Os Estranhos Casos de Evernood e Blindwar
Oitavo Caso: O Druida Sanguinário – parte 5
Texto: Carolina Bivard
Revisão: Naty Souza e Nefer
Ilustração: Táttah Nacimento
No episódio anterior…
Edwin havia levado o suspeito para uma das fazendas abandonadas nas cercanias, das quais tinham feito o levantamento na prefeitura.
— Então, vou entrar. Vejamos as coisas que ele fala.
Elizabeth entrou acompanhado do amigo. A casa da fazenda estava caindo aos pedaços, pois aquele sítio fora abandonado há muito tempo. Servia para o propósito deles. O cheiro de mofo rescendia, misturado ao cheiro da madeira queimada na velha lareira.
Evernood parou, observando de perto o sujeito amarrado e de capuz. Arrastou o pé, próximo ao dele, tocando a ponta de sua bota. O homem jogou seu corpo para trás na cadeira, assustando-se.
— O que quer comigo? Fale!
O silêncio permaneceu, fazendo o homem resfolegar, aumentando a sua apreensão.
— Não sou eu. Estou sendo pago! – Ele falou.
A vontade de Evernood perguntar sobre o que falava era muita, entretanto, sabia que aquele tipo de pressão só daria certo se ficasse quieta. Esperou um pouco e depois pegou um pedaço de madeira no chão. Aproximou a ponta da garganta do homem e apertou levemente. Não queria machucá-lo, mas sim, assustá-lo o bastante para que falasse mais.
— Fale com Cleese. Ele que veio atrás de mim.
Evernood estreitou o olhar. Finalmente, um nome surgia.
Depois de escutar algumas coisas a mais, a detetive particular deixou que Edwin continuasse a fazer o jogo do silêncio com o homem. Conseguiram algumas informações valiosas.
Parte 5 —
— O “sacerdote” está enlouquecendo sem o contato com o companheiro.
Margareth relatou à namorada, após se encontrar com ela em um parque próximo à saída da cidade. Compraram um lanche em uma barraca, para comerem, enquanto conversavam sentadas à frente de um lago. Evernood não sabia como dizer o que havia descoberto. A informação que tinha não só revoltaria a namorada como a entristeceria. Resolveu falar de uma só vez.
— Stain recebeu dinheiro para não registrar os desaparecimentos.
— Não queria acreditar, porém, no fundo, sabia que ele estava envolvido. – Deixou seus ombros caírem. – O rebaixamento dele no departamento o afetou…
— Não pense assim, Meg. No mínimo, o que aconteceu, deixou seus valores mais expostos. Ele nunca foi um bom detetive e, você, mais do que ninguém, sabe disso.
— Beth, nos três anos que trabalhei com ele, nunca o vi aceitar suborno.
— E acha que ele deixaria você entrar nas tramoias dele? Você era uma novata, que ele julgava fácil de manipular. Entenda que existe gente idônea e outras desonestas. Ele já demonstrava para onde a balança dele pendia.
Margareth inspirou fundo o ar da tarde. Pensaria no que faria com Stain depois.
— O tal sacerdote está impaciente. Foi até a fazenda…
— … De Cleese. – Elizabeth terminou a frase.
— Não. Foi até a fazenda de Howard. Smith disse que ele ficou observando por horas. Às vezes, fazia menção em ir até lá, mas recuava. Retornou para a cabana e foi dormir.
Evernood se empertigou. Não esperava aquela resposta e contou o que o dito “advogado” falou.
— Enigmático, isto… Por que um falou de Cleese e o outro foi à fazenda Howard?
— Acho que é hora de soltarmos o tal “advogado” … – Evernood arrematou.
— Concordo. Também é a hora em que eu apareço para questionar o senhor Cleese. Vamos colocá-lo contra a parede.
⧫
— Quem falou isso?
O senhor Cleese se alterou diante da pergunta da detetive de polícia. Margareth o questionara por que não havia falado que conhecia um dos suspeitos.
— Meu pai sempre colaborou com a polícia. Por que o estão questionando?
Liah Cleese perguntou, enraivecida. Seu pai era o homem mais amoroso que conhecia. Não entendia por que aquelas detetives estavam tão enérgicas nas perguntas.
Evernood olhou-a, diretamente. Sua expressão era impassível, quando lhe respondeu.
— Porque seu pai mentiu para nós. Disse que não conhecia este homem. – Ela mostrou o retrato do “advogado”. – No entanto, este homem o conhece.
A garota encarou o pai, confusa.
— Do que essas detetives estão falando, pai?
O homem ficou desconfortável perante a filha. Nunca havia mentido para ela. As reações dos dois eram observadas atentamente pelas duas detetives, confirmando que algo havia na história do suspeito.
— Por favor, senhor Cleese, não se enrole mais com a polícia. Nós podemos ajudá-lo, se nos contar a sua versão da história. O senhor parece ter uma boa vida e uma família linda, que o apoia. Não estrague isso.
Ao escutar a detetive Blindwar, ele se virou para a filha, envergonhado.
— Minha filha, saia, por favor. Preciso conversar com essas detetives.
— Não, pai! Não sairei. O senhor nunca escondeu nada de mim. O que está acontecendo?
O homem não tinha alternativa. Não queria que sua filha estivesse presente, porém não imaginava que, meses atrás, quando foi procurado com uma proposta tentadora, culminasse com aquele morticínio.
— Vamos lá, senhor Cleese. Não quer ver sua vida destruída. Conte-nos o que sabe.
Era somente uma intuição, contudo Evernood acreditava que aquele homem não era o mandante. Margareth estranhou a delicadeza da namorada ao abordar o fazendeiro; mesmo assim, calou-se para não a desautorizar. Aprendia, a cada dia, a não duvidar da perspicácia dela.
— Esse homem me procurou, há alguns meses. Disse que era um advogado vindo da cidade de “Eagle Coast” e trabalhava numa empresa de mapeamento geológico.
— Ele não é advogado e, muito menos, trabalha em empresa alguma. Ele é um charlatão que tem várias identidades e atravessa o país ganhando dinheiro enganando as pessoas. – Margareth afirmou.
— Eu não sabia. – Cleese passou a mão pelos cabelos. – Ele foi muito convincente. Deu o nome de Aaran Weber. Mostrou-me estudos de solo da região. Parece que estamos assentados sobre um grande veio de minério de ferro.
— Entendo…
Margareth deixou escapar o pensamento. O minério de ferro era o “ouro” da época. As indústrias de peças de todos os tipos de maquinário estavam espalhadas por todo o país, fazendo este insumo ser valiosíssimo.
— E o que ele lhe propôs? Não veio aqui somente para dizer o que tinha abaixo do solo, não é?
— Não. Ele disse que se o apoiasse, poderia comprar as terras próximas a um preço baixo. Eu olhei o mapeamento. As minhas terras quase não têm minério. A maior parte está nas terras a partir da fazenda do Howard.
Evernood estreitou o olhar. O fazendeiro vizinho havia dito à ela, que apesar da extensão de sua fazenda, a parte oeste não era cultivável por ser rochosa.
— Disse a ele que, mesmo com preços baixos, não teria capital para comprar as outras terras. Ele disse que acharia um sócio e que, depois de tudo concretizado, as terras estariam com um preço tão baixo que dinheiro não seria o problema.
— Pai, o senhor não desconfiou disso? O que ele pediu em troca?
Liah Cleese estava perplexa. Parecia não reconhecer as atitudes de seu pai.
— Minha filha, acredite-me; ele era um homem eloquente.
O senhor Cleese parecia devastado com o que fizera e continuou a contar, sem que as detetives o interpelassem.
— Dei a ele algum dinheiro para iniciar o que ele chamou de “despesas de serviço”. Disse que, em breve, me apresentaria ao meu sócio. Depois que os desaparecimentos começaram, desconfiei. Já havia sido apresentado a meu “sócio” e estávamos, constantemente, em contato. Questionei-o sobre os desaparecimentos e ele desconversava dizendo que “não tínhamos nada a ver com aquilo”. No entanto, não acreditei. Disse que não queria mais a sociedade.
— E por que não nos contou antes?
Margareth perguntou desconfiada, sendo enfática nas palavras.
— Porque tive medo. Quando vieram me inquirir, já se tratava de uma investigação de assassinatos. Eu não tive nada a ver com isso; e fiquei com medo deles virem atrás de mim e minha família!
— Pai! – A sua filha o olhava desapontada. – Como pôde fazer isso? Sally era minha amiga e nós apoiamos os Barcley, quando os pais deles morreram…
— Eles não sairiam mal dessa história, minha filha. Nunca quis prejudicá-los. Na terra deles, eu pretendia pagar o preço justo. Eles certamente sairiam com uma boa vida. – O homem balançou a cabeça desolado. – Eu não pretendia que nada disso acontecesse.
— Tem uma forma do senhor sair dessa enrascada sem muitos prejuízos. Posso conversar com o promotor, se acaso o senhor testemunhar contra seu “sócio”.
Margareth atestou. Conhecia o promotor e acreditava no homem. Se os indícios os levassem ao real mandante, era ele que gostaria de encarcerar.
— Veja bem, senhor Cleese. – Evernood intercedeu. – Tem a oportunidade de colocar um fim nessas mortes e sair sem muitos respingos da lei. Quem era o seu sócio?
As detetives já intuíam de quem se tratava, contudo não tinham provas e queriam que Cleese abrisse tudo a respeito, para que pudessem prender o bandido por detrás de toda a ação.
⧫
A ação foi comandada por Blindwar com a supervisão de seu comissário. Evernood estava presente, todavia recuada. Naquele momento, era somente uma observadora, cumprindo a promessa que fizera a Greendwish, quando tudo começou, de não atuar diretamente. Ele poderia ser um homem que tentava se equilibrar nas redes políticas, mas Elizabeth sabia que tinha palavra e cumpriria a dele em dar créditos públicos à detetive de polícia.
O comissário era inteligente e Evernood sabia que se aproveitaria da oportunidade de algum jeito. Provavelmente, quando fosse dar a entrevista coletiva, falaria dela e algo mais que o ovacionasse diante do público.
⧫
Um dia antes…
As duas detetives se aproximavam pela mata, acompanhadas de Edwin, quando escutaram tiros. Agacharam-se para se protegerem de possíveis balas que fossem na direção deles. Edwin retirou a sua pistola do cós e as detetives de polícia fizeram o mesmo, sendo que ambas tinham as suas armas em coldres presos aos tornozelos.
Este havia sido outro aprendizado que Margareth adquirira com a espiã-detetive. Por isso, ela sempre usava calças quando investigava um caso. Carregar uma bolsa para guardar a arma atrapalhava se necessitasse agir rapidamente.
— Edwin, vá por trás e nós duas nos aproximaremos pela lateral.
Evernood comandou e Edwin acenou afirmativamente, embrenhando-se, logo a seguir, pela mata.
— Se Smith e Collins estão atirando, é porque os dois suspeitos tentaram se livrar das provas e eles deram voz de prisão, Beth.
— Espero que nenhum deles tenha fugido. – Elizabeth respondeu, seguindo o caminho em direção à cabana. – O “advogado” foi solto por Edwin e deve ter voltado para ajudar o parceiro.
Quando as duas chegaram, a detetive Blindwar se aproximou das árvores em que os policiais se utilizavam para se protegerem dos tiros que partiam da cabana e Elizabeth continuou o caminho para circundar o local, posicionando-se do outro lado. Assim a cabana ficaria cercada completamente.
— Me desculpe, detetive, não pude evitar. O “advogado” retornou para a cabana apavorado. Disse ao “sacerdote” que havia sido pego por alguém e falou para que queimassem tudo. Tive que me apresentar para prendê-los.
— Foi quando dispararam em vocês?
— Sim. Não vi que o “sacerdote” estava armado.
Smith falou constrangido perante a detetive. Em momento algum, ele observou que o homem levava uma arma na cintura.
— Ele está de casaco. Não tinha como você ver dessa distância.
Margareth o confortou, tentando observar melhor a cabana.
— Eles correram para dentro, quando nos pegaram desprevenidos com os tiros. Tenho medo de que saiam pelos fundos, pois há uma janela. Quando mandei Collins para lá, voltaram a disparar e ele teve que retornar para o abrigo dessas árvores.
— Vejamos se saíram pelos fundos.
Após falar, a detetive disparou uma só vez em direção à casa, no que foi imediatamente respondida por mais disparos vindo da cabana.
— Estão lá, ainda. Na certa, acreditam que estão cercados. Veremos se são espertos.
Ela se preparou para negociar a rendição. Inspirou fundo e contava que Evernood entendesse o que faria.
— Vocês estão cercados. — Falou bem alto, para que até mesmo Edwin escutasse. – Nossos amigos dispararão para saberem que é verdade.
O silêncio tomou o local por segundos e ouviram um disparo na lateral, onde Evernood estava e outro na parte detrás da cabana.
Margareth relaxou, pois soube que Edwin também a escutara. Continuou a conversa.
— Há duas formas de saírem daqui: uma é se rendendo e, talvez, conseguirem um acordo nos tribunais, acaso testemunhem contra seu mandante. A outra é saírem mortos. Acreditem! Temos muita munição.
Não era verdade. Pelos tiros que escutara anteriormente, os policiais deveriam ter pouca munição. O revólver deles tinham as balas do tambor e somente uma guarnição extra que era dada a eles pelo departamento. Provavelmente, as do tambor já estavam acabando. Os bandidos ficaram em silêncio. Possivelmente, estavam conversando sobre o que a detetive falara.
— Não vamos ser presos por uma mulher! – Um dos homens gritou. – Você está blefando. Eu investiguei sobre você. Não tem muito prestígio dentro da polícia.
Margareth revirou os olhos, voltando-se para Smith. O policial havia se constrangido pelo que o homem falara.
— Quantos tiros vocês dispararam?
Margareth perguntou a Smith, parecendo não se incomodar com o que o bandido dissera.
— Eu disparei três e Collins, quatro.
— Collins só tem mais seis balas, contando com a guarnição extra, e você sete. Saia daqui por trás de nós, e se posicione naquele grupo de árvores mais afastado. – Margareth apontou para as árvores mais distantes. — Você tem boa mira?
— Sim, detetive. Fui um dos primeiros em minha classe. – Falou orgulhoso.
— Então vá, Smith e nos dê cobertura. Só dispare se eu autorizar. Não queremos perder munição.
Smith acenou e saiu, rastejando para onde a detetive de polícia havia indicado.
— Não sei se perceberam, mas vocês foram pegos pela investigação que eu comandei. Não me importa o que acham. Farei uma demonstração para auxiliá-los a se decidirem.
Margareth também era excelente atiradora e, se ela estivesse correta, eles estariam observando cada movimentação que podiam, em um canto da janela. Abrigou-se por detrás do tronco da árvore e mirou em uma das laterais da janela. Disparou. Escutou alguns barulhos do lado de dentro da cabana.
Ouviu, logo a seguir, um segundo tiro saindo da direção em que Evernood estava. O disparo atingiu o outro canto da janela. Sorriu levemente, pois sua namorada compreendeu a sua jogada. Queria pressionar os assassinos.
— O que me dizem? – Margareth provocou os bandidos. – Se não se decidirem, nós decidiremos por vocês. Avançaremos e vocês ficarão sem munição e sem alternativas. Estamos vigiando há dias. Sabemos o que vocês têm e que, ontem, “o sacerdote” ficou aqui sozinho. Sabemos também que, ontem, ele foi à fazenda Howard. Verificamos o que tem na cabana. Vocês não têm chances contra nós.
Margareth parou de falar e se voltou para o policial novato.
— Eu e Spencer vimos que eles têm duas espingardas lá dentro, com duas caixas de balas completas. Se acaso eles partirem para ofensiva, não dispare. Temos que preservar nossas balas. Eu tenho dois cartuchos extras e Evernood também. Deixe conosco, que faremos disparos espaçados para eles gastarem a munição deles.
O novato acenou. Escutaram disparos na parte detrás da casa. Os assassinos estavam tentando fugir, porém Edwin os pegou de surpresa. Os tiros pararam.
— Está bem! Nós vamos sair. Mas fará o que prometeu se a gente entregar quem está nos pagando? – Um dos homens gritou.
— Saiam com as mãos para cima sem as armas!
Ela não fez promessas, todavia sabia que se os prendessem, teria que negociar, se quisesse pegar o mandante. Eles saíram, tentando visualizar quem os cercava, porém Margareth fez um sinal para os policiais se manterem onde estavam.
— Deitem-se com o rosto colado ao chão. – Ordenou.
A detetive Blindwar não facilitaria. De pé, eles poderiam ver que não havia tantos policiais e poderiam tentar escapar, ou pior, enfrentar a força policial.
Após se deitarem, ela fez sinal para que Smith e Collins se aproximassem com as algemas, dando cobertura para eles. Evernood se juntou no apoio.
— Smith e Collins, levem os dois para o departamento e os coloquem em celas separadas. Digam a Greendwish que fiquei para preservar a cena até a perícia chegar, ok?
— Sim, detetive.
Antes de partirem, Spencer e Martin chegaram para a troca de turno, encontrando a cena de prisão já realizada. As duas duplas de policiais acompanharam os presos.
Edwin se aproximou, após os policiais terem partido. Ele não gostava de se expor, para preservar a relação de investigação que havia entre ele e Evernood.
— Vai dizer que eu estava aqui juntamente com vocês?
— Apenas se for extremamente necessário para a acusação, Edwin. Porém acredito que consiga contornar a sua presença com os policiais. – Margareth respondeu.
— Sem problemas se eu for chamar a perícia da universidade também? Acredito que devemos isto a doutora Lister.
— Pode ir, Edwin. Ficarei aqui com Meg.
Evernood o autorizou, feliz em ver o amigo interagindo mais e, também, percebendo que ele, finalmente, começava a deixar as marcas do passado, começando uma nova fase de sua vida.
Após todos saírem, Elizabeth se aproximou do alpendre onde todas aquelas mortes ocorreram. Abriu a porta e observou, atentamente, se entristecendo pelo que via. Margareth se juntou à ela.
— É terrível ver como existem pessoas insensíveis à vida, a ponto de cometer uma atrocidade dessas por dinheiro.
Margareth comentou, olhando a mancha enorme de sangue seco no solo batido de terra. Foram muitas vítimas mortas ali, sem piedade.
— Não é só pelo dinheiro, Meg. – Elizabeth afirmou, entristecida também. – Uma pessoa que faz algo assim, não tem empatia alguma e, muitas vezes, tem até prazer com isso. É difícil para gente como nós entender, diante de uma barbárie como essa, mas, infelizmente, esse prazer na crueldade existe.
⧫
Apesar das duas viaturas de polícia a acompanharem, além de seu comissário, a Detetive Blindwar não queria causar tumulto. Pediu que os policiais permanecessem nas viaturas. Antes de subir as escadarias da casa do fazendeiro Howard, olhou para trás, procurando sua namorada.
Ela estava encostada em seu carro, bem mais distante que as viaturas de polícia. Mesmo assim, Margareth conseguiu ver o aceno de cabeça, encorajando-a. Evernood passava tranquilidade. Margareth inspirou fundo e tocou o sino da porta.
O senhor Howard estava ciente de que a polícia viria, pois fora intimado por telefone pela própria detetive. Ele mesmo abriu a porta.
— Por favor, senhor Howard, nos acompanhe.
— Eu não fiz nada! Não matei ninguém, detetive Blindwar!
— O seu nome está sendo citado nos depoimentos. Precisamos que nos acompanhe e terá a oportunidade de se colocar. Não dificulte, por favor.
O homem reparou nas duas viaturas de polícia em frente à sua casa, e mais, a presença do comissário da Crimes Graves. Suspirou e não reagiu, descendo as escadas acompanhado pela detetive. Foi conduzido à uma das viaturas.
Chegaram ao departamento e Howard foi direcionado à uma sala.
Greendwish não estava acostumado com aquele tipo de investigação, no entanto como os outros detetives estavam fora e havia prometido a Evernood que Blindwar seria o agente dessa investigação, permitiu seus métodos. Somente observava e, a verdade, é que confiava nela.
Havia quatro indiciados que aguardavam em quatro salas diferentes. Os assassinos haviam sido interrogados no dia anterior, e Blindwar chamara o promotor para ver o que poderia fazer a respeito do acordo com eles para eles entregarem os mandantes.
O normal era prenderem os assassinos, e pronto. Contudo, a detetive de polícia insistiu que eles eram somente os veículos e que se não prendessem quem havia coordenado aquele morticínio e soubessem o porquê, não haveria justiça.
Esperavam os resultados das buscas. Os assassinos, para pegarem prisão perpétua e fugirem de uma execução, contaram todos os passos que fizeram e, também, todos os envolvidos.
Após horas verificando o que conseguiram nas buscas das fazendas e outros documentos espalhados pela cidade, Blindwar, acompanhada de Evernood, entrou para conversar com o fazendeiro Cleese, que fora intimado também e comparecera ao departamento por livre vontade.
Blindwar pediu ao comissário que a detetive particular a acompanhasse como assistente. Greendwish autorizou. Ele estaria do lado de fora da sala, mas ficaria à espreita, vendo tudo através da janela com a persiana parcialmente baixada e escutando, através da abertura de veneziana que havia instalado nas salas de interrogatório, justamente para esse fim.
O interrogatório começou, no momento em que elas entraram.
— Senhor Cleese, não foi honesto conosco.
Blindwar falou, jogando alguns documentos sobre a mesa para que ele visse.
— Achamos isto em seu escritório na fazenda. O senhor já havia investigado a geologia das terras. Esses documentos feitos por geólogos contratados pelo senhor, há dois anos, indicam os veios de minério naquela área.
— Isso não quer dizer nada. Estão pegando o homem errado. Eu falei tudo. Howard que mandou aqueles homens matarem os fazendeiros.
— Para a sua infelicidade, os assassinos apontaram tudo contra o senhor. Inclusive nos disseram por qual banco o senhor os pagou.
Evernood o pressionou mais, jogando as faturas de pagamento que o banco cedeu à polícia, após o “advogado e o sacerdote” terem denunciado. O fazendeiro olhou e espremeu os olhos, fortemente. Seu nome estava nas faturas.
— Eles são criminosos e eu sou um homem honrado. Quem acreditaria nisso?
— Acho que acreditariam se ouvissem outro homem “honrado”, colaborando com a polícia. O senhor Howard fez o mesmo relato que você, com uma diferença, ele tinha somente um pagamento para os assassinos, antes de começarem as mortes. Acredito que isso corrobora a história do senhor Howard de ter sido procurado depois, pelo que se dizia “advogado”, fazendo a proposta de sócio… O senhor nos contou, a história que aconteceu com ele.
Margareth afirmou, encarando-o séria.
— Foi o senhor Howard que se recusou a continuar com essa história, após perceber o que estavam fazendo. Vocês o enganaram. Ele tinha o dinheiro necessário para comprar todas as terras e, só por isso, quiseram enredá-lo nessa trama. – Evernood afirmou.
— Senhor Cleese, além de todos os documentos que achamos em seu escritório, temos conhecimento da proposta de compra que fez, há um ano, para a senhorita Barclay e ela recusou. Depois que prendemos os assassinos e descobrimos o que o senhor queria, voltamos com novas perguntas para as famílias dos fazendeiros. Eles tiveram muita informação a nos dar e vão depor. – Blindwar o pressionou mais.
— Sabe o que mais me impressiona, senhor Cleese? – Evernood perguntou, retoricamente. – É que o senhor tem posses, uma vida abastada e uma família que o ama. Sua filha é uma excelente administradora e sua fazenda vai bem. Lamentável que a sua ganância faça a sua família ver como o senhor, verdadeiramente, é.
Ele se irritou. Aquelas mulheres o estavam afrontando e colocando a sua família contra ele.
— Vocês são estúpidas! Não mexam com a minha família. Tudo que fiz foi por minha mulher e minhas filhas! Depois que comprasse as terras, cada uma delas teria seu quinhão e poderiam fazer ótimos casamentos. Aqueles fazendeiros miseráveis não sabiam o que fazer com as próprias terras. Eram pobretões que, se aceitassem a minha oferta na época em que tentei comprar, nada disso teria acontecido!
— Aqueles pobretões, como o senhor fala, são pessoas e não coisas. Eles vivem bem, cultivando suas próprias terras. Ninguém passa fome e todos têm uma vida boa. Você ceifou a vida de seres humanos pelo o quê? Para que suas filhas tenham mais ainda do que já possuem?
⧫
— O que acontecerá com Howard?
A doutora Lister perguntou, enquanto caminhava acompanhando Evernood e seus amigos. Elizabeth havia os chamado para que fossem a um lugar que ela comprara. Estava fazendo segredo para o grupo, pois disse que era uma surpresa para presentear todos.
— Ele não foi indiciado. Constatamos que foi uma vítima das tramoias de Cleese e dos seus capangas. – Margareth respondeu. – Logo no início, quando viu no que estava metido, se negou a dar mais dinheiro e saiu do tal “negócio”.
— Mas ele ficou calado.
— Sim, ficou, Violet, porém, foi somente por estar com medo que atentassem contra a sua família e contra ele próprio. – Evernood respondeu. – Contratou pessoas para a segurança de sua fazenda e de seus familiares. Não saiu da própria casa, após tudo começar. Estava apavorado.
— Ele vai prestar depoimento para condenar o Cleese e os outros. Para mim, isso é justiça. – Margareth afirmou.
— Chegamos.
Elizabeth disse, após parar em frente à uma porta do que parecia ser um bar fechado, em uma ruela discreta. Retirou uma chave do bolso da calça, abrindo o lugar. Deixou que todos entrassem, antes de entrar e fechar a porta atrás de si.
Era um local pequeno. Um pub simples, porém bem decorado. Havia somente três mesas de quatro lugares, diante de um balcão de bar, com uma parede com prateleiras atrás, espelhadas.
— Você quer se tornar uma dona de bar?
Lister perguntou, sem entender muito bem a intenção de Evernood em levá-los ali. Elizabeth riu, indo para trás do balcão. O local estava limpo e arrumado, como se fossem abrir ao público naquela mesma hora.
— Não. O que ela quer é que, quando nos encontremos para discutir sobre algum caso, tenhamos um local reservado, que não seja nas nossas casas.
Margareth falou e olhou para Elizabeth, recebendo um sorriso em troca e uma piscadela. Blindwar tinha compreendido a namorada e Evernood parecia se encantar ainda mais com a perspicácia dela.
Não tinha comentado nada para Margareth, entretanto ela compreendera exatamente seu sentimento de exposição, quando iam a um local público para discutir as ações das investigações.
Aquele local seria o “QG” deles.
— O que querem beber?
Elizabeth perguntou, colocando gelo em um copo, servindo-se de whisky.
— A cozinha também está funcional, mas eu não sei fazer nada. – Olhou para Edwin. – Lá tem dispensa, compotas e um pequeno frigorífico com carnes.
— Percebi que anda escondendo coisas de mim. Quando fez isso tudo?
Edwin reclamou, porém não estava aborrecido. Conhecia-a muito bem para saber que ela devia ter planejado tudo aquilo há algum tempo. Dirigiu-se para a cozinha.
— Volto já.
— Quero um whisky também.
Margareth pediu, sentando-se na banqueta do bar de frente para a namorada, que já colocava outro copo no balcão. A doutora a acompanhou, sentando-se a seu lado.
— Outro para mim, senhorita Evernood.
Violet Lister pediu, sorrindo. Instintivamente, sabia que aquilo era o correto a se fazer e sentia-se acolhida por aquele grupo. Confiava naquelas pessoas.
Edwin retornou com uma porção de picles e outra de salsichas. Tomou o lugar de Evernood, expulsando-a detrás do balcão. Ela se juntou às duas mulheres, sentando-se em outra banqueta. Deixou que Edwin terminasse de colocar seu drink e elevou seu copo para um brinde.
— Todos teremos uma chave deste lugar. Aqui será o nosso local de encontro, quando tivermos um caso. Lembrem-se: é segredo de Estado. Brindemos a esse pacto!
Os copos se elevaram para selaram o acordo.
Margareth bebeu um pouco de seu copo e depois baixou-o para apoiar no balcão. Estava com o semblante pesado.
— O que foi, Meg? O que a incomoda?
Elizabeth perguntou, vendo que a namorada mudara a expressão do rosto em um segundo.
— Stain. – Meg respondeu com simplicidade. – Ele foi suspenso até que seja apurado se recebeu ou não dinheiro para não dar andamento nas ocorrências de desaparecidos.
— Isto é bom, não é?
Lister perguntou, não compreendendo muito bem por que Margareth estava entristecida. A doutora não acompanhou os anos iniciais da detetive de polícia no departamento e não conhecia bem o detetive ou a história que os envolvia.
— Seria bom, se ele não tivesse sido o detetive sênior que me acompanhou em meus primeiros anos de polícia. Ainda não acredito que ele fez isso…
Margareth balançou a cabeça, desalentada. Tomou outro gole da bebida, sentindo a mão de Elizabeth pousar em seu ombro.
— Não se sinta mal por ele, Meg. Ele nunca foi exatamente um exemplo de bom homem e muito menos de um mentor. – Elizabeth a consolou.
— E nem mesmo de um bom detetive. Sabe que até você fazer parceria com ele, não era notado no departamento? – Edwin foi enfático. – Todo o prestígio que ele conquistou, foi a partir do momento em que você atuou junto a ele. Sabe disso.
— Mesmo assim, não compreendo. Está certo que eu tenho uma boa vida, com dinheiro de família, mas, hoje, praticamente vivo com meu soldo da polícia. Não ganhamos mal e ele ganha mais ainda do que eu. É um valor que permite aos detetives antigos terem uma boa casa e viverem com conforto. Por quê?
— Por que querem mais?
Evernood respondeu, puxando a namorada pelo ombro para encará-la. Já vira tanta atrocidade, nos tempos de guerra, que um ser humano era capaz de fazer, que não se questionava mais sobre as razões de uma pessoa ser desonesta ou perversa.
— Meg, não queira entender uma mente com valores diferentes dos seus. Valores que não comungam com uma vida em sociedade. Você se desgasta emocionalmente com algo que não pertence a você.
Margareth inspirou fundo. Seu lado racional dizia que Elizabeth estava certa, porém, levaria algum tempo para apaziguar a sua angústia. De repente, sorriu. Ela se lembrou de algo muito bom e pensou que um motivo como aquele fazia valer a pena continuar trabalhando por uma sociedade melhor.
— Quero dar outra notícia a vocês. – Margareth comunicou, contente. – O senhor Howard, vendo o dano e sofrimento que toda essa história causou, está fazendo uma cooperativa com as famílias de fazendeiros para extrair o minério.
Todos sorriram, levantando os copos em comemoração.
— Que bom! Eu me preocupava muito com os Barclay. Foram tragédias demais assolando a família e, agora, somente os irmãos mais novos ficaram cuidando das terras. Embora sejam aguerridos, são jovens demais.
Evernood falou, contente com a notícia. A noite terminou sob conversas e risos. Coisas boas aconteciam, afinal!
Fim!
Notas: Tudo bem com tod@s? Então, eu tava lendo a história de uma pessoa super querida minha e ela lançou um desafio na história dela. Isso mesmo, é a Tattah com a história “Caçadora”. Ela falou que se essa semana tivesse até hoje 10 comentários na história, ela soltaria um capítulo extra amanhã e, se passasse de 10 comentários, ainda teria uma arte-imagem feita por ela. Então eu peço: Por favor, se alguém aqui lê a história dela e ainda não comentou, comenta hoje! Estou louca para ler o novo capítulo dela e o meu comentário não sei se vale, porque sou do site!!!! Não tá difícil comentar, pois não precisa logar no site. É só colocar algo simples, não precisa muito. Basta um nome (verdadeiro ou pseudônimo), um email válido (O email não aparece para ninguém), e pronto! A história dela é muito maneira!
Ps.: Esse é um apelo de fã! Sou apaixonada pela escrita da Tattah!
Beijão a todas!
Eita! Não imaginava que o sr. Cleese estaria metido nisso. O achei tão educado quando recebeu as detetives a primeira vez, e acabei deixando fora das suspeitas. Errei… da próxima os “bonzinhos” não me escapam. rs
Também pensei que queriam apenas as terras. Mas na verdade era o que tem nas terras. Minérios.
Amei a ideia do QG. Evernood é surpreendente, e Meg tá caidinha e cada dia mais solta. Será que a nova integrante do grupo vai demorar a perceber que as duas são mais que amigas?
Beijo, Carol
E parabéns por mais essa obra.
Se cuide!
Pois é Fabi! As vezes, quem vê a cara, não vê o coração, como já dizia o ditado. rs E na maioria das vezes sempre tem grana envolvida, ou um amor. rsrs
A Beth é cismada e gosta de fazer as coisas na surdina. rsr Mania dos tempos de guerra e isso atrai muito a Meg. Ela gosta desse jeitão! rs
Quanto a Lister, acho que ela repara muito mais no Edwin que nas meninas. kkkkk
Brigadão, Fabi e dê uma passada no Nono caso que postei hoje que tem uma surpresa. rs
Um beijão!
Mais uma vez arrebentou. Muito bom, só espero o desenrolar das coisas para o Edwin agora, afinal ele merecer rsrsrsrs
Bjs
Oi,Ione!
Então, o Edwin e a Lister seguem firmes na timidez, mas uma hora deslancha! rsrsr
Hoje postei o Nono caso e tem uma surpresa, quem escreveu foi a Naty Souza. Da uma passada lá! Está bem legal!
Um beijão!
Parabéns pelo enredo intrigante e inteligente.
Obrigada, Carla!
E valeu pelo carinho de sempre!
Um beijão!
Oiê, excelente dia!
Excelente caso,Carol! Muito bem escrito e desenvolvido, essas detetives realmente são cativantes!!
Ótima ideia de Evernood, um lugar top secret!
Esperando com paciência o próximo caso! Até a próxima estória…
Vejo o marketing por aqui…boa psicologia essa que vc soltou sobre os comentários!!
Eu sempre comento aqui pq gosto, assim q um já tá garantido!!
Se cuida, espero que esteja melhor! Beijos!!
Oi Lailicha, então, você lê as histórias da Tattah? Ela é muito boa. Ela está postando a “Caçadora”. Você irá gostar porque tem muito mistério, intrigas e ação.
dê uma lida na história. Já tá no 9º capítulo.
Carol,
Sou mega apaixonada por tuas histórias, mesmooo… hj subiste alguns mtos níveis de admiração por compartilhar teus fãs. Sei q Tattah tem vários, mtos fãs q leem o romance dela, não é por falta de leitoras q falamos. E sim, para ver se estas leitoras, as tuas e as dela se animam e comecem a comentar os capítulos q leem.
AGORA falando no capitulo de hj e no fim desta aventura, amo minhas meninas… é como chamo Evernood e Blindwar este cap foi maravilhoso, tu consegue nos fazer viajar com a história.
Parabéns Carol!!!
Oi, Nádia!
Muito obrigada! Não tem porque a gente não compartilhar, afinal, quem gosta de ler, gostará sempre de boas histórias e não existe essa coisa de perder fãs para outras escritoras, muito pelo contrário. A Tattah é uma querida e gosto demais da escrita dela. Em falar em escritoras, hoje tem outra surpresa. Já compartilhei o nono caso de Evernood e Blindwar e gostaria de saber se gostaram da surpresa. rs
As meninas Evernood e Blindwar agradecem seu carinho por elas. rsrs E eu também!
Um beijão para você!