Caminhos em Dias de Luz

Capítulo 12 — Novos Rumos

Caminhos em Dias de Luz

Texto: Carolina Bivard

carolinabivard@gmail.com

Revisão: Nefer

Ilustração: Táttah Nascimento


 

Capítulo 12 — Novos Rumos

 

Laura foi direto à sala de Amalie.

— Oi. Tudo bem?

A sala era mais espaçosa e tinha um tom mais conservador. Os móveis eram de madeira rústica escura e eram bem pesados. Contrapunham-se completamente com a sua antiga sala, mais aberta e menos austera.

— Laura, eu estou revisando o contrato que Amino redigiu para você, mas gostaria que você lesse e, se concordar, nós assinaremos agora.

Laura sorriu. Certamente impressionou Amalie, pois esta estava ansiosa para tê-la consigo na administração do departamento. Pegou o contrato e começou a lê-lo. Os termos eram simples, mas incisivos. Impressionou-se ao ver o valor que ela teria como salário.

— Amalie, eu pensei que receberia o mesmo valor que tinha na chefia. Não esperava que me pagasse mais pelos meus serviços!

Amalie sorriu.

— Na realidade, Laura, seu salário era incompatível com a sua formação, mas eu não podia, naquele momento, questionar isso com a diretoria. Você sabe bem que eu estava sob fogo pesado, mas agora, eu posso pagar o que acho justo, contudo não é bondade minha. Não pense isso. É só uma forma de “comprar” você para que não queira rescindir o contrato antes do prazo. Se você perceber, a rescisão pela sua parte faz com que você tenha que pagar cinco vezes o valor de seu salário no momento da rescisão, então…

— Entendi. – Laura sorriu. — Um valor desses seria desencorajador para qualquer mortal! Isso quer dizer que estou presa a você por um ano!

— Completamente! – Amalie deixou bordar um sorriso brejeiro em seus lábios. – Mas se observar atentamente…

— Eu sei. Eu li. Se você quiser se livrar de mim, também terá que pagar a mesma quantia.

— Então acho que estamos presas por um ano, uma à outra.

— Sei que é para que possa ter munição contra a direção, uma desculpa para que não seja pressionada, mesmo assim, obrigada. Vou assiná-lo.

— Laura, eu posso te fazer uma pergunta íntima?

Laura olhou um pouco tensa para Amalie.

— Olha, se você não quiser ouvir a pergunta, não tem importância. Não ficarei chateada.

— Não tem problema. Pode perguntar. Depois de tudo que falei da minha vida e da minha relação com meu pai, acho que não tenho nada mais com que me preocupar.

Amalie olhou-a, diretamente.

— Você é gay?

Laura ficou visivelmente estarrecida. Não esperava essa pergunta por parte de Amalie de forma tão direta. Não conseguia imaginar por que ela teria essa curiosidade.

— Olha, Laura. Com sinceridade, eu não tenho nada com sua vida pessoal, e nem é algo que me incomode. Eu só perguntei, pois no dia em que Arrais veio me falar de você, sobre seu pai tê-lo procurado, ele me contou que seu pai disse que você era uma filha que precisava ser orientada, pois era uma mulher de vida devassa e saía com mulheres só para afrontá-lo. 

— E meu pai continua atrapalhando a minha vida… — Laura falou com visível desânimo.

— Eu contestei, porque convivi com você essas semanas e sabia que ele devia estar fazendo intriga para que Arrais desse razão a ele. Mas pelo que percebi, seu pai deve ser um homem que investiga tudo para que o controle não saia das mãos dele. Assim, te fiz essa pergunta para que pessoas não possam utilizar desse golpe baixo contra você.

Laura meneou a cabeça em sinal de cansaço e decepção. Tinha agora a certeza de que seu pai sabia o tempo todo de sua condição sexual e que seu casamento fora imposto, também, para justificar para a sociedade a filha exemplar que ela era.

— Amalie, se você não quiser assinar esse contrato, não precisa. Realmente, sou lésbica e não achava que meu pai soubesse disso. Sei o quanto você será pressionada, caso pessoas venham a desconfiar de minha orientação sexual.

— Ei, Laura! Não é nada disso. Já falei que a mim não incomoda. Não tenho problemas a esse respeito. Aliás, achei uma falta de compostura completa de seu pai, colocando isso para um superior seu. Eu só queria que você confiasse, para que num futuro isso não venha a prejudicar você. Veja bem, se eu souber e alguém fizer algum tipo de alusão a esse respeito, eu estarei respaldada e teria argumentos, ou melhor deteria as investidas dessa pessoa, antes mesmo que essa fala pudesse se tornar intriga.

— Para você, não é problema nenhum mesmo, Amalie? Hoje, para mim, não interessa mais o que meu pai venha a fazer, mas não gostaria de trabalhar sabendo que qualquer coisa relacionada à minha vida pessoal possa interferir no andamento de nosso relacionamento profissional.

— Claro que não, Laura! Se me incomodasse, não teria te defendido e, muito menos, articulado para que você ficasse aqui. E depois, se eu fosse preconceituosa, não teria apoiado o Castelão na decisão de chamar a Alesha.

— Alesha?

— Sim, ela é homossexual, você não sabia? Desculpa. Eu pensei que soubesse, Laura…

— Por que sou homossexual deveria saber?!

— Não! Não é isso! É que todo mundo na empresa sabe. Ela não levanta bandeira, mas não esconde sua orientação sexual de ninguém, só isso.  Olha, se é um assunto que te incomoda…

Laura balançou a cabeça e sorriu com certo desânimo.

— Não, Amalie. Eu é que tenho que me desculpar com você. Você está sendo ótima. Eu é que trouxe essa carga toda por conta de meu pai…

— Escuta, Laura. Não conheço seu pai pessoalmente, mas sei da fama dele de exímio negociador e articulador. As pessoas, no nosso meio, falam e, mais, dizem também que ele é um grande manipulador e controlador, coisa que constatei ser verdade a partir do episódio com relação a você.

— E você nem o conhece pessoalmente. O senhor Archiligias acredita que o mundo inteiro gira ao redor dele. 

— Por isso você não precisa se preocupar, pois o que vier de informação a seu respeito, vindo da parte dele, eu vou sempre participar a você. Eu entrei na sua intimidade para que amanhã ou depois, você mesma não seja pega desprevenida.

— Eu entendo e agradeço muito, Amalie.

— Vamos assinar o contrato então? — Amalie sorriu, deixando Laura mais relaxada.

— Ok! Vamos!

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Alesha voltou e soube por Naomi que o Lacerda ficou conversando com o Castelão quase uma hora e meia, depois saiu soltando fogo pelas narinas, pois a reunião havia sido em sua própria sala e o Castelão fez questão que ele pegasse todas as suas coisas e, dali mesmo, fosse embora.

— E aí, Naomi?

— E aí que ele pediu para, assim que você chegasse, ir direto para a sala do Lacerda; ele está lá te esperando. Outra que dançou foi à secretária do Lacerda também.

Naomi falava um pouco desesperada e apreensiva.

— Não fica preocupada, Naomi. Depois eu vou te contar um monte de coisas e mudanças que a Laura me contou e acho que é coisa boa. A Gracinha dançou, porque ela tinha sido posta pelo próprio Lacerda; ela já era conhecida dele antes. Você sabe que, qualquer movimento aqui, ela batia tudo para ele. Agora vou falar com o Castelão, antes que ele me procure novamente.

Alesha ficou mais de duas horas com Castelão, antes de mandar chamar a Naomi para a reunião que eles estavam tendo. 

Depois de tudo acertado, elas foram almoçar. Naomi não aguentava de tanta felicidade. Depois de tanto tempo na empresa, o trabalho delas finalmente estava sendo reconhecido. Passaram o resto do dia fazendo a mudança e, ao final da tarde, Laura batia no portal da nova sala de Alesha que se encontrava entreaberta.

— Feliz com a nova sala?

Alesha estava guardando algumas coisas pessoais na gaveta de sua nova mesa. Levantou o olhar para ver a loirinha encostada na porta com um olhar de felicidade. Abriu um enorme sorriso.

“Nossa! Como o sorriso dela é maravilhoso”. — Laura pensou.

— Você deveria sorrir assim sempre.

Alesha abriu mais ainda o sorriso.

— E por quê?

— Porque desse jeito conseguiria convencer qualquer pessoa a fazer qualquer coisa que você quisesse.

— É mesmo? Então, se eu sorrir assim para você hoje no jantar, posso te convencer a fazer qualquer coisa que eu queira? Hum! Interessante… Acho que eu gostei de saber disso.

O rosto de Laura assumiu uma coloração mais rubra e ela parecia uma menininha que havia sido pega roubando doce de tão envergonhada.

— Entra. Fecha a porta. – Alesha a convidou, rindo.

Laura entrou e fechou a porta atrás de si. Recuperou-se da investida da morena e caminhou sensualmente em passos cadenciados até a cadeira em frente à mesa de Alesha. A morena, observando a pequena mulher se aproximar engoliu em seco, pois até a forma como Laura andava mexia com todos os sentidos de seu corpo. 

O jeito suave, o balouçar dos quadris deixavam a imaginação de Alesha vagar. Laura se sentou e viu que conseguiu provocar o que queria. Via os olhos da morena grudados em si com uma expressão de desejo. Pegou uma caneta em cima da mesa e levou-a até a boca chamando a atenção para seus lábios. Mais uma vez, Alesha engoliu em seco sem desgrudar os olhos dos lábios da loirinha. Ela sorriu ainda com a caneta próxima à boca.

— Não me provoque, Alesha. Eu também sei brincar disso.

Alesha despertou do quase transe e se levantou de sua cadeira se aproximando da porta e trancando-a com chave. Laura levantou de sua cadeira.

— O que você está fazendo?

A morena caminhou até Laura e essa manteve o braço estendido à frente para impedir que Alesha se aproximasse.

— Alesha, a gente está no trabalho! Alesha!

Sem dizer uma só palavra, segurou o braço de Laura e puxou-a para si. Quando seus corpos se juntaram, Alesha olhou para os lábios de Laura com desejo. Segurou sua nuca e trouxe-a para que sua boca arrebatasse em um beijo ardente. A loirinha tentou se desvencilhar, mas o gosto da morena, o cheiro, as mãos que a seguravam, tudo contribuía para que ela se rendesse sem reservas. O corpo de Laura amoleceu nos braços da morena e ela começou a retribuir o beijo com fome. Passou seus braços pelo pescoço de Alesha. Deixou que sua língua dançasse ao ritmo da língua da outra.

“Meu Deus! Que gosto bom”!

O beijo foi assumindo uma intensidade que até mesmo Alesha custava a recuperar a razão. Queria engolir a loirinha ali naquele momento. O corpo de dela reagia a intensidade, provocando uma umidade deliciosa entre suas pernas. Suas bocas se separavam só para pegarem um pouco de ar, mas retornavam imediatamente o beijo com o mesmo vigor. As duas ofegavam e soltavam gemidos. Alesha empurrou Laura para se apoiar na borda da mesa, conseguindo assim intensificar o contato de seus quadris em um rebolado sensual de puro deleite. Laura gemeu alto e falou roucamente entre os lábios da morena.

— Alesha, a gente não pod…

Antes de terminar de falar, Alesha segurou uma de suas coxas elevando-a para que se apoiasse em seu quadril e ela pudesse colocar a sua coxa entre as pernas de Laura.

— Ahh! Alesha… Ah! Por favor…

Laura queria resistir, mas ficava cada vez mais difícil com Alesha movendo a pelve entre as suas pernas e beijando com uma fome delirante.

Alguém bateu à porta. Laura recuperou a razão e, na mesma hora, afastou a morena, cortando a onda sensual que as envolvia. Suas pernas estavam bambas e seu rosto afogueado.

— Droga! — Alesha respirou fundo algumas vezes para recompor-se.

— Só um momento.

Laura se sentou, imediatamente, na cadeira ficando de costas para a porta, pois se ficasse em pé suas pernas poderiam falhar. A morena caminhou até a porta e destravou. Um dos contadores veio lhe entregar a pasta com a documentação de desligamento de Lacerda e da secretária, como ela havia pedido anteriormente. Ele tentou espiar apenas por curiosidade a sala em que a antiga gestora administrativa agora ocupava, mas o corpo de Alesha não deixava que visse muita coisa. Ela elevou uma de suas sobrancelhas em sinal de contrariedade, revirou os olhos, mas conteve seu temperamento.

— Obrigada, Rafael.

Falou incisiva para que o rapaz se tocasse e fosse embora. Fechou a porta novamente, mas o clima já havia sido desfeito e provavelmente Laura não permitiria que acontecesse novamente, ali. Alesha retornou à mesa e sentou-se em sua cadeira de frente para a pequena mulher com um sorriso vitorioso nos lábios. Laura terminava de escrever o seu endereço em um papel quando reparou no sorrisinho sarcástico de Alesha.

— O que foi?

— Eu disse que você não sabia brincar disso..

— Não me provoque, pois eu posso rasgar esse endereço agora mesmo. — Laura segurou o papel com as duas mãos, ameaçando rasgá-lo.

Alesha podia não conhecer a fundo Laura, mas pelo que conhecia a nível profissional, tinha certeza que a loira era capaz de cumprir o que ameaçou. Levantou os braços em sinal de rendição e desfez o sorriso.

— Já parei.

Laura levantou da cadeira, entregou o papel para Alesha e enquanto caminhava para a porta falou.

— Viu como eu sei jogar?

Abriu a porta e saiu sem olhar para trás. Alesha relaxou na cadeira com o papel entre os lábios sorrindo e sussurrou para si mesma.

— Vamos ver baixinha. Vamos ver!


Nota: Esse é o capítulo da semana, pessoal. Bom fim de semana a tod@s

Beijão!



Notas:



O que achou deste história?

10 Respostas para Capítulo 12 — Novos Rumos

  1. Gente! No trabalho cheio de víboras é perigoso rsrsrsrs
    Finalmente o primeiro “encontro” de verdade. União pra derrubar
    os mau caráter como o pai e os cretinos da empresa. torcendo demais
    para que aconteça

    • Pois é, Ione! Elas estão arrumando pra cabeça, não estão?
      Elas vão jantar e o que será que vai rolar? rsrsr
      Quanto ao pai, ainda terá muito pano pra manga. O cara é tinhoso.
      Brigadão Ione!
      Um beijão pra você!

  2. Carol, vc n presta!! kkkkkkkkkkkk
    Adorei o capítulo extra!! Só pude ler agora…
    Alesha sabe brincar e provocar e tem pegada! Coitada de Laura, n sabe onde se meteu!!kkkk
    Até o próximo capítulo!
    Ps: Nega vc sabe escrever, hein! Hahahaha

    Beijao e tudo de mais maravilhoso pra vcs e continue se cuidando..eu acho que só saio daqui em setembro,se duvidar em dezembro! Hahahaha. Mas sei q mt gente nao poderia…
    Bom finde!!

    • Não presto por que? kkkkk
      Acha que Laura não sabe no que se meteu? Sei não… Acho que ela sabia e queria. kkkkkk
      Valeu, Lailicha! Brigadão pelo carinho de sempre.
      Estou me cuidando sim, mas a gente nunca sabe realmente. Eu também estou podendo ficar em casa, mas há muita gente que vai sofrer se não trabalhar. Em compensação, poderá sofrer muito mais, se não se cuidar.Essa é daquelas horas que quem pode auxiliar, deve se empenhar. Ajudar quem está necessitando e está próximo de si, já é de grande ajuda. Eu por exemplo, estou pagando para a minha diarista, sem ela vir, pois ela sobrevive de cada dia trabalhado. Se estou podendo fazer isso agora, por que não vou fazer? Não seria a mesma coisa que doar para uma instituição? Então, estou doando para quem está próximo de mim. Se as pessoas que podem fizessem isso, seria como se fosse uma corrente e talvez, o sofrimento da quarentena não sobrecarregasse tanto.
      Compreendo que tem gente que não pode fazer, porque também depende do dia a dia de trabalho. Entretanto, para quem pode doar, nem que seja um kg de feijão, arroz e etc, doasse para para quem está próximo e necessita, já seria uma ajuda.
      Enfim. Vamos caminhando e esperando que o alto possa iluminar nosso planeta. 😉
      Um beijão, Lailicha!

  3. Eu gosto que vc esquenta as coisas entre elas, e encerra o capítulo. O próximo pode ser extra TB? Tipo hoje ainda? Hahahaha estou amando, Carol! E sim, vamos marcar quando isso tudo passar. Saudades! Beijos

    • Oi, Bibi!
      Cara, tem gente que quase me mata por isso. rsrs Olha, não dá sempre pra adiantar, mas quando der, eu farei. rsrs O “Hoje ainda” era um sonho seu, não era, Bibiana? kkkkkkkkk
      Saudades também, menina!
      Um beijo grandão pra ti!

    • Fabi! que legal que poder passar aqui!
      O governo não facilitou o imposto de renda, né? Ou foi realmente transferido pra junho? Eu não sei, pq tava armando tudo para fazer essa semana.

      O negócio esquentou mesmo e vai esquentar muito mais! rsrs
      Brigadão, Fabi! Beijão, menina! Força aí para sua esposa!

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