Eras: A Guardiã da União

Capítulo XXX – Outro Mistério

Eras – A guardiã da União

Texto: Carolina Bivard

Ilustrações: Táttah Nascimento

Revisão: Isie Lobo, Naty Souza e Nefer


 

Capítulo XXX – Outro Mistério

O conselheiro Naiman se aproximou.

— Me alegro que esteja bem, majestade.

— Agradeço, conselheiro Naiman.

— Infelizmente, tenho que apurar alguns fatos e gostaria que compreendesse, pois quanto mais cedo o fizer, mais rápido posso agir para que tudo entre nos eixos em relação a Natust e Eras.

Assim que ele falou, olhou a todos.

— Certamente, conselheiro. Estou à sua disposição.

A rainha Êlia respondeu, estreitando ligeiramente os olhos, na tentativa de entender onde o conselheiro queria chegar e em que lugar ele se encaixava dentro do quebra-cabeças construído por Hod. Às vezes minha mãe ainda me assombrava com aquele olhar enganosamente sereno.

— Fique tranquila, majestade. Não creio que o que eu venha a falar perturbe a sua paz ou a de qualquer um de sua comitiva.

Ele pegou uma cadeira em um canto, que nem mesmo eu havia notado que estava ali e a puxou para perto da cama, sentando-se a seguir. A encarou e continuou seu relato.

— Vou contar uma história que ocorreu comigo há poucos dias e espero que seja sincera comigo. – Ele suspirou como se estivesse cansado. – Devem saber que dediquei minha vida ao conselho de Natust. É minha terra natal e quero o melhor para ela. Durante muito tempo fui ouvido, no entanto, na maioria das vezes, meus conselhos não eram relevados, pois o rei Einer se tomou de um ódio irracional contra a cultura antiga, bem como o pai dele. Minha mãe era um oráculo e tive que tomar cuidado, depois que as guerras começaram. Oráculos passaram a não ser bem quistos em Natust.

— Lembravam o culto à Divina Graça…

A guardiã Êlia divagou, esperando que ele concluísse o relato. Ele retardou, ligeiramente, a fala, arrumando os pensamentos. Naiman era um homem que transbordava tranquilidade, tanto nos gestos, quanto nas palavras.

— Bem… após a primeira guerra, colocar razão e ideias pacíficas na cabeça do conselho de Natust e mais, no conselho de guerra, tornou-se quase impossível, mesmo com a intervenção dos sábios da Casa Célitas daqui. – Inspirou fundo antes de continuar. – Como disse, anteriormente, minha mãe era um oráculo e mesmo sendo comedida diante das políticas, nunca me deixou esquecer por que a Divina Graça separou Tanjin criando Tir e Tejor…

— Ela sabia o nome dos reinos?

Naiman meneou a cabeça, afirmativamente, diante da pergunta de minha mãe. Éramos espectadores daquela conversa, calados, escutando atentamente todas as palavras que saiam da boca do conselheiro. Fixei minha atenção, por instantes, em minha filha. Ela escutava a tudo, calmamente, e senti tranquilidade emanando do espírito dela. Me alegrei em vê-la apaziguar a tempestade que a acompanhava, constantemente, desde a infância.

— Há poucos dias senti a magia ferver em meu sangue. Eu sei que é magia, porque minha mãe sempre me instruiu como seria, se acaso a tivéssemos de volta em Tejor.

— Certo. Mas o que quer saber, conselheiro?

— Eu sei o que vi. Você abriu a porta com magia e, também, vi aquele vulto dispersando no ar, pouco antes da senhora cair no chão. Eu só quero que saibam que nada direi, porque sei bem o que Serbes fez com o nosso reino e que ele dizia que estaria preparando o reino para que o verdadeiro Deus chegasse. Quem quer que seja que esteve nesse quarto mais cedo, suponho que seja aquele que envenenou nosso governo, trazendo esgotamento, dor e a falência de Natust.

— Quantos do governo de Natust pensam como você?

— A verdade, rainha Êlia, é que eu não sei. Tomo cuidado para não revelar meus sentimentos em relação ao que penso. Ao longo da vida, vi alguns sábios e uns tantos conselheiros serem assassinados, por exporem opiniões contrárias às diretrizes do reino.

— E por que acreditaríamos em você?

— Se são inteligentes como penso, não podem acreditar em mim de pronto. – Ele sorriu, brando. – Como disse à herdeira na outra reunião, confiança é algo que se conquista. A única coisa que posso dizer é que não confiem em ninguém. Mesmo naqueles que se mostram solícitos. – Suspirou, brevemente. – Não esqueçam, o agressor se vestia de preto e estava com o rosto coberto por um lenço, igualmente, preto. Assim que a rainha Êlia entrou, ele a pegou desprevenida, atacando-a. Tudo foi muito rápido e vocês não conseguiram identificar com o que ele a atacou. Essa é uma história factível para que todos acreditem; é a história que contarei para o conselho.

Ele se levantou para sair e minha mãe se ajeitou na cama, para ficar sentada, interrompendo-o.

— Bem, tenho certeza que conseguiu captar, dessa conversa, as impressões que queria sobre nós. Como um ato de boa-fé, me diga o que acha do general Kirsten.

O conselheiro parou em seu passo e a encarou.

— É um homem moderado e sempre teve a simpatia do povo, mas como disse antes, não se descuidem. O pai dele morreu na primeira guerra, o que lhe conferiu muita revolta na época. Tornou-se um militar zeloso de suas obrigações, porém, mais maleável com as tropas do que nosso comandante do conselho de guerra. Tem a simpatia do exército também.

— Sem contar que ele estava cotado para ascender ao trono, quando eu apareci; e com o apoio do povo.

Naiman virou-se para Thara, assim que ela se pronunciou, vertendo um sorriso muito sutil.

— Gosto, verdadeiramente, de você, herdeira. Tenho certeza que Natust retomará o rumo da prosperidade, se você vier a ter a coroa.

Ele fez uma mesura respeitosa para ela, saindo logo a seguir.

— O que acharam? – Tórus perguntou.

— Sempre foi sensato nas reuniões e colocou um fim nas discussões do conselho, agora cedo, depois que o ataque ocorreu. Mas como ele mesmo disse, não convém acreditarmos em tudo que escutamos.

— Concordo, mãe Tália. Vamos dar algum crédito, para observar se é um aliado ou não. Ele poderia muito bem saber da história de Tir e Tejor, por ser um assecla de Hod.

— Bem observado, Brenna. A reunião foi suspensa por hoje. O que acham de andarmos pelo palácio e conversar com as pessoas de uma forma mais branda?

— Êlia, você descansará hoje para restabelecer suas energias. – Meu pai falou, sentando-se na beirada da cama. – Se você sair andando por aí, Hod poderá lhe atacar novamente. Ele sabe que você é uma parte importante das Tríades.

— Não vou discutir com você, Astor. Sei que está certo, até porque, se ele precisou sugar minha energia para se transportar daqui, é porque o ataque à Brenna o desgastou.

— Ele não está tão forte assim… Ou melhor, a Espada Macha o desestabilizou.

Concluí, recebendo um aceno concordante de meus pais e Tórus.

— Fiquem aqui com ela, para protegê-la. – Me dirigi a Tórus e meu pai. – O ataque pode ter dado ideias a esse mago imbecil.

— Não. – Brenna falou, fazendo todos a olharem. – Eu ficarei com a minha avó. Eu sou quem empunha melhor a Espada Macha e já vimos que ele a teme.

Nos surpreendemos com a iniciativa de Brenna. Certamente, em outras épocas, ela quereria partir para o ataque. Odiava a inatividade.

— O que foi? – Ela perguntou diante de nosso pasmo. – Acham que deixaria minha avó na mira desse idiota?

Arítes se aproximou dela, colocando o braço sobre seus ombros, falando-lhe:

— Não achamos isso. Só estamos orgulhosos de sua atitude. – Voltou-se para Thara. – Você ficará com elas, por dois motivos: é um alvo também e Êlia poderá instruí-las em algumas magias. Reclamamos que não tínhamos tempo para aprender. Não será muito, contudo se aprenderem alguma coisa, já nos auxiliará.

Thara concordou de imediato. Diria que a jovem sábia estava até feliz por isso. Afinal, o verbo dela era aprender.

***

Andamos pelo palácio em pares, como se estivéssemos ociosos. Eu e Arítes caminhávamos entre as alamedas, no intuito de observar cada areia que compunha aquele palácio e reparamos que, somente, um senhor cuidava daquele grande espaço. Nos aproximamos, como se estivéssemos apenas apreciando o lugar.

— Este jardim é impressionante!

Falei para Arítes displicente e ela pegou o meu raciocínio. Sorriu, discretamente, em compreensão.

— Realmente, é incrível! Pena que está um pouco maltratado.

O homem nos olhou de soslaio, contendo-se para não falar nada. Paramos e eu fiz um gesto de inspirar o ar, como se quisesse sorver a fragrância das plantas que nos cercava.

— É verdade. – Olhei para o homem. – Você é o único que cuida desse local? Deveriam colocar mais gente para ajudá-lo. É muito grande para ser cuidado por apenas uma pessoa e é uma preciosidade!

— Os outros jardineiros foram convocados para o exército nas últimas guerras. Infelizmente, não voltaram e nem seus filhos. Hoje não há muitas pessoas no reino que trabalham com plantas ornamentais e, também, o governo não tem muitos recursos para manter mais gente aqui.

— É uma pena. Aqui é tão bonito, ainda hoje. Lembro que meu pai dizia que, antigamente, o jardim do palácio era frequentado pela população. Devia ser mais bonito ainda. – Incentivei-o a falar mais.

— O rei Eskol, pai do rei Einer, amava este jardim. Mesmo quando foi à guerra, no tempo dele, não deixava a população sem amparo. Já o Rei Einer preferiu as conquistas do que… Sinto muito. – Ele se levantou de súbito. – Estou aborrecendo vocês.

Ele saiu apressado, antes que pudéssemos intervir para que não se fosse. Olhei-o se distanciar.

— Parece que Thara tem mais chances de assumir do que pensamos.

— Não se engane, Tália. O que o governo de Natust quer, não é o mesmo que o povo. Isso está começando a me cheirar mal.

— Concordo, Arítes. Thara está mais exposta do que pensamos. Começo a acreditar que não vão querer que ela fale, diretamente, à população. O risco do povo  aclamá-la, com a solução para acabar com as guerras e a população sair da pobreza, é muito.

— E aí eu pergunto: Por que nos querem aqui dentro?

Arítes me encarou instruída. Foi retórica a pergunta. Lógico que ela sabia a resposta.

— Caímos numa emboscada e tanto! − Respondi.

***

Papai e Tórus faziam uma dupla e estavam conversando com Naiman, caminhando pelas dependências do palácio. Tórus, como sempre, travava uma discussão filosófica empolgada com o outro conselheiro, sendo observado atentamente por meu pai, nos mínimos detalhes.

— O rei Einer terminará de ser embalsamado hoje. A festa do povo para levar o seu espírito para além-túmulo termina depois de amanhã, quando devemos encerrá-lo na cripta sagrada dos reis, logo após. – Naiman informou.

Ele parou em frente a uma grande porta com símbolos. Olhou para todos os lados do corredor, como se estivesse averiguando. Voltou-se para meu pai e Tórus.

— Aqui é a cripta. Teremos pouco tempo e há coisas interessantes lá embaixo. – Baixou o tom de voz. – Não garanto a segurança de vocês, contudo, há coisas importantes para verem, se quiserem ter artilharia para encarar o que os reserva. Como conversamos antes, confiança é algo que se conquista, entretanto, não temos muito tempo para isto. Terão que decidir se querem entrar aqui, nesse exato momento.

O conselheiro Tórus e meu pai se entreolharam, desconfiados.

— Vejo que está apreensivo. – Tórus disse.

— É compreensível, visto que seria dado como um traidor, se me vissem entrar aqui com vocês.

Meu pai colocou a mão em sua adaga, olhou para os lados e abriu a porta empurrando os dois para dentro.

— Vamos! Não sei ainda o que sentir sobre você, contudo não vou desperdiçar uma chance de vantagem. – Fechou a porta atrás de si.

— Às vezes você é impulsivo, Astor.

Tórus reclamou, falando baixo, porém enérgico, enquanto desciam as escadarias da cripta.

— Parem de falar. – Naiman alertou. – Não sabemos se tem alguém lá embaixo.

Desceram e um salão enorme se descortinou, revelando inúmeros túmulos ornados em mármore, enfileirados. Um corredor separava as tumbas empoeiradas.

— Vamos até o final do corredor. Não se atenham, pois o tempo pode ser pouco.

Naiman falou, se apressando, seguido por Tórus, enquanto meu pai parava diante do esquife do rei Eskol. Sacudiu a cabeça, pensando:

O que o levou a isto?

Eskol fora amigo do pai dele e mesmo assim, o atacou outrora.

Apressou-se a acompanhar os outros.

Será que a volta da magia é boa para Tejor?

 O rei Astor se questionou, pensando que, antes mesmo dela retornar, com toda a força, já gerava conturbações. Sacudiu a cabeça, novamente.

— Aqui. – Naiman apontou um corredor no final da cripta. – Lá terão algumas respostas e uma vantagem. Não os acompanharei, pois não posso correr o risco de ser pego.

— Conselheiro Naiman, há de convir que esta situação nos parece uma armadilha.  

— Acredite, Rei Astor, não é. Vocês não moram aqui, entretanto este é meu lar. Ficarei no corredor durante um quarto de marca para vigiar. Depois, irei embora. Decidam o que querem e apressem-se. É todo o tempo que terão, antes de sair.

Ele foi embora a passos largos.

Tórus encarou meu pai contrariado.

— Tórus, percebeu alguma emanação ruim dele?

— Você é imprudente! – Respondeu entredentes.

— E você tem que entender que estamos em desvantagem. – Retrucou num tom baixo, porém raivoso. – Não estamos no Conselho de Eras com tempo para avaliar posições. São riscos que temos que encarar. Vamos! Temos pouco tempo de cobertura.

— Se não for uma armadilha…

 Torus o acompanhou, resmungando. Entraram pelo corredor e chegaram a duas portas; uma completamente aberta, que observaram cautelosamente e nada havia, além de uma mesa velha e uma estante. A outra com a porta cerrada.

Havia uma tranca nela, que estava fechada por fora, entretanto não conseguiam ver muita coisa. O salão dos sepulcros estava iluminado por candelabros à óleo, porém aquele, era negro como uma noite sem lua no meio da floresta. Meu pai tateou a parede, achando um archote.

— Você tem pederneiras no seu cinto?

— Agradeça por eu ser um homem prevenido.

Meu pai sorriu, sem ser visto pelo conselheiro. Ele conhecia a tendência de Tórus carregar bugigangas na sacola presa a seu cinturão. Pegou as pederneiras e acendeu o archote, retirando-o do suporte. Foi até a porta.

Ela não tinha qualquer abertura, além da trava que assim que o Rei Astor a deslizasse, revelaria algo que nem eles mesmo sabiam. Tórus segurou a mão de meu pai na trava.

— E se for Hod?

Meu pai espremeu os olhos, incrédulo.

— Está bem, Astor! – Tórus sussurrou, apreensivo. – Sei que não é ele, porque se fosse, não estaria preso, mas pode ser tão perigoso quanto ele. – falou amuado.

— Se for perigoso a gente morre. O que acha que não está ruim para nós, dentro desse palácio?

— Está bem, mas empunhe a sua adaga. Vou pegar a minha.

Tórus pediu, desenluvando a adaga que trazia da bainha, no que foi seguido pelo rei Astor. Abriram a porta devagar.

O lugar cheirava a excrementos de rato e de gente. O rei Astor elevou a tocha para ver o ambiente e encontraram um rapaz encolhido no canto, tentando se afastar da própria sujeira. Estava maltrapilho e magro, com a barba grande e emaranhada. Ele os olhou, indiferente.

— O que vieram fazer agora? O que podem fazer é o que já estão; me matando de fome e sede. Não tenho medo de vocês.

Meu pai se aproximou, olhando-o confuso.

— Quem é você? – Perguntou.

O rapaz elevou o olhar, observando os homens. Não eram parecidos com os quais lidara nos últimos tempos.

****

Thara andava, impaciente, de um lado a outro do quarto. Nunca a vi daquela forma, entretanto os outros não a conheciam tão bem quanto eu e Tórus.

— Thara, acalme-se. – Falei. – Senão, papai e Tórus não conseguirão nos contar tudo.

Tórus se aproximou e Thara reagiu às minhas palavras.

— Merda, Tália! O que mais este reino vai trazer para a minha vida?

Senti o eto de todos e o sentimento de compadecimento de minha filha, pelas palavras da jovem. Diferente de todos, eu senti alegria. Não pela situação dela ou pelas palavras enérgicas e chulas, mas porque Thara, finalmente, estava extravasando a personalidade contida. Levantei-me.

— Me perdoa, minha rainha…

Ela estava tão desnorteada que retornou ao modo “conselheira de Eras”. Abracei-a forte, sendo retribuída. Era muita tensão e a garota estava desmoronando.

— Entenda que, finalmente, tem opções e pode escolher quem faz parte de sua vida. – Minha mãe falou, compreendendo meu ato e o da própria herdeira. – O tiraremos de lá e quem quer que o tenha pego, não se atina ainda que sabemos dessa história.

Ela chorou, desgastada.

— Aquele que dizem ser meu pai era um monstro! – A jovem exorcizou.

A convulsão aumentou e ela me apertava contra si.

— Seu pai estava enfeitiçado, Thara. – Falei confortando-a.

— Todos os feitiços ampliam nossos defeitos. Ele podia até reprimi-los, enquanto não estava enfeitiçado, mas depois… Isso é o que feitiços fazem. Trazer o seu desejo mais profundo.

Minha mãe não se arrependia de ter compartilhado o conhecimento de magia, só não esperava essa revelação. A verdade é que nenhum conhecimento se constitui por si só. A jovem conselheira precisaria aprender, muito mais, do que apenas o que escutou naquele único dia pelos lábios da Guardiã Êlia.

— Pelo menos, seu pai tentou entender e reprimi-los, quando estava são. Hod interferiu nisso quando lançou o feitiço, diante da vontade consciente dele. Todos temos alguma escuridão em nós. Apenas tentamos controlá-la e sufocar, para que não cresça e destrua nossas almas. Porém, ela está lá. – Minha mãe interveio.

— O que faremos agora? – Roney perguntou.

— Deixem comigo. Já estou trabalhando para encontrar uma forma de sair desse palácio sem ser vista.

— É perigoso demais, Arítes. – A guardiã Êlia contemporizou. – Vai precisar de ajuda, senão, demorará demais na sua exploração. – Sorriu de lado, debochadamente. – Estou sendo muito visada, contudo Liv é perfeita para lhe auxiliar.

— Eu também posso.

Roney se dispôs a ajudá-las, no que foi prontamente contestado por mim.

— Você chama muita atenção pela sua estatura. É um homem que não passa despercebido nos lugares. No entanto, sei que minha mãe não está pensando em não fazer nada.  Certo, mãe? – Voltei-me para ela. – O que está pensando em fazer?

— Causar o máximo de distração no palácio. Já me encontro bem e almoçarei com vocês e o conselho. Como hoje não teremos reunião, pedirei para fazer uma visita na área de treino.

— Acha que concederão, vó?

Thara enxugou os últimos resquícios de lágrimas do rosto e se desalojou de meus braços. A conversa a atraiu como uma ave de rapina se atrai por um roedor correndo pela campina.

— Eles concederão em nome da diplomacia, Brenna. – A jovem conselheira pontuou. – Porém ficarão em alerta e presumo até que chame atenção dos generais mais contrários às nossas negociações.

— Brenna e Roney poderiam ir com você, Êlia. Seria prudente, isto se conhecem a nossa estrutura mais a fundo. Afinal, todos sabem da predisposição de Brenna para as armas.

— Concordo, Tórus.

A rainha Êlia falou, enquanto se voltava para a janela, com as mãos unidas nas costas, olhando ao longe. Depois de tantos anos, eu finalmente conseguia saber a percepção de todos em relação a esse gesto dela. A expectativa pelas ideias da comandante Êlia fazia com que crescesse a ansiedade entre nós.

— Todos estaremos nessa missão para distrair os olhos do palácio. – Ela se voltou para nós. – Tórus, – chamou-o – você e Thara envolverão Sixten, Naiman e outros conselheiros estudiosos em uma conversa agradável. Procurem assuntos que os interessem. Dêem informações não relevantes sobre Eras. Falem de desenvolvimento científico e coisas ligadas à arte, mas tomem cuidado para não revelarem nada importante. Assuntos diversos, mantendo a superficialidade.

— Compreendido, senhora!

Thara respondeu feliz. Minha mãe se voltou para mim e papai.

– Vocês dois, vejam quem são os membros da política externa e contadoria do reino. Façam o mesmo. Envolvam-nos com conversas sobre política, comércio e tudo referente a estrutura de governo. Nunca se esqueçam de se esquivar de perguntas muito contundentes a respeito desses assuntos, no que diz respeito a Eras.

A comandante Êlia tomou um alento revigorante e seu semblante era marcado por uma felicidade renovada.

— Arítes e Liv, dividam-se entre esses dois grupos, até que estejam bem distraídos. Dêem uma desculpa qualquer, como vir ao quarto pegar algo…

—  … Aliviar as necessidades. – Liv falou e a olhamos descrentes. – Ora, essa é a desculpa mais aceita e menos questionada em todas as rodas de conversa.

Arítes riu, olhando-a divertida.

— Apesar de bizarro, eu concordo com você. O constrangimento faz com que aceitem, rapidamente.

— Obrigada, Protetora.  

Liv meneou a cabeça devolvendo o sorriso.

— Deixo essa desculpa para você, Liv. Eu invento outra.

— Vocês duas só sairão das rodas de conversa quando perceberem que todos estejam à vontade. Depois disso, estarão sozinhas. Tentaremos enrolar, ao máximo, cada grupo para dar tempo a vocês. À noite, todos deverão estar presentes para jantar com eles. Diante de tantos grupos confraternizando, os servos estarão preocupados em prestar boa assistência aos convivas, não permitindo se distraírem em outras funções, dando condições perfeitas para que vocês se percam pelo palácio.

Minha mãe abriu um sorriso cínico, ao final. Essa era a comandante suprema de Eras falando.

Mãe, mulher, comandante, rainha ou guardiã, não importava os adjetivos; eu admirei cada um deles ao longo de minha vida, mesmo conhecendo os piores defeitos dela.

Autoritária, manipuladora, protetora além da conta, dissimulada e, por vezes, até maliciosa e perversa. Esses defeitos dela, hoje, não me incomodam mais, pois sei que tudo foi para um único propósito altruísta: o bem de cada um que amava e o bem-estar da própria Tejor. Não desmerecendo o que li a respeito das outras guardiãs, tomo as palavras de Brenna, a Guardiã da União, para descrevê-la: minha mãe era foda!


Nota:

Pessoal, nas próximas três semanas estarei na casa de parentes. Não sei como é a internet lá, mas como são idosos, presumo que não seja lá essas coisas. rs Continuarei as postagens, contudo peço paciência, caso uma ou outra não saia no dia programado. 

Bom feriado para Tod@s!



Notas:



O que achou deste história?

6 Respostas para Capítulo XXX – Outro Mistério

    • Oie Carolzinha!!
      Deixarei um comentário 2×1…
      Adorei, muito!! Muito gostoso de ler!!!
      Demorei, Sorry!
      Cê tq mt da preguiçosa comentando tb 2×1 ?????

      “A magia só tem força e significado quando se acredita na energia vinda dela e se estuda a condução. Agora teremos que ir. Nos desgastamos e temos que nos revitalizar, para conseguir auxiliá-los ..” Parece com os médiuns n?! Q tem que estudar tb essa condução e como se proteger e tem tb q repor as energias..
      Gostei tb da parte dos feitiços q Thara falou q só potencializa os defeitos..N é isso que acontece numa obsessão? Só pode se dá pq eles atacam nossos defeitos, vícios, paixões, tentações, vêem uma brecha e atacam, sincronizam c nosa psique..
      N tenho culpa se vc fica colocando coisa q dá pra comparar!! Hahaha. Sabe q amo fazer isso c o espiritismo.

      Amei vc ter colocado um ataque desses…foi ótimo, coitada da comandante Êlia, mas foi massa!! Pode fazer isso com Tália? Qr ver Eri e Brenna louca ????.
      A pessoa inconformada, mas obrigada, amei!!!!
      Oxente, olhe o preconceito com os veinhos..rs. Que saia td bem nessa viagem!!Espero q estejam bem!!

      Beijão pra vc e sua esposa!! Meus melhores desejos pra vcs e seus parentes nessas 3 semanas!!

      Fui!!!

  1. Pronto! Já estou com o corpo inteiro atrás, em relação a Kristen. Não colocarei a mão no fogo por ninguém dessa Natust.
    Realmente, Êlia é foda! E esse capítulo me deixou com o coração na mão. Aqueles dois entrando naquela cripta me deixou mega tensa, esperava que a qualquer momento eles iriam ser presos ali. fiquei tão incrédula quanto Torus, em relação ao rompante de Astor. E de repente aquele rapaz preso. Seria alguém que também pudesse reinar? Sei lá, algum parente de Trará? Fiquei aliviada quando Brenna se prontificou a ficar com Êlia e Thara. Assim estão protegidas. Êlia, depois de bem estabelecida sua saúde, consegue se defender muito bem. Mas se Brenna puder levar a tira colo Thara, até matarem Hod, eu agradeço autora do meu coração. rsrs
    Ué, por que será que Arites não quer usar a desculpa de Liv? Mas é do contra mesmo! Kkkk Não deve está querendo ninguém imaginando nada tão íntimo.
    Ansiosa para ler essa movimentação toda que foi articulada. E vc Carol, vem dizer que estará, por mais de quinze dias, em local ruim de net? Vamos torcer para que esteja enganada quando a isso, rs.
    Beijo,

  2. Oi Carol,

    Faz tempo que não apareço nos comentários, mas esse mistério me deixou super curiosa e com várias teorias de conspiração rsrsr, a mais forte delas é que o seu desconhecido pode ser um irmão ou outro parente qualquer. Vou esperar anciosa pelos resultados da manobra tática da rainha e a revelação da identidade desse novo personagem.

    Abrs o/

    E bom feriado! 😉

  3. Assim o coração não aguenta! Por favor não deixa de postar carol. Agoniada aqui.
    Amando também.
    Bj

  4. Aff…
    Agora sim a curiosidade foi Level 10.
    Quero +, mto +.

    Parabéns Carol, amando cada cap.

Deixe uma resposta

© 2015- 2019 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.