Eras – A guardiã da União
Texto: Carolina Bivard
Ilustrações: Táttah Nascimento
Revisão: Isie Lobo, Naty Souza e Nefer
Capítulo XL – Despedida de Solteiras
Brenna não podia facilitar, não é?
— É lá que quero me casar! Será que não entendem? Para mim, é importante!
Irritou-se com nossas investidas para que ela mudasse de ideia. Bem, o casamento era delas. Que assim fosse.
Começamos a nos articular para que tudo fosse arranjado. O castelo de Eras estava em polvorosa e a cidade também. Brenna e Thara caíram nas graças do povo, após todo o ocorrido em Natust. Viam-nas como bênçãos da Divina Graça. O próprio comércio local pediu autorização para organizar uma festa na praça central da cidadela, quatro dias antes do casamento oficial delas. Chamaram a festa de “Despedida de Solteiras”.
Eu ri, quando recebi o representante dos comerciantes com a programação e li o nome dado por eles. A população realmente tinha uma imaginação incrível. Esperavam que nós comparecêssemos para prestigiar. Bem, eles não precisavam pedir e sabiam disso. Só cumpriam um protocolo de convite à família real. Desde criança, eu amava as festas locais e só não comparecia quando meu pai me castigava por alguma peraltice que tinha aprontado. Mesmo depois de assumir o reino, costumava comparecer a todas que conseguia.
Arítes me procurou na sala do conselho naquela manhã calma. Não havia deliberações e eu revisava os gastos com a construção de novos silos de grãos na área do pregão comercial. Ela entrou tão silenciosa pela porta da câmara de atendimento público que não a escutei.
Beijou minha nuca, fazendo com que me arrepiasse. Voltei meu olhar para ela e Arítes assaltou minha boca.
— Ei! Não que eu esteja reclamando, mas o que lhe deu para me procurar no meio da manhã com tamanho carinho?
Ela sorriu e resvalou para cadeira a meu lado.
— Bem, fui dispensada de minhas funções hoje. Parece que Gwinter está gostando dessa coisa de festa de “Despedida de Solteiras” e se aliou ao conselho dos comerciantes. Não querem que saibamos o que estão aprontando.
Ela respondeu rindo, me fazendo rir com ela.
— Andei dando uma espiada no recuo da praça. Acha que eu deixaria minha curiosidade de lado?
— Claro que não!
Eu continuava rindo da jovialidade e leveza que minha esposa assumira nos últimos dias.
– E o que viu lá? – Perguntei.
— Estão montando uma pequena arena.
— Devem preparar alguma competição de luta. Sabem que Brenna gosta.
— Será que poderemos participar?
— No que está pensando?
— Em participar, oras! Desde que passei para o comando, por motivos de protocolo, nunca mais pude participar dos jogos do exército. Bem, estes não serão oficiais, logo não estamos ligadas aos protocolos, ou estamos?
— Acha que eu poderia participar também?
— Viu? Você também sente falta.
Nos entreolhamos e rimos de nós mesmas. Estávamos tão entusiasmadas com essa festividade quanto o povo.
***
Eu e Arítes, por norma, teríamos que comparecer às festividades com nossos uniformes oficiais. Aliás, toda a nossa família, já que quem era, ou foi do exército não poderia comparecer a uma festa do povo com vestes comuns.
Esta norma servia para que soldados fossem identificados pela população, pois não poderiam sequer pensar em entrar em uma briga de rua. Se acaso ocorresse, o soldado sofreria sanções. Eles tinham que ter em mente que eram mais capacitados, belicamente, do que pessoas comuns. Se acaso uma briga começasse, o soldado tinha que requisitar, imediatamente, a intervenção dos guardas locais, para que a briga fosse contida.
Soldados que não estivessem de guarda, poderiam se divertir, beber, e comemorar como qualquer outro. Só não podiam se exceder e brigar.
Chegamos à praça e nos dirigimos ao local onde havíamos marcado com Mardox e Tétis, como nos velhos tempos.
— Finalmente! Já estamos aqui há meia marca.
Tétis reclamou, nos entregando dois copos de sidra que haviam comprado.
— Sua bebê está se casando, Arítes. Um brinde.
Mardox ergueu o copo para um brinde que foi imediatamente tocado pelos nossos.
— Ela é muito nova. – Arítes resmungou.
— Ela ama a conselheira. – Rebateu Tétis, sorrindo. — Isto não é bom?
— É. Mas as duas são muito novas. – Contradisse.
— E se amam. – Mardox contestou. – De mais a mais, não é como se não pudessem se separar, se der errado. Em que época vocês vivem? Acha que todos encontram o amor eterno como vocês duas?
— E, por acaso, nós dois não encontramos o nosso amor? – Tétis confrontou o marido. – Fala como se nós não nos amássemos também.
— Eu não falei nada disso! Só disse que, se no futuro, elas decidirem o contrário, por nossas leis, não estão amarradas eternamente! Têm opções.
Mardox rebateu, revirando os olhos. Todos nos entreolhamos e rimos da discussão. Dei um gole na sidra, apreciando enormemente.
— Nossa, essa sidra é muito boa!
— É daquela barraca. – Tétis apontou, rindo de lado.
— Engraçadinha. – Falei para ela. – Aposto que foi comprar lá para implicar comigo!
Era a barraca de uma mulher que foi um antigo relacionamento de Arítes, antes de nos casarmos. Reparei bem nela. Estava mais velha sim, mas ainda mantinha beleza e atitude. Voltei-me para Arítes.
— Podemos continuar bebendo da barraca dela, mas você está proibida de chegar perto. Nós compramos a bebida!
Arítes fez um gesto com as mãos de aquiescência, sem nada falar. Mardox e Tétis riam de nós.
Ao longe, vi Eileen bebendo junto a um grupo de oficiais. Não sabia que ela tinha retornado de Tir. Arítes acompanhou meu olhar e estreitou os olhos.
— Ela está de volta. Sabia disso?
— Eu não! Você é quem deveria saber, afinal, ela é uma general do exército.
— Também é uma oráculo. Você igualmente deveria saber.
— Se ela está aqui, as Senhoras da Natureza a liberaram. Os feitiços de Hod devem ter sido debelados. – Respondi.
— O que não quer dizer que ela tenha deixado de amá-la. Digo o mesmo para você: mantenha-se à distância dela.
— Mmm… Está bem. Fico distante dela e você da produtora de sidra.
— Feito!
Nossos amigos riram com gosto de nossa conversa, nos encabulando. Estávamos ridículas destilando nossos ciúmes numa festa.
Papai e mamãe chegaram. Um deles tinha duas canecas de sidra na mão e o outro um prato com pedaços de javali assado. Pousaram na mureta do laguinho artificial, em que estávamos encostados.
— Eu nunca vi tanta gente numa festa aqui na cidadela.
Minha mãe falou alegre.
Há muito tempo não via meu pai com o uniforme de general e nem minha mãe com a veste honorária de comandante. Estavam magníficos e senti orgulho deles. Ah, havia esquecido de relatar uma coisa: soldados que não estavam na guarda, apesar de estarem de uniforme, não portavam armas. Desta forma todos sabíamos quem estava em serviço e quem estava somente se divertindo.
— Aquela barraca tem vinhos e sidras maravilhosos, se querem saber.
Tétis falou para eles, com uma expressão de riso, mexendo comigo e com Arítes, me irritando. Minha mãe olhou, enfadada.
— É. Compramos nossa sidra lá também e, para seu conhecimento, Tétis, sei da história de Arítes com aquela moça. – Minha mãe se virou para mim. – Também não deixo Astor comprar, mesmo sabendo que a bebida é boa. A mãe dessa moça foi namorada de Astor, antes de nos casarmos.
— Normal. – Meu pai falou. – Por acaso não convivo com a raínha Chad?
Meu pai fez referência a um antigo relacionamento de minha mãe.
— Parou com essa conversa! – Decretei. – Passado é passado, tudo bem?
— Certo!
Todos falaram ao mesmo tempo. A gargalhada foi geral. Como diziam entre os círculos de lavadeiras da cidade: “Roupa de casa se lava na casa!”
Embora um pouco fria, a noite estava agradável, pois o calor humano da multidão e a euforia da festa aqueciam a noite. Por fim, Gwinter fez as vezes de “Mestre de Divertimentos” chamando a todos para brincar na arena que havia improvisado.
A população poderia se divertir em pequenas lutas com arco, ou mesmo com espadas cegas de treinamento. Os organizadores dariam os implementos como armaduras, para que ninguém se machucasse, ou mesmo arcos e flechas para disputas pessoais. Bastava se inscrever. Havia também uma tenda de prosa. Dessa não tínhamos conhecimento e não desconfiamos.
Era um palco montado em que as pessoas que se inscreviam, poderiam declamar poesias, ou mesmo, atuar em pequenas peças improvisadas. Ainda não havíamos encontrado Brenna e Thara, todavia sabíamos que elas estavam se divertindo com seus amigos, em algum lugar.
Vimos também uma tenda instalada com uma forja, em que Ravena ensinava quem quisesse, a forjar pequenas coisas, como colheres, facas… Evidente que, quem se interessasse, não sairia um mestre, porém, foi uma excelente ideia para despertar o interesse de algumas pessoas para essa prática.
Conseguimos avistar Thara próxima ao palco. Chegamos até ela.
— Foi ideia sua? – Meu pai perguntou.
— Não, mas adorei! Este rapaz que está declamando é ótimo!
Vimos a emoção nos olhos da conselheira. Era o carinho do povo para com elas.
— Brenna já chegou? – Perguntei.
— Sim, estávamos juntas, com alguns amigos dela, mas quando abriram este palco e a arena, vim para cá e, como devem prever, ela foi para lá. – Riu.
— Com certeza! – Arítes falou. – Vou para a arena.
— Então vá.
Eu disse. Ela me olhou intrigada.
— O quê? Amo peças, poesia, prosas… Sabe disso!
— Sim, mas sei que ama os desafios na arena também. – Arítes afirmou. – Quando quiser variar um pouco, pode me encontrar lá.
Meus pais riram. Papai ficou comigo; Thara e minha mãe acompanharam Arítes. Previsível. Entretanto Arítes estava certa. Um tempo depois fui para a arena. Afinal, não precisava me divertir com uma coisa só, não é verdade? Porém antes disso ocorrer, vi Edmo se aproximar juntamente com Havenor.
Não tinha nenhum séquito de Natust a acompanhá-los e o irmão de Thara trajava vestes comuns, típicas de habitantes de Cadaz.
— Não vim como governante de Natust; e Havenor, hoje, também não é o comandante honorário de lá. Estamos aqui somente para prestigiar nossos familiares.
Ele havia escapado de suas funções, amparado pelo seu aliado em quem mais confiava. Certamente, os conselheiros de Natust deveriam estar de cabelo em pé. Isso se soubessem que seu governante estava em Eras sem nenhuma pompa, ou mesmo proteção.
***
Fui para a arena.
— Aqui está animado?
— Muito! – Minha mãe falou divertida.
— Como é o esquema? – Perguntei.
— Simples. São disputas pessoais. Dois amigos se inscrevem para disputar entre si. Quem vencer, leva uma coroa de louros.
— Inteligente! Gwinter realmente montou uma diversão para a população. Nada que possa ser agressivo.
— Também gostei muito disso.
Minha mãe respondeu, fazendo uma careta quando um rapaz acertou com a espada a lateral da armadura de seu oponente.
— Vai doer. Espero que aquele rapaz tenha unguento para o roxo que aparecerá amanhã.
Eu ri, apoiando-me no alambrado para ver a disputa.
— Quer alguma bebida?
— Não, Tália. Já bebi demais por hoje. – Minha mãe respondeu, olhando para uma barraca de doces.
— Está bem! Eu compro doces, mas você guarda meu lugar aqui.
— Ninguém tomará seu lugar, rainha Tália.
Escutei atrás de mim e olhei, agradecendo. Sei que todos os nossos súditos faziam isso por respeito, todavia, eles não sabiam o quanto eu odiava. Nessas ocasiões, detestava ser reconhecida, pois queria apreciar a festa como qualquer outro.
Comprei dois doces de morangos, retornando ao alambrado. Dei um a minha mãe, que agora torcia por uma garota, competindo com outra.
— Onde Arítes está?
— Tentando achar alguém para competir com ela.
Minha mãe respondeu e gargalhou. Bufei.
— Será que ela não vê que as pessoas declinam, unicamente, pelo posto que ela possui? É frustrante, eu sei.
— Ninguém entende que não acharíamos ruim se perdêssemos. Infelizmente, ainda enxergam assim. Um dia quem sabe… Talvez Tétis aceite.
— Tétis foi treinada por ela.
— Mas não é mais. Quem sabe Arítes não a convence.
— Por que a senhora não aceita?
— Porque não teria graça para nós. Vivemos nos enfrentando quando treinamos juntas.
— Verdade. – Pensei um pouco e falei. – Tive uma ideia e gostaria de colocar em prática. Eu a desafio no arco. – Falei para minha mãe. – Há anos não treinamos juntas no arco.
— Mmm… Este é um desafio. Aceito!
Fomos para a inscrição e escutamos urros da plateia. Não era por nós. Espichei meu olhar para a arena.
— Havenor e Arítes…
Minha mãe assinou o termo de desafio na inscrição e falou.
— Assina logo isso que quero ver essa luta!
Ela estava eufórica.
Havenor tinha um desafio a mais. Ele estava enfrentando a comandante do exército de Eras e todos a apoiavam. Não queria estar na pele dele.
As estocadas aconteciam dos dois lados, sem que alguém obtivesse vantagem. Embora Arítes tivesse maior vitalidade pela idade, Havenor era sagaz e sabia quando se defender de estocadas agressivas. Ele conseguia se poupar e avançava em oportunidades em que Arítes se distraía.
A notícia da peleja se espalhou e a multidão tomou todo o espaço ao redor da arena. Naquele instante, vi como o nosso povo era competitivo. Embora gostasse do patriotismo, também me preocupava com a rivalidade exacerbada, o que não me impediu de torcer por ela. No entanto, seria uma pauta em minha nova função. Tínhamos um papel de paz em Tejor. Essas disputas teriam que ter um embalo de divertimento no futuro e não de hostilidade.
— Sua esquerda, Arítes!
Gritei como se ela pudesse escutar. O barulho era tanto que duvidava que eles pudessem entender algo de dentro da arena. Ela pulou de lado, escapando da estocada vertical, que ele desferira e imediatamente reagiu, lançando um golpe horizontal nas pernas do comandante. Ele pulou para trás, escapando. O combate já durava mais que dez divisões de ciclo, em uma marca de tempo¹. Deviam estar extenuados.
Havenor a estocou pelo alto. Arítes estava próxima ao alambrado e escapou para o lado. Correu, impulsionando-se na trave de madeira de divisão da arena, baixando a espada com força sobre seu adversário. Ele teve tempo apenas para elevar a espada e defender-se do golpe, sendo atirado no solo. Minha esposa, imediatamente reagiu para dominá-lo.
O comandante honorário de Natust estava caído no solo, subjugado pela espada de Arítes que parou com precisão, colada ao pescoço do oponente.
Ela ofegava intensamente; ele também. Fitaram-se. Ele não tinha medo nos olhos. Ela vislumbrou uma aceitação conformada, contudo não uma derrota.
— Fico feliz que meu pai teve uma morte pela espada de um guerreiro honrado como você. Dificilmente soldados entendem que as mortes que causam são consequências devastadoras, e não um prazer a desfrutar.
Ela sussurrou, ainda arfante e aclamada pelo povo.
— E estou feliz por ver que meus virtuosos oponentes em guerra, geraram uma mulher de tamanha garra, mas que sabe o quanto a morte de um único ser pode ser um desperdício na roda da vida.
Ele largou a espada e estendeu a mão, para ser auxiliado por Arítes para se levantar. Diante dos aplausos e ovações da população, minha mulher curvou-se segurando a mão de seu oponente, para agradecer a população. Sem mais, largou a espada diante deles, no solo da arena. Indicativo de que declinava da vitória em favor de seu oponente. Ouvimos murmúrios de eto por toda a arena.
— Como amo essa mulher! – Falei, orgulhosa.
— Eu a eduquei. Me decepcionaria se ela fosse menos que a mãe e o pai dela foram. Felizmente, não falhei como sua mãe “emprestada”.
Minha mãe rebateu também orgulhosa e a encarei.
— Metida! – A repreendi.
— Vai contestar?
Sorri. A rainha Êlia estava certa. Arítes era a sua outra “filha” e se envaidecia por isso. Eu não poderia contestá-la e me orgulhava também.
— Como é? Vai me encarar no arco?
Intimei-a.
— Nunca recuso um desafio. Além do mais, tenho que ver se estou afiada nas minhas habilidades, não é?
***
Já estávamos na quarta seção de flechas e não errávamos nenhuma no alvo. Era uma competição simples de alvos fixos. Um cavalete com um círculo desenhado. Não era desafio para mim e nem para minha mãe que, desde crianças, treinávamos sistematicamente. Embora a população cercasse a arena, ávida para ver as regentes de Eras se enfrentando, estava enfadonho.
— Está chato. – Minha mãe falou.
— Concordo.
Respondi, retirando outra flecha da aljava, encaixando no arco que me deram para a competição.
— Vamos agitar isso um pouco?
Ela me perguntou, chamando minha atenção.
— O que propõe?
— Mandamos o pajem fixar uma flecha no alvo. Teremos que atingir a flecha e rachá-la ao meio. O que acha?
— Aceito.
Respondi eufórica. Aquilo poderia ser um desafio. Ela chamou os juízes do evento. Eles concordaram e falaram as regras para o povo, para aquela única competição. Quem assistia, aclamou. Todavia, fomos interrompidas por um dos juízes.
— Há uma nova desafiante para vocês duas. Ela requisita participar dessa disputa. Como é um evento social, resolvi perguntar a vocês se aceitariam o desafio.
— Ótimo! Alguém de fibra, afinal!
Minha mãe respondeu de pronto. O juiz fez a apresentação e as mudanças de regras; o povo aplaudiu novamente, vibrante.
A garota entrou na arena empunhando um arco. Estava com o uniforme do exército. Não era tímida, porém nos cumprimentou respeitosamente.
O pajem fixou as flechas em cada alvo. Eu comecei e atingi a flecha posicionada, rasgando-a. A atirada por mim fixou-se no centro. Minha mãe não deixou por menos e a garota, não se intimidou. Estávamos empatadas.
— Vamos dificultar. Aceitam fazer no mesmo alvo? Sorteamos a ordem e cada uma tenta rasgar a flecha da outra.
Aceitamos.
A primeira rodada terminou empatada. A garota era boa, também. Houve a segunda rodada, entretanto, diante da dificuldade da disputa, a plateia estava mais animada, torcendo.
Vai lá, Vougan! Destrói, comandante! Ganha isso, rainha Tália!
Eram as vozes que escutávamos vindas da audiência.
Concentrei-me e parti a flecha no alvo ao meio, fixando a minha. A segunda a alvejar, era a jovem desafiadora. A flecha dela tocou o topo da minha enviesada. Resvalou e não conseguiu. Estava fora da competição, contudo arrancou aplausos da plateia.
— Não vá embora. – Minha mãe falou para ela. – Gostaria de conhecê-la.
A garota sorriu, se afastando. Permaneceu na beirada do alambrado.
Foram mais duas rodadas até que a flecha desferida por minha mãe resvalou. Fiquei em choque! Havia ganhado de minha mãe, pela primeira vez em anos. O povo aplaudiu animado.
Minha mãe me abraçou, depositando um beijo em minha testa, sorridente. Reverenciou o povo.
— Não vai falar que me deixou ganhar, não é?
Perguntei para ela, por que estava nas nuvens.
— Claro que não! Você me venceu. Verdade que seu pai estava na plateia e olhei para ele… Ele me piscou e me distraí.
Revirei meus olhos. Ela nunca admitiria que tenho uma perícia maior que ela.
Saímos da arena e minha mãe se dirigiu à garota.
— Seu nome é Vougan, não é? Escutei as pessoas lhe chamando da plateia.
— Sim, comandante.
Percebi o grau de reverência da garota para com minha mãe. Revirei outra vez meus olhos.
— É filha do metal?
— Sim, senhora.
— Tem a magia em seu sangue… Foi Brenna que lhe falou para nos desafiar?
A garota ficou confusa e olhou para trás. Brenna estava recuada, nos observando. Me contive para não rir e minha mãe também. Brenna pulou a cerca e veio até nós, explicando.
— Não é favoritismo! Ela tem sangue mágico e é forte. Eu sinto! Eu só… só achava que ela devia se mostrar mais.
— Ela é de seu regimento? – Perguntei.
— Sim. — Brenna respondeu, deixado cair seus ombros. — Como disse, só queria que ela se mostrasse.
Minha mãe colheu o rosto da garota em sua mão a encarando.
— O que tem sentido?
Perguntou-a diretamente, com olhos de “Guardiã”.
— Tenho tido… lapsos. Entro em um estado de… como poderia falar, transe. Saio de mim. Quando volto à realidade, declarei coisas e depois, elas acontecem. Estou enlouquecendo.
Pelo visto, as mudanças nos “filhos de sangue mágico” estavam ocorrendo mais rápido do que imaginávamos. Teríamos que acelerar as nossas ações, para identificá-los.
— Procure-nos, logo após o casamento de Brenna. E… Não se preocupe. Ensinaremos a você como lidar com isso. Aproveite a festa.
A menina se sentiu animada. Fez uma reverência e saiu. Olhei para Brenna.
— Você não precisa desses artifícios. Se detectar alguém com a magia latente, basta nos informar.
— As Senhoras da Natureza falaram que não poderíamos privilegiar. Ela é minha amiga de armas. Sabia que necessitava e não sabia como fazer, porque a conhecia. Como deveria agir?
— Informando. – Minha mãe falou serena. – É assim que começaremos. Depois, montaremos um centro de avaliações para quem está despertando a magia. Por agora, comunique e veremos a necessidade de uma ação premente.
Abracei minha filha.
— Nós também estamos aprendendo como agir, filha, mas entenda que apresentar o problema dela para nós não é favoritismo. – Falei.
— Seria, se acaso quisesse que ela tivesse vantagens por ser unicamente sua amiga, sem necessitar realmente. — Minha mãe concluiu.
— Não podemos esperar muito… – Falei preocupada. – Temos que montar logo um centro para avaliar estas situações. Andando pela praça hoje, percebi a energia mágica fluindo de diversas pessoas.
— Eu também, filha. – Minha mãe arrematou.
— Eu que o diga. – Brenna continuou. – Na escola militar, já identifiquei uns cinco em minha turma. Vougan é quem me preocupava, porque ela tem tido esses lapsos, constantemente.
— Há uma construção anexa à biblioteca da cidade que está desativada. Era um antigo depósito da própria biblioteca. Amanhã mesmo farei uma requisição para reforma. Tão logo esteja pronto, poderemos utilizar como um centro de triagem.
— Ótima ideia, Tália. Enquanto isso, me reunirei com seu pai para montarmos critérios de avaliação da capacidade das pessoas e também, tipos de magia que possuem. – Minha mãe olhou para Brenna. – E você, se detectar mais alguém com o despertar tão forte quanto o de Vougan, leve até nós.
Brenna anuiu e logo escutamos um tumulto do lado de fora da arena.
— Não acredito que tem um idiota bêbado na festividade. – Brenna falou.
— Você nunca foi uma idiota bêbada?
— Merda!
— Olha a boca comigo! — Falei para irritá-la.
— Sabia que um dia minhas escapadas se virariam contra mim.
Brenna reclamou amuada.
— O que fazemos com idiotas bêbados numa festa da cidade? — Minha mãe perguntou, sorrindo.
— Contemos o indivíduo. Se ele for violento, prendemos e averiguamos.
— Aproveite a festa, Brenna. Ela é para você e Thara. – Falei. – A Guarda cuidará dele. Relaxe. Até a próxima lua, você terá novas responsabilidades.
— Não serei apenas eu. Thara também vai ter novas responsabilidades!
Ela não podia deixar de retrucar. Essa era minha filha… Que viesse seu casamento!
♥
1 – Uma marca corresponde a uma hora. Uma divisão de uma marca, corresponde a um minuto nosso. Um ciclo de dez divisões é correspondente a dez minutos. Por que não colocar dez minutos? Porque esse é um mundo fantasioso. Não corresponde em nada à nossa história no planeta Terra.
Nota: Obrigada pela paciência. Devem ter percebido que estamos na reta final da história. Hoje é o penúltimo capítulo. Espero que tenham apreciado a calmaria. rs
Um abraço a tod@s
Penúltimo capítulo, bate uma tristezinha quando a história chega ao fim…
Que luta incrível! Minha Arites e Havenor. Esse enfrentamento realmente precisava acontecer. Lavaram a alma. Achei muito bonito o que disseram um ao outro no final. Também estou orgulhosa e amando ainda mais Arites. Pouco me importando para os ciúmes de Tália, rsrsrs.
Começando a surgir pessoas com magia no sangue. Nossas guardiãs precisam agir rápido para orientar esse povo.
Beijo, Carol.
Espero que esteja tudo bem.
Oi, Fabi!
Então, decidi dividir o último capítulo em dois. rsr Ainda terá mais um pouquinho.
Sim, Havenor em sua culpa e Arítes em sua mágoa, mas ambos sabiam que foram marionetes daquela guerra.
A Tália é ciumenta mesmo. kkkkkk Cuidado com ela! kkkk
Já começaram a agir, quem sabe agora conseguem fazer um mundo melhor.
Um beijo bem grande e muito obrigada pela compreensão e força que sempre me deu, Fabi!
Ps.: O novo capítulo está no site!
Show
Oiee,Bi!
Muito bom!!! “Uma marca”,me fez lembrar uma certa guerreira…kkk
Adorei a cena de Ari e Tália!!
Bons fluídos pra todos de sua família!!
Abraços de luz!!
Oi Carla e Lailicha!
Obrigada por tudo e pela forção que me deram.
O novo capítulo está no site!
Muita luz para vocês e um beijão!
Ansiedade disparada. Uau!
Espero que tudo tenha corrido bem e que em casa esteja tranquila. Foi lido aqui em Inhotim, não dava pra esoerar voltar pra casa. Bjs
A ansiedade acabou, Ione!
Felizmente o novo capítulo vai entrar daqui uns minutinhos!
Obrigada por tudo e pela força que tem me dado!
Um beijo grande!