3 dias atrás>
Vanessa saiu do abraço da CEO. Aquele abraço significava ir ao céu e voltar para a terra. Significava também a conquista de anos de esforço e dedicação. Era como se ela tivesse construído um castelo e agora era hora de inaugurá-lo. Mas não. Victoria partiria num avião com Martina para longe.>
Visivelmente abalada após se despedir de Victoria, foi para dentro do apartamento terminar de chorar o que não tinha chorado.>
Seguiu para o escritório, lugar onde passou os melhores momentos de sua vida. Cada lugar daquele escritório a lembrava da CEO. Olhou a mesa da chefe e veio à sua mente sua forma de sentar, a forma como apoiava os dedos cruzados no queixo e olhava para cima antes de tomar alguma decisão. A forma como digitava nas telas no computador absorta ajeitando vez ou outra as mechas de cabelo persistentes a cair no rosto.>
Nunca esperava aquilo de Victoria, ser sua substituta estava muito além das suas expectativas. Nunca havia parado para pensar nisso, mas ela tinha poder sobre tudo relativo à Victoria na empresa, sabia de todas as senhas, todos os contratos, todas as estratégias. Era como se a tivesse em suas mãos e só faltasse o principal, o seu amor.>
Seguiu pela casa tateando as paredes e alucinando situações. O perfume de Victoria permeava o local qual lembrete que persistia a açoitar Vanessa. Seu fantasma habitava ali e lhe pregava peças ilusórias. Seguiu o rastro do perfume até a suíte principal. No centro do quarto, em cima da cama, um roupão branco repousava.>
Já chorava, descabelada, arranhada, detonada. Ali era onde Victoria tinha sua intimidade revelada todos os dias. Tinha inveja daquelas paredes que tinham sempre a melhor visão da mulher que ela amava. Sentiu então raiva das paredes. Como meros objetos, matérias de construção e acabamento tinham mais privilégios que ela? Onde ela errava afinal?>
Procurou por sua coleção de perfumes variados. Experimentou cada um e, conseguia curiosamente lembrar-se de ocasiões específicas no qual Victoria havia usado aquelas fragrâncias. Parecia que havia um padrão, para reuniões mais sérias usava amadeirado. Para dias leves os florais e para dias medianos, os cítricos. Tinha passado todos os perfumes dela, como se isso a fizesse estar mais perto.>
Sua boca, sua respiração, seu leve arfar dos peitos e os sons proferidos… Um “ah” ou “oh” erguendo as sobrancelhas e esticando os braços… O estalar de dedos… O entrelaçar de pernas. Tudo! O cheiro, o aspecto asseado e as mãos… As mãos sobre o teclado, sobre o volante do carro e, sobretudo em seus braços ao andar na rua.>
Quando menos espera encontra o espelho do closet, do chão ao teto, refletindo aquela figura destroçada, com olheiras inconfundíveis. Aquele mesmo espelho refletia a nudez da amada de todos os dias e tinha raiva disso.>
Como um mero espelho tinha a melhor visão todos os dias e ela não?>
Uma coisa singular lhe ocorreu. Eliminar Martina. Olhava-se nos olhos através do espelho e com uma expressão sombria, dizia: “A qualquer custo.”>
Sua testa amparada ao vidro frio fazendo repousar todo o peso de seu corpo. Sua respiração embaçando o vidro. Com os olhos cerrados em sofreguidão. Socava com o punho direito cerrado repetindo a si as palavras direcionadas a Martina.>
“A qualquer custo.”>
Socava com mais intensidade e desejo mau. O vidro trincou.>
Uma coisa deve ser dita: objetos são tão voláteis como emoções. Um espelho intacto se quebra daquele jeito fácil e corta a carne. A dor é boa, nem é sentida, pois compete com a dor interior, que é enormemente superior. O sangue jorra, mas não vence a melancolia crônica da psique. Olhar o sangue jorrar e chegar ao chão gotículas de fluído vermelho é uma visão acima de tudo digna naquela hora.>
Podem ser comparados a sentimentos jorrando de si, de sua energia vital. Victoria era sua energia vital. Perdê-la era como sangrar. O corte se abria mais e sem poder reverter o destino e o tempo, não haveria cura se ela não agisse. Ela havia partido e Vanessa estava sangrando. >
Tenso e emocionante!