Caminhos em Dias de Luz

Capítulo 25 — Incertezas

Caminhos em Dias de Luz

Texto: Carolina Bivard

carolinabivard@gmail.com

Revisão: Nefer

Ilustração: Táttah Nascimento


 

Capítulo 25 — Incertezas

 

Um mês depois…

— Tudo bem, Laura?

Amalie abraçou a amiga. Estava no cemitério, acompanhada de Ronan, Castelão, Arrais, Amino, Lúcia e Naomi.

— Nunca pensei que fosse enterrar minha mãe, novamente…

— Já saíram os resultados dos exames?

— Já. Do dia em que exumaram o corpo, só precisaram de dez dias para achar as várias substâncias que levaram minha mãe à insanidade. Ele utilizava substâncias alucinógenas que a induziam a surtos psicóticos e a paranoia. O mais incrível de tudo é que ele não conseguiu nem esperar que ela tivesse uma crise paranoica tal que ela mesma se suicidasse. – Laura suspirou desanimada. – Os exames apontaram para homicídio. Ela foi atacada com um objeto cilíndrico. Nas buscas, encontraram uma barra de ferro ainda suja de sangue, no fundo do closet de seu quarto. Ele era tão seguro de que nada aconteceria, que nem se deu ao trabalho de se livrar da barra. 

Amalie continuou com seu braço por sobre os ombros de Laura. 

— Ele não poderá mais fazer nada a ninguém. Vamos embora. Eu te levo para casa.

Laura suspirou e se voltou para sair. Naomi e Lúcia vieram cumprimentá-la. Elas haviam praticamente arranjado tudo para que Laura soubesse a verdadeira causa da morte da mãe.

— Vai voltar a trabalhar na LH?

— Vou sim, Lúcia. Já está tudo arranjado. Amalie assumiu o lugar do Serrão como diretora comercial; com o cargo dela vago, o Sr. Arrais me ofereceu a cadeira dela na direção. Entrei com uma participação nas ações. A única coisa que não está sendo mexida em relação às empresas da minha família é a herança de minha mãe. Pelo acordo pré-nupcial que meu avô fez, obrigando meu pai assinar, me resguardou. Todo o resto está fazendo parte das investigações.

— De qualquer forma, a sua herança dará a você autonomia para o resto de sua vida.

— Mas eu não quero viver disso. Não sou assim, Naomi. Gosto de trabalhar.

Naomi sorriu.

— É, eu sei… Alesha mandou um abraço.

— Ela poderia ter vindo…

— Ela não quis te aborrecer em um dia como hoje. 

— Eu sei que fui muito rude com ela, mas não entendi por que ela não me procurou. A gente tinha muita coisa para conversar…

— Eu não sei o que vocês conversaram; ela não me falou, mas disse que você não a queria mais.

— Que eu não a queria mais? Nós nunca conversamos sobre o que aconteceria depois. Após aquele dia, ela sumiu de minha vida!

— O que exatamente aconteceu, quando ela foi ao seu encontro no hospital em que foi atendida?

— Você sabe que fui levada em uma das ambulâncias da polícia para o hospital e Alesha foi em outra. Aquele dia estava uma loucura, não sabia nem se meu pai estava vivo. Enfim, cheguei ao hospital e fui levada direto para uma sala de exames. Depois me deram um sedativo e me levaram para um quarto.  Adormeci e parece que só acordei 14 horas depois. Não tinha visto Alesha ou qualquer outra pessoa ainda, não sabia nem que ela ou Amalie estavam sendo atendidas no mesmo hospital que eu.

Laura parou um momento de falar. Inspirou fundo.

— Vamos comigo até meu apartamento, Naomi. Talvez conversando mais a fundo com você, eu consiga compreender a atitude de Alesha ter se distanciado de mim.

Naomi assentiu.

— Você veio com Ronan? Quer uma carona?

— Não precisa. A Amalie vai nos levar. Aliás, acho melhor você nos seguir. Eu comprei um apartamento. Não moro mais naquele quarto-sala. 

— A casa que seu pai morava não é sua, por direito?

— A casa em que meu pai morava ainda está sendo periciada, ela realmente faz parte de minha herança. Depois que tudo passar, eu a venderei. Aquela casa me traz muitas lembranças ruins, apesar de ter sido do meu avô. Vivi muito pouco com ele, quando ainda estava vivo, depois aconteceu tudo que você já sabe.

— Está certa. Não tem razão para ficar com ela. Vamos?

Ao chegarem ao apartamento novo de Laura, Naomi e Lúcia se etaram com a beleza do local. Era uma cobertura ampla e arejada. Tinha ampla varanda que circundava o apartamento, dando acesso pela grande sala e também, em cada suíte, deixando uma visão maravilhosa do mar à sua frente. Tinha três suítes, um escritório, uma cozinha bem moderna, lavanderia e na parte superior do duplex, uma piscina e uma sauna.

— Meninas, sentem-se e sintam-se à vontade. Ronan, você poderia verificar como está o andamento do almoço?

— Agora mesmo, Laura.

— Laura, nós não vamos ficar muito.

— Não aceito recusas. Vocês vão almoçar comigo.

— Está certo, mas depois teremos que ir. Temos que passar na agência.

— Meu pai já foi extraditado?

— Há vinte dias. Ele está preso em Lyon, França.

— Lyon?

— Sim. É a sede da Interpol. Seus crimes são internacionais e ele será julgado pela justiça internacional.

— Tem risco dele…

— Não. Em hipótese alguma. Ao longo desses anos, colhemos muito material para ele pegar prisão perpétua, sem direito a liberdade condicional.

— Alesha lhe disse que eu não a queria mais? 

— Laura, não sabemos o que houve, mas pelo jeito que ela falou, nos pareceu que você tinha terminado com ela. Você não falou nada para ela no hospital?

— Como eu disse, dormi mais de quatorze horas. No dia seguinte, quando acordei, me vi sozinha no quarto de hospital. Tive uma crise nervosa e comecei a chorar sem parar. As lembranças de tudo que passei, desde a minha adolescência se misturavam em minha cabeça com os acontecimentos desses meses, do sequestro dela e de Amalie, de meu pai me apontando uma arma.  Um médico e uma enfermeira entraram e eu falava várias coisas desconexas. Juntei, naquele momento, todas essas informações que minha mente processava e falava sem parar, mas a única coisa que lembro em relação à Alesha é que ela entrou e eu não queria que me visse daquele jeito, numa crise nervosa. Na realidade, não queria ver ninguém, naquele momento, ou que alguém me visse daquela forma. Lembro que disse para ela sair e que não queria vê-la.  Mas era só naquele momento. Eu estava descontrolada e não conseguia dominar minhas emoções. Vocês souberam que eu fiquei mais quatro dias no hospital à base de sedativos para me estabilizar?

— Não sabíamos. Na realidade, após a prisão de seu pai, tivemos sete dias de intenso trabalho na agência. Organizar os vários documentos levantados contra seu pai e depois tivemos que fazer a escolta dele até Lyon. Alesha também foi conosco, pois éramos as responsáveis pelo caso.

— Sei que fui rude, mas é como se eu estivesse em outro plano. Não tinha controle de nada, naquele momento. Depois eu liguei para ela e seu celular estava suspenso. A operadora dizia que o número não existia e fui ao seu apartamento, mas o porteiro falou que ela não morava mais lá.

— Aquela não era sua verdadeira casa, ou melhor, era sua casa enquanto estivesse na operação, mas só para a operação e o celular a mesma coisa. É um procedimento muito comum que utilizamos para resguardar nossas vidas pessoais.

— Então… Você também não tem dois filhos, Naomi?

Naomi e Lúcia riram. Laura e Amalie se olharam sem entender.

— Desculpa, Laura. Mas é que as pessoas têm uma visão de agente secreto de Hollywood. Essas duas pestinhas são reais e meu ex-marido também. Você nem imagina o quanto eu tenho que me virar para dar a eles uma vida normal, mesmo tendo que mudar de casa, de vez em quando; e mudá-los de colégio por conta de operações. Todavia temos esquemas de segurança e nem sempre nas investigações fazemos essas incursões. Cada agente tem um perfil, por sua formação básica. Por exemplo, a Alesha e eu entramos na LH para essa operação, porque somos realmente administradoras de empresa. Lúcia é advogada, de fato. 

— Entendo. Então vocês não têm que montar um personagem à cada investigação. Não é como Sr e Sra Smith de Angelina Jolie e Brad Pitt.

— É isso. Temos agentes de várias formações, embora não vou dizer a você que não existam os “surdos”, como chamamos, hoje em dia, os agentes que se infiltram, mudando completamente a sua identidade e tem que trabalhar direto na fonte principal de investigação.  Por exemplo, tínhamos apenas um “surdo” trabalhando infiltrado direto na empresa de seu pai. Com certeza, você já o viu e certamente você nunca se lembrará dele. Mas não é a maioria. Na realidade, dizemos que somos agentes discretos, pessoas comuns em lugares que são perfeitamente cabíveis para elas atuarem.

— Mas, mesmo assim, eu não vou ter como encontrar Alesha.

— Por que não? Nós não estamos aqui? Eu daria seu telefone se eu soubesse que é a vontade dela, mas a vontade dela como pessoa. Não é porque ela trabalha na Interpol. Mas eu preciso saber dela primeiro.

— Entendo. Vocês poderiam perguntar para ela se ela pode me ligar? Eu deixo com vocês o meu número novo de celular e o daqui de casa. Não estarei na LH. Só assumirei daqui a quinze dias.

— Perguntamos sim, não se preocupe, acho que tudo não passou de um grande mal-entendido. Eu não deveria te contar isso, mas… Bem, ela estava hoje no cemitério, só não quis aparecer. Acho que ela queria dar apoio a você, mesmo que você não soubesse.

— Eu sei. Eu a vi.

— Você a viu?

— Sim. Por isso, eu falei que ela poderia ter ido. Eu estava em pé ao lado de Amalie e… Bem, vocês podem achar besteira, mas… Mas eu senti como se alguém estivesse me observando, não senti desconforto, foi mais como uma sensação de aconchego… — Laura sorriu, como se estivesse divagando. — Eu olhei para trás e a vi do outro lado da alameda do cemitério, de pé ao lado de uma árvore. Eu só fiquei triste, porque ela se escondeu quando olhei para ela.

— Não fique assim, Laura. Como eu disse, ela não queria te aborrecer.

— Por favor, fale para ela que não me aborrece, que tenho saudades…

— Aliás, amanhã é o aniversário dela. 

— Dia 29 de março? 

— É. 

— Gostaria de dar um abraço nela.

— Laura, o almoço está servido.

— Obrigada, Ronan. Você colocou um lugar para você à mesa?

— Laura…

— Não discute comigo, Ronan. Já falei que você não é o meu mordomo, ou melhor, você é mordomo porque quer. Para mim, você é meu amigo.

Ronan ficou um pouco constrangido e sorriu timidamente.

— Tudo bem. Eu coloco um lugar à mesa.

— Então vamos comer.

XGXGXGXG

Lúcia já havia pegado o carro de Naomi e já se dirigia para a agência. Naomi atravessou a rua, se aproximando de uma SUV com insulfilme.  Entrou pelo lado do carona, se desvencilhando de uma escuta colada a seu corpo e de uma minúscula câmera camuflada, na lapela de seu blazer. 

— Eu não acredito que você me fez fazer isso! Tem necessidade de ficar espionando Laura? Isso é uma vergonha!

— Não enrola e me dê. E não diz que você não gosta dessa adrenalina, pois eu sei que gosta. Do contrário, não seria uma agente.

Um sorriso bordava os lábios do motorista. 

— Quando há bandidos envolvidos. Ela está do lado dos mocinhos, sabia?

— Por favor, Naomi, “me dá” logo isso.

— Às vezes, você não parece nem um pouco inteligente! — Naomi colocou a mão no bolso, pegou um cartão e entregou-o. — Eu falei que você devia ter entendido tudo errado!

— Eu tive medo.

Naomi inspirou fundo, elevando os ombros e depois expirou, deixando-os cair. Olhou para o lado.

— Meu Deus! Como o amor “emburrece”! Precisava desse aparato todo?  Ela te ama, sua boba!

Alesha sorriu mais intensamente.

— Eu precisava ter certeza, “tá legal”? Depois daquele dia no hospital, a gente trabalhou igual a umas cachorras e depois teve que viajar. Quando a gente voltou, eu fiquei insegura. 

— Insegura? Você é uma agente! Você se infiltra, investiga, traça perfil de pessoas, prende bandidos! Como você podia estar insegura com alguém que você conhecia, que teve um relacionamento?

— Eu faço isso tudo com bandidos! Como você falou, ela é da banda dos mocinhos. — Alesha sorriu, novamente. — Naomi… Ela me ama! – Sorriu mais aberto.

Naomi revirou os olhos.

— É lógico que ela te ama, ô retardada. Eu sei disso, Lúcia, Amalie, até Amino e Ronan sabem disso, menos você! Agora vê se pega esse raio de cartão que tem os telefones dela e se dê um bom presente de aniversário.

— Pode ter certeza, Naomi. Viu que bonitinho ela falando que sentiu minha presença lá no cemitério? Que tem saudades…

— Ai, vamos embora! Você “tá” muito melosa para o meu gosto!

Alesha deu uma gargalhada e disparou com o carro em direção à agência.


Nota: Um início de semana ótimo para todas, todos, todes!

Obrigada, sempre, pelo carinho de vocês!

Beijos!



Notas:



O que achou deste história?

10 Respostas para Capítulo 25 — Incertezas

  1. Aguardando ansiosa o aniversário..?
    Carol,já q não vamos ter por hs, capítulos d “OS ESTRANHOS CASOS DE EVERNOOD E BLINDWAR”, que por sinal eu AMO…..
    vc bem q podia postar um extra na sexta… Só p gente não perder o hábito d ter dois capítulos por semana seus, msm q d histórias diferentes.??

    • Oi, Saga!
      Saga é o nome de uma personagem que estou escrevendo para futuramente postar. rs Só não sei se vai gostar muito dela…
      Bom, acho que vai sair um caso de Evernood e Blindwar essa semana, se acaso não sair, eu posto um extra de Caminhos. Podemos combinar assim? 😉
      Obrigada, Saga, pelo carinho!
      Um beijão para você!

  2. Alesha precisava desse aparato todo pra ter certeza que Laura gosta dela, kkkk se essa moda pega, nem quero ver o quanto de treta vai ter por aí, e graças a Deus o embuste do pai vai pagar agora pelas merdas que fez.

    • Tudo bem contigo, Blackrose?
      Menina, olha a insegurança da policial da Interpol! kkk Parece mais uma psicosapa, né? kkkkkkkkkkk
      Esse pai… É um cretino!
      Valeu o carinho, Blackrose!
      Um beijão pra ti!

    • Sim, Carla, mas ela deu uma exagerada, não acha? Insegurança nível 10! rsrsrsr Mas se eu tivesse no lugar dela, sei não… Talvez fizesse o mesmo! kkkk
      Um beijo grande, Carla!

Deixe uma resposta

© 2015- 2020 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.