Os Estranhos Casos de Evernood e Blindwar
Décimo Caso: Ex-Espiões Não Existem – Parte 2
Texto: Carolina Bivard
Revisão: Naty Souza e Nefer
Ilustração: Táttah Nascimento
No episódio anterior…
Margareth sorriu. Já se acostumara a chamar Edwin pelo primeiro nome quando estavam em uma investigação.
— Então me atualizem, pois todos esses trâmites cansativos para me enquadrar nessa investigação, não me permitiram saber de muita coisa.
— Posso lhe antecipar que a ação da Agência em se afastar do caso, não é somente burocracia governamental. – Evernood explicou. – A inteligência não se importa se Durga Quazi será resgatada viva. Só querem confundir o pai dela, para que ele ache que estão fazendo tudo ao alcance, sem interferir no julgamento dele, quanto a aliança do contato com o tal congressista.
— Você quer dizer que se ela for resgatada viva ou morta, tanto faz para a Inteligência?
— Exato. – Evernood declarou. – Veja o que conseguimos até agora e que se alinha com os documentos que você trouxe…
Parte 2 –
Os documentos apontavam apenas uma das facções extremistas. Eles não atuavam somente no país. Tinham braços espalhados pelo continente.
— Tudo que levantei, hoje pela manhã, me indicou que Durga Quazi não está mais em nosso solo. Foi levada através das docas. A essa hora já está atracando do outro lado e não sabemos para onde pretendem levá-la.
— Não podia ser mais fácil?
Margareth exortou, vendo as investigações da Inteligência, juntando com as informações que Edwin lhe passara.
— O fato é que está fácil demais, Meg. – Evernood respondeu, ainda atenta aos documentos. – A Inteligência deu tudo de mão beijada para nós. Veja este relatório de rastreamento deles.
Elizabeth entregou na mão da namorada, esperando que ela interpretasse da mesma forma que havia feito. Margareth leu o relatório, atentamente.
— Esse relatório praticamente dá as direções do grupo “White Power”!
Evernood somente acenou com a cabeça. O semblante sério demonstrava o quanto estava preocupada com aquelas informações.
— Acha que estão nos mandando para uma cilada, Beth? Sabem que temos a Proteção Mater. Algo nos acontecendo, a Coroa irá investigar.
— Desta vez, não acho que estão nos mandando para uma cilada. Apenas acredito que eles não se importam com o que nos aconteça. Estão numa situação delicada. Para mim, eles assumiram a proteção da família Quazi por conta de seus próprios interesses, sem submissão ao parlamento e perderam a filha de Raj. Essa não é uma missão autorizada e se eles entrassem no jogo agora, apontaria para uma insubordinação.
— Então, eles não têm autonomia para uma missão?
— Sim, têm. Porém estão ligados ao conselho de justiça. Assim que iniciam uma nova incursão, devem se reportar ao conselho e este, deliberará se pode ou não continuar com a missão. Se não fizeram, por decisão de algum coordenador, que acredita estar acima de “demandas… – Elizabeth fez o gesto de aspas com os dedos – …burocráticas”, estão em apuros, se algo sair errado.
— Ou seja, nos colocar na linha de frente, qualquer coisa que aconteça, livrará a cara da Agência.
— Que bom que agora está entendendo como a Inteligência trabalha, Meg.
Evernood tinha uma expressão entre a raiva e o escárnio, ao responder à namorada.
— Já repararam onde as células dos extremistas atuam?
Elizabeth perguntou aos dois companheiros de investigação e ambos pousaram o olhar sobre o relatório que Evernood mostrava.
— São quatro os países em que eles atuam, declaradamente.
— Exato, Edwin. Agora me digam por que Eha e Portugal estão neste relatório se não têm grupos partidários atuantes lá e nem fazem ações nesses países?
— Pode ser que sejam locais de fuga e esconderijo, Beth.
— Certamente, Meg. Por isso a Agência quis nos dar esse relatório. Queriam se certificar que não demorássemos com averiguações desnecessárias.
— E o que faremos? Seguiremos para esses lugares?
— Sinceramente, Meg, pouco me importa se a Agência está nos dando de bandeja, ou qual seja o interesse deles. Fui contratada para trazer essa garota de volta e é o que farei. Se teremos o apoio da Agência, melhor.
— Vamos nos dividir. – Edwin falou. – Vou para a Eha; e vocês duas para Portugal. Não quero usar os contatos da Agência para nos comunicar.
— Não usaremos, Edwin. Eu me certifiquei de que eles ressarcissem nossas despesas.
— O que isso quer dizer? – Margareth questionou.
— Que não vamos utilizar os contatos da Agência. Será mais seguro para nós se usarmos nossa própria rede de contatos. Ainda não estou completamente convencida das ações da Inteligência. Tudo com eles é dúbio, Meg. Antes de mais nada, tenho que preservar a nossa integridade.
— E agora? – Margareth perguntou um pouco atônita. – Iremos por conta própria, sem qualquer contato com a Agência?
— Me diga você, Meg. O caso, oficialmente, é seu.
Evernood deixou a resolução nas mãos da namorada.
— Jesus! Odeio o mar quando está revolto e ainda por cima pegamos barco duas vezes, hoje.
— A travessia do rio não foi tão ruim, Meg.
— Acha que despistamos a Agência, Beth?
— Ainda não. Deve ter alguém da Inteligência na nossa cola. Entretanto, devem achar que vamos de trem.
— E não vamos?
Evernood sorriu de lado.
— Vamos de carro, nesta primeira etapa. Será nosso seguro para despistá-los. Com certeza, estão nos vigiando.
Elizabeth não havia apresentado Margareth à maioria dos contatos que tinha. Quando voltasse, colocaria a namorada em conexão com seus conhecidos e a ensinaria os seus códigos. Algo lhe dizia que a Agência, após estabelecer esta primeira associação com os superiores de Margareth, não a deixariam mais em paz. Sempre que pudessem, a acionariam para alguma investigação.
A primeira alfândega pela qual passaram foi tranquila. Margareth ainda se acostumava a usar vários passaportes com nomes diferentes. Além dos agentes, elas não poderiam arriscar que membros do grupo White Power detectassem que detetives estariam na rota para o esconderijo deles. Era um grupo extremista bem organizado e, certamente, já sabiam que a Agência teria colocado alguém atrás deles, mesmo que não tivessem certeza de quem era.
— Graças a Deus que pegamos um trem. Já estava dolorida por andar de carro tanto tempo.
— É a penúltima etapa, Meg. Não vamos entrar em Portugal de trem. Pegaremos um carro novamente, então aproveite para dormir. Edwin chegará na cidade ehola, célula dos extremistas, antes de nós na nossa cidade em Portugal.
— Como faremos para falar com ele?
— Ele que fará o primeiro contato, através de telegrama. Deveremos ir ao posto de correio para saber se enviou algo. Meu contato nos colocou numa casa com telefone; e a casa que ele ficará, também terá. Será assim que nos comunicaremos. Ele passará pelo telegrama o número de telefone da casa em que ficará. Telefones são seguros, mesmo quando temos que fazer ligação através de telefonistas, por ser em outro país.
O tempo do sequestro passara de 48 horas, entretanto os extremistas haviam levado o mesmo tempo que as detetives para chegarem ao cativeiro. Edwin tinha entrado em contato, porém ainda investigava se a refém se encontrava no esconderijo ehol. As duas detetives estavam, da mesma forma, empenhadas em descobrir se era para a cidade de Guimarães que o grupo “White Power” havia levado a garota.
A cidade nada mais era do que três ruas principais, com algumas poucas adjacentes, uma ruína de castelo medieval e um vasto território de quintas e fazendas. Alguns desses locais eram próximos à cidade e outros, além de distantes, eram escondidos entre montes, florestas e vales.
Estavam expostas, pois ficaram numa das ruelas da cidade e não havia muito onde se esconderem. Todos sabiam quando alguém novo chegava.
— Não vamos voltar para a casa, Meg.
— Seu contato ligou de volta, Beth? Desculpe se ontem, quando chegamos, sucumbi ao sono. Estava muito cansada da viagem.
— Não tem importância. Hoje, vamos direto para a casa da quinta que consegui negociar e já passei o endereço para Edwin. Ela é longe da cidade e fica isolada. Cidades pequenas demais me apavoram, pois não conseguimos nos esconder direito.
As duas conversavam, enquanto observavam, ao longe, a movimentação da casa feita em pedras na velha quinta, em que, supostamente, era o abrigo do grupo. Passaram o dia todo escondidas em tocaia; e a hora avançava. Eram oito e trinta da noite e o sol começava a se pôr. Em breve, a luminosidade naquelas paragens não existiria e Margareth temia que não conseguissem mais observar. Não havia tido nenhum movimento do lado de fora da casa, até aquele momento.
— Será que esse não é o local, Beth?
— Este é o local correto, Meg. Não estou me pautando somente no que a Agência nos deu. Chequei com meu pessoal também. Os sequestradores chegaram ontem à tarde como nós e não devem querer chamar atenção da vizinhança.
— Aqui é ermo. Como chamariam a atenção da vizinhança?
— Acredite-me, Meg, em cidades como essa, todos se conhecem. Se alguém passar por aqui, por ser caminho para outro lugar e ver movimento numa casa fechada, a cidade inteira comentará.
— Por isso, saímos da casa da cidade às escondidas. – Margareth deduziu. – Olhe, acenderam uma luminária dentro da casa.
— Ótimo! Vamos nos aproximar. Agora conseguiremos ver o que tem dentro sem nos expor.
As duas empunharam suas pistolas e tentavam se aproximar com o máximo de silêncio. Chegaram à uma janela, posicionando-se uma em cada lado, e se abaixaram. Começaram a ver o interior do que parecia ser a sala da casa. Havia um sofá em couro, uma mesa em madeira de oito lugares ou mais e umas poucas cadeiras. Haviam armas sobre a mesa e outros equipamentos, que pareciam ser para fazer explosivos.
Um homem entrou na sala e as duas detetives recuaram, pois ele havia olhado diretamente para a janela. Se entreolharam e Evernood fez um sinal para que a namorada permanecesse onde estava, para logo em seguida, espichar-se para observar, outra vez, a sala. O homem estava debruçado sobre a mesa, desmontando as armas, limpando-as. Um outro indivíduo entrou.
— Merda! Fomos nós que conseguimos a garota e agora estamos aqui, presos nessa cidade.
— Não reclama, Jones. A gente sabia o nosso papel na luta. O grupo precisa de tempo e logo teremos o dinheiro para pagar tudo. Me ajuda com as armas.
O tal do Jones desfez a carranca e sorriu cínico, se aproximando da mesa para auxiliar o amigo.
— Um dia, eles verão o que nossos atos representam. Temos que nos proteger, Floyd. Nossas terras estão sendo invadidas por porcos e nossos empregos dados a forasteiros imundos.
— Acha mesmo que Dean pensa como nós? – O homem riu, debochado. – Ele só pensa em ser o líder. Você é muito ingênuo, Jones. Por que acha que somos nós a estar aqui arrumando as armas e não estamos na linha de frente? O que roubamos, durante o último ano, já daria para pagar as tais armas misteriosas e os mercenários que atacariam o congresso.
— Do que está falando, Floyd?
O homem que havia entrado depois na sala, parou o que fazia para interpelar o amigo, encarando-o de frente. O tal do Floyd o fitou, descrente de que ele não entendia.
— Estou falando que nós não fomos incluídos nos últimos assaltos, pois questionamos o valor que Dean nos disse termos arrecadados. O que acha que é isso? Nosso líder questionou a nossa confiança e nos colocou nessa posição de retaguarda. Quanto você acredita que roubamos, até agora? Pense um pouco e compare com o que poderíamos fazer com esse dinheiro todo?
— Você está dizendo que Dean nos tirou do roubo do Porto, por que quer esconder a quantia que o grupo vai roubar?
— Não estou dizendo nada, Jones. Se falar para o comando que falei isso, tenha certeza de que acreditarão mais em mim do que em você. Essa conversa para por aqui.
Evernood recuou e fez um sinal para saírem, fazendo Blindwar estranhar. A detetive de polícia não questionou, seguindo a namorada numa retirada. Um barulho estalado de galho se ouviu. As duas detetives se apressaram para se esconderem. Asilaram-se atrás de um monte de lenha, empilhado ao lado da casa.
Os dois homens saíram de armas em punho para verificar o barulho. Estava muito escuro, contudo não demorou para que os olhos se acostumassem. Aquela noite não era de lua cheia, porém o céu estava limpo e cheio de estrelas. Os dois avançaram um pouco, na tentativa de observar melhor a mata ao redor. Ouviram um barulho em um arbusto e se voltaram com as armas apontadas. Um pequeno animal, que parecia ser uma lebre, fugiu assustado.
— Essa coisa de sermos somente dois aqui, me enerva. – Jones falou. – Qualquer barulho desses animais a gente já acha que estão nos vigiando.
— É. Eu não gosto dessa coisa de sairmos juntos para averiguar. Se tivesse mesmo alguém, nós dois poderíamos ser pegos desprevenidos.
O homem chamado Floyd respondeu, guardando a arma no cós. Pegou um cigarro e o acendeu. Puxou fundo a fumaça e exalou para o alto, como se estivesse relaxando ao ar livre.
— O que está fazendo? Vamos entrar, Floyd. Não devemos ficar aqui fora. Podemos ser vistos.
— Quem, às nove horas da noite, passaria por aqui, Jones? A trilha mais próxima está a três quilômetros da casa. Ninguém, a esta hora leva cabras para pastar. Relaxa. Ainda não compreendo por que não deixaram a garota com a gente. Este lugar, certamente, é melhor esconderijo do que qualquer outro que temos.
— Por acaso, não se lembra o que fez quando tivemos uma garota de refém?
— Ah, aquela garota da outra vez não era refém, era uma isca. Nós não íamos deixá-la viva. Por que tanto drama com o que eu fiz?
— Acha que deixaremos a filha de Raj viva? Este não é o caso, Floyd. O problema é que você não segue normas. O grupo não quer que sejamos vistos como terroristas sem ideais.
— E o seu problema é que acredita, cegamente, no que Dean fala. Deixe de ser estúpido. Com tudo o que temos, já poderíamos ter matado todos os congressistas molengas, que deixam essa gente imunda acabar com os nossos empregos e destruir as nossas famílias. Mas, não! Continuamos roubando bancos por aí, tendo que nos esconder, enquanto a polícia chega, cada vez mais, perto de nós.
— Você está perdendo a cabeça, Floyd. Nossa função agora é dar a cobertura para o roubo do banco na cidade do Porto. Temos que ter essas armas prontas para daqui a dois dias. Vamos.
O homem mais jovem se virou, caminhando de volta para a casa, enquanto o outro jogava o cigarro no chão, apagando-o com uma pisada. Olhou à volta como se procurasse algo para depois seguir o companheiro.
— Conseguiu tomar banho?
Elizabeth perguntou, quando a namorada entrou na cozinha de roupa trocada e cabelos úmidos.
— Bom, ter que encher uma banheira com água fervida, não era meu ideal de relaxamento, mas me sinto bem melhor. Só me entristeci que minha calça rasgou naquele espinheiro, quando retornamos para o carro.
Evernood riu ao escutar a detetive de polícia. Gostava da vaidade dela, todavia se incomodava com a quantidade de roupas que ela trazia em uma missão.
— Você ainda tem duas calças. Quando voltarmos, dou a você outra de presente.
— Está falando isso para que eu não brigue com você?
— E por que você brigaria comigo?
Elizabeth perguntou, cínica, enquanto terminava de temperar uma lebre para logo depois, colocar a assadeira com a iguaria no forno.
— Porque me fez tirar metade de minha roupa da bagagem. Estou quase sem o que vestir.
Margareth respondeu, um tanto transtornada, mostrando com um gesto das mãos, o vestido simples que colocara. Reparou numa sacola no canto da porta, com manchas de sangue. Sabia que o couro da lebre estava ali dentro. Tomou banho primeiro, pois se recusou a matar o pequeno animal e esfolá-lo.
— Você tinha que caçar a lebre? Aqui tem uma despensa com carnes defumadas, grãos e batatas. Podíamos ter feito um guisado.
— Não sabíamos o que tinha aqui até chegarmos, Meg. Você só está chateada porque rasgou a calça e eu não a deixei trazer seu “guarda-roupas” inteiro na mala.
Evernood retirou o avental, deixando-o sobre a mesa. Beijou rapidamente a namorada, saindo da cozinha para se banhar.
Após tomar banho, Evernood foi até à sala, pois não encontrou Margareth na cozinha. Encontrou-a analisando documentos da Inteligência que haviam levado. Meg apenas elevou o olhar momentaneamente e voltou a observar a documentação.
— A Inteligência é realmente tudo que diz ser, Beth. Eles sabiam que o White Power eram os assaltantes de banco. Veja todos os locais em que a Agência mapeou ações do grupo. – Estendeu o documento para Elizabeth ver.
— Está etada com a ação deles? – Evernood respondeu, analisando o documento. – Nos colocaram nessa história porque, além de estarem numa missão não autorizada pela “Comissão de Segurança”, descobriram fatos que eram de competência da “Segurança Federal”.
— Não poderiam explicar para a “Comissão” o porquê de investigarem este assunto… – Blindwar conjecturou. – O que faremos agora? Não sabemos onde está a garota, não temos mais contato com Edwin e sabemos que haverá um roubo em um banco, na cidade do Porto.
— Não se preocupe com Edwin. Ele afirmou que estaria aqui amanhã, a menina estando lá na Eha ou não. Quanto ao roubo do banco, acredito que Dashwood ou Reynold receberão um telefonema anônimo. – Evernood gargalhou.
Blindwar enrugou o cenho para, logo depois, entender o que sua namorada insinuava. Gargalhou junto com ela.
— Você não quer dar essa vitória para a Agência, não é? Uma denúncia anônima fará com que a “Segurança Federal” investigue ações na cidade do Porto e nos libera para continuarmos procurando Durga Quazi.
— A Inteligência, apesar da importância que tem no sistema, não consegue controlar a “Comissão de Justiça”. A Agência sempre quer fazer tudo nas sombras.
— Não querem dar esse mérito para outro gabinete de justiça…
— O problema, Meg, é que não precisariam dar créditos a outros, se trabalhassem conforme as leis e regras. Se tivessem submetido a proteção da família Quazi à “Comissão”, teriam esbarrado com os assaltantes do roubo aos bancos e não precisariam nos contratar. Fariam tudo, legalmente.
— Será que fazem essa confusão toda porque temem que os comissários possam ser corruptos ou tendenciosos?
— A “Comissão de Segurança” não é escolhida por congressistas ou por indicação de governo. Não podemos dizer que são tendenciosos, pois são votados por quem trabalha na Segurança Federal e por todos os agentes da Inteligência.
— Então, a Agência realmente quer burlar as normas e, dessa vez, não foi muito bem com isso.
Margareth analisava o que Elizabeth falara.
— O caso é que fomos contatadas para levar Durga Quazi de volta, em segurança, e pretendo fazer isso, Meg. Que a Segurança Federal se vire com o assalto ao banco e que eu consiga a remuneração que tratei com a Inteligência. – Sorriu – Amo tirar dinheiro da Agência. – Evernood gargalhou.
— Mas ainda não sabemos onde a garota está… Bom, teremos que ir para a cidade do Porto. Pelo visto, o tal Dean, chefe do grupo extremista, não confiou a garota para a vigilância desses dois que estão aqui.
— Concordo, Meg. Partiremos pela manhã e, se Edwin ainda não tiver chegado, deixaremos uma mensagem. Ele poderá nos encontrar na cidade do Porto, mais tarde.
— E se ele estiver com a garota?
— Assim que ele nos encontrar ou nos contatar, voltaremos e deixaremos o roubo do banco para trás, bem como como os extremistas. Sei que não é de sua índole, Meg, mas não há outro jeito de sairmos, sem maiores implicações com a Agência.
— Se conheço um pouco de você, já está maquinando algo para a Agência não levar créditos por nada que conseguirmos.
Evernood sorriu para a namorada, abraçando-a pela cintura. Beijou seus lábios, ternamente.
— Não sabe o quanto eu te amo…
— Eu sei, sim. Eu sinto aqui…
Blindwar pegou a mão de Evernood e colocou colada no peito, na direção de seu coração.
— … Espero que sinta como eu.
A emoção tomou a ex-agente, fazendo-a beijar a detetive de polícia, com urgência. A amava tanto, que doía pensar que a levara para o mundo sombrio que descobrira na guerra. Se atentou muito cedo que os governos sempre mentiam em algo e os valores, muitas vezes, estavam ligados ao poder.
Elizabeth tocou a cintura da amada, ainda beijando-a com ardor. Margareth se arrepiou, por inteiro, diante de tanto querer que reparava nos gestos da ex-espiã.
Deixou-se levar pelo apelo apaixonado. Evernood foi aos poucos conduzindo a namorada para próximo a uma cadeira. Sentou-se, observando a detetive de polícia de pé, em frente a ela.
— Tira para mim…
Aquele pedido e o local onde estavam, fez Margareth corar. Embora já tivesse experimentado várias coisas deliciosas na cama com a ex-espiã, nunca haviam deixado a segurança do quarto na hora de fazer amor. Sentia-se exposta, contudo, também experimentava um frenesi desconhecido. Algo que atiçava profundamente a chama de sua paixão.
A princípio, começou a se despir tímida, no entanto, foi surpreendida com as mãos de sua amada a acariciarem suas coxas, por baixo do vestido, chegando aos seus glúteos, apertando-os entre os dedos. Margareth não resistiu à sensualidade e ao toque, e, gemeu interrompendo momentaneamente o ato de abrir os botões de seu vestido. Pretendo abrir os primeiros e deixar que o vestido resvalasse por seu corpo, o que naquele momento tornou-se impossível fazer.
Evernood carecia tocar aquela linda mulher, pois fora impedida pelas semanas em que as afastaram. Precisava senti-la e não poupou seus desejos. Resvalou sua mão para a intimidade, que mesmo através da roupa íntima, pôde sentir a umidade. Foi sua vez de gemer, aumentando o coro de sons que poderiam ser escutados por toda a sala. Levantou-se de súbito, auxiliando a namorada a retirar as vestes.
Já despida, Margareth tomada pela excitação, deixou-se acomodar nobre as coxas da amada, que voltara a se sentar. Evernood beijou os seios desnudos que ficaram na linha de seus olhos, acariciando as laterais do corpo, desencadeando o ondular dos quadris da namorada sobre sua pelve.
Os corpos estreitavam o contato com afã, levando Elizabeth ao delírio, por ver sua amante/amada entregue. Acariciou sua intimidade com urgência, para logo depois, satisfazê-la em seu desejo. O gotejar do amor não demorou a derramar em seus dígitos e os corpos serenaram sob fortes ofegos. Os lábios se apertaram num carinho gentil e amoroso.
A madrugada já avançava, quando Margareth acordou sem sentir o corpo da namorada ao seu lado. A casa não tinha luz elétrica, e haviam reduzido a luz da lamparina acesa, no canto do quarto, para que pudessem dormir. Pegou sua pistola sob o travesseiro, levantando-se. Após desperta completamente, escutou um rangido de porta no piso de baixo.
Caminhou lentamente para o corredor e, ao chegar ao vão da escada, escutou um estrondo, como se uma saca de batatas batesse contra a madeira do piso.
— Pare, Beth! Sou eu, Edwin!
Margareth, ao ouvir a voz do amigo, relaxou. O piso inferior da casa estava na completa escuridão, entretanto elas haviam deixado uma lamparina no corredor da parte de cima, também com a iluminação baixa. Pegou-a, e desceu os degraus em direção à sala.
— Você falou que chegaria amanhã, somente. Escutei barulhos do lado de fora, queria que eu fizesse o quê?
A voz de Evernood irritada, por ter se assustado com a chegada do amigo, fez Margareth sorrir. Pensava que os dois estavam sempre de prontidão para um ataque iminente.
Como ela acordou com barulhos? Será que durmo tão profundamente?
A detetive de polícia se perguntava intimamente, no momento em que chegava à sala e via os dois se levantarem do chão. Evernood vestia somente ceroula e bata e Edwin retirou seu trench coat, cobrindo gentilmente o corpo da amiga.
— Desculpem-me, porém não vi necessidade de ficar em Vigo, quando percebi que Durga Quazi não estava lá. Por sorte, um comboio saía para Braga. De lá, peguei um automóvel para cá.
— Como conseguiu um automóvel em Braga?
— Quando cheguei a Vigo, telefonei para o meu contato no Porto. Ele arranjou tudo. Mas isso não importa, agora. Resolvi vir de imediato porque vão assaltar o banco do Porto.
— Também descobrimos isto, Edwin. – Elizabeth respondeu mais calma. – Está com fome? Sobrou um assado com batatas do nosso jantar.
— Estou com muita fome. Me apressei para chegar aqui e não comi nada desde ontem na hora do almoço.
— Estamos correndo contra o tempo, meu amigo.
A conversa pareceria casual se não fosse pela expressão carrancuda no rosto do amigo. Ele foi em direção ao que achava ser a cozinha, seguido pelas duas detetives. Abriu o forno e retirou a travessa de barro em que o restante do assado estava. Elizabeth já colocava um prato e talheres sobre a mesa para que se servisse, esperando que ele se aquietasse para que, enfim, contasse o restante do que descobrira.
— Eles vão usar a garota como escudo no assalto ao banco. Querem executar a filha de Raj Quazi, durante o assalto, para mandar uma mensagem aos governos.
Edwin soltou a notícia, colocando um pouco de carne com batata na boca. Mastigou com gosto. Parecia cansado, como se não tivesse dormido desde que saíra de casa.
— Bosta! – Elizabeth expressou, contrariada. – Eu ficava me perguntando por que sequestraram a garota, justo agora. Ela já vive em nosso território, há pelo menos dois anos, e quando descobrimos que eles estavam por trás do assalto aos bancos, esse sequestro não se encaixava na história.
— Agora se encaixa.
Edwin respondeu, colocando outra porção de comida na boca.
— Calma. Temos dois dias para recuperar Durga e não nos metermos nessa confusão da Agência. Tem mais alguma informação sobre ela, John?
— Não muito. Sei somente que ela está no local onde os extremistas estão escondidos na cidade do Porto. Não descobri onde é, Meg.
— Termine de comer e vá dormir um pouco, Edwin. Estamos no primeiro quarto do piso superior e tem outro logo após com uma cama. As instalações não são muito boas, mas dá para descansarmos.
— Não preciso de muito. Só quero dormir um pouco.
Notas: Hoje teremos alguns esclarecimentos a respeito da cronologia de artefatos que aparecem na história.
1 – O telefone foi inventado no final do século XIX, todavia ele não demorou a evoluir e ganhar o mundo. (assim como o celular, rs ) Em 1919, foi inventado o telefone com disco (um disco com números no próprio aparelho doméstico), permitindo que as ligações locais fossem feitas sem o auxílio da telefonista. Ligações para outras cidades ou outros países, eram feitas via telefonista. O tempo de espera para uma ligação desse porte levava cerca de 40 minutos para completar, e quando era entre países poderia levar até mais tempo. No entanto, o telefone já havia se espalhado pelas casas de pessoas com mais posses.
Deixarei um link em que poderão ver a evolução do telefone entre os anos 20 e 30 do século passado.
http://mundotentacular.blogspot.com/2011/11/fazendo-ligacoes-telefones-nos-anos-20.html
2 – Ainda estou sem internet. A minha operadora não resolveu a pane do sistema de minha região. ” Me sentindo de saco cheio!”
Beijos!!!
Chupa Ian Fleming!Emocionante, pena a doutora não estar dando uma força ao Edwin rsrsrsrs. As agências governamentais, parece que já nasceram desconfiando uma das outras né!Até na eminência de ataques terroristas não compartilham, querem sempre os louros. Torcendo pelo resgate limpo, baseado na inteligência de nossos heróis. (o Edwin faz parte do triunvirato) kkk
Bjs
Calma, Ione! Não me compare, pois ainda não recebo royalties e não ganho dinheiro. kkkk Fora que Ian é muito bom! Quando crescer, quero ser como esses tantos escritores. Ian Fleming, Agatha Christie, Marion Zimmer Bradley, Sarah J Maas… Ô sonho dourado!!! rsrsrsrs
Mas agradeço muito pelo elogio. Meu coraçãozinho se infla, sabia?
Nesse a doutora ficou de fora, mas ela volta e Edwin ficará mega feliz. rsrs
Como disse para a Nádia, uma leitora, as Agências já nasceram na politicagem. É uma triste realidade desde o começo…
Simmm! Edwin faz parte de um triunvirato! rsrs
Muito obrigada pelo carinho de sempre Ione, e não esqueci de você e os texto. As duas últimas semana estão intensas. Fiquei sem internet, meu cunhado está internado com certo perigo de vida… Enfim. Mas não esqueci, ok?
Um beijo grande!!!
Sempre muito bom o enredo e a sintonia dos personagens.
Oi, Carla!
E sempre é muito bom ter você por aqui!
Agradeço o carinho de sempre e um bom final de semana!
Beijo grande!
Uau,
São mtas informações.
Essa rivalidade entre agencias q usam as pessoas
não se importando com o q possa acontecer com vidas
a seu redor é revoltante, assim eu entendo nossas
heroínas. Edwin como sempre se mostra como um porto
seguro devido à amizade partilhada. É mto bom ter
amigos nessas hrs.
Aguardando o próximo cap. ansiosamente.
Bjs,
Oi, Nádia!
Pois é. Infelizmente essa rivalidade existe por conta de quem quer ter mais poder. A gente anda vendo muito isso por aqui. ABIN… Polícia Federal… A politicagem existe desde tempos imemoriais e o ser humano ainda não aprendeu que cooperação é o que impulsiona tudo. Ainda bem que Evernood e Edwin compreendem isso muito bem. rs
Edwin é aquele cara em que a honra para com seus parceiro é tudo. Não se engane. Ele mataria por Evernood, mesmo que ela estivesse errada. rs No entanto, na cabeça dele, se ela errar será por um engano e isso não o afetaria. 😉
Obrigada pelo comentário e pelo carinho, Nádia!
Um belo fim de semana e um grande beijo!