FREYA: A RECONSTRUÇÃO

Capítulo 5 – A Cilada da Cilada

Freya: A Reconstrução

Texto: Carolina Bivard

Revisão: Naty Souza e Nefer

Ilustração: Táttah Nascimento


Capítulo 5 – A Cilada da Cilada

— Obrigada, Helga.

— Não me agradeça, Brid. Conversei com o Ministério de Segurança e chegamos a um acordo com a diretoria da clínica. Concordaram em esvaziar este andar, deixando somente Kara e, também, desconectar as câmeras de segurança de todo o caminho médico para a saída. Agora temos que ver como faremos para achar essa mulher e seu comparsa, se é que os dois estão juntos nisso. 

Assim que Helga terminou a frase, dois agentes do Ministério de Segurança saíram do elevador, caminhando em direção à elas. Se aproximaram.

— Boa tarde! Sou o agente Olsson, e este é meu parceiro Barns. 

Estenderam os braços para que a Olaf confirmasse com seu plate a identidade dos dois, fazendo a leitura do chip. 

— É um prazer conhecê-las. O ministro de segurança nos enviou para auxiliarmos no que for preciso. Seremos o contato junto a força tarefa de investigação para prender a alomar que atentou contra a ministra espacial.

— Boa tarde, senhores! Sou a Olaf Helga Hirtor Rodan e essas são a comandante e agente interina Bridget Nícolas e a subcomandante e agente interina Decrux Rodan Hirtor.

— É um prazer, para nós, conhecê-las pessoalmente.

— Agora com as devidas apresentações, podemos montar nosso plano para proteger Kara e pegar essa “corna” que fez isso conosco?

Bridget tinha urgência, bem como a sua paciência começava a se esgotar com tantas trivialidades. Seu espírito beligerante ressurgia com intensidade. Ela começou a pensar que a sua vida clandestina, quando estava no Espaço Delimitado, poderia ser uma vantagem nesse momento premente. Decrux intuía que sua amiga poderia destemperar a qualquer momento e interveio.

— Brid, agora temos uma grande vantagem. Acalme-se. – Olhou para os agentes. – Presumo que vocês sejam alomares. 

— Sim, somos.

Os agentes não se abalaram com a irritação da comandante, pois conheciam a personalidade volátil, descrita nos arquivos da Segurança. Estudaram bastante o histórico de todas. Não se ressentiam por nada, pois fazia parte do trabalho, além do agente Barns admirar imensamente as três mulheres. Ele sofrera muito no Espaço Delimitado, na época do desterro, após a guerra dos planetas independentes, e elas devolveram a sua identidade e lhe deram uma pátria.

— Estamos aqui para apoiá-las no que precisarem, comandante Nícolas, e estamos ao dispor do comando de vocês. – Barns respondeu e continuou. – Precisaremos somente de clareza, pois a força tarefa depende de nossas informações.

— Ótimo! – Brid se posicionou. – A primeira coisa que farão é…  

— Está na escuta, Rurik?

— Alto e claro.

— Ótimo! Fique de prontidão, pois assim que descer com Kara, precisará ser hábil para manobrar o veículo. Tenha certeza de que virão atrás de nós.

Os dois criminosos falavam através de um comunicador auricular e Saga se esgueirou pelo estacionamento médico, pegando o elevador privado dos funcionários. Conhecia a clínica como a palma de sua mão. Assim que Kara fora transportada para lá, esmerou-se em conhecer todas as alas e funcionários. Sendo alomar, ela conseguiu através da vigilância, mimetizar a voz do médico responsável no tratamento da ministra espacial.

— Quinto andar.

Comandou com a voz do médico, para chegar ao andar onde o staff da clínica se reunia, para deliberações ou mesmo descanso. Tinha que se aproximar do doutor Fredrik para tocá-lo. Só assim, poderia se transmutar assumindo a forma dele.

O elevador chegou e ela se espremeu no canto para que, se alguém estivesse passando, não a visse. Tinha que sair às escondidas. Olhou para o corredor e não havia ninguém. Saiu antes que a porta se fechasse novamente e caminhou rápido pelo corredor, até chegar ao vestiário dos médicos. Escondeu-se entre um bloco de armários e aguardou; assim que o médico entrasse, agiria.

Levou um bom tempo para que alguém entrasse. Saga estava impaciente e nervosa, todavia, aquela adrenalina, antes de uma ação, a excitava. Ela gostava de toda aquela energia que corria através dela, antes do ataque. Era como uma droga viciante. Tornava-se mais agressiva, mais forte.

Quem entrou não era o médico chefe, contudo, ela o reconheceu como um membro da equipe do doutor Fredrik que atendia à Kara. Não quis se arriscar mais, pois a cada minuto que passava, Rurik ficava mais exposto no estacionamento dos médicos.

Mexeu num dos armários, ao lado de onde se escondia, para chamar atenção do tal médico.

— Tem alguém aí?

O médico perguntou se aproximando, o que fez com que Saga se espremesse mais no vão que a resguardava. Estava pronta para ele, assim que chegasse mais perto.  

  A sombra refletida no chão atiçou os sentidos da criminosa e ela pulou para fora do abrigo, encarando-o de frente. O médico não teve chances. Saga colocou uma lâmina afiada na garganta dele e o tocou no rosto, para logo em seguida, mover a arma, cortando-o na garganta.

O sangue espirrou e ela viu o médico cair no chão, com os olhos arregalados em pavor. Saga fechou os olhos por segundos, saboreando o êxtase do momento. Passou a mão no rosto para limpar o sangue que espirrara nela e depois abaixou-se para encostar seu braço no da vítima. Havia hackeado seu chip para que ele captasse todas as informações de suas presas.

Estava perto. Bastava somente trocar as roupas pelas limpas do armário dele e ir até o quarto de Kara Lucrétia.

— Está mais tranquila, Brid?

— Nem sabe o quanto, Decrux. 

Saga caminhava tranquilamente nos corredores, agora com a nova identidade. Ela foi diretamente para o corredor onde Kara era tratada. Cumprimentou com um aceno de cabeça, algumas auxiliares de enfermagem que passavam e, quando elas sumiram no elevador, entrou no quarto. Lá estava a sua valiosa ministra.

— As coisas não andam muito bem para você, não é?

Saga perguntou retoricamente, pois Kara estava inconsciente em uma cama que a monitorava e recebia a medicação, através de um tubo intravenoso inserido em seu braço. 

— Não imaginava que precisaria de você depois de liberar seu gene alomar primordial. – Saga fez uma careta. – Se sua esposa metida não tivesse chegado, eu não precisaria estar aqui. Sinto muito… ou melhor, não sinto nada por fazê-la sofrer. – Sorriu maldosa. – Vamos embora. Tenho que aproveitar minha fase de ovulação…

A criminosa colocou um pequeno transmissor sobre o peito de Kara. Foi pega de surpresa. Kara acordou, agarrando seu braço com força. 

— Está presa, Saga Jorn!

A sequestradora se assustou e acionou seu próprio transmissor. Ouviu passos no corredor e, antes que seus captores chegassem, falou para seu comparsa:

— Nos tire daqui. É uma armadilha!

Quando os agentes da segurança chegaram, ainda puderam ver a criminosa e a ministra espacial sumirem no ar como uma neblina que se dispersava.

Bridget entrou na enfermaria da nave e seu olhar estava vago. Duas pessoas que não conhecia se movimentavam para transformar a sala em verdadeiro centro médico. Procurou Kara com o olhar e seus olhos pousaram em uma cama numa área isolada por um campo magnético. Pelo que a equipe da clínica falara, era necessário para que a mantivessem num local totalmente estéril. Andou até o local, como um autômato, parando a poucos centímetros da parede de energia.

— Ela ficará bem, Brid! Os médicos que estão aqui são os melhores que trabalham com transmutação alomar.

Após escutar a Olaf, sentiu-a colocar a mão sobre seu ombro, confortando-a. Em outra época, Bridget se esquivaria do conforto, dada a sua personalidade reticente, quanto a aproximação de pessoas. Ela mudara após conviver com os freynianos. Na maioria das vezes, era um povo alegre e gentil, que se esforçava para melhorar em vista de erros do passado.

— Estou com medo, Helga. Tenho muito medo do que possa acontecer a ela. Ela queria tanto um filho nosso… Apesar de minha reticência inicial, passei a sonhar junto com ela, a desejar a nossa criança. Tudo estava bem… Nosso passado ficou no passado e eu estava feliz em ser somente uma antropóloga. 

— Nós iremos pegar Saga, Brid. E quanto a Kara, conheço-a há muito tempo para saber que ela é obstinada o suficiente para lutar por sua vida e pelo que deseja. A teremos de volta e bem.

Bridget esboçou um pequeno sorriso, observando os traços do rosto da mulher que amava. A tez tão branca… Lembrou-se do dia em que ficara próxima a ela, quando se conheceram. Na época, nunca tinha visto um freyniano tão de perto e se encantou com os traços de seu rosto, característico de sua espécie. A denominou de “anjo azul”, pois a pele parecia ser translúcida, dando-lhe um aspecto ligeiramente azulado. Os cabelos loiros quase brancos, reluziam sob a luz da nave, dando-lhe nuances prata e as orelhas ligeiramente pontiagudas, renderam boas piadas junto a sua amiga Decrux. 

A comandante inspirou fundo.

— Vamos para a ponte planejar nosso próximo passo.

As duas saíram da enfermaria e caminharam pelo corredor. A nave não era pequena. Tinha sido um grande cargueiro na época em que Bridget morava no Espaço Delimitado, porém, seus atributos eram comparados a uma nave de combate, dado o número de armas que a comandante instalara e o design e rapidez, característicos da classe de naves de guerra.

Chegaram à ponte e Olsson as esperava para dar notícias sobre a ação da clínica. Seu rosto não deixava muito para a imaginação.

— Ela escapou de nossa armadilha, não foi? 

A comandante foi direta na pergunta, visto a expressão que leu no rosto do agente.

— E levou Barns com ela. – Falou desanimado.

— Como conseguiu?

Foi a vez de Helga perguntar. Estava decepcionada, pois quando ocorrera o colapso de Kara, tiveram que abandonar o plano original para a captura da criminosa; no entanto, imaginou aquele plano de última hora e tinha certeza de que conseguiriam. 

O agente Olsson se passaria pelo Dr Fredrik e o agente Barns por Kara. Enquanto isso, eles levavam a verdadeira ministra espacial para a nave, juntamente com a equipe médica, e Decrux causaria um blackout no sistema de vídeo-segurança de metade da cidade, para que a criminosa não pudesse monitorar remotamente a cidade, enquanto se dirigia à clínica.

— Não irá gostar do que aconteceu, Olaf. – O agente respondeu receoso.

— Fale logo, homem! Já não estamos gostando porque ela fugiu! – Bridget reclamou.

O agente desviou do olhar da comandante para se fixar no da Olaf.

— T.I.M. …

Helga sentiu uma vertigem e cambaleou até uma das poltronas de pilotagem para se sentar. 

— Olha, não sei do que estão falando e, pelo visto, é bem ruim. Alguém gostaria de me explicar?

Bridget estava impaciente e nervosa com a reação da Olaf. Assustou-se quando Decrux se aglutinou a seu lado. Havia muito tempo que ela não usava esse artifício, mesmo em missões.

— É mais ou menos o que faço. Desaglutino aqui e me aglutino em outro local da nave. T.I.M. é a sigla para Transporte Individual Molecular. Uma tecnologia de transporte que estava sendo desenvolvida por Freya, antes da guerra. – Decrux olhou para a sua esposa. – Essa informação obtive no sistema central do governo. – Ela encolheu os ombros. – Desculpa, invadi dessa vez, mas acho que não irá me culpar. 

— Merda! Merda! Merda!

Bridget exclamou nervosa, encaminhando-se para sua poltrona de comando. Sentou-se. 

— E alguém pode me dizer se essa “porra” de transporte tem longo alcance?

— Não mais que vinte quilômetros e, antes que pergunte, esse tipo de transporte ainda estava sendo estudado no espaço. Embora possa ser feito, as coordenadas espaciais têm que ter exatidão. 

— Decrux, tire os anéis de atracação…

— Brid, o que está fazendo?

— Nos tirando daqui agora! Ou quer que essa louca se transporte para dentro da enfermaria e leve Kara com ela? Você tinha que ter me falado a respeito dessa tecnologia, Helga!

— Não, não tinha, pois era um estudo na época em que fomos destruídos; e era muito novo. Ainda não retomamos todos os nossos estudos e toda a tecnologia que desenvolvemos. Não posso me lembrar de tudo que fazíamos anos atrás. Ou esquece que estamos nos reconstruindo nesse planeta, há tão pouco tempo?

Helga respondeu, irritada. Estava surpresa com a astúcia da criminosa. Parecia-lhe que, em todo o tempo de desterro no Espaço Delimitado, Saga tinha se dedicado a estudar minuciosamente a tecnologia do antigo planeta na busca por vingança.

A comandante não deu ouvidos e ordenou para a sua subcomandante, IA e amiga:

— Preparar para dobra ponto-a-ponto.

— Qual a coordenada? – Decrux perguntou. 

— Jutírea. Você sabe onde, Decrux. – A comandante ordenou.

Decrux olhou para a esposa.

— Se segura…

Em segundos, a nave estava pairando sobre uma área fria e rochosa em uma lua de um planeta no sistema de Ugor. Não estavam muito distantes de Freya, porém, longe o suficiente para que algum sistema de rastreamento pudesse identificar, caso não utilizassem a rede interplanetária. Seria mais difícil Saga hackeá-las, sem ser detectada.  

— Estouramos alguns relés, Brid. E a área da engenharia tinha um foco de incêndio que já extingui. Vou avaliar os estragos.

Decrux desaglutinou, pois sabia que teria que se desculpar apropriadamente com Helga, mas não queria ter aquela conversa na frente de todos. 

— Temos que conversar sobre isso. Você praticamente nos raptou, Brid. 

Helga exibia revolta na voz e na face, porém, quando ficou de pé diante da comandante, abrandou o semblante. Tinha posicionado seu corpo entre Bridget e o agente Olsson, que ainda estava curvado sobre seu tronco, enjoado, após o salto dimensional.

— Desculpe-me, Olaf… Eu previ uma situação de perigo para a ministra espacial, afinal, se a criminosa Saga perceber que não é Kara quem ela raptou, poderia vir até a nave.

A comandante fez um pequeno sinal, ao finalizar as desculpas, para que Helga compreendesse que Bridget havia entendido. A freyniana não precisava dessa confirmação, pois tendo a percepção empática de uma alomar, absorvia o estado de intenções e sentimentos da outra. 

— Vamos até à sala de reuniões e chame a subcomandante. Teremos uma conversinha sobre cadeia de comando e leis.

Ela olhou para o agente Olsson que já se recuperava do impacto que o salto dimensional causara em seu corpo.

— E você fique aqui. Entre em contato com a força-tarefa e comecem a planejar o resgate de Barns…. E se o gabinete do Ministério de Segurança entrar em contato, passe a ligação para a sala de reuniões. Eu tomarei conta disso.

— Sim, senhora Olaf. O agente Barns está com um comunicador auricular intradérmico. Tentaremos entrar em contato com o agente.

— Tome cuidado, Olsson! Esses comunicadores são facilmente rastreáveis e poderão colocar a vida de Barns em perigo.

Bridget o alertou, todavia recebeu um olhar enviesado de Helga.

— Ah… Desculpem me intrometer.

— A sua opinião é uma excelente contribuição, comandante. Opiniões são válidas; Ações têm que ser discutidas. Vamos nos reunir.

Saíram para o corredor em direção à sala de reuniões e permaneceram caladas no trajeto. Assim que entraram, Bridget foi até a sua cadeira, sentou-se e perguntou:

— Como me saí de subalterna-submissa?

— Pode melhorar…

Decrux respondeu, aglutinando-se no meio da sala, rindo debochada.

— Sua opinião não vale. Você sempre quer me sacanear, Decrux.

— Foi bem, Brid. Acho que Olsson engoliu. Lembre-se que ele é alomar e, também tem o mesmo tipo de percepção que eu. Não faria esse teatro se ele não estivesse sob os efeitos do salto dimensional.

A comandante se ajeitou na cadeira. Ficou pensativa durante um tempo.

— Tenho que me acostumar com isso. A única alomar que conhecia era você e não preciso de nenhum artifício para me relacionar. O fato é que se quisermos pegar essa mulher e seu companheiro de loucura, não poderemos ser certinhos o tempo inteiro. Sei que normas são importantes, contudo avisar, a cada momento, todo passo que damos, é sempre um risco dela nos rastrear. 

— Calma. Não perdi minha autoridade e, ao mesmo tempo, não perderemos tempo com os trâmites legais. Não arriscaria a vida de Kara, entretanto, não posso passar por cima dos ministérios. Poderiam questionar a validade de minhas ações. 

— E o que falará para o ministro de segurança?

— A verdade, Brid. Só que agora, esta nave e Kara estarão sob o guarda-chuva da lei de proteção à autoridade federal.

— Existe isso? Como eu não sabia quando era ministra de segurança?

— Porque ainda estávamos elaborando nossa estrutura constitucional.

Helga respondeu e fez um sinal para Decrux colocar a norma interna ministerial numa projeção, o que foi imediatamente reproduzida numa imagem sobre a mesa de reuniões. A subcomandante começou a explanar.

— O artigo vinte e seis das normas ministeriais prevê que, em virtude de perigo iminente, um agente de segurança pode tomar medidas de proteção para uma autoridade governamental sem que tenha aviso prévio de sua ação, tendo que comunicar sua conduta, assim que o risco diminua. E aí vem os parágrafos da lei e blá, blá, blá.  – Decrux explicou.

— E no artigo vinte e sete, prevê a tal proteção à autoridade federal que nos possibilita esconder Kara sem…

— …Interferência ou comunicação com a segurança federal.

Ao escutarem a voz que complementou a fala de Bridget, as três mulheres olharam etadas para a porta.

— Kara? O que está fazendo aqui? – Bridget se levantou indo ao encontro da esposa. – Devia estar sedada e monitorada no centro médico!

— Eu estou bem, Brid. 

A engenheira-médica segurou o rosto da comandante e apertou forte seus lábios contra os dela, para logo depois, abraçá-la comprimindo seus corpos. Parecia sentir a felicidade de Brid como se fosse a sua própria.

O doutor Fredrik e a doutora Kiara entraram na sala esbaforidos. Estavam analisando os exames de Kara, quando perceberam que a ministra espacial não estava mais na enfermaria. Saíram a sua busca por toda a nave.

— Desculpe-nos, Olaf. Ela saiu sem que víssemos. – O médico se explicou. – Por favor, ministra Lucrétia, retorne conosco. Apesar de estabilizada, ainda não definimos a sua condição.

Kara revirou os olhos.

— Eu sei a minha condição. Não sei se é passageiro ou não, mas consigo sentir cada molécula de meu corpo e sei que todas estão nos lugares certos.

— Ih! Tá parecendo comigo quando estou em contato com o sistema da nave… Toma cuidado, daqui a pouco você vai virar uma IA…

Decrux chacoteou a amiga, se aproximando dela. Quando interagia com a nave, a subcomandante e IA conseguia fazer leituras da temperatura, batimentos, pressão e mais algumas variáveis fisiológicas dos passageiros.

— Pela minha checagem, você parece estável. – Falou diretamente para Kara. – Mesmo assim, não há como saber se não descompensará. 

— Você também entende de fisiologia alomar?

A doutora Kiara perguntou, surpresa.  Embora conhecesse a história da esposa da Olaf, não a conhecia pessoalmente até aquela confusão se estabelecer. Sabia que ela era uma IA biológica, criada por um cientista ugoriano para se integrar àquela nave, como uma interface orgânica. Porém, ela era única, pois seu criador a fez de forma a evoluir e se tornar um ser orgânico interativo, um indivíduo.

— Não, ou melhor, não entendia até vocês colocarem essas informações no sistema aqui da minha nave.

Helga sentiu o grau de satisfação na sua esposa, ao responder à médica. Decrux se divertia quando provocava eto nas pessoas. Tentou dissimular o sorriso que anunciou em seus lábios, mas não conseguiu ao ver Kara apertar também os lábios para não rir com a troça da subcomandante. 

 — Também escutei vocês discutindo sobre os milhares de exames que fizeram em mim, e sei que estão etados com a minha evolução. – Kara falou, para voltar à conversa anterior. – Como disse, estou bem e quero participar do planejamento de captura de minha agressora. Prometo que se perceber que algo está diferente em meu estado, retorno para o centro médico imediatamente.

Bridget escutava a tudo, sem participar da conversa. Estava feliz por ver que Kara estava bem, porém conhecia-a o suficiente para saber que se ela desestabilizasse, seria teimosa a ponto de nada falar. A comandante iria intervir, quando a engenheira-médica se voltou para ela de chofre.

— Eu prometo, Brid. Não me mande de volta para a cama.

Bridget semicerrou os olhos, contrariada, mas cedeu ao pedido.

— Está bem, mas Helga estará responsável por saber se você fala a verdade. Se estiver sentindo algo e ela ver que está mentindo, voltará para o centro médico e só sairá de lá quando os doutores liberarem. E não me teste, Kara, que não irei ceder.

— Está bem, eu prometo.

Helga fez um sinal afirmativo para tranquilizar a comandante e se voltou para os médicos.

— Monitoraremos a ministra. A não ser que precisem colher mais material e fazer novos exames.

— Precisaremos sim, mas não no momento. – Doutor Fredrik respondeu.

— Para ser mais justo, gostaria que ela colocasse um monitor fisiológico egresso para conseguirmos monitorá-la, constantemente. Não é só a questão dela estar bem e, sim, entender o que está ocorrendo e como as mudanças se comportarão.

A doutora Kiara foi pragmática, despertando a atenção de Bridget e revoltando a ministra espacial.

— Então, ela usará o tal monitor. Não é, meu amor?

A comandante olhou diretamente para a esposa, que balançou a cabeça afirmativamente. Via-se que estava contrariada.

— Retornarei com o monitor.

Os médicos saíram; Bridget se aproximou de Kara e a envolveu num abraço forte e terno.  A revolução de sentimentos oriundos da comandante abalou a ministra. Eram tão intensos, quanto contraditórios. O medo se misturava ao alívio, o amor ao desespero.

Tentou se apartar um pouco, pois sabia que se descompensasse a levariam para a enfermaria, onde teria que passar o restante do tempo. Não sabia muito bem o que acontecia com um alomar, quando absorvia aquela carga de percepções das pessoas. Suas células estavam em um reboliço. Parecia que aquecia por dentro e de repente, sentiu que perdia o controle, outra vez.  


Nota: Oi! Pessoal, hoje me enrolei. Vou responder os coments do outro post até o fim de semana, ok? Sabem que sempre respondo no dia que posto, mas dessa vez não deu. 

Boa semana a tod@s!



Notas:



O que achou deste história?

8 Respostas para Capítulo 5 – A Cilada da Cilada

  1. Saga é cruel! Sinto que Barns está em perigo. E que bom que Helga sempre tem uma carta na manga, para protegê-las no que diz respeito a leis.
    Kara precisa se manter firme, quem sabe ela também, por ser médica, não possa auxiliar em descobertas para sua própria cura… Decrux também poderia dar uma mãozinha já que gostou de exibir seus mais novos conhecimentos. rsrs

    Beijo, Carol!!!

  2. Tô quase entrando na história para dar uns bofetes nesta Saga! Por que psicopatas são
    tão inteligentes!!??
    E Kara tem que aprender a ter paciência senão vai ficar doida! Sossega menina!

  3. Show. A tal da Saga é uma saga mesmo de maldade. Kara e Brid muito bom. Decrux e Helga se complementam total.

    • Oiee,!!TD bem?? Sua esposa?
      Muito bom!!!
      Kara teimosa, agora já deve ter se descompensado …absorveu todos os sentimentos de Brid de uma vez e sem ter treinamento pra bloquear..
      Saga, tá totalmente desequilibrada e n é só pela vingança, misturou os dois. Só espero que esse compa dela seja esperto pq ela só tá usando.. bestão!
      Morreu o outro, coitado! Tem q prestar mais atenção q a mulher essa é boa em TD..sabe se infiltrar MT bem!
      Quando Kara vai dizer pro povo o q passou realmente?!!
      Beijão

  4. Carol,

    Espetacular…

    Curiosidade nível 10. Impaciência nível 1.000.

    Tá mto mais q bom… k k k

    Parabéns,

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