Os Estranhos Casos de Evernood & Blindwar

23 – Oitavo Caso: O Druida Sanguinário – parte 4

Os Estranhos Casos de Evernood e Blindwar

Oitavo Caso: O Druida Sanguinário – parte 4

Texto: Carolina Bivard

Revisão: Naty Souza e Nefer

Ilustração: Táttah Nacimento


No episódio anterior… 

Evernood observou a troca de olhares entre Edwin e Lister. Achava cômico esse jeito tímido de seu “amigo de armas” diante de uma mulher. 

— Quer se juntar a nós, mais tarde, senhorita Lister?

A detetive particular convidou, vendo que John Edwin, em termos de conquista, estava muito aquém do homem de espionagem que era. 

— Sim, claro. Adoraria. Eu gostei de ver como vocês atuam. Como falei antes, é uma forma de me orientar no que preciso pesquisar para dar a vocês informações mais relevantes.

O tom da legista ao falar parecia calmo, porém Elizabeth percebeu que seus olhos pararam ligeiramente sobre seu amigo. 

Edwin era jovem. Não devia ser dois anos mais velho que Evernood, embora, pelos seus modos comumente sérios, aparentasse um pouco mais. Era um rapaz moreno e alto, com um semblante agradável. Mesmo que seus modos o deixassem com um jeito retraído, quem o observasse bem, conseguiria ver o belo homem que era.

— Então a esperaremos para o jantar, não é mesmo, Edwin?

— Ah, claro.

Edwin ficava sem muitas palavras diante da legista, o que era inusitado para a detetive particular. Ela quase o troçou, segurando-se no último minuto.


Parte 4 — 

Após Violet e Margareth chegarem, jantaram, sendo servidas por Tristan, que parecia alegre por seu mentor tê-lo deixado para tal tarefa. Edwin não apareceu, o que fez com que Violet Lister estranhasse. A verdade era que Evernood impediu que seu mordomo-amigo servisse o jantar como comumente fazia.

— Não seja tolo, Edwin! Acha que não percebi seu interesse na senhorita Lister? Aprenda uma coisa, meu bom amigo, o dia que servi-la num jantar, ele será a dois. Ela gostou de você e não desperdice isso. 

Apesar de Edwin negar com todas as forças, não desgostou da resolução. Juntou-se à elas na biblioteca, após Tristan ter servido o drink da noite. Evernood e Lister haviam contado no jantar as descobertas para a detetive de polícia e, quando ele entrou, dando uma desculpa qualquer pelo atraso, Margareth já conjecturava sobre o que fariam.

— Eu gostaria de requisitar uma diligência, Beth, porém gostaria de saber mais sobre quem são esses dois e por que um deles falou sobre alguém “não querer ir adiante”.

— Também estranhei essa fala, Meg. Quando estava à espreita, a princípio achava que fossem somente os dois homens, entretanto, quando escutei falarem que “ele não vai querer seguir adiante”, entendi que há mais alguém dentro desse conluio.

— Quer ir até a cabana amanhã sem uma guarnição para espionar?

Violet Lister perguntou, incrédula de que a detetive de polícia se colocaria em tão grande perigo.

— Não irei sem uma guarnição. – Margareth olhou para Edwin. – Terei o melhor guarda-costas de todo o continente a me proteger.

Edwin ficou corado, arrancando um sorriso de Evernood. Sem querer, Margareth havia enaltecido o amigo perante a legista, sem nem mesmo saber o que acontecia entre eles. Foi a deixa para a detetive particular esclarecer alguns pontos para a recente amiga, visto que ela começara a integrar a pequena cúpula deles.

— Provavelmente, já reparou que Edwin não é somente um mordomo com habilidades extras e de nossa confiança, Violet. Na verdade, Edwin além de meu “protetor”, é um exímio investigador. Quando o contratei, não pensava nas suas habilidades em gerenciar uma casa. Esse papel de mordomo é, na verdade, uma conveniência que achamos para que eu o tivesse por perto.

— Ele trabalha com você como investigador? Mas, por que se passa por mordomo?

— Porque assim, ninguém repara no que realmente faço, senhorita Lister.

Lister finalmente compreendeu toda liberdade e consideração que as duas detetives tinham perante o homem. 

Evernood e Edwin haviam investigado a legista, há algum tempo, quando ela assumiu a cadeira de professora de anatomia da universidade e, consequentemente, o cargo de legista para o departamento de polícia. Ela era uma mulher capaz e parecia ser bem honesta, o que os fez aceitá-la no meio deles. 

Para Margareth Blindwar, havia sido uma união natural. Primeiramente, em termos de competência e depois, amizade. Nada sabia da investigação de sua namorada e do amigo-mordomo. Antes de sua viagem à Paris, ela não sabia muita coisa a respeito da vida deles.

— Entendi. – Lister olhou diretamente para Edwin. – Quer dizer que você é um homem de muitas habilidades…?

Edwin não esperava por essa reação da doutora. Enrubesceu, fazendo Evernood abrir mais o sorriso, para logo depois, tirar seu amigo de apuros amorosos. 

— Então, vamos ver o que podemos fazer para amanhã. Pegarei o retrato falado dos dois homens e mostrarei aos fazendeiros para confirmar se está correto.

Blindwar conversou por muito tempo com Greendwish para convencê-lo a deixar que ela fosse sem diligência até a cabana. Ela o convenceu somente quando concordou em levar Spencer, entretanto, exigiu que fosse apenas ele a acompanhá-la. 

Margareth contou a Greendwish que Evernood estaria conversando com todos os fazendeiros novamente, o que não era mentira. Algo havia escapado a elas. Evernood teria em mãos os retratos falados, tanto do suposto sacerdote, quanto do advogado que circundara a fazenda dos Cleese e com este novo dado, poderia mostrar à todas as famílias e, talvez, conseguir outras informações.

A detetive de polícia orientou o policial a se vestir à paisana. Não queria que seu uniforme chamasse atenção e, muito menos, se fossem pegos, que os bandidos vissem que eram policiais. 

Encontrou-se com Edwin na estrada. Spencer estranhou o mordomo da senhorita Evernood estar junto e, foi nesse momento, que Blindwar o fez prometer que não falaria que tinham uma companhia. Em momento algum, ele deveria relatar a presença do mordomo.

— Entenda que estou te trazendo para uma missão de investigação e as pessoas que me auxiliam, não devem aparecer nos relatórios para protegermos a identidade delas. Se um dia quiser ser detetive, Spencer, terá que proteger seus informantes até mesmo do comissário.

— Compreendo sim, detetive Blindwar.

Spencer tinha muito a agradecer à Blindwar e não a decepcionaria. Além dela sempre incentivá-lo a crescer profissionalmente, era a única que acreditava em seu potencial. Agregado a isto, aprendia cada dia mais com a detetive. O comissário começava a observar seu empenho e dava-lhe créditos. Uma hora, quem sabe, conseguiria que ele desse uma recomendação para fazer o curso de detetives e alcançaria seu sonho.

Esgueiraram-se mata adentro e, após meia hora, chegaram às cercanias da cabana. Edwin a descrevera muito bem. Ela continuava cercada de ervas daninhas e plantas que cresceram à volta, após a morte do velho Adam, entretanto, havia um caminho que começava a ser traçado por pegadas próximo à cabana. 

Observaram por algum tempo e como não havia movimento, resolveram olhar mais de perto. 

— Vou até os fundos ver o pequeno celeiro de que falou, Edwin. – Voltou-se para o policial. – Fique de vigia e ao menor sinal de aproximação de alguém, dê um jeito de avisar discretamente.

— Eu sei fazer o pio de águia cinzenta. – O policial piou. – Posso avisá-la assim. – Falou alegre. 

Embora a reação do policial fosse entusiasmada demais para Blindwar, até gostou da solução. Era uma boa forma de alertá-la. 

— Edwin, consegue me dar cobertura mais de perto?

— Com certeza, Meg. Vá que vou averiguar as cercanias. 

Blindwar se embrenhou com cuidado, circundando a cabana para chegar ao barracão. Não era muito grande, como já imaginava. Era todo fechado com aberturas no topo, próximo ao telhado, talvez para a circulação de ar. Infelizmente para ver o que tinha dentro, teria que fazê-lo abrindo a porta.

Caminhou devagar, tentando escutar barulhos que denunciassem se alguém poderia estar dentro. Após perceber não havia perigo, abriu a porta. A luz entrou, revelando o interior.

— É, Violet, você estava certa. É uma guilhotina. 

Blindwar visualizou o sangue seco no chão de terra batida, cordas e uma pequena guilhotina, que parecia ter sido feita improvisadamente. Era grosseira, no entanto fora eficaz contra as vítimas. Fechou a porta, cuidadosamente, sem violar o espaço. Voltou ao abrigo da mata, encontrando-se com Spencer. 

— E aí? O que viu?

O policial perguntou, porém Margareth logo fez um sinal com a mão para que ele parasse de falar. Havia escutado uma movimentação no interior da cabana.

Esse homem estava o tempo todo do lado de dentro da casa! Que merda!

 A detetive de polícia pensou, torcendo para que não estivessem sendo vigiados. Fez um sinal para Spencer voltar pelo caminho e saírem dali. Ela sabia que Edwin se protegeria e retornaria à estrada e aos automóveis. Após um tempo de caminhada, em silêncio, regozijou-se pelo policial agir com tanta discrição. Aquele rapaz seria um ótimo detetive.

Chegaram à estrada.

— Está de parabéns Spencer. Chegamos em segurança e silenciosamente. – Ela o elogiou.

— Tento aprender, detetive, e presto atenção. A senhorita falou que queria achar o mandante. Presumi que não podíamos nos denunciar.

Margareth sorriu, em satisfação. O rapaz realmente era inteligente e perspicaz.

— O que viu lá? – Spencer perguntou.

Escutaram um barulho vindo da mata e logo Edwin se juntou a eles.

— Tudo bem? – Blindwar perguntou.

— Ele estava dormindo na hora em que chegamos. Olhei pela janela da cabana quando ele acordou, mas vi que você já se juntava a Spencer. É o sacerdote do retrato falado. – Edwin respondeu.

— A guilhotina está no barracão e o solo tem muito sangue seco e, cordas. É definitivamente nosso assassino.

— Não vamos prendê-lo agora, não é? Se o prendermos, não saberemos o tal que está por trás disso.

— Exatamente, Spencer. – Margareth respondeu. – E por isso, precisarei de sua ajuda e também de Smith. 

— O que precisar, detetive. Conte conosco.

— Retornaremos à cidade e eu o deixarei no departamento. Precisarei que você e Smith se revezem na vigia dessa cabana e que convença Greendwish a não atuar, enquanto não acharmos o verdadeiro motivo para tudo isso. 

— Eu?

— Sei que consegue, Spencer. – Margareth o encarou, serena. – Lembre-se: não fale de Edwin. Diga que eu fui me encontrar com a detetive Evernood e saber o que ela conseguiu com a visita aos fazendeiros. Há um motivo para que esse homem esteja assassinando pessoas e não é por algum ritual religioso.

— Irei visitar alguns conhecidos meus na prefeitura. Quero saber se alguém andou fazendo levantamentos sobre essas terras. – Edwin declarou. – O tal sacerdote estava falando para as famílias que essas terras eram sagradas, mas por quê? Deve haver algo mais nessa história.

— Bem pensado, Edwin. Antes de me encontrar com Elizabeth, passarei na delegacia, entretanto irei ao departamento que cuida da documentação de procurados de todo o país. Assim que os retratos falados foram desenhados, pedi para fazerem uma busca e comparação. Depois encontrarei vocês no pub da universidade.

— Certo.

  Evernood levou o dia inteiro para percorrer todas as terras e conversar com os fazendeiros. Todos reconheceram um ou outro retrato falado, menos Benjamin Howard, o fazendeiro que tinhas suas terras ladeadas às de Villin e, por esse motivo, deixou para conversar com ele por último.

— Disse que trabalha para a polícia, senhorita Evernood?

— Não exatamente, senhor Howard. Fui contratada por uma das famílias, todavia tenho que partilhar minhas descobertas diretamente ao departamento que está investigando as mortes e os desaparecimentos dos fazendeiros. 

— Esses dois que me mostrou são os sujeitos que estão fazendo isso? Se forem quero saber, pois colocarei meu capataz para melhorar a segurança em minhas terras. Não quero que aconteça nada com meus filhos e nem a mim. 

— A polícia está investigando, senhor. Ainda não é conclusivo.

— Mas a senhorita falou que eles abordaram as outras fazendas. São forasteiros nesta área e não vou facilitar.

— É estranho que nenhum deles tenha lhe abordado ainda. Embora, também não o fizeram com o seu vizinho, senhor Villin. 

— Não sei o que pensar, senhorita Evernood, a não ser que seja pelo fato de eu ser o maior fazendeiro da região e tenho muitas pessoas trabalhando para mim. Tenho um administrador, um capataz e diversos lavradores. Também há o fato da região leste da minha fazenda não ser produtiva. É uma região rochosa, sem expectativa para plantio. 

— É possível que se sintam intimidados por sua posição, senhor Howard. Os outros são pequenos produtores e são mais fáceis de se aproximarem deles. Mas fique atento e, se por acaso um desses homens rondar a sua fazenda, peço para que entre imediatamente em contato com a detetive Blindwar da polícia, ou mesmo a mim.

— Certamente, senhorita. A polícia pode contar comigo.

O pub em frente à universidade passou a ser um local de encontro entre eles, depois que a legista integrou aquela equipe distinta e seleta que Evernood e Margareth firmaram. Não era o melhor local, pois havia muitos estudantes, professores e seus agregados. Essa situação começava a incomodar a detetive particular.

Evernood pensava sobre o assunto, enquanto parava seu carro no estacionamento da universidade. Ela não conseguia deixar os velhos hábitos de lado. Sabia que ser detetive particular era diferente de ser espiã, no entanto, também achava que privacidade era algo que valia a pena manter.

Assim que entrou no pub, logo avistou sua namorada acompanhada de Edwin e Lister. A última mesa do pub também passara a ser cativa deles. Apesar de ser a mais reservada, fazia com que o local ficasse marcado. Ela endureceu o semblante a esse sentimento de vulnerabilidade.

Assim que se aproximou, Blindwar a brindou com um sorriso, que fez com que Evernood esquecesse de seu aborrecimento. Sentou-se ao lado dela, de frente aos outros amigos. 

— Muito bem, o que temos de novo?

A detetive particular perguntou de chofre.

— Por onde quer que comecemos? – Margareth respondeu com outra pergunta e continuou a falar. – Pela cabana com uma guilhotina no barraco atrás dela, pelas terras daquela região terem sido pesquisadas na prefeitura pelo tal advogado, ou por esse advogado e o sacerdote terem ficha de procurados em outras cidades?

— Nossa! Vejo que tiveram trabalho. Comecem pelo advogado e o sacerdote. 

Evernood pediu e Blindwar começou a relatar que eles eram procurados em mais três cidades por identidades falsas, assassinato e estelionato. Ninguém sabia a identidade real deles, mas definitivamente não eram advogado e sacerdote.

— Eu consegui na prefeitura uma identificação positiva do advogado, mostrando o retrato falado. Deu o nome Richard Sunset.

— Que criatividade… 

Violet Lister falou em tom de ironia. Era um nome vago, comum até, e que sugeria trapaça. A expressão de todos mostrava que concordavam com ela e Edwin continuou seu relato.

— Ele andou procurando os nomes dos donos das terras da região, mas não de todas. Eram das fazendas após as terras de Cleese e Howard. 

— Não queriam se meter com as grandes fazendas…

A legista Lister especulou e Edwin acenou positivamente com a cabeça, porém, nesta hora, ele não expressou qualquer sentimento dócil. Imaginava se haveria qualquer outro motivo envolvido.

— Não acho tão simples assim. Eles não estão atuando sozinhos e temos que ver o interesse naquela região, para investigarmos quem poderia estar por trás disso. – Evernood declarou.

— Concordo com a Beth. – Blindwar se posicionou. – Não quero pedir para prender o homem que está na cabana, pois mesmo que tiremos informações, o mandante poderá retrucar, dizendo que o homem inventou. Temos que ter provas ou mesmo, presenciar qualquer ato ilícito do mandante.

— E para isso, teremos que descobrir quem é ele, antes de prendermos os parceiros.  Meg está certa. 

Edwin afirmou e viu, num vislumbre, um sorriso da parceira de espionagem. Embora Evernood tentasse não demonstrar o que via sobre o interesse do amigo na legista, nem sempre conseguia disfarçar. Edwin ficava diferente perante a doutora. Era mais comunicativo, tentando mostrar a sua perspicácia.

— Agora me falem sobre a cabana. Pelo que me falou, – Evernood olhou diretamente para a namorada – há uma guilhotina lá. É isso?

— Exatamente. Está no barraco atrás da cabana e, além da guilhotina, havia sangue e cordas. — Margareth respondeu.

— Isso já muda de figura. Se desconfiarem que estão sendo vigiados, poderão se livrar da arma e limpar o lugar.

Evernood despertou a todos para a possibilidade, entretanto Blindwar acenou com a cabeça negativamente, explicando logo a seguir.

— Deixei Spencer e Smith se revezando na vigia. Depois que passei no “setor de procurados”, fui ver Greendwish. Ele aceitou a sugestão da vigia, mas orientou a Spencer e Smith a atuarem para prender qualquer um que se aventurasse a limpar a cena do crime. Agora temos mais dois policiais lotados na Crimes Graves. Eles são novos na polícia. Vão fazer dupla com os veteranos.

— Ótimo.

Evernood achou que o arranjo de Greendwish foi bom e começou a contar o seu dia. Nada de incomum surgiu no relato das famílias com exceção da conversa com Benjamin Howard. Dessa vez, o homem a recebeu, demonstrando preocupação pelo que ocorria com seus vizinhos fazendeiros e com a segurança da família.

— E o que faremos agora?

A doutora Lister perguntou, vendo que estavam numa encruzilhada.

— Esperar. – Edwin respondeu. – Temos que esperar que Spencer e Smith consigam com a vigia mais informações desses dois. Além disso, hoje não poderemos fazer mais nada. Amanhã circularei pela cidade para ver se alguém reconhece um deles e se frequentaram algum local específico.

— Perfeito, Edwin. Como agora tem um rosto para os dois, é impossível que não tenham circulado pela cidade e alguém não os reconheça.

O encontro foi findado com Edwin acompanhando da médica até em casa. Ela morava algumas ruas após a universidade, porém a noite já avançava. Margareth tinha deixado seu carro em casa, antes de ir para a delegacia e, consequentemente, estava a pé. Evernood ofereceu-lhe carona que foi prontamente aceita.

Já no carro, Elizabeth não pode deixar passar um carinho na mão da detetive de polícia. Estava com saudades da namorada e de ter um tempo a sós.

— Deixo você em casa?

— Lógico que não. – Margareth respondeu com um sorriso. – Estamos há dias nos vendo somente para a discussão do caso. Falei para minha mãe que hoje dormiria em sua casa, já que precisaríamos conversar sobre nossas descobertas do caso e, talvez, ficasse tarde para uma moça como eu andar pela cidade sozinha.

Evernood riu da pilhéria que a namorada fez com a mãe.

— E ela não reclamou?

— Ah, sempre reclama. Disse que se não tivesse a profissão que tenho, não precisaria ficar por aí, mas aceitou.

Ambas estavam cansadas do dia e quando chegaram à mansão Evernood se recolheram. Apesar de Elizabeth manter o quarto de hóspedes para Margareth, para não levantar fofocas entre a senhora Blister e Tristan, a detetive de polícia sempre ia para seu quarto, após se banhar e trocar.

Margareth entrou no quarto sem bater e, logo depois, trancou a porta. Já havia criado um hábito e embora Elizabeth falasse que não era necessário, pois a senhora Blister não morava lá e Tristan dormisse cedo na parte dos empregados, no andar de baixo.

— Sabe que ninguém aqui em casa abriria minha porta sem bater, não sabe?

Era o que sempre Elizabeth falava.

— Não gosto de surpresas.

E sempre Margareth respondia.

A detetive de polícia se lançou, abraçando a namorada sobre os ombros, beijando-a com saudade.

— Deus! Ficar três dias sem seu beijo me atormenta. Você me enfeitiçou, senhorita “espiã Evernood”.

Elizabeth não sorriu em meio ao beijo e a fala de Margareth. Ela parecia sentir que o ar escapava dos pulmões, de tanta falta que tinha da namorada. Não tê-la consigo todos os dias figurava como se a felicidade pudesse lhe escapar a qualquer momento.

— Podemos discutir sobre o caso somente amanhã? Quero passar a noite abraçada a você.

Margareth a beijou de forma calma e demorada. Separou-se, a fitando de perto.

— Excelente ideia.

Falou baixo e suavemente, puxando a detetive particular para a cama. Embora a primavera já estivesse no auge, as noites na cidade sempre eram mais frias. Aconchegaram-se sob o lençol e cobertor.

Seus corpos se fundiram em um abraço forte. Tinham saudades e vontade de sentirem o prazer uma da outra, mas também estavam cansadas. Elizabeth retirou devagar a veste de dormir de Margareth. A detetive de polícia não tinha mais vergonha, nem de seu corpo e, muito menos, de ceder ao deleite.

Aos poucos, Elizabeth acariciou o corpo desnudo e alvo, vendo seus toques arrepiarem a pele. Era um carinho lento, em que apreciar as reações da namorada ao tato, proporcionava-lhe uma emoção jamais sentida.

O dorso de Margareth contorcia ao leve contato dos dígitos sobre o abdômen macio. Baixou o rosto, beijando o umbigo, para depois introduzir a língua com suavidade. A detetive particular escutou um gemido contido e sentiu a contração da musculatura, sob a língua.

Deslizou a mão que acariciava as laterais para se alojar na cavidade morna e úmida da namorada.

Aquela seria uma noite calma e relaxante para as duas. 

— O que aconteceu, Spencer?

Evernood e Margareth chegaram juntas ao local de encontro na estrada. O policial pedira para seu parceiro novato voltar à cidade para chamar a detetive de polícia.

— Fiz como pediu. Observávamos de longe, sem interferir. O homem enlouqueceu. Pelo que entendi, ele estava esperando o parceiro e o outro não chegou. Começou a ficar impaciente e, lá pelas tantas da madrugada, começou a abrir e fechar o barraco, andando de um lado a outro.

— Ele não entrou para limpar o local, não é?

Margareth perguntou ao policial, temendo que as provas tivessem sido retiradas.

— Não. Ficava do lado de fora, com a porta aberta, somente olhando, até que entrou na casa, colocou um casaco e saiu.

— Então não sabe onde ele está?

Evernood se preocupava em perder o suposto sacerdote de vista. Definitivamente, isto não estava em seus planos, nem no de Edwin e Margareth.

— Bom, ainda não, mas saberei. – O policial Spencer sorriu. – Quando ele começou a ficar muito agitado, falei para o policial Martin chamar Smith e o outro rapaz novato, antes de chamar as senhoritas. Ainda bem que eles chegaram a tempo de seguirem o suspeito. Smith disse que enviaria Collins, assim que tivessem o paradeiro final do homem.

— Collins é o nome do outro novato?

— Sim.

— Ótimo, Spencer. Pensou como um verdadeiro detetive.

O policial enrubesceu ao escutar o elogio da detetive de polícia e, ao mesmo tempo, se envaideceu. Ele a considerava mais esperta do que qualquer outro no departamento e queria seguir os passos dela. Às vezes se enraivecia, quando escutava outros policiais o chacotearem, dizendo que ele era babá de mulher e se envergonhava em pensar que, outrora, via a situação da mesma forma que eles.

— Ficarei aqui para esperar o policial Collins. Se quiser ir para casa descansar, pode ir.

— Se me permitir, senhorita Blindwar, gostaria de ficar mais um pouco. Talvez o suspeito volte para a cabana, ou quem sabe o seu parceiro; e se tiver que atuar, estarei pronto.

— Não está cansado? Ficou a noite toda de vigia.

— Estou, mas não a ponto de largar a missão pela metade, detetive Blindwar.

— Está bem. Já dispensei o policial Martin e, assim que Smith e Collins chegarem, vá descansar, pois precisaremos de você “inteiro”, se tivermos que fazer alguma prisão.

— Certo, detetive.

— Bom, eu vou voltar à casa dos Cleese. A filha mais velha ficou de mostrar para todos da fazenda o retrato dos dois homens, para saber se algum deles se aproximou dos empregados.

— Tudo bem. – Margareth respondeu para Elizabeth. – Mais tarde nos encontramos para juntarmos as informações.

Elizabeth acenou para os dois e entrou no seu carro.

          Assim que Edwin escutou o carro se aproximando, verificou as algemas que havia colocado no suspeito. Resolveu amarrar seu corpo e a cadeira em que se sentava a uma pilastra com uma corda. Saiu para receber a detetive particular.

— E aí, como foi?

— Foi tudo bem. Peguei-o desprevenido e ele não viu meu rosto. Está amordaçado e com um capuz.

— Não vou entrar. Não quero que ele saiba que há uma mulher junto ao homem que o sequestrou.

— Não tem problema. Basta ficar calada. Eu mesmo não abri minha boca nem um segundo e ele está tão apavorado que começou a falar, mesmo sem eu perguntar nada.

Edwin sorriu, fazendo Evernood balançar a cabeça em negativa, rindo juntamente com ele.

— Tortura psicológica? Você é terrível, Edwin.

Elizabeth, Edwin e Margareth traçaram o plano de sequestro do suspeito, que se passava por advogado, há dois dias. Não quiseram participar à médica legista, pois ainda não sabiam como ela reagiria. Após a detetive de polícia saber o passado de espiões da namorada e do mordomo, começou a confiar mais nas soluções que sugeriam aos casos.

— Não dei uma só palavra até agora e ele está tagarelando desde cedo. Ainda não fala coisa com coisa. Acredito que esteja falando de crimes antigos.

— Ele está atordoado. Não sabe pelo que foi sequestrado, diante de tantas falcatruas que já fez. Na visão dele, seu captor pode ser qualquer pessoa que ele já prejudicou. – Elizabeth especulou.

          — É o que penso também. – Edwin concordou. – Uma hora ele soltará a língua, sobre o que está acontecendo aqui.

Edwin havia levado o suspeito para uma das fazendas abandonadas nas cercanias, das quais tinham feito o levantamento na prefeitura.

— Então, vou entrar. Vejamos as coisas que ele fala.

Elizabeth entrou acompanhado do amigo. A casa da fazenda estava caindo aos pedaços, pois aquele sítio fora abandonado há muito tempo. Servia para o propósito deles. O cheiro de mofo rescendia, misturado ao cheiro da madeira queimada na velha lareira.

Evernood parou, observando de perto o sujeito amarrado e de capuz. Arrastou o pé, próximo ao dele, tocando a ponta de sua bota. O homem jogou seu corpo para trás na cadeira, assustando-se.

— O que quer comigo? Fale!

O silêncio permaneceu, fazendo o homem resfolegar, aumentando a sua apreensão.

— Não sou eu. Estou sendo pago! – Ele falou.

A vontade de Evernood perguntar sobre o que falava era muita, entretanto, sabia que aquele tipo de pressão só daria certo se ficasse quieta. Esperou um pouco e depois pegou um pedaço de madeira no chão. Aproximou a ponta da garganta do homem e apertou levemente. Não queria machucá-lo, mas sim, assustá-lo o bastante para que falasse mais.

— Fale com Cleese. Ele que veio atrás de mim.

Evernood estreitou o olhar. Finalmente, um nome surgia.

Depois de escutar algumas coisas a mais, a detetive particular deixou que Edwin continuasse a fazer o jogo do silêncio com o homem. Conseguiram algumas informações valiosas.


Nota: As coisas estão ficando mais claras agora, não acham?

Espero que tod@s tenham um fim de semana maravilhoso!

Um beijão!



Notas:



O que achou deste história?

6 Respostas para 23 – Oitavo Caso: O Druida Sanguinário – parte 4

    • Muito obrigada, Carla!
      Que ótimo que está gostando! É elas tem uma cumplicidade muito legal. Não tem essa de eu sou melhor que você e vice-versa. Isso que é bom. rs
      Valeu, Carla
      Um beijão!

    • Oi, Ione!
      O Edwin está se soltando, não é? rsrs Está encantado pela legista. Tomara que a Lister se encante por ele também.
      Muito obrigada pelo carinho de sempre, Ione.
      Um beijão pra ti!

  1. Carollllll, é sério que vc terminou aí?!! Nem pra falar as informações todas que conseguiram… vc seria boa em marketing e em tortura tb!!! Kkkkk

    Eu q pensei q Haword poderia estar envolvido..esse Cleese….
    Adorando esse quarteto!!!! Edwin cada vez mais atraído, pavoneando com Violet Hauhauha
    Me pergunto fomos mãe de Meg n desconfiou ainda desde dorme e dorme de Meg na casa de Beth!!
    Nossa, eu n tô conseguindo acertar uma nesses casos e esse último tá pior! Hahaha.
    Chega sexta, chega!!!!Quero algo parecido ao suposto buraco de minhoca…vc vê “The 100”, temporada 7? Tipo isso tô querendo agora!!! Minutos no planeta Terra, são 4/5 anos no Beta!! Haha.
    Beijos, Carol!!! Fique bem!!!!

    • kkkkk. Lailicha, o que seria de mim se não deixasse uma curiosidade para depois, einh? rsrs
      Pois é. Tenha em mente que as aparências enganam rsrsrs. Principalmente em casos de morte, ganância, vaidade… Ah, a vaidade… como diria no “Advogado do Diabo”, a vaidade é o melhor pecado. rsrs
      Naquela época, Lailicha, dormir na casa de amiga, não era um problema. As mães achavam que amiguinhas eram amiguinhas. Isso é o que tornava a vida menos duras para uma lésbica, nesse tempo.
      Sexta chegou finalmente!
      Eu assisti The 100 até a 5 temp. Achei o início da 5 temp meio chato, mas já decidi fazer maratona para assistir a 5 e a 6 essa semana. rsrs
      Fica na paz, Lailicha
      Um beijão prara você e para Mocita!

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