Miguel Valverde parou ao lado da mesa, entre as cadeiras de Juliana e Aldo, encarando os olhos verdes de Maia que o encararam ao se aproximar assim que Alicia lhe tocou o ombro para lhe alertar da aproximação do homem. Ele encarou os presentes por alguns instantes como se para os identificar antes de encarar primeiro Aldo o cumprimentando.
– Cárceres – falou o homem em pé acenando com a cabeça para o outro que estava sentado – Como vai?
– Já estive melhor, mas o whisky está aceitável – Aldo respondeu com um tom entediado; Valverde estreitou o olhar, mas não respondeu nada e virou os olhos para o casal do outro lado da mesa ignorando a presença de Juliana.
– A senhorita é Alicia Ferraz, correto? – ele perguntou encarando a veterinária que concordou e se levantou estendendo a mão ao homem, Valverde não pareceu muito contente, mas também não recusou o cumprimento, em seguida ele encarou Maia que o olhava de baixo e não parecia disposta a se levantar – Presumo que a senhorita seja a sobrinha de Augustus – falou ele finalmente sem se dispor a estender a mão e os olhos verdes encararam o homem com calma, mas ela também não se moveu para estender a mão e muito menos para se levantar.
– Maia Augustus – ela se apresentou encarando os olhos azuis frios, mesmo precisando erguer o olhar para isso a postura dela não parecia estar incomodada e muito menos indicativa de que ela estava em algum tipo de posição inferior.
Houve um longo silêncio, Alicia manteve-se encarando Miguel tanto quanto Maia; já Aldo e Juliana alternavam os olhares entre os dois de olhos claros observando a embate entre eles. Era como se disputassem um certo grau de superioridade pelos olhares, onde Valverde claramente tentava se sobrepor a Maia apenas com o peso de seu olhar sobre ela, mas nem estando em uma posição mais elevada e favorável ele conseguiu sentir que a estava rebaixando, ao contrário, a maneira com que ela o encarava era tão firme e penetrante que aos olhos dos outros a volta deles, parecia que era ela quem estava numa posição superior.
– Não acreditei que teria a sua presença em meu leilão – Miguel disse por fim, interrompendo a disputa, mas ainda assim tentando se sobrepor de outra maneira.
– Se não desejava que eu viesse, talvez tivesse sido mais lógico não me enviar um convite – Maia respondeu com um sorriso divertido que pareceu trazer um tom de irritação ao olhar do homem – Mas, levando em consideração que minha presença não era esperada, seria interessante saber o que o levou a vir até a minha mesa sendo que poderia simplesmente ignorar a minha presença.
– Não vou dizer que pretendia estar aqui – Miguel respondeu, mas era notável seu desconforto com a forma direta com que ela o estava tratando – Entretanto, as circunstâncias exigiram isso – ele afirmou olhando de Maia para Alicia que estava ainda em pé parada junto a cadeira da namorada e tocando seu ombro.
– Que circunstância seria essa? – Maia questionou trazendo o olhar dele novamente para ela.
– Rodolfo Dutra fez alguns comentários – Miguel começou encarando as duas alternadamente antes de fixar seu olhar nos verdes tranquilos – Os quais estão causando certo desconforto em meus convidados. Vim averiguar o que se passava aqui, já que não acredito que o que ele anda espalhando possa ser real.
– Podemos ser mais diretos não? – Alicia perguntou mantendo sua expressão tranquila e fazendo o homem a encarar.
– Dutra anda dizendo que existe… – ele alternou os olhares entre as duas torcendo levemente os lábios numa clara demonstração de desgosto a ter de se referir aos comentários – Que existe uma situação vergonhosa de um relacionamento entre vocês duas – Miguel finalmente disse voltando a encarar Maia, mostrando que claramente o foco dele não estava em considerar a presença da veterinária.
– E a razão para crer que os comentários de Rodolfo Dutra são infundados; quais seriam? – Maia perguntou com um tom quase debochado, mas sua postura era relaxada enquanto ela mantinha as mãos juntas sobre suas pernas que estavam cruzadas uma sobre a outra.
– Ora – Miguel começou com um riso forçado – Olhando para a senhorita fica claro que impossível algo desse tipo – ele afirmou apontando com a mão para Maia como um todo, as mulheres presentes na mesa perceberam que ele quis se referir a aparência da jovem administradora – Além de que seria o segundo passo para a falência do Rancho.
– E o primeiro, Senhor Valverde, qual é o primeiro passo? – Maia perguntou encarando os olhos do homem agora com uma postura séria, ainda que calma.
– Não que eu lhe desmereça, Senhorita Augustus – falou Miguel Valverde com uma expressão presunçosa – Mas a administração de uma propriedade tão grande quanto a sua deve ser feita por alguém com melhores qualificações. Soube que sua formação em nada se liga a administração e que a senhorita muito menos entende de questões rurais – ele falou com um meio sorriso colocando as mãos nos bolsos da calça para parecer ainda mais confortável.
– Sua opinião seria outra se eu tivesse uma formação relacionada a área? – Maia perguntou ainda mantendo a expressão tranquila, mas sentindo ao irritação de Alicia pelo leve aperto que os dedos da veterinária impuseram em seu ombro.
– Uma suposição desnecessária – Valverde afirmou erguendo o queixo para encara Maia de uma postura ainda mais alta – Cuidar de um negócio dessa maneira não é algo que uma mulher consiga fazer com êxito. Talvez a administração de algo mais relacionável traga algum sucesso.
Maia pegou sua bengala e Alicia, notando os movimentos dela, lhe estendeu o braço como apoio para que se levantasse. Miguel a encarou tentando manter a postura, mas um tanto confuso e desconfortável com ela ter a iniciativa de se levantar. Os saltos colocavam a jovem quase na mesma altura que ele, visto que não era um homem tão alto, e os olhos verdes pareceram lhe perfurar com o olhar afiado que direcionaram aos azuis. Maia se apoiou sobre seus pés tendo a bengala apenas como um ponto de equilíbrio mantendo-a a sua frente e apoiando ambas as mãos sobre o cabo dela.
– Sinto lhe informar – Maia começou com um meio sorriso tão presunçoso quanto o de Valverde havia sido a pouco – Na verdade não sinto de fato – ela pontuou aumentando o sorriso – Mas a minha administração tem sido muito bem executada. Mas talvez você só vá reconhecer isso quando eu fizer o Rancho Aureus se tornar ainda maior e mais rentável do que ele é. Quanto ao desconforto de seus outros convidados, está sendo causado por Dutra e seus comentários inapropriados e não pelas nossas ações. Talvez seja mais prático fazê-lo calar-se do que vir até aqui desmenti-lo – Maia finalizou erguendo minimamente o queixo com uma expressão tranquila e um sorriso nos lábios bem desenhados pelo batom marrom escuro.
– Claro – Valverde falou sorrindo divertido – Existe a forma perfeita de desmenti-lo, é só a senhorita se juntar a minha mesa. Lhe apresento algumas pessoas e se tanto quiser, podemos discutir sua administração, garanto que lhe faço entender meus pontos – ele completou com um sorriso aprovativo enquanto seus olhos desciam pelo corpo de Maia e voltavam aos olhos dela, na intenção de conduzi-la ele estendeu uma mão e deu um passo em direção a Maia tendendo a toca-la em um de seus braços.
A reação das duas foi quase simultânea; Alicia avançou um passo colocando sua mão esquerda na parte de trás da cintura da namorada enquanto que ela puxou a bengala com uma mão jogando-a para cima e a segurando na metade de sua extensão para empurrá-la contra o peito do homem, por sobre a lateral direita do paletó do terno. Os olhos azuis se arregalaram ao sentir o objeto pressionado contra seu tórax. Ao encarar as mulheres outra vez ele viu os olhos verdes sérios e os castanhos da veterinária irritados.
– Não pretendo ir até a sua mesa, Senhor Valverde – Maia falou baixando a bengala quando o homem voltou a encará-la – Menos ainda tenho a intenção de ouvir suas “sugestões” acerca das minhas decisões administrativas. Mas, mais importante, me recuso a estar num lugar próximo a alguém que me olhe da maneira que o senhor acabou de fazer – ela completou deixando sua indignação e revolta claras em sua voz.
– Por acaso é louca? – Miguel respondeu impondo um tom de revolta também, mas subiu sua voz – Não lhe fiz coisa alguma para que tenha essas atitudes desrespeitosas comigo. E o que quer dizer com meu olhar? Apenas lhe olhei como um homem qualquer olharia qualquer outra mulher – respondeu ele recuando meio passo.
– Pois é justamente esse tipo de olhar que se torna totalmente desrespeitoso de ser usado, por vocês homens, em qualquer situação que vocês decidam que queiram – Alicia tomou a frente na resposta também querendo se interpor entre Miguel e Maia, mas se controlando para não o fazê-lo – Acabou de olhá-la como apenas um objeto que quer ter, olhou apenas o corpo desconsiderando a pessoa.
– Fique fora disso, Doutora Ferraz – Miguel ergueu o indicador na direção de Alicia – Isso são bobagens, olho para uma mulher da forma que eu quiser, sou um homem solteiro, não há nada que me restrinja.
– Pois deveria haver – Alicia o respondeu sem se incomodar com o indicador dele apontado para seu rosto – Chama-se Respeito. Mas, aparentemente, para o senhor isso só se aplica a outro homem.
– Não desrespeitei ninguém – Miguel insistiu virando o rosto na direção de Maia – Essa reação é totalmente inapropriada.
– Discordo – Maia se pronunciou virando lateralmente para Alicia e colocando a mão direita contra o peito dela, próxima ao pescoço da veterinária – Acalme-se, ele não vai lhe compreender, não vale a pena se exaltar – ela disse fazendo sua namorada recuar em sua postura e logo se voltou a Miguel – Quanto ao senhor, me desrespeitou desde o momento em que me considera apenas uma mulher como se eu fosse algo que você pode usar a sua vontade, como o fez ao me olhar dos pés a cabeça como se avaliasse em seus próprios critérios do que sou ou deixo de ser. Mas vamos ao ponto principal disso – Maia avisou recolocando sua bengala a sua frente e parando de maneira a encarar Valverde com um olhar penetrante e frio que fazia o verde de seus olhos ser quase cortante – Não perca seu tempo tentando me persuadir a ouvir suas ideias sobre como eu administro ou devo administrar as minhas terras. Aliás, não merca seu tempo tentando nenhum tipo de proximidade comigo. Eu não estou disposta a perder o Meu tempo em conversas inúteis com um homem machista e preconceituoso. Quanto aos seus convidados, diga a eles para se preocuparem com as próprias vidas e deixarem a minha e a da minha namorada longe de suas fofocas e discursos retrógrados. Agora, se nos der licença, eu gostaria de estar sentada para assistir as apresentações dos animais e o leilão; afinal, foi para esse propósito que vim até aqui.
Fez-se um silencio ao redor deles, algumas mesas próximas que haviam acompanhado toda a cena estavam encarando os próximos movimentos dos envolvidos; alguns indignados, outros surpresos e alguns deles apenas chocados. Valverde encarava Maia sem reação, até alternar os olhares entre as duas mulheres paradas uma ao lado da outra a sua frente. A mão de Alicia continuava na cintura de Maia, todo o corpo da veterinária estava colado as costas da dona do Rancho Aureus numa clara intimidade. A postura de ambas reforçava que Maia havia dito a verdade sobre serem namoradas e essa constatação o deixou tão surpreso e confuso que Miguel não conseguiu reagir imediatamente. Com alguns segundos, entretanto, sua expressão se tornou ultrajada e ele passou a encará-las com nojo.
– Saiam daqui, não vou tolerar esse tipo de gente em um evento meu – afirmou ele claramente desconfortável; apesar de nenhum deles notar, alguns celulares começavam a gravar a sequência do diálogo.
– Tenho dois animais para serem apresentados e mais dois a serem leiloados. Não vou a lugar algum até o fim do leilão – Maia respondeu de maneira tranquila.
– É o meu leilão e vocês não vão manchar a imagem dele com suas presenças – Miguel falou começando a se exaltar.
– Vou lembra-lo, senhor Valverde, que existe um contrato com o leiloeiro no qual meus animais estão inclusos. Por mais que queira controlar o “seu leilão” existe um limite que o senhor não pode ultrapassar e esse é o contrato que o senhor também assinou – Maia falou tranquilamente sustentando o olhar de Valverde que começava a perder o controle.
– Não, isso não vai acontecer, não permito que fiquem aqui por mais tempo – ele falou irritado e erguendo a voz, chamando a atenção de muitas pessoas – Ou vocês se retiram ou vou chamar um dos seguranças para que as coloquem para fora – ele falou com irritação.
Maia o encarou calma e tranquila, até um pequeno sorriso estava em seus lábios. Sua postura, apesar de firme, estava totalmente relaxada e ela olhava para Miguel como se estivesse se divertindo com a situação que o homem estava criando. Enquanto que ele estava com a expressão irritada, transpirando o bastante para suor se formar em sua testa e com tanta raiva que seu rosto e pescoço começavam a ficar avermelhados.
– Você pode até chamar um segurança – Maia começou mantendo a postura e com uma tranquilidade que irritava ainda mais a Miguel – Mas ele não vai nos mover daqui pelo simples fato de que ele não tem motivos para isso. E se você impuser sua vontade acima dos meus direitos as coisas não vão ficar bem para o senhor e menos ainda para o seu evento. Aliás, visto a situação em que nos encontramos, claramente quem está causando uma cena desnecessária é você, Senhor Valverde. Gritando e esperneando por razão alguma.
– Ora sua… – Valverde perdeu de vez a linha e avançou contra Maia numa tentativa de se impor fisicamente, mas a mão de Alicia se espalmou em seu peito e a força da veterinária o fez ter que recuar.
– Eu vou pedir para que não se aproxime mais do que isso – Alicia falou de forma séria enquanto o homem a encarava surpreso com a força com que ela conseguiu empurrá-lo – Caso contrário serei eu a chamar um segurança para pedir a sua saída, porque o senhor não é o dono do lugar e o serviço dos seguranças é manter a ordem aqui dentro. Claramente quem está causando riscos é a sua pessoa.
Eles se encararam por alguns instantes e logo depois Miguel olhou em volta vendo a aglomeração de pessoas e alguns olhares assustados com as atitudes que ele tinha acabado de tomar. Antes que falasse qualquer coisa Aldo Cárceres se ergueu de sua cadeira e se posicionou em frente ao outro colocando uma mão sobre o ombro de Miguel e o empurrando para trás.
– Seja homem de verdade e reconheça suas merdas – falou Aldo em tom sério, mas alto o bastante para que quem estivesse mais próximo ouvisse – Deixe de ser uma porta e volte para sua mesa com suas bebidas e deixe as moças em paz. Tu não chama seguranças nem quando sou eu dando vexame, não seja um gurizinho mimado logo agora – ele disse com um riso contido que fez Miguel bufar com ainda mais raiva.
– Isso não vai ficar assim – ele resmungou ainda sendo afastado por Aldo que queria muito rir da situação.
– Não vai mesmo – Cárceres comentou finalmente rindo baixinho – Capaz de você passar ainda mais vergonha Valverde.
– Não me teste, homem – Miguel falou irritado e Aldo apenas encolheu os ombros, mas vendo a aglomeração em volta da mesa ele finalmente deu alguns passos para trás e se virou para as pessoas – Vamos, senhoras e senhores, os primeiros animais serão trazidos. Vamos nos acomodar para o leilão – disse ele conduzindo as pessoas de volta para suas mesas e decidido a ignorar a existência de Maia.
N/A:
Eu demorei, mas não fiquem chateadas, olha o tamanho desse capítulo! kkkk
Bjs pessoinhas, amanhã tem mais
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PS: Feliz Aniversário Karyna!!! Te desejo muitos mais anos e felicidades pela frente. E desculpa estar um cadim atrasada =P
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Gente, acho q pq nunca passei por uma situação tão surreal assim, eu custo a acreditar q existem pessoas c tanto preconceito. Fiquei de cara c esse Valverde! Mais já vez a autora foi primorosa em suas palavras. Estou aprendendo muito c esses diálogos. Obrigada, senhorita autora! Abç.!!!
Eu acho q tive sorte tbm pq nunca me deparei com ninguém tão preconceituoso quanto esses caras que Maia e Alicia encontram, mas eu não duvido da existência deles e acredito que mt gente os encontre por aí a fora.
O bom é q aprendemos juntas
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