Nosso Estranho Amor

45. O pior dia da minha vida…

Estava completamente irritada, soltando fogo por todos os lados, quem se aproximasse de mim com certeza sairia queimado, a Ágatha não tinha o direito de me deixar e me trocar por outra, principalmente se tratando da Débora. Meu aborrecimento só aumentou quando chego em casa e vejo meus pais e a Pietra reunidos na sala-de-estar me olhando como se tivessem visto um fantasma.

–O que foi? Será que tô fedendo, tô rasgada ou tô cagada pra estarem me olhando desse jeito? –perguntei esquecendo meus bons modos.

–Depois de adulta a linguinha tá ficando bastante suja. –meu pai falou até tirando graça da situação.

–A Giovanna ficou desse jeito por influência da Ágatha. –ouvi Pietra comentar aumentando minha irritação.

–Pietra, não sei nem o que está fazendo aqui, não preciso de babá ou segurança. Ninguém me influenciou a nada, pra isso tenho minha própria personalidade. Vão dizer o que querem ou posso ir para o meu quarto?

–Giovanna, você já viu que horas são? Passou uma noite toda fora de casa, voltou só no outro dia. Você estava com aquela sua noiva desaforada? –só pelo estado em que minha mãe se encontrava tratei de respeitar e não seria grosseira.

–Mãezinha linda do meu coração, eu lhe amo muito mesmo, mas não vou dizer onde passei a noite. Voltei a morar com vocês, mas não quero ninguém pedindo satisfações da minha vida. Não se preocupem! Sou bastante adulta pra isso e não cometerei besteiras. E antes que me esqueça… Não sou mais noiva, sou uma pessoa solteira. –disse tentando dar esse assunto por encerrado.

–Quer dizer que você e a Ágatha não estão mais juntas? –Pietra perguntou sem esconder o sorriso.

–Exatamente! E, por favor, não quero mais escutar esse nome. E você não tem motivos para ficar feliz, eu estar solteira não muda nada. –disse indo para o meu quarto tomar banho e tentar dormir.

Talvez eu tenha sido uma baita estúpida quando disse que não choraria, quando fiquei sozinha percebi que o choro estava preso na minha garganta. Nunca pensei que iria doer tanto me afastar da Ágatha. Não chorei desse jeito nem mesmo quando descobri as traições da Pietra ou quando terminei nosso namoro, mas aquela ruivinha me virava do avesso.

Após dormir um pouco vislumbrava minhas olheiras e minha cara de choro diante do espelho… Estava péssima.

–Será que agora nós podemos ter uma conversa séria ou você vai continuar se escondendo atrás de uma máscara, fingindo que nada te abala? –Grazi indagou entrando no meu quarto sem que eu esperasse.

–Mãe, desde quando desaprendeu a bater na porta do meu quarto? –perguntei com um sorriso sem graça.

–Você deve lembrar que entre nós não há segredos. Mas se não quiser conversar posso ir embora. –disse fazendo menção de se retirar.

–Grazi, por favor, fica. –pedi com olhos suplicantes e minha mãe me puxou para os seus braços.

–Agora sim. Essa é a minha garotinha.

Sem me importar com mais nada contei para a minha mãe tudo o que havia acontecido, a confusão de sentimentos e o término com a Ágatha, não escondi absolutamente nada.

–Gigica, mesmo você sofrendo, creio que talvez o término desse noivado foi a melhor coisa que aconteceu. –minha mãe disse acariciando meus cabelos.

–Você tá dizendo isso porque não gosta da Ágatha. –disse limpando algumas lágrimas que teimavam em cair.

–Reconheço que não vou com a cara dela, mas não é por esse motivo que estou dizendo isso. Essa moça não estava pronta para um passo mais sério, muito menos você minha filha que estava confusa com tantos sentimentos, sem saber se a amava ou não. Notei uma grande imaturidade de vocês duas e casamento não é brincadeira. –minha mãe disse tentando me fazer enxergar o óbvio.

–E o que eu faço agora? Devo dar uma chance a Pietra? Eu não amo ela, mas ela cuida bem de mim.  –perguntei encarando os olhos verdes da minha mãe.

–Não meta os pés pelas mãos, pequena. Talvez seja o momento para você parar, refletir e não tomar nenhuma decisão precipitada. Invista seu tempo em outras coisas, não em relacionamentos. Agora é hora de aproveitar esse momento com seus pais, investir na sua vida profissional, mimar sua única sobrinha, sair com seus amigos, as possibilidades são múltiplas. –prestei atenção em cada palavra que minha mãe dizia e no fundo sabia que ela estava certa.

–Muito obrigada, Grazi. Você é a melhor mãe do mundo. –disse voltando a lhe abraçar.

–E eu sou obrigada a concordar. –falou me arrancando uma risada.

Por mais doloroso que houvesse sido o término do meu noivado concordei com tudo o que a minha mãe falou. No meio de tudo uma notícia maravilhosa se fez: Consegui o emprego de administradora na mesma empresa que o meu pai trabalhava. Só de não ser mais uma desempregada já era uma grande felicidade. Desde então me reaproximei da Dani e até mesmo do Renan que tentava a todo custo retomar a amizade que tínhamos antes da Ágatha cruzar nossos caminhos, mas algo sempre me dizia que o Renan era lobo em pele de cordeiro, apenas fingia que confiava nele. Dessa forma acompanhava o crescimento de três bebês lindos: da Rafinha, e dos filhos da Dani, os gêmeos Paula e Pedro Paulo. Só que não vou mentir… Como o marido da Dani era meu ex-cunhado, me afastava em determinadas ocasiões para não dar de cara com a Ágatha, a qual não via há certo tempo. E o que dizer da Pietra? Bom… Deixei claro que não queria nenhum tipo de envolvimento amoroso, mas uma grande amizade nasceu entre a gente, não tinha mais raiva pelas traições. E voltei a ter contato com o Mateus e a Natalie, sobrinhos da Pietra, os dois estavam cada dia maiores e mais lindos. Eram crianças de ouro mesmo que as vezes a pequena Natalie demonstrasse ter uma personalidade nada fácil apesar da pouca idade, mas minha afilhada começava a mostrar um grande talento para tocar instrumentos musicais, principalmente piano… Quem sabe no futuro não seria uma grande pianista!

Fazia cerca de dois meses que não tinha notícias da Ágatha, não sabia se ela estava namorando ou não com a Débora, no fim das contas acho que não iria gostar da resposta.

Era um dia chuvoso, estava com tanto trabalho que nem notei que o encerramento do meu expediente já havia ultrapassado há muito tempo. Só dei conta da hora quando a chuva começou a aumentar. O pior de tudo é que meu carro estava no mecânico devido a alguns problemas no motor. Sempre voltava de carona para casa com o meu pai, mas hoje era o seu dia de folga. Tentei ligar para meus pais ou até mesmo para a Pietra a fim de que pudessem me levar para casa, mas chamava e ninguém atendia. Tentei entrar nos aplicativos para solicitar um carro, mas a droga da Internet havia caído. Até tentaria ir de ônibus se o ponto não ficasse tão longe dali.

Enquanto esperava sozinha a chuva melhorar, ouvi a buzina de um carro na minha direção. Só que era um Onix prata, não conhecia ninguém que tivesse um automóvel dessa marca, então fiz que não era comigo.

–Tô buzinando feito um louco e nada de você dar atenção. O jeito mesmo foi eu sair nessa chuva. –ao ouvir essa voz perto de mim meu coração quase sai pela boca.

–Tiago? –indaguei desacreditada.

–Por que tá etada? Tem tempo que não nos vemos, desde que…

–Desde que você tentou arruinar o meu namoro. –disse ríspida.

–No fim das contas vocês não estão mais juntas. –falou calmamente.

–Más notícias correm rápido. –falei mal-humorada.

–É verdade. E aí? Vai querer uma carona ou vamos continuar a conversar nessa chuva?

–Vou esperar a chuva passar, é melhor. –disse já tremendo de frio.

–Pelo visto a chuva não vai passar tão cedo, poderia te levar na sua casa, mas se quer ficar aí, tudo bem… Eu já vou indo. –disse quase para entrar no carro.

–Espera Tiago! Eu vou com você. –a chuva só piorava, e ficar naquela rua deserta, seria uma grande mancada.

–Não esperava que você fosse aceitar a carona. –começou para puxar assunto.

–Infelizmente não tive escolha. –debati no mesmo tom.

–Por que você e a Ágatha terminaram? Cansou desse lance de ficar colando velcro? Aposto que deve sentir falta do que só os homens podem dar pra você. –confesso que essa fala me fez ter vontade de vomitar.

–Engano seu, Tiago! Antes achava que ainda era bissexual, mas estou me aceitando como lésbica. O sexo entre mulheres é perfeito e pau não faz falta. –respondi ironicamente.

–Não existe sexo sem pênis. Talvez eu precise te relembrar do quanto é bom um pau dentro da buceta. Já tem tempo que você não deve lembrar da sensação. –nesse momento fiquei mais do que irada.

–No fundo acho que preciso de um pau pra enfiar no seu cu seu homofóbico! –sem aguentar dei um cuspe na cara do Tiago que lhe deixou enfurecido.

–Sua cadela! Agora você vai aprender o que é bom pra tosse.

Tiago simplesmente acelerou o carro, mas não para ir em direção à minha casa, pegou uma trilha totalmente desconhecida para mim. Minha cabeça se assustou diante do que poderia passar pela mente insana dele e me arrependendo amargamente por ter aceitado aquela carona, mas ao mesmo tempo tentava imaginar que ele não seria doente ao ponto de cometer uma barbaridade dessas.

–Tiago, por que você tá pegando esse caminho?! Minha casa fica pro outo lado. –tentei não deixar o nervosismo tomar conta de mim.

–Tá com medo, Giovanna?! Vou ter que te ensinar novamente a ver como é bom gostar de bigode, barba e pinto. –disse dobrando em uma outra rua mais deserta.

–Para com isso. Eu vou descer agora mesmo desse carro. –disse desafivelando o cinto e querendo abrir a porta, mas ao mesmo tempo estava travada. Meu desespero só aumentava diante do que poderia acontecer.

–Não vai a lugar nenhum sua vadia! –nesse momento ele parou o carro onde era só terreno baldio e mato por todo lado. Gritava, mas não havia uma alma por ali. –Grita a vontade, mas ninguém vai te ouvir.

–O que você pensa em fazer?! Pelo amor de Deus me deixa ir embora. –falava apavorada.

–Vou te deixar ir, mas não agora. Lembra do nosso namoro, Giovanna? Adorava quando fazíamos sexo. –nessa hora tentei apelar para o emocional.

–Você dizia que me amava, então cadê o amor que sentia por mim? Por todo esse amor, me deixa ir, prometo que não conto para ninguém.

–No aniversário dos irmãos da Ágatha te disse que todo amor se transformou em ódio. Sinto muita falta de passar as mãos nessas coxas, você sempre foi muito gostosa. –disse passando as mãos nas minhas coxas me fazendo querer vomitar.

–Não encosta em mim! Sai! –não pude falar mais nada e já senti uma bofetada.

–Agora vou te mostrar quem é que manda e você como mulher tem que se submeter aos desejos do seu homem. Você vai me obedecer por bem ou por mal.

–Jamais farei algo contra a minha vontade. –disse já chorando.

–Então o jeito mesmo vai ser por mal.

Os momentos que se seguiram foram os piores da minha vida. Tiago deitou o banco e veio para cima de mim tentando me beijar na boca, mas eu não deixava. Não satisfeito baixou meu vestido e retirou meu sutiã expondo os meus seios e os bolinando, me machucando por completo. Não demorou para Tiago afastar minha calcinha, abrir o zíper da sua calça, expor seu membro e me penetrar sem a menor piedade. Eu gritava de tanta dor, toda minha intimidade era machucada, chorava desesperadamente, quanto mais pedia para ele parar, mais ele continuava com seus gemidos escandalosos, só queria morrer nesse instante. Ele parou apenas quando gozou preenchendo meu interior com seu líquido nojento.

–O tempo passou e sua bucetinha continua apertada e gostosa. –dizia no meu ouvido meu causando ânsia de vômito.

–Seu desgraçado, miserável. Você não tem noção do que acabou de fazer. –chorava descontroladamente.

–Tenho sim. Tô te ensinando a ser normal, te dando um corretivo. Ainda não terminou. Chupa o meu pau! Depois vou querer experimentar esse cuzinho pela primeira vez.  –disse colocando aquilo perto da minha boca.

–Você não vai mais abusar de mim seu canalha! Prefiro que me mate. –disse dando um chute no seu pênis.

Aproveitei que Tiago se contorcia de tanta dor e consegui destravar as portas do veículo. Sabia que o salto apenas me impediria de correr, então em uma atitude desesperada desabotoei a minha sandália e joguei em qualquer canto, conseguindo por fim sair daquele inferno.

–Sua vaca, safada, eu vou te matar. –ainda ouvi os insultos enquanto saía do carro e me embrenhava em uma mata que havia ali por perto. Corri o mais rápido que pude, preferia me perder naquele matagal do que o Tiago abusar de mim novamente. Estava machucada no corpo e na alma, uma sensação que não desejo para meu pior inimigo.

Passei a noite, madrugada inteira sem dormir, as únicas companhias que eu tinha era dos grilos e de outros animais. Estava esgotada do tanto que caminhei até conseguir achar uma rodovia quase de manhã cedo. Fazia sinais para carros, mas nenhum parava. O único que pareceu prestar atenção na minha imagem foi um senhor, um caminhoneiro, que parou seu veículo vindo em minha direção. Não vou mentir que fiquei apavorada só de pensar na possibilidade de passar por um segundo estupro.

–Fique tranquila mocinha. Não irei fazer mal! Você foi assaltada? Quer que eu te leve para alguma delegacia? –perguntou vendo o meu estado caótico. Estava descalça, olhos vermelhos, sem bolsa ou qualquer documento do tipo, toda descabelada e com várias picadas de bichinhos pelo meu corpo. Reconheço que minha aparência estava horrível.

–Pelo amor de Deus, onde é que estou? Preciso chegar ao centro do Rio de Janeiro. Não quero ir pra nenhuma delegacia. –estava com vergonha e medo por tudo o que havia passado.

–Sua sorte que estou mesmo indo para o centro da cidade maravilhosa. Em que lugar do Rio você pretende ficar? –não sabia mesmo para que lugar ir. Não poderia jamais ir para casa desse jeito e preocupar meus pais.

–Já sei onde preciso ficar. –podia ser doidice, mas minha loucura, meu amor foi maior e passei o endereço do escritório da Ágatha. Era saudades, mas também desespero e certeza de que ela como advogada pudesse me ajudar de alguma forma.

Graças a Deus esse caminhoneiro mostrou que era mesmo um pai de família, um homem de bem. Respeitou o meu silêncio e cerca de duas horas depois já estava em frente do escritório da minha ex-noiva.

Só que devido ao meu estado péssimo e como nem Ágatha ou Tainá haviam chegado, ninguém queria me deixar entrar, mas por nada sairia dali, deveriam achar que eu era uma mendiga. Por sorte, não passou nem quinze minutos e Tainá chegou.

–Giovanna, tá tudo bem? O que aconteceu? –Tainá perguntou visivelmente preocupada.

–Eu, eu… Podemos conversar em um lugar mais reservado? –perguntei ainda em estado de choque.

–Claro. E por que vocês não deixaram a moça subir? Era o mínimo. –Tainá se dirigia nervosa para os funcionários.

–Não sabíamos doutora… –tentava se explicar um deles.

–Não quero saber de explicações. Agora tratem de preparar algum lanche, água com açúcar, quero agora mesmo.

Tainá fechou a porta e comecei a contar detalhadamente tudo o que havia acontecido. Cada fala percebia o horror e a decepção no olhar da advogada que não fazia menção de largar minha mão.

–Esse cara é um desgraçado. Nós precisamos prestar queixa imediatamente, realizar todos os procedimentos cabíveis… –Tainá falava, me explicava o que iria fazer até que fomos interrompidas pela entrada brusca de uma pessoa na sala.

–Giovannna, Tainá? –nessa hora parece que o mundo parou. Eu que pensava que já estava me recuperando do término do meu noivado percebi que estava enganada. Ágatha ainda mexia com as minhas estruturas mais do que imaginava. –O que estão fazendo aqui? Esse escritório é para tratarmos sobre assuntos profissionais, não para ficar de namoricos. –minha ex-noiva era o deboche em pessoa.

–Será que você pode calar essa boca e primeiro se inteirar do que estar acontecendo antes de ir tirando suas conclusões precipitadas?  –Tainá falou impaciente.

–O que estão conversando de tão sério para estarem com essa cara de enterro? –Ágatha perguntou sem entender nada.

–O Tiago, melhor amigo do seu irmão… Ele me estuprou, abusou de mim. –falei voltando a chorar dolorosamente. Confesso que achei estranho quando Ágatha me puxou para o seu colo e se pôs a chorar junto comigo.

–Que miserável! Eu vou acabar com ele com as minhas próprias mãos. –a ruiva parece que chorava mais do que eu.

–Sei que essa situação é muito delicada, mas é melhor a Giovanna realizar logo a denúncia e fazer todo exame de corpo e delito. –Tainá nos aconselhava cautelosamente.

A partir dali fomos para a delegacia especializada nesse tipo de crime. A ruiva tratou de avisar os meus familiares sobre tudo o que havia acontecido para desespero dos meus pais. Infelizmente nem Tainá ou a Ágatha tinham experiência necessária sobre como conduzir esse caso, não fazia parte da área delas. Imediatamente Bianca, irmã de Pietra, se propôs a assumir o meu caso e enfiar o Tiago na cadeia, o qual continuava foragido, ela era advogada especialista em violência contra as mulheres em geral.

Só quem é vítima de violência dessa natureza sabe o quanto é horrível, é péssimo passar por esse grande trauma. O pior era perceber o quanto meus pais sofriam com toda essa história. Mesmo com tanto acompanhamento psicológico, apenas dormia a peso de remédios, e quando dormia sempre tinha pesadelos. Nesse ínterim Ágatha se reaproximou de mim. Lembram quando disse que tinha dúvidas sobre o meu amor? Já tinha certeza do meu amor, mas após esse inferno não tive mais dúvidas de que a Ágatha era/é o grande amor da minha vida, enquanto estava perdida na mata só conseguia pensar nela, pela Pietra, gostava em consideração a história que tivemos, por ela ser muito bonita e desejada por muitas mulheres, era muito satisfatório ter uma gata daquelas correndo atrás de mim, rapidamente tudo foi se esclarecendo na minha mente. Mesmo assim Pietra ainda estava por perto, a DJ e a Ágatha estavam empenhadas para fazerem justiça com as próprias mãos.

Mesmo os meus pais não indo muito com a cara da ruiva, permitiam que ela se reaproximasse de mim, para o meu próprio bem. Quase toda a noite dormíamos juntas na minha casa, de conchinha.

–Giovanna, talvez não seja o melhor momento para falarmos sobre esse assunto, mas quero que saiba que te amo muito, esse tempo que ficamos longe apenas me fez sofrer muito. Por favor, vamos nos dar uma nova chance? Nós duas precisamos de terapia para controlarmos nossas personalidades. –Ágatha dizia enquanto assistíamos um filme de comédia.

–Eu também te amo, Ágatha. Te peço perdão se em algum momento fraquejei. Demorou muito para entender que você é meu único amor. Não quero me afastar de ti por nada nesse mundo. –disse controlando minhas lágrimas.

–Juro por tudo que é mais sagrado que vou aprender a confiar em você, controlar os meus ciúmes. Teremos um relacionamento feliz e saudável, nada de relações abusivas. –disse me abraçando.

–E eu prometo que serei a melhor namorada do mundo, não vou te deixar insegura e nem inventar mentiras. –disse lhe dando um selinho.

Não demorou para que a notícia do nosso namoro se espalhasse. Todos estavam radiantes e torciam para que pudéssemos nos acertar de vez. Eu tinha pavor de fazer sexo novamente, continuava fazendo acompanhamento psicológico, Ágatha era bastante compreensiva, respeitava meu tempo e não apressava as coisas. Infelizmente Pietra acabou se afastando, ela ainda era apaixonada por mim, e entendi que precisava ficar longe para se recuperar e seguir em frente, encontrar um novo amor.

Posso dizer que a Ágatha ao meu lado ajudou para que pudesse ter uma recuperação um pouco mais rápida. Depois de quase um mês optei por voltar ao meu trabalho, era até uma forma de não ficar tão dependente de remédios e distrair minha mente.

Nesse ínterim não comentei com ninguém algo que já havia ocorrendo há alguns dias… Tudo bem que sempre comia muito, mas agora minha fome parece que vinha se multiplicando. Passava a madrugada toda comendo desde feijoada, sorvete, comia de tudo.

–Filha, vai com calma! Desse jeito vai acabar com a comida da cidade. –minha mãe dizia tentando fazer graça.

–Que exagero, Grazi! Foram só quatro fatias de pizza. –comentei rindo.

Almoçava tranquilamente no intervalo do meu trabalho, e comentava com a Dani sobre o meu apetite voraz. Dávamos muitas risadas até que percebi o seu semblante sério.

–Amiga, tô te achando mais gordinha. –disse enquanto terminava de comer e amamentava um dos gêmeos.

–Não é pra menos, amiga. Desde que a Ágatha e eu voltamos ando comendo muito, deve ser a felicidade por ela estar ao meu lado. –dizia rindo.

–É só seu apetite que aumentou ou você tá sentindo algo diferente? Anda tudo bem?

–Claro que tô bem, Dani… Tirando todo o trauma que estou lutando pra superar. Quer dizer… Ontem eu vomitei depois do jantar, acho que a Joana exagerou no sal. –disse sem saber onde Dani queria chegar.

–Gi, a comida da Joana nunca te fez mal, e olha que ela cozinha pra sua família há muitos anos. Tem certeza de que não tem algo a mais? –perguntava desconfiada.

–Para de enrolar, Daniela. Você tá me assustando! Chega de rodeios e fala logo.

–Minha amiga, vamos ser sincera… Você está engordando, comendo mais do que costuma e vomitando. Não quero te assustar, mas e se todos esses sintomas forem indicativos de gravidez? –nessa hora senti como se tivessem me dado uma forte punhalada nas costas e minha reserva de oxigênio acabasse.

–Dani, você só pode estar drogada. Eu não estou grávida, quer dizer, não posso estar grávida daquele canalha, justo agora que Ágatha e eu estamos nos dando tão bem. Ela não iria querer um filho e eu não quero me separar do meu amor. –falei sentindo minhas pernas tremerem.

–Nesse momento você deve pensar apenas em ti, esquece a Ágatha só por um momento. Não acha melhor fazer um teste de farmácia pelo menos pra tirar essa ideia louca da cabeça então? –Dani disse me advertindo.

–Pode até ser, mas não tenho coragem pra fazer isso sozinha. Você faria comigo? –perguntei nervosa só de pensar nessa possibilidade.

–Não vou te deixar sozinha nessa, mas preciso deixar os gêmeos em algum lugar. –Dani disse segurando minhas mãos. –Vou pedir para que minha mãe cuide deles e vamos até aquela farmácia que tem perto de casa. O que acha?

–É uma boa ideia, amiga! Vamos logo. –disse pegando Pedrinho no colo enquanto Paulinha ia no colo da mãe.

Acho que nunca fiquei tão nervosa na minha vida. Minhas mãos não paravam de suar, até mesmo dona Helena, mãe de Dani, notou um medo na minha expressão facial.

–Giovanna, está tudo bem com você? –perguntou enquanto brincava com os netos.

–A Gi tá muito bem, ela só tá cansada porque tem trabalhado muito. –Dani disse com um sorriso amarelo, ainda bem que ela foi rápida para inventar uma desculpa. –Precisamos ir, mãe. Mais tarde passo para pegar os gêmeos. –Dani disse beijando os bebês e logo fomos embora dali.

No caminho até a farmácia estava apavorada. Só aí me dei conta de que podia sim estar grávida visto que minha menstruação estava atrasada, mas como meu ciclo era muito irregular, consegui me acalmar um pouco.

Não queria fazer o teste na casa da Dani já que a mãe dela era muito curiosa. Pedi a tarde de folga do trabalho e fui direto para a minha casa sempre sendo acompanhada pela minha melhor amiga. Meus pais haviam saído para passear, meu irmão estava no trabalho, minha sobrinha, a pequena Rafa, estava com a mãe na casa dos avós maternos, logo a casa era toda nossa.

Suando muito frio fui até ao banheiro e realizei o bendito teste. Não pude acreditar quando vi o resultado. Eu só podia ter jogado pedra na cruz. Por que tudo tinha que dar errado na minha vida? Voltei para o quarto e Dani estava mais nervosa do que eu, andando de um lado para o outro.

–Giovanna, não me deixa mais nervosa. E aí? Como foi?

–Dani, eu estou realmente grávida. Eu tô grávida, Daniela! Por quê?



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