há pouco mais de três semanas eu era apenas a Giovanna chata e que não mandava em você. -falei sem me conter, mas em seguida me arrependi. Meu papel deveria ser de mãe, ainda mais agora que descobri tudo o que minha filha aprendia com o meu irmão.
–Menos Giovanna, bem menos. Conversa com a Kat primeiro. -Pietra disse e percebi que ela estava certa. -Natalie, vamos! A Bianca me pediu pra te levar na aula de piano. -a morena disse saindo acompanhada da sobrinha, sobrando apenas eu e minha filha naquela sala enorme.
Mesmo já sabendo de toda verdade, esperava que pelo menos a minha filha pudesse ser sincera dessa vez. Eu não sabia nem por onde começar essa conversa, mas me surpreendi com a atitude de Kathleen.
–Mãe, por favor, me perdoa por tudo o que te disse e pelo tapa. Amo muito você e a mamãe. Pode me desculpar e voltar a ser minha mãe? -Kat indagou em um tom choroso. Em questão de segundos eu também chorava abraçada à minha filha.
–Meu amor, a mamãe te ama e sempre vai te perdoar, mas fiquei triste com o que você fez. A mãe da Iara te bateu, te tratou mal? -indaguei limpando os olhinhos azuis úmidos da minha filha que continuava a chorar.
–Não mãezinha, a mãe dela foi muito legal comigo, mas me comportei mal e inventei mentiras pra deixar ela mal. Não gostei de uma coisa que vi… -Kathleen disse ainda abraçada a mim.
–Minha filha, sempre te ensinei que mentiras não fazem bem, qualquer verdade sempre é melhor do que qualquer coisa. -disse mirando os olhinhos azuis à minha frente. -Quem te disse que mentira era uma boa opção? Pode falar meu amor. Prometo que não vou ficar chateada e muito menos brigar com você. Sou sua mãe, e o mesmo amor que você tem pela sua outra mãe, também quero que tenha por mim. -agora era Kat que limpava as minhas lágrimas.
–Amo vocês duas mamãe, não pense que te amo menos… Você é a melhor mãe do mundo, me perdoa! -Kat disse enchendo meu rosto de beijos. -A Rafaela me ensinou que é legal mentir, o tio Renan me ensinou uns palavrões e a tia Rebeca falou que gente pretinha vale menos do que a gente. -se antes suspeitava que meu irmão era uma péssima influência para a minha filha, agora tinha certeza. -Eu vi sua foto com a mãe da Iara namorando e menti porque acho que a mãe da Iara quer nos separar. -Kat chegou no ponto que me preocupava. -Ela não vai separar nossa família, né mãezinha?
–Kathleen, preciso te contar uma coisa. A mãe da Iara e eu namoramos muito antes de você nascer, mas isso não quer dizer que vou deixar de te amar meu amor. Outra coisa meu anjo, jamais pense que cor de pele vai definir o valor de uma pessoa. Seja negro, branco, moreno, pardo ou qualquer outra cor, todos nós somos filhos do mesmo Deus. Você não gosta da Iara por achar que ela vai roubar o seu amor de mim ou por ela ser negra? -indaguei com medo da resposta.
–Eu não gosto da Iara porque ela é amiga da Paula, e essa menina sempre fica me xingando na escola e diz que roubei o Eric dela, mas não é verdade mãezinha. O Eric não é meu namorado e nem vai ser, eu sou criança. -Kathleen disse me abraçando com força. -Pra mim a cor da pele dela é normal, mas depois que contei pra Rafa e pro tio Renan que a Paula me tratava mal e que a Iara era amiga dela, eles falaram que eu era melhor do que ela porque meu cabelo, meus olhos, tudo em mim é mais bonito do que na Iara. E a tia Rebeca falou que essas pessoas não podem estudar porque nasceram pra serem empregadas. -minha filha falou algo ainda mais perturbador e mais do que nunca deveria proibir a convivência dela com a família do meu irmão.
–Kat, entenda que seus tios estão completamente errados, e sempre que ficar em dúvida se algo é certo ou errado converse comigo e a sua outra mãe. mas, preciso enfatizar que violência, xingamentos e brigas não são as maneiras certas de resolverem os problemas, mas precisamos resolver tudo conversando. Entendeu minha linda? -indaguei olhando profundamente minha filha. -E, outra coisa bem importante. Não se preocupe com assuntos de namoro, quando sua hora chegar você saberá. Sempre conte comigo e com a sua mãe pra tudo, sempre te amaremos.
–Agora entendi tudo, mamãe. Então, quer dizer que se a Iara brigar comigo tenho que tentar conversar com ela? Mas, se não resolver, falo com você e com a mamãe tudo o que estiver me incomodando. -assenti e ganhei mais um abraço apertado. -Mãe, eu não quero mesmo namorar com o Eric ou outro menino, a gente sabe que as meninas são muito mais interessantes e lindas. -Kat falou me deixando surpresa. Será que minha filha seria lésbica? Logo tratei de afastar esses pensamentos. -Eu sou criança e não tenho que pensar em namoro, não é isso? -minha filha indagou sorridente.
–Sim meu amor. E é por ser criança que você precisa apenas estudar, brincar com outras crianças e não se preocupar com coisas de adulto. Você precisa ser feliz. Tudo bem se você não quiser ser amiga da Iara, mas na sua escola deve ter outros amiguinhos na sua turma ou não? -meu sonho seria que minha filha pudesse se socializar mais.
–A Carol e o Nando são muito legais, acho que eles querem ser meus amigos, mas eles têm dúvidas bobas nas matérias e isso me irrita, mamãe, é tão fácil… -nessa hora recebi a melhor notícia.
–Amor, pra você pode ser fácil, mas não pras outras crianças. Você não tem dificuldade na aula de canto as vezes e sua professora não te ensina com todo amor, carinho e paciência? O que a mamãe quer dizer é que temos algumas dificuldades, e precisamos de ajuda, não de pessoas aborrecidas. Ia gostar que a tia Érica te tratasse mal por você ter uma dúvida na aula de canto?
–Não mãezinha, eu ficaria muito triste. -esbocei um sorriso diante do biquinho que Kat fez.
–Pois é meu amor, então ajude seus amiguinhos, e a terapia vai te ajudar a controlar essa irritação.
–Entendi mamãe. Posso fazer mais uma pergunta?
–Claro. Respondo qualquer coisa que essa princesinha perguntar. -disse enchendo Kat de cócegas.
–Você e a mamãe vão se separar por causa da mãe da Iara? Você ama a mãe dela? -Kat indagou e eu não sabia nem o que dizer.
–Meu amor, o que você precisa entender é que mesmo que eu e a Pietra nos separemos, nosso amor por você nunca acabará. Sempre iremos te amar. -disse tentando enxugar algumas lágrimas.
–Mãezinha, posso te dizer o que acho? -Kat perguntou de uma maneira que com certeza deveria estar chateada com o que tinha ouvido.
–Claro Kat, pode dizer o que pensa. Sei que não é essa a resposta que você queria ouvir. -disse prendendo a vontade de chorar.
–Só quero falar que amo muito você e a mamãe. Eu quero que sejam muito felizes mesmo que seja em casas separadas e com outras pessoas, só não quero que deixem de me amar. Os pais da Patricia não moram juntos, mas os dois amam muito ela. -Kat disse me surpreendendo com sua esperteza e maturidade, ou talvez eu que só via o lado ruim da minha filha.
–Sua mãe e eu sempre iremos te amar muito minha princesa. -pela primeira vez depois de tanto tempo estava feliz por estar ao lado da minha filha. Aquela tarde seria apenas nossa.
Depois dessa recepção calorosa voltei para a antiga mansão que morava anteriormente. Foi inegável perceber o quanto minha filha evoluiu desde que começou a fazer terapia e se distanciou da “amizade” da Rafaela e do contato com o meu irmão e minha cunhada, aos poucos estava se tornando a criança doce e amável que sempre quis, ou vai ver que eu é que estava melhorando como mãe. Kat e Nat ficaram radiantes para irem ao aniversário do Enzo, meu ex-aluno conseguiu mesmo fisgar o coração das duas.
Por incrível que pareça, Pietra tão madura antes, foi quem se mostrou arredia com a ideia de ir ao aniversário do adolescente. Desde que voltei para casa, voltamos a dividir o mesmo quarto, estávamos nos dando “bem”, claro que minha esposa notou minha mudança de comportamento, não lhe procurava mais nos momentos íntimos. Queria pedir o divórcio, mas não sabia como fazer essa abordagem.
–Eu não quero a minha filha e você perto da família Médici, perto da Ágatha. Se ela bater novamente na minha filha, não vou responder pelos meus atos. -Pietra não parava de buzinar no meu ouvido enquanto eu apenas queria dormir, estava literalmente gritando.
–Pietra, essa história já ficou mais do que esclarecida. A Ágatha não bateu na Kathleen, foi a conclusão do laudo médico e nossa filha mesma já falou a verdade. Se você não quiser ir ao aniversário do Enzo, vou entender, mas vou levar a Kat e a Nat, o próprio Mateus vai estar lá. Não acha que está sendo um pouquinho imatura? -indaguei impaciente.
–Olha só quem vem falar de maturidade. Você está toda feliz porque vai ver a Ágatha novamente, poderia pelo menos ser verdadeira e não negar todo amor que ainda sente por aquela ruiva sem sal. Só que pelo que sei, ela está namorando e tá pouco se lixando pra você. -Pietra estava completamente fora de controle.
–Logo você bem bancar a verdadeira… Todos esses anos você sabia que a Ágatha foi quem doou o rim pra minha mãe e mentiu pra mim, ficou posando de boa moça…? Você e a sua mãe sabiam de tudo, mas não me falaram nada. -falei alterando meu tom de voz. -Nunca te enganei, Pietra. Antes de nos casarmos, você soube que amo e sempre vou amar a Ágatha, então para de agir como se não soubesse de nada. -falei gritando furiosamente.
–Espera aí! Pra você saber que a Ágatha doou o rim, vocês estiveram juntas. RESPONDE GIOVANNA! Você foi capaz de me trair? -Pietra indagou com o semblante cansado e deixando algumas lágrimas rolarem. -Não pense que ficamos juntas por tantos anos pra agora você pedir o divórcio. Eu não vou me divorciar pra te dar de mão beijada pra Ágatha.
–Sim, eu estive com a Ágatha enquanto estávamos noivas e passei uma noite com a Ágatha há algumas semanas, mas precisava resolver nossa história. Sei que a Ágatha está namorando com a Sabrina e não quer mais saber de mim. Sim Pietra, eu quero o divórcio, não pra ficar com a Ágatha, mas sim pra poder fazer as coisas direito pelo menos uma vez na vida. Eu estou infeliz, você também está infeliz, então vamos abrir os olhos e parar de fingir que tudo está ótimo porque sabemos que nada tá bom. -explodi de uma só vez soltando meu braço da mão da morena. -Nossa relação foi construída sem amor e com mentiras porque você sabe perfeitamente que se eu soubesse que a Ágatha havia doado o rim para a minha mãe, esse casamento jamais teria acontecido, mas você pensou apenas em si mesma, foi uma pessoa extremamente egoísta, queria me ter ao seu lado a qualquer custo mesmo que isso implicasse na minha infelicidade, ao contrário da Ágatha que além de ter salvado a vida da minha mãe, foi uma pessoa completamente altruísta e apenas queria que eu fosse feliz.
–Giovanna, eu tinha uma oportunidade única para te reconquistar. Eu sei que você estava em dúvidas com relação aos seus sentimentos, se eu tivesse contado que a Ágatha havia sido a doadora para o transplante da sua mãe todas as minhas chances estariam arruinadas e eu iria te perder. Você namorava há pouquíssimo tempo com a Ágatha, mas nosso namoro durou cinco anos, então eu tinha esperanças de que se eu omitisse esse acontecimento nossa história poderia ser reescrita de uma maneira diferente. Juro que pensei em te contar a verdade quando sua mãe já estava melhor, mas aí você sofreu o estupro, engravidou e a Ágatha e você não estavam mais namorando, e eu sempre quis ter um filho contigo, então na minha cabeça o universo estava conspirando ao nosso favor para que ficássemos juntas, por isso me calei… -Pietra continuava a tentar justificar suas atitudes de todas as maneiras possíveis, mas apenas sentia nojo dela. Por um egoísmo e ego tão grande ela não contou a verdade.
–Pietra, para de tentar justificar o injustificável. A verdade é que você foi egoísta e ponto final. Eu nunca vou te perdoar por não ter falado a verdade e ter impedido que eu ficasse longe do amor da minha vida, entendeu bem? Nunca! -falei me levantando da cama. -E já que estamos tendo essa conversa importante vou falar de uma vez… Eu quero o divórcio! -notei sua expressão assustada. Com certeza a Pietra não esperava por isso.
–Se você tá pensando que vou te dar o divórcio pra você receber uma pensão gorda saiba que isso não vai acontecer… -Pietra não sabia mais argumentar e agora bancava a doida achando que eu estava interessada no dinheiro dela… Até parece.
–Pietra, não seja idiota! O dinheiro que ganho no meu trabalho dá pra eu viver mais do que confortavelmente, não preciso do seu dinheiro e da sua família, se estou pedindo o divórcio é porque quero recuperar minha paz. -falei de forma alterada.
–Você já pensou em como a Kathleen vai reagir diante dessa notícia? Nossa filha tem uma carreira e o abalo que vai ter nas redes sociais… -a fala de Pietra foi interrompida pela entrada da nossa filha no quarto.
–Mães, por favor, parem de gritar! Eu quero dormir. Prefiro que se separem, mas continuem me amando do que juntas e brigando direto. -minha filha veio para a cama nos abraçando apertadamente.
Notei que esse gesto amoleceu o coração da Pietra, mas a morena não parava de chorar.
–Mãezinha, você vai com a gente no aniversário do Enzo, né? -Kat indagou.
–Vou sim minha filha. Irei com vocês. -a morena disse mais calma.
Confesso que me surpreendi quando na manhã seguinte Pietra me procurou e me deu a melhor notícia que poderia receber.
–Você ganhou! Sei que já te prejudiquei muito por não ser verdadeira. Mesmo que o meu coração esteja em frangalhos eu vou te dar o divórcio. Acho que é o mínimo que posso fazer depois de tantos erros. -Pietra disse enquanto bebericava um café preto. -Espero que um dia possa me perdoar.
–Apesar da nossa briga de ontem a noite dizer que nunca te perdoaria, te garanto que já te perdoei. Tenho um carinho imenso e uma consideração por você que nunca terá fim, e sempre vou ser grata por dividir comigo a responsabilidade da maternidade. -respondi dando um sorriso cúmplice pra Pietra. Aquele era o fim de um ciclo nas nossas vidas.
Depois desse episódio começamos a procurar advogados para dar início aos trâmites do divórcio e passamos a dormir em quartos separados, era melhor para nós duas. Cada vez mais me surpreendia com o fato da Kathleen lidar bem com toda essa situação da separação, creio que a experiência da amiguinha Patrícia ajudou bastante minha filha nesse processo.
Belíssimo capítulo. agora Vi e Agatha se acertarem.
E que Renan e cia tenha a lição devida.
Beijos
Por favor me diz uma coisa eu acompanhava o conto de anahi e Dulce e não vi mais. Do namoro da filha delas com alice senao me engano o nome da personagem. Sempre ansiosa pra voltar a ler este lindo conto.
A Gi está amadurecendo, mas será mesmo que elas vão se acertar?
Eu lembro dessa história, mas nunca mais vi por aqui e nem tenho notícias da autora. Desculpa não poder ajudar.
Beijos 🙂