Nosso Estranho Amor

25. Bêbado só faz Merda (parte 1)

Minha dúvida agora pairava sobre a roupa que deveria usar se deveria usar algo casual ou mais sexy. Não estava com a menor vontade de me arrumar e também não ia para uma boate a fim de paquerar, ia lá unicamente para vê a Ágatha, juntando esses dois fatores à minha imensa tristeza coloquei a primeira roupa que vi. Uma calça jeans surrada, uma regata vermelha que obviamente me lembrava dos cabelos da minha ex-namorada e um tênis antigo. Não usei maquiagem nenhuma e meus cabelos estavam soltos de qualquer jeito.

Coloquei na bolsa algum dinheiro que talvez precisasse para combustível ou outras despesas a mais. Entrei no carro e dirigi o mais rápido que pude para o meu destino final.

Chegando à casa noturna de dois andares obviamente avistei mulheres lindíssimas e muito mais gatas e mais aparamentadas do que eu, a Ágatha também era muito sexy, não seria difícil deduzir que ela estaria com alguma menina por ali. Só que a casa noturna estava lotada… Como acharia minha ex-namorada no meio de tanta gente? Vasculhei todo o primeiro andar e nada da ruivinha, não satisfeita fui para o segundo andar que mais parecia um motel, era gente transando por tudo o que era lado, havia mulher com mulher, homem com homem, héteros se pegando, trios, orgias de tudo o que você imaginar, era uma verdadeira festa carnal por todos os lados. A iluminação era insuficiente nesse ambiente para dar lugar à privacidade das pessoas, então seria quase que impossível reconhecer a Ágatha naquela penumbra. Mesmo com a dificuldade de visibilidade, notei que homens e mulheres me encaravam como se eu fosse um pedaço de carne, mais do que depressa voltei para o primeiro piso tentando inutilmente achar a ruivinha. Só que para meu desagrado, a única pessoa que avistei foi a Pietra, dessa vez ela apenas estava realmente trabalhando de fato, animando a festa, não estava atracada com nenhuma mulher, não sei por que diabos meu coração acelerou diante dessa constatação.

Sentei em um dos banquinhos que havia próximo ao balcão de bebidas. Eu nunca afogava minha mágoa nas bebidas, seria a primeira vez, como não achei a Ágatha, e com certeza teria que aceitar o fim do meu namoro, só precisava beber para esquecer. No cardápio havia os preços de dezenas de bebidas, uma mais cara do que o outra. Eu tinha uma quantia considerável de dinheiro, então nem me importei em gastar tudo ali desde que eu conseguisse esquecer.

–Moça, qual desses pedidos é o melhor para ficar bêbada rapidamente e esquecer dos problemas? –perguntei perdida pedindo auxílio para a garçonete.

–Depende. Algumas bebidas possuem efeito rápido, outras são alucinógenas, outras apenas te darão dor de cabeça, os efeitos serão variados de acordo com o seu objetivo. –a garçonete respondia penalizada com o meu olhar sofrido.

–Então me traz uma bebida alucinógena e que me deixe logo doidona, quero vê minha ex-namorada uma última vez, nem que seja pelo álcool.

–Vou te trazer um coquetel de frutas misturado com Martini, vodca, aguardente e uísque. –a moça respondeu começando a preparar as bebidas.

–Traz duas bebidas dessas. Quanto mais rápido eu ficar doidona melhor pra mim. –a garçonete assentiu, ainda com aquele mesmo olhar de dó.

Eu não sabia nem quais eram todos os ingredientes que aquele troço levava, só sei que a cor era uma mistura de azul com vermelho, e o gosto era horrível, péssimo na verdade, sem falar que descia rasgando a minha garganta e queimando o meu estômago, uma sensação horrível. Pude chegar a essa conclusão apenas com dois goles. Criava coragem para tomar o resto sem pestanejar quando uma certa praga me interrompeu.

–Giovanna, algumas vezes sonhei em te vê por aqui, mas não nesse estado. Por que tá bebendo? Você não é de agir assim. –A Ruby Rose paraguaia foi falando sentando ao meu lado mesmo sem ser convidada.

–Quem você pensa que é para achar que eu te devo satisfações da minha vida? Nós não temos nada. Vá voltar para as suas centenas de mulheres com quem você me traiu desde o começo e me deixa em paz. –disse terminando de vez de beber o primeiro copo sentindo meu estômago doer e minha cabeça começar a latejar.

–Eu me arrependo de todo sofrimento que te causei. Nós tivemos uma história de mais de cinco anos juntas. Te conheço nos mínimos detalhes e sei que você jamais beberia apenas por beber. Confia em mim e me conta o que tá acontecendo. Tem algo haver com a Ágatha? –a morena entrelaçou sua mão na minha. Eu queria apenas lhe empurrar para longe de mim, mas já estava começando a me sentir tonta e saberia que não teria forças para mais nada. Apenas puxei minha mão de volta desfazendo o contato.

–Pietra, seu arrependimento não me interessa. Você me humilhou bastante durante todos os anos que estivemos juntas, agora vem com uma conversa fiada de que realmente se importa comigo? Pois saiba que eu não estou interessada em ouvir o que você tem a dizer. –disse bebendo ainda mais. O álcool que antes me causava desconforto no organismo, agora me causava sensação de paz.

–Imagino o quanto minhas atitudes te magoaram e o quanto te fiz sofrer, mas será que você não pode me dar uma última oportunidade? Só preciso de uma chance para te provar que não sou mais a mesma sem vergonha de antes. Giovanna, eu te amo! Volta pra mim e te provo que é verdade tudo o que te digo. –encarei aqueles olhos azuis de maneira profunda… Pela primeira vez na vida li no olhar da Pietra o que ela nunca deixou transparecer antes: a verdade. Percebi que ela realmente estava sendo sincera e esse fato me assustou, fiquei atordoada.

–Pietra, escutar que você me ama parece um sonho que virou realidade. Sempre esperei ansiosamente por esse momento, mas é tão difícil de acreditar… Acho que isso deve ser alguma alucinação provocada pela bebida, quando sair desse estado alcoólico você voltará a me tratar mal. –Gente, não se assustem! Eu não estou tendo recaída com a Pietra (eu acho). Eu amo a Ágatha. Apenas vou me vingar. Essa brincadeirinha não é nada perto de toda a humilhação que a morena já me fez passar.

–Gi, eu juro que te amo de verdade. Infelizmente só damos valor para as pessoas depois que perdemos. Foi preciso você partir para eu perceber o quanto você sempre foi e sempre será importante na minha vida. –Pietra disse pousando um beijo no dorso da minha mão, atitude que me deixou desconcertada.

–Moça, coloca mais vodca aqui no meu copo! Ele tá vazio. –minha fala já estava começando a ficar embolada.

Eu estava começando a ficar bêbada, mas lembro das juras de amor que a  morena sexy ficava fazendo. Só que minha fúria veio quando ela destratou a garçonete.

–Suzana, não serve mais nada para a Giovanna! Você é retardada?! Não percebe que ela já tá muito bêbada? –a Pietra era a grosseria em pessoa, isso nem era novidade para mim. Ela pegou o copo repleto de vodca e despejou tudo no lixo.

–Pietra, eu não vou deixar você destratar as pessoas na minha frente. Peça agora mesmo desculpas para essa moça. –agora que já conhecia o ponto fraco da minha ex, iria usar contra ela.

–Não se preocupa moça. Eu já estou acostumada e… –cortei a Suzana na mesma hora.

–Anda Pietra! O que você está esperando? Você não disse que está mudada e me quer de volta na sua vida? Comece me mostrando que mudou. –mesmo muito bêbada, entendia o que estava passando ali.

–Por favor, me desculpa Suzana. Não deveria ter sido grosseira. –quem diria que essas palavras existiam no dicionário da DJ?

–Agora a Suzana vai preparar mais uma bebida para mim e você vai voltar para o seu trabalho. –disse me dirigindo a Pietra.

–Tudo bem. Que seja feita a sua vontade Giovanna… –a morena respondeu rendida. –Nós vamos embora juntas? –Pietra perguntou esperançosa.

–Claro que sim. Seus sentimentos por mim são recíprocos. –respondi sem ânimo algum.

–Obrigada loirinha. Eu te amo muito! –Pietra tentou me beijar na boca, mas virei meu rosto e o beijo pousou na minha bochecha.

–Só você mesma para amolecer o coração da nossa DJ. –Suzana cochichou após Pietra se afastar.

–Eu sou o ponto fraco dela. –respondi rindo e pensando se poderia usar essa descoberta ao meu favor. –Chega de conversa… Põe mais vodca e run nesse copo.

O tempo passou parece que se arrastando. Cada vez a boate se tornava mais lotada e meu coração se tornava esperançoso em vê a Ágatha entrando, mas isso nunca acontecia. A cada frustração eu bebia mais, e assim a noite seguiu… Teve uma determinada hora que comecei a me sentir sonolenta e me debrucei sobre o balcão, mas não queria parar de beber de jeito nenhum.

A bebida alcóolica tem dessas… Você pode nunca ter bebido na vida, mas é só começar a beber que seu organismo se acostuma e você não quer parar mais, era como se eu bebesse refresco de groselha com sabor de limão e gosto de tamarindo. Não sei era isso que o Chaves dizia, mas deixa pra lá.

Estava indo para a próxima dose da noite/madrugada, dessa vez seria piña colada. Antes que pudesse ingerir o liquido, o meu copo foi suspenso no ar.

–O que levaria uma moça tão bonita e simpática a beber desse jeito? –fui surpreendida por uma voz estranha. Olhei e me deparei com três loiras de óculos escuro.

–Não te interessa! Agora devolve a minha bebida… –falei tentando pegar meu copo de volta, mas não consegui. Ele estava se mexendo.

–Que resposta mau criada! –a mulher disse com ironia. –Você não tem cara de quem costuma ser mal educada.

–Olha, o que você quer comigo? Não tenho dinheiro pra te pagar nada, a bebida que eu comprar será só pra mim… –disse voltando a deitar minha cabeça no balcão e fechando os olhos. A claridade já me incomodava.

–Isso é muito egoísmo mocinha, mas entendo que não esteja nos melhores dias… A propósito, te achei muito bonita, uma gracinha… –a loira que estava dividida em três insistiu.

–Eu também não quero paquerar, só quero beber. É tão difícil aceitar esse fato e me deixar em paz? Nessa boate há muitas outras mulheres que serão melhores companhias do que eu. –queria que a loira largasse do meu pé se não fosse pedir muito.

–Não tenho noção do que está acontecendo, mas as vezes desabafar é a melhor opção. Ficar bebendo só irá provocar danos no seu corpo e te render uma ressaca desgraçada nos próximos dias. –a loira disse entrelaçando nossas mãos. Por algum motivo que não sei explicar, não neguei o contato. A mão dela era extremamente macia. –Agora me diz, qual o seu nome?

–Meu nome é Giovanna, e o seu? –perguntei sem muito interesse, apenas querendo ser educada.

–Que nome lindo! Não adianta falar meu nome, amanhã é capaz de você ter esquecido. Agora me conta o que passa no seu coração. –novamente olhei para a loira e não sabia o que dizer.

–Tá achando mesmo que vou desabafar com uma desconhecida? –perguntei com a fala mais embolada do que nunca.

–Talvez você se sinta melhor se pôr pra fora o que está te machucando, até porque você parece ser uma pessoa muito inteligente e não se embebedaria a toa. –ela passou para mim a força que eu precisava para expor minha vida.

–Você venceu. Amo muito uma mulher, mas por alguns erros, excesso de orgulho talvez… Nós não estamos mais juntas. Ela seguiu a vida dela, está com outra pessoa e eu não consigo esquecer dela, não sei o que fazer para seguir a minha vida sem ela. –me permiti chorar perante a loira desconhecida.

–Não quero parecer intrometida, mas essa mulher chegou a te dizer que estava com outra pessoa e que não queria mais saber de você? –perguntou curiosa.

–A Ágatha não me falou nada, mas pensa em uma mulher extremamente gata e sexy… –disse lembrando daqueles olhos castanho-claros que me faziam perder o juízo. –Ela não atendeu mais minhas ligações, mora em outro lugar que não sei onde é… Ela é muito linda para permanecer solteira.

–Entendo! –a loira tripla parecia não saber o que dizer e estava compadecida com minha situação. –Só acho que se vocês se amam muito irão se acertar.

–Só queria ter uma chance de me acertar com ela. Conhece a Kari Rueslateen? –perguntei mudando de assunto.

 –Quem é essa? –a loira parecia não saber sobre quem eu estava falando.

–A Kari é uma cantora europeia, acho que é norueguesa… –falei mais enrolada do que nunca. –Ela fez uma música em homenagem à Ágatha. Nem sabia que a Kari conhecia a minha ruivinha linda… –agora eu ria que nem uma hiena e nem sabia o porquê.

–Então quer dizer que você gosta das ruivas? Como loira não tenho chances então? –a desconhecida estava triste?

–Eu amo a Ágatha… Mesmo ela estando ruiva, morena, loira ou até careca. Pena que ela não me ama mais. –disse voltando a chorar.

–Giovanna, já chega de chorar! –fui repreendida. –Não é assim que você irá resolver as coisas.

–Posso cantar uma música? –olhei para a loira, ela não era mais três, já era cinco.

–Canta se isso for te deixar feliz… –a loira quíntupla disse dando de ombros.

–Meu nome é Agatha. Ela diz e pega a minha mão. Observe que eu sou aquela que irá te guiar para casa. Diz ela, Agatha. Agatha diz. Eu sou aquela que irá te guiar para casa. Meu nome é Agatha. Ela diz e pega a minha mão…

–O que você tá falando? –aquela loira deveria me achar uma louca mesmo.

–Essa é a música que a Kari fez pra Ágatha, ouço essa música todo dia.

–Enquanto nós estamos falando na famosa Ágatha, o que será que ela está fazendo? –a loira indagou me fazendo voltar a chorar.

–Ela deve estar fazendo amor com alguma menina muito mais bonita do que eu. –apenas fui capaz de sussurrar. Acho que a bebida estava começando a me fazer mal e seria questão de tempo para vomitar.

–Já percebi que esse assunto te deixa muito triste, para o seu bem é melhor parar de falarmos nela.

–Pos posso te fafazer uma per gunta? –indaguei com a fala mais do que arrastada.

–Pode perguntar o que quiser desde que não seja mais para falar sobre essa Ágatha.

–Co como você faz pra conseguirguir se dividir em cciiinco? Queria ter esse poder. Tô conversando com cinco loiras. –agora eu já estava gargalhando alto e atraindo atenção para a nossa direção.

–Sem dúvidas você está mais bêbada do que eu imaginava… –a loira respondeu com um sorriso amistoso. –É melhor irmos embora.

–Só preciso de uma ajudinha até chegar ao meu carro, de lá vou pra casa. –eu ria sem parar.

–Nunca que vou te deixar dirigir nesse estado, só se estivesse louca. –a desconhecida parecia muito preocupada comigo.

Eu tentei levantar do banquinho, mas a minha situação estava pior do que imaginava. Tropecei nos meus próprios pés e se não fosse a loira, iria pegar uma queda muito feia.

–Você não está em condições nem de andar. –a desconhecida falou.

–É só você me ajudar. –falei voltando a rir.

–Vou te levar pra minha casa. –a loira falou enquanto me amparava nos seus braços.

Oi meninas. Será que foi bom ou ruim a Gi não ter dado de cara com a Ágatha? E essa loira será que é gente de bem? Até quarta-feira.

Só deixar um aviso. A maioria sabe que setembro é conhecido por ser o mês de prevenção ao suicídio. No Brasil e no mundo infelizmente está aumentando o número de pessoas que recorrem a tal prática. Este mês está terminando, mas vamos continuar lutando durante o ano inteiro para que novos casos de suicídios não sejam registrados. As vezes cinco minutos para nós não é nada, mas para quem está sofrendo faz toda a diferença 🙂



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