Os Estranhos Casos de Evernood & Blindwar

10 – Sexto Caso: Gavetas, olhos, puxadores e lábios – Parte 1

Os Estranhos Casos de Elizabeth Evernood e Margareth Blindwar

Sexto Caso: Gavetas, olhos, puxadores e lábios – Parte 1

Texto: Carolina Bivard

Revisão: Naty Souza e Nefer

Ilustração: Táttah Nacimento

 


 

Parte 1

Margareth se assustou com um barulho atrás delas, fazendo com que se levantasse, sobressaltada, olhando ao redor.

— Ei, calma! Deve ser somente um roedor que, possivelmente, está com tanto medo de nós como você dele.

Elizabeth riu, fazendo Margareth deitar-se, outra vez, em seu colo.

— Esta é minha propriedade de campo. Ninguém virá até a beira do lago nesta parte, Meg.

— Eu sei, mas ainda me assusto. E depois, não quero dar margem nem para seus empregados falarem de nós. 

— Eles não virão até aqui, a não ser que seja algo de suma importância. Hoje é domingo, você não trabalha e eu disse a Violet que não queria ser incomodada.

— Ela não acha estranho fazermos um piquenique sozinhas no inverno?

A aragem fria não as incomodava, visto que a fogueira que Elizabeth acendeu as aquecia na manhã de sol.

— Fim de inverno, você quer dizer. Hoje parece mais uma manhã de primavera. Além do mais, Violet não costuma questionar minhas recomendações e, muito menos, Edwin e Tristan.

— Duvido que Edwin já não saiba de nós, Beth. Ele é inteligente e sagaz.

— Se sabe, não comentará nada, nem comigo e, tão pouco, com outros.

— Confia tanto nele assim?

— Com a minha vida. 

Margareth suspirou, recebendo os deleitáveis carinhos de Elizabeth nos cabelos, enquanto sua cabeça descansava, placidamente, na coxa macia da namorada.

— Como sabe? Quer dizer; sei que ele é confiável para muitas coisas, mas a que ponto?

— A ponto de dar a vida dele por mim.

Aquela frase intrigou a detetive de polícia, fazendo-a enrugar a testa. Ato que foi percebido pela detetive particular. Elizabeth exalou profundamente e segurou os ombros da namorada, fazendo-a desalojar-se do conforto de seu colo, obrigando Margareth a encará-la. 

— Esta história não é minha para eu contar, é de Edwin. Entretanto, saiba que ele fez uma promessa e Edwin é do tipo de homem que cumpre o que promete. Ele diz que um homem sem palavra não é digno e que a única coisa que um homem leva para o túmulo é sua honra.

— Tudo bem.

Eram poucos os homens que Margareth conhecia que levavam a sério esta conduta, porém eram admiráveis.

— Está na hora de voltarmos.

Elizabeth falou, ensaiando levantar-se.

— Ah, não!

Margareth retrucou, puxando-a para se sentar nas mantas novamente, jogando-se em seu colo. Evernood gargalhou, diante do gesto brejeiro e, ao mesmo tempo, birrento da namorada. Baixou a face até tocar seus lábios nos da detetive de polícia, recebendo em troca um beijo arrebatador. A custo, Elizabeth se desvencilhou de Margareth, ainda rindo de seu gracejo. Colocou o dedo indicador à frente dos olhos desolados de Meg, fazendo um sinal negativo.

— Você disse que não quer “exibições” em área aberta.

— Você falou que aqui é um local que ninguém pode nos incomodar. – Margareth retrucou.

— Então, redefina nossas diretrizes para, quando e onde, podemos nos beijar.

— Ora, sua… – Margareth bateu de leve no ombro de Evernood. – Você está me provocando outra vez. Disse que não faria mais isso.

— Não, não, senhorita. Disse que tentaria não lhe provocar mais. É diferente. 

As duas namoradas riam das brincadeiras e, após se levantarem, Evernood abraçou Margareth por trás, pousando o queixo no ombro dela. Acalmaram-se, vendo a paisagem desgelada do lago e uma bruma pairando sobre as águas, refletindo a luz alaranjada do sol ameno do fim da manhã.

— Vamos almoçar?

— O que Violet fez para o almoço?

— Eu não sei, Meg, porém se não almoçarmos, uma guerra começará entre ela e a senhora Blister, disso tenho certeza. 

Margareth riu, desvencilhando-se dos braços da namorada, recolhendo as coisas que levaram para o café da manhã, naquele piquenique improvisado de domingo. 

Haviam passado o fim de semana na casa de campo, para que ficassem mais à vontade. A casa não era grande e a única empregada era Violet que, à tarde, retornava para a própria casa. Na verdade, a casa da empregada era numa construção linear que Evernood havia feito, um pouco mais distante, para ela e o jardineiro, que cuidava da casa de campo. Não eram casados. Cada um tinha suas dependências próprias. Moore, além de jardineiro, cuidava dos estábulos.

No retorno, Margareth se calara na maior parte do caminho.

— Não sei você, mas a mim, incomoda esse silêncio todo.

— Desculpe, Beth. Estava somente pensando no que minha mãe me falou, antes de sair de casa na sexta-feira. Ela disse que quase não via você em festividades e queria conhecer melhor a “atual grande amiga da filha dela”. – Enfatizou a fala da mãe. – Conheço minha mãe e sei que ela está aprontando alguma coisa. Talvez uma festa, ou mesmo um jantar para lhe chamar.

— E está preocupada com isso?

Blindwar parou o passo e encarou Evernood, percebendo certa mágoa na voz da namorada. 

— Ei, o que está pensando? Que tenho medo de que você esteja junto com meus pais? Se é isso, está enganada. Meu medo é pelas maluquices de minha mãe. Na quinta-feira mesmo, ela veio com uma conversa de que eu deveria prestar mais atenção ao meu primo.

— Seu primo? Por quê?

— E, por acaso, eu que vou saber? Na cabeça louca dela, é capaz de achar que ele, por ser um solteiro inveterado e pressionado pelos meus tios, possa se interessar por mim, que sou uma mulher sem empenho em me casar. Vai saber… Pensando bem, acho até bom você conhecê-la melhor. Conhece minha mãe superficialmente, somente dos eventos que compareceu, ou daquela vez que ela ficou no hospital com você. Assim, verá que não sou reticente com relação à ela. Verá como ela é, de verdade.

Chegaram à casa e, antes que pudessem entrar, viram Edwin e Tristan as esperando na varanda e uma viatura policial parada ao lado do carro da senhorita Evernood. Era uma cena intrigante. Aproximaram-se.

— O policial Spencer está na sala, senhoritas. Parece que houve um assassinato.

— Hoje é meu dia de folga, Edwin.

— Sei disso e sinto muito, no entanto acredito que quererá se inteirar desse crime.

Edwin falou com brandura, olhando-a lastimoso. Margareth imediatamente imaginou que seria alguém conhecido. Subiu as escadas apressadamente. Quando chegou à sala, não deixou que Spencer se recuperasse do susto que levou com a entrada atabalhoada dela.

— Quem foi assassinado, Spencer?

Evernood entrou logo atrás. O policial apertou o quepe entre os dedos.

— Seu primo, Edward Sander, senhorita.

Blindwar, estarrecida, dobrou os joelhos e Evernood a amparou, conduzindo-a à uma poltrona.

— Greendwish o mandou aqui?

Ela perguntou, ainda em choque.

— O comissário acionou todos ao alcance. Sua tia falou com sua mãe por telefone e seu pai ligou para o prefeito. Parece que o senhor Sander foi encontrado morto na estufa da família, hoje pela manhã. Assim que o comissário Greendwish chegou ao local, pediu para que eu a localizasse e lhe comunicasse. Sinto muito.

Blindwar sentiu uma vertigem. Ela, apesar de não gostar das ideias da mãe, estimava muito o primo. Brincava com ele na infância e, quando cresceram, era o primo que gostava de acompanhar nas festas familiares. Diria que era um “bon vivant”, como os franceses denominariam a vida leve e sem preocupações que levava, todavia era um rapaz de bom coração.

— Tenho que retornar agora.

Blindwar falou, levantando-se e indo para o quarto pegar sua valise.

— Devo esperar por ela para levá-la, senhorita Evernood?

O policial Spencer perguntou em dúvida, pois pelo pouco que conhecia a detetive de polícia e a detetive particular, não deixariam de visitar a cena do crime.

— Pode ir, Spencer. Eu mesma levarei a detetive Blindwar. 

— Sim, senhorita.

O policial se despediu e saiu.

Evernood apressou-se em pegar as suas coisas também. Não deixaria Margareth enfrentar sozinha aquela situação.

Assim que chegaram à mansão Sander, Margareth saltou do carro e Elizabeth foi atrás, segurando seu braço. Parou-a.

— Calma, Meg. Se entrar por aquela porta – apontou a entrada da mansão – do jeito que está, Greendwish não permitirá que você fique no caso. Acredito que queira investigar o assassinato de seu primo.

Blindwar se aprumou e inspirou fundo. A namorada tinha razão. Forçou a calma, imaginando que o comissário estaria conversando com os pais de Edward e, possivelmente, seus pais estariam lá, também. Olhou em torno, observando a movimentação de policiais. Havia outros carros parados no passeio que ligava a propriedade à rua. Não conhecia a maioria. 

— Vamos primeiro na estufa. Assim vejo o local sem a intromissão do comissário. Pelo pouco que o conheço, é capaz de me tirar da investigação, somente pelo fato de ser ligada a vítima. 

— Então vamos. Eu a acompanho e espero que ele não esteja na estufa, em vez de estar na casa falando com seus tios.

— Pouco provável. Deve ter dado uma olhada na cena e deixou os peritos fazerem o trabalho. É mais fácil ele estar conversando com minha família e o prefeito. Reconheci o carro de Cavenor parado na porta.

Tomaram o rumo da parte de trás da casa, pela lateral. 

— Convencerei meu tio a contratá-la. Desta forma o comissário terá que aceitar a sua ajuda. – Margareth se voltou para Elizabeth. – Você quer ajudar?

Ela perguntava súplice, e Evernood pousou a mão sobre o ombro da namorada, confortando-a.

— Lógico que sim! Não acredita que a deixaria sozinha nisso, não é?

Margareth a abraçou brevemente e voltou a caminhar. A detetive particular via o tanto de ansiedade nos gestos de Margareth, mas não a repreendeu. Era compreensível e, se Greendwish a tirasse do caso, Elizabeth trataria de investigar e deixaria a namorada a par das descobertas.

Chegaram à estufa e a detetive de polícia parou, momentaneamente, antes de entrar. Aprumou-se e entrou.

Não havia policiais circulando. Somente Smith guardando a entrada e um perito da polícia.

— Onde o corpo está?

— Ao fundo, senhorita. A médica da universidade está lá, coletando informações. 

— Obrigada, Smith. 

Caminharam devagar, tentando ver o ambiente todo ao redor. Chegaram ao corpo. A senhorita Lister estava agachada, próxima ao morto, observando detalhes do rosto. O impacto da visão, apesar de abalar Margareth, não a desorientou. Evernood se admirou com o autocontrole da detetive de polícia, diante de tal atrocidade. 

Havia muito sangue espalhado pelo solo. Era certo de que o crime tinha um “quê” de fúria, visto a quantidade de perfurações que marcavam as vestes do morto. O rosto não se via, manchado pelo líquido rubro coagulado. 

— Consegue ver algo sob essa camada de sangue coagulado na face dele?

Blindwar perguntou para a doutora Lister, que parecia não se alertar da presença das detetives.

— Sim e não. 

Lister respondeu sem tirar os olhos do cadáver. Ela estava com uma lupa, avaliando cada centímetro do corpo. Por fim, levantou-se e olhou para as detetives. Passou a mão na nuca, como se estivesse tentando dissipar uma dor incômoda. 

— Foi um assassinato brutal, como se fosse passional. O que me intriga é que a violência não condiz com uma discussão prévia. Não há qualquer bagunça ao redor que indique uma luta. Discuti isso com o perito de vocês. Quando foi atacado, não reagiu.

— Foi atacado com uma faca?

— Faca, adaga… Certamente é uma arma de corte. Verei melhor isso no laboratório da universidade. Quando aconteceu o crime dos “Ossos”, fiz experimentos com diversas armas em carcaças de porco, para montar padrões. Já tenho alguns mapeados, todavia só poderei comparar quando levar o corpo e limpá-lo. No entanto, posso dizer que há algo incomum no ataque; cortaram os lábios dele e as sobrancelhas. Estava quase morto quando aconteceu.

— Como sabe?

Margareth perguntou. 

— Escorreu muito sangue pela face. Se o coração pulsasse forte, espirraria e veríamos jatos de sangue pelo chão ou nas bancadas ao lado. E, se a vítima já estivesse morta, não haveria tanto sangue cobrindo a face, visto que o coração não estaria funcionando para empurrar o sangue para fora.

— Então, meu primo sofreu muito… 

A doutora Lister se compadeceu.

— Talvez não, detetive. É possível que ele já estivesse inconsciente. Como disse, não há sinais de briga ou reação da vítima.

A médica tentou amenizar o sofrimento da detetive de polícia, sem muito sucesso. Margareth cerrou os olhos. Uma dor profunda a assolou e saiu correndo dali, para que o vômito que precipitava não manchasse a cena do crime. Evernood a acompanharia se Lister não a impedisse, segurando-lhe o braço. 

— Se quer auxiliá-la, fique! Greendwish falou que não a deixará no caso e ela precisará que você esteja nele. Se sair para consolar a senhorita Blindwar e o comissário souber de sua preocupação com ela, ele a vetará também.

Evernood assentiu. 

Tempos mais tarde, Blindwar e Evernood entravam pela porta da mansão. Foram recebidas pelo mordomo e se dirigiram para a sala de visitas.  Como previram, o comissário estava lá, juntamente com os pais de Edward, os pais da senhorita Blindwar e, também, o prefeito Cavenor. 

— Demorou a chegar, Blindwar.

Greendwish tentava manter as rédeas da situação, sem a influência do prefeito ou da família, o que era quase impossível. Ele mesmo se beneficiava, em muitos momentos, de sua influência perante a aristocracia local. Contudo, contava com o senso de respeito à hierarquia do departamento da sua detetive diante dele. 

— Desculpe-me, senhor. – Demonstrou acatamento. – Quando cheguei, fui imediatamente ao local. O senhor mandou o policial Spencer me chamar e achei que queria que eu me inteirasse do caso. 

Ela não era estúpida, ao ponto de desafiá-lo diante do prefeito. Sabia que se impusesse uma atitude ostensiva, o prefeito a defenderia, em virtude da relevância de sua família; todavia, azedaria o seu bom relacionamento com o comissário.

Faltou pouco para Greendwish deixar um sorriso de satisfação escapar dos lábios. Gostava da detetive, tanto por sua perspicácia em relação a envolvimentos políticos quanto como investigadora.

— Deixarei você no caso, mas sob supervisão de Dashwood e da senhorita Evernood. – Olhou para a detetive particular. – Será paga pelo departamento pela consultoria dessa investigação. Aceita?

— Com certeza, senhor comissário. 

Evernood deixou escapar um sorriso de lado, visto somente pelo comissário da Crimes Graves. Assim, ela garantia que ele soubesse que entendia a sua jogada. Embora não ligasse para a política, não gostava de passar por estúpida. Desta forma, ela garantia implicitamente o respeito mútuo entre eles.

O prefeito Cavenor gostou da atitude de Greendwish. Ele acreditava que o comissário deixaria a senhorita Blindwar de fora da investigação, porém não era o que gostaria. Quase todos os casos investigados pela detetive foram solucionados e isso fazia dela alguém confiável para investigar aquele assassinato. Cavenor sabia que a senhorita Blindwar poderia não suportar a investigação, por ser próxima ao primo, entretanto, o fato do comissário ter escalado o detetive Dashwood para monitorá-la, o tranquilizou.

— Perfeito, Greendwish! Sabia que lideraria este terrível acontecimento de forma profissional.

O prefeito se voltou para a senhora Sander e o marido, que eram consolados pelos pais de Blindwar; afinal Harriet Sander era a irmã mais velha de James Blindwar.

— Senhora, – o prefeito chamou a atenção da tia de Margareth – Sinto muito por seu filho, todavia acredito que agora o assassino será pego e a justiça dará um alento à família.

Harriet Sander elevou o olhar coberto de lágrimas em direção à sobrinha. Sabia que ela estimava muito o primo e, embora não concordasse com o irmão em deixar que Margareth trabalhasse em algo tão perigoso e distante dos negócios do pai, naquele momento agradeceu intimamente que fosse ela a pessoa a lidar com a morte do filho.

— Ele era o meu menino, Meg. 

Assim que falou, a senhora Sander desabou num choro convulsivo nos braços da cunhada. Margareth se segurou para não correr até ela e ampará-la, assim como a mãe havia feito. Se reagisse daquela forma, provavelmente anularia o acordo feito com o comissário. Haveria tempo para isso, porém, não naquela hora.

— Não se preocupe, tia. Pegaremos quem fez isso. Mas, primeiro, preciso fazer algumas perguntas para vocês. – Olhou para o tio. – É necessário.

— Tudo bem, Meg. Responderemos o que precisar saber.

— O Ed recebeu alguém ontem aqui, ou mesmo foi se encontrar com alguém?

— Sim, recebeu. — O tio respondeu. – Ele retornou esta semana de uma viagem longa que fez à Paris e quis rever amigos. Várias pessoas estiveram aqui ontem.

— Entre os amigos, havia alguém diferente que vocês não conheciam, ou mesmo um amigo recente?

— Não. Todos eram amigos de infância ou juventude. Nenhum deles era desconhecido de nós. Ele enviou um recado, inclusive, para você vir, mas não estava na cidade.

— Lembro que ele lamentou. Estava com saudades de você. 

A tia respondeu emocionada e chorosa, fazendo com que formasse um “bolo” na garganta da detetive Blindwar. Evernood imediatamente intercedeu, dando prosseguimento às perguntas. Não queria que o prefeito, Greendwish, ou mesmo os pais, percebessem o quanto Margareth estava abalada.

— Houve alguma discussão entre o filho de vocês e alguém na recepção? Mesmo que fosse uma discussão leve, sem maiores implicações.

— Ele discutiu com Finn, porém, não foi nada demais. Ele sempre estava às voltas em discussões com o jovem O’Connor nas festas. Mas isso era comum, entre eles. – A senhora Sander respondeu.

— Comum, como?

Greendwish interveio, interessado. 

— O Finn sempre bebia demais. Havia até uma brincadeira entre todos os amigos, pois o meu Ed costumava dizer que, a hora da festa acabar era o momento exato em que Finn O’Connor se excedia. 

— Ah, houve um incidente, mas nada demais. Coisas de moços. – O senhor Sander se apressou em explicar. – Eles costumavam fazer brincadeiras para animar, como jogos de “cabra cega”, ou mesmo adivinhações. Ontem meu filho montou um cavalete com um alvo, para brincarem de dardos. Houve uma pequena confusão na disputa, entretanto, nada que Ed não conseguisse apaziguar. Foi coisa de jovens. 

— Como falei antes, nada fora do normal. Meu Ed se dava bem com todos. Era um menino de ouro. Quem faria uma coisa horrível como esta, com ele?!

A senhora Sander emocionou-se, novamente, ao lembrar do filho morto.

— Tio, vocês ficaram até o final da recepção?

— Não, Meg. Não temos mais tanto entusiasmo como antes. Nos recolhemos mais cedo. Soubemos que houve a discussão com o jovem Finn, somente hoje no café da manhã através de nosso mordomo. Achávamos que Edward estava dormindo. Só quando nosso jardineiro foi à estufa, soubemos o que aconteceu.

— Vocês têm que falar com o jardineiro. – O prefeito interferiu. – Pode não ter sido ninguém da festa. Edward pode ter discutido hoje cedo, com o próprio jardineiro.

— Falaremos, Cavenor. No entanto, não podemos descartar ninguém. 

Evernood respondeu. Odiava essa forma simplista que todos tinham de descartar possibilidades, somente para culpar alguém. Principalmente por se tratar de famílias abastadas. Sabia que o prefeito não gostaria de escândalos envolvendo a aristocracia da cidade e, por isso, interferiu. 

— Tio, peço que faça uma lista de quem veio na festa e gostaria de conversar com os empregados. 

— Farei agora mesmo, Meg. 

O senhor Sander se levantou do sofá e foi até um aparador pegar papel e caneta.

— O jardineiro, provavelmente, está no pomar a esta hora.

Enquanto o tio fazia a relação de convidados, Margareth pegou o sino de chamada e balançou para alertar o mordomo de que era requisitado. Em menos de um minuto, ele entrava na sala de visitas e Margareth se dirigiu a ele.

— Cedric, posso vir mais tarde conversar com você sobre a festa de ontem?

— Claro, senhorita Blindwar. Hoje é domingo e visitaria minha irmã, todavia cancelei meu compromisso com ela. Estarei o dia todo aqui na mansão.

— Obrigada, Cedric. Terei que acompanhar a perícia, mas à tardinha estarei aqui.

O mordomo acenou levemente com a cabeça e se retirou.

— Por que não conversa com ele agora que está disponível aqui, Meg?

O prefeito perguntou e, desta vez, quem intercedeu foi o comissário, vendo que se Cavenor continuasse interferindo, a investigação tomaria rumos improdutivos.

— Existem protocolos a cumprir para uma boa investigação, Cavenor. A detetive Blindwar está correta. Ela deve falar com os empregados, quando estiverem sem tanta agitação. Assim ela angariará a confiança deles e conseguirá extrair, mais facilmente, as informações.

O que Greendwish falara não era exatamente a verdade. Ele percebera a manobra de Margareth para se livrar das intromissões do prefeito. Cavenor não descansaria enquanto estivesse ali. Opinaria em tudo. Blindwar discretamente lançou um olhar de agradecimento ao seu comissário.

 A detetive de polícia aproveitou a oportunidade e se voltou para o comissário. 

— Acompanharei a senhorita Lister na remoção da perícia para o laboratório da universidade. Mais tarde retornarei. 

Margareth queria sair dali o mais rápido possível. Se ficasse, desmoronaria.

— Pode ir, detetive. 

Evernood vendo a interação, tratou de se despedir dos presentes também. Queria retirar a namorada daquela sala. 

— Você está bem, Meg?

— Melhor agora, que saí da casa. – Inspirou fundo. – Minha tia Harriet não é a pessoa mais compreensiva do mundo quando se trata de quebrar tradições, mas sempre nos demos muito bem e eu a amo, assim como amava Edward. Ele, embora fosse um homem dado aos prazeres da vida, tinha um bom coração e não julgava ninguém pela “capa”.

— Acha que consegue ter objetividade nessa investigação?

Evernood perguntou, preocupada com o estado emocional dela. 

— Se não conseguir, sei que você me trará à tona. – Margareth sorriu. 

— Você sabe como derreter meu coração, senhorita Blindwar.

Evernood respondeu gracejando, certa de que a sua implicância melhoraria o humor de Margareth.

— Sei. 

Margareth respondeu leve, porém sem muito ânimo. 

— Realmente quero conversar com Lister. Ela é uma mulher empenhada em seu trabalho. Se conseguir algo que possa nos elucidar, agradecerei.

Margareth não gostava de admitir, no entanto, compreendia que a médica legista era comprometida com o trabalho.

— Meg… – Evernood parou a namorada no meio do caminho. – Só para esclarecer e desanuviar você de qualquer dúvida. A senhorita Lister tem um pretenso namorado.

— O que quer dizer com isso?

— Um dia destes, na universidade, eu a peguei juntamente com o detetive Reynold, numa situação pouco profissional, se é que me entende.

— Reynold e Lister?!

Um pouco atordoada, porém, risonha, Margareth reparou na face brejeira que a namorada fazia.

— Bem, acredito que Reynold vá ter que mudar alguns conceitos se quiser algo mais sério com ela. Lister não é o tipo de mulher que pararia de trabalhar, se acaso firmassem compromisso.

— Pela sua reação, acredito que gostou da notícia.

Margareth retornou ao passo, sem dar muita importância ao comentário de Elizabeth e falou:

— Não é novidade para você que sentia certa… inquietude. Mas não se vanglorie, senhorita Evernood, pois um dia poderá acontecer o mesmo em você.

A detetive particular sorriu. Não era dada a este tipo de sentimento, entretanto, não duvidava que pudesse senti-lo, agora que encontrara alguém que arrebatara seu coração completamente. Nada comentou para se proteger de deslizes que pudesse cometer e encorajar a namora a gracejar com ela.

  Antes mesmo de chegarem à estufa, viram o carro da perícia aberto, com o corpo do senhor Edward Sander sendo colocado dentro. Lister estava dando instruções para que os policiais que carregavam o corpo em uma lona, não deixassem nada pessoal cair sobre ele.

— Cuidado! A manga de seu paletó está retirando a camada de sangue do rosto. É importante que ele chegue no laboratório como saiu daqui. 

A médica reclamou com um dos policiais. Fez um gesto negativo com a cabeça, como se aquilo fosse uma heresia. Viu as detetives se aproximarem e reclamou.

— Tento fazer com que tudo chegue o mais real possível na universidade. Assim posso comparar coisas e entender a cena, contudo os policiais acham que é bobagem. Como conseguem lidar com isso?

— Junte-se ao clube, senhorita Lister. – Margareth implicou com ela.

— Chame-me de Violet. 

— O problema é que há outra Violet em nossas vidas… – Margareth deixou escapar e enrubesceu. – É… é uma conhecida de nós duas.

Balançou a mão mostrando Evernood e ela mesma, temerosa que a médica legista estranhasse a intimidade entre elas. Evernood nada falou. Sabia que explicações demais chamariam a atenção, coisa que a namorada teria que aprender ainda, naquela vida de “clandestinidade” que levariam. Para Lister, nada foi percebido, visto que ela estava preocupada com o trabalho.

— Vou requisitar uma máquina fotográfica para a universidade. Desta forma, poderei fotografar as cenas dos crimes como quero, mapeando toda a área. O pessoal da polícia é pouco detalhista. – Interrompeu a fala, enrubescendo. – Desculpem-me, não queria ser grosseira, todavia a perícia da polícia parece não se interessar muito em descobrir novas formas de análise. 

— Não nos insultou, Violet. Sabemos o que é querer avançar nas investigações e não ter muito apoio. 

Margareth respondeu, sorrindo brevemente. Reparava em toda a movimentação com pesar, mesmo tentando suprimir sua dor.

— Quero acompanhá-la na necrópsia. A detetive Blindwar ficará aqui para interrogar os empregados.

Após falar, Evernood se virou para Blindwar.

— Nos dividiremos para ganhar tempo.

— Obrigada, Beth. 

Margareth agradeceu, sabendo que a estratégia de Elizabeth ia além do que ela falava. Ela a estava protegendo para que não visse o primo sobre uma mesa de autópsia. Talvez desmoronasse se fosse à universidade acompanhá-las.


Nota: Bom, essa era a surpresa de que falei na outra história que estou postando. Evernood & Blindwar estão com um novo caso para resolver. Cara vez estou mais distante de conseguir criar contos. rsrs Esse terá 5 episódios. Espero que gostem.

Bjus



Notas:



O que achou deste história?

12 Respostas para 10 – Sexto Caso: Gavetas, olhos, puxadores e lábios – Parte 1

  1. Caramba 5 ep, felicidade me defini. Kkkkkk
    Caramba cada dia elas estão mais apuradas nas técnicas de investigação digamos que modernas rssss, fico aqui pensando que seria uma ótima série. Carol que bom que você trouxe elas duas de presente para nós e ainda tem mais 4 ep pela frente, ansiosa e já tentando pensar em possíveis assassinos. Rssss
    Valeu pelo presente e esperando os próximos capítulos.

  2. 55555!!?? Tudo isto? Não dá pra fazer assim mais compridinho e deixar por uns 3?
    Alguma negociação a respeito? Hum! Nada? Ai, ai, tá bom, esperarei os 5.
    Mas, pode postar um capítulo por dia?
    Também não!? Você tá ficando muito má com suas leitoras, assanha as bichas de fãs pelas
    histórias e tortura com capítulos! Te amos mesmo assim!

  3. A amiga aí falou tudo! Que bom que não consegue escrever contos curtos. Adoooro dramas! hahahahaha Tá certo que também não gosto de dramalhão mas um draminha é o máximo hahahahahahah posta um antes da sexta que vem to muito curiosa. hahahah Se não der, tudo bem.
    bj

  4. Carollll, você me deixou tão feliz!!!!N sabe o quanto!!!
    Elas voltaram, que lindo!! Eu tava morrendo de saudades!!
    Oxenteeeee,eu tô é feliz que vc não resiste a escrever tanto. Tem vida própria ,vc n pode controlar!Hahahaha. Nada de conto…Isso aqui é Xena!!??
    Vixi,logo que Meg falou do primo, por essa n esperava,simtive q sensação q seria alguém ligado a Meg,n dei pq, acho q foi pelo q vc disse no comentário..q ia ter uns dramics!!Amei,apesar q sinto por Meg!!
    E agora, quem foi? O amigo? Uma paixão? Eu aqui pensando que alguém n QR q Meg casasse com ele, mas acho q essa hipóteses n tá boa!! Vamos ter 5 partes, terei MT material pra analisar…
    Que bonitinho elas duas..confesso q tava tensa com a médica..rs. mas ter causo c homi n significa nada..vai q ela n se aceita, nem sabe o que sente ou gosta dos dois..mmmm vou ficar de olho nela!! Ainda que dava tudo pra Beth ficar morta de ciúmes..mortaaaa!! Quero saber como reagirá.. bemmmm diferente de Meg ,com certeza!
    Bom, agora q tenho tudo lido, é só esperar com tranquilidade os próx caps das estórias/ conto q virou estória..kk

    Mandarei seus desejos pra minha Mocita, mas n tinha problema se vc escrevesse, tava no meu face mesmo! Mas entendo…sim, face é fofoqueiro mesmo,n a aguenta!!!rs
    Deixo um grande beijo no seu coração e desejo o dobro pra vc e sua amada esposa!!Muita vibração de amor nessa sua áurea linda!!

    Os: Pq vc escreve fodasticamente assim??!! Brother!!!
    PS: Você pesquisou a parte da perícia, alguém te ajudou(?) o assiste MT CSI e Criminal Minds?(?). É que achei a análise bem coerente e sei q vc n bota QQ coisa como muitas vezes vi qndo lia e n fica uma viagem total!

    Fuii

    • Hoje tem mais, Lailicha!
      Hoje vou responder sucintamente, só agradecendo a você pelo carinho, pois, estou terminando de reescrever e revisar um outro capítulo de “Caminhos”. Tentando adiantar para soltar um extra amanhã ou depois, ok?
      Brigadão Lailicha!
      Um beijão e muita luz pra ti e sua esposa!

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