Eras: A Guardiã da União

Capítulo XIX – As Tríades

Eras – A guardiã da União

Texto: Carolina Bivard

Ilustrações: Táttah Nascimento

Revisão: Isie Lobo, Naty Souza e Nefer


Capítulo XIX – As Tríades

 

Minha mãe sorriu e nos explicou, diante do eto de todos ao ouvir meu pai dizer que era um sábio Célita.

– Não nos encontramos por acaso. – Encarou meu pai e Tórus. – Eu e minha mãe viemos para Eras para que eu conseguisse encontrá-los e formar a primeira “Tríade” de Tejor. Não era para eu ser uma rainha. – Sorriu. – Eu e Astor nos apaixonamos, nesse processo, e aqui estamos.

– Somos a “Tríade dos Instituídos”…

– Exatamente, Astor.

Minha mãe respondeu alegre, satisfeita por saber que conseguiu quebrar totalmente o encantamento de Hod.

– Agora me lembro, também. – Tórus comentou, eufórico.

– Consegue unir os pontos, Tórus?

– Sim. Pelas características e tudo que ocorreu até agora, presumo que Arítes, Roney e Liv façam parte da “Tríade Nume” e Brenna, Thara e Tália, a “Tríade de Ascensão”.

– Isso mesmo. Quando eu fui amaldiçoada por Hod, o encantamento não foi apenas para mim. Ele se estendeu a vocês. Nós sabíamos quem éramos e nossas responsabilidades. Quando cerrei Hod no esquife do Templo da Vida, arrisquei nosso conhecimento para que eles – minha mãe apontou para nós – pudessem ter uma chance.

– De que serviria uma comandante se não soubesse tomar decisões difíceis em uma hora crítica, hum?

Meu pai falou, sorrindo.

– Agora vocês sabem tudo que eu sei.

– Ótimo, vó! Então fala pra gente o que precisamos saber, porque estamos boiando mais que folha seca de macieira quando cai numa poça.

Assim que Brenna terminou a frase, eu gargalhei, ridiculamente, e não parava de rir. Me olharam como se fosse um gigante elemental de Tir e eu ria mais, vendo os rostos deles. Arítes se aproximou me amparando.

– Tália, o que foi? Não estou entendendo a sua reação.

Fui acalmando até parar de rir.

– Tô rindo de nervoso e por lembrar da minha adolescência. Aquele filho de um cabrito montanhês me fez passar pelos sete infernos na minha juventude, porque meus pais esquecerem quem eram. Ele que me aguarde quando botar as mãos nele! É um imbecil! Quem ele pensa que é?

– Um mago poderoso.

Liv respondeu, elevando o olhar, não compreendendo o meu destempero.

– Poderoso ou não, Liv, esse cretino não tinha o direito de mexer com a vida em Tejor e, muito menos, com a minha família. Tenha uma coisa em mente: não sairemos desta sala até termos um plano para pegá-lo. Vou acabar com ele!

Aquele sorriso irônico de minha mãe apareceu em seus lábios. Definitivamente, irritante.

– Agora a sua Tríade está falando em seu lugar, Tália.

Ela trazia o tom carregado de sarcasmo e logo depois abanou a mão, para dispensar meu ensejo de protesto. Eu havia aberto a boca para revidar e o gesto dela me irritou mais ainda.

– Acalme-se. Acredito que a “elevação” das Tríades tenha começado por você.

– Êlia, temos que explicar a eles o que está acontecendo. – Meu pai falou.

Minha mãe assentiu. Olhou à volta, acredito que para achar as palavras certas.

– Eu, Astor e Tórus sempre soubemos o que éramos e nosso papel. Minha mãe nos orientou para que, quando a “Rede de Ação Mágica” fosse liberada em Tejor, estivéssemos preparados. Eu nasci com o sangue mágico ligado a Tir e minha energia está vinculada a Rede de Ação Mágica de lá. Por isso não disponho de magia forte em Tejor. São fontes diferentes de energia. À partir de agora, teremos que estudar como usar a Rede de Ação Mágica de Tejor. Enquanto isso não acontece, eu continuarei a canalizar a energia de Tir.

Ela tomou um alento para continuar.

– Aos poucos, contaremos toda a história; entretanto o que precisam saber hoje é que, com a Rede de Ação liberada aqui, muitos que nasceram com sangue mágico vão despertar aos poucos esses dons. Para não ocorrer de forma desalinhada e catastrófica, nós precisamos harmonizá-la e somos importantes peças para que isso ocorra.

– Nós fazemos parte de três “Tríades”, e precisamos que vocês entendam o que irá acontecer e o que são. – Papai completou. – As Tríades são compostas por pessoas de sangue mágico, que se equilibram na energia que cada uma tem em essência.

Eles nos contaram que Brenna e a energia vital dela eram a ligação com o fluxo de energia da Rede de Ação de Tejor, que foi ativada assim que o Astru iniciou. Por conta dessa liberação, quem possui sangue mágico nas Terras Conhecidas começaria a sentir as mudanças. No entanto, nós éramos as pessoas que tínhamos a magia mais latente em toda a Tejor. Todos nós éramos descendentes diretos de linhagens da antiga Tanjin.

O que ficou claro para mim é que naquela sala existiam pessoas de todos os clãs. Eu, minha mãe e meu pai éramos do Clã das Águas; Roney e Arítes, do Clã da Floresta; Thara, do Clã do Fogo; Tórus, do Clã dos Metais. O mais incrível era que Brenna trazia a marca de dois clãs: da Floresta e das Águas.

Eu me perguntava se aquilo era um sinal de que, dali para frente, os clãs começariam a se misturar no sangue do povo e o que isto significaria.     

–  Você é o contraponto de sua Tríade. – Minha mãe continuou a explanar, diretamente, para mim. –  Brenna tem essa força, porque precisa extrapolar o ímpeto da alma. Thara é baseada no raciocínio, para dar lógica ao elo energético; e você é a compaixão, para equilibrar os dois.

− Para a magia ser manipulada, tem que ser estabilizada entre três pessoas. − Tórus pontuou. −  Estabelecida a harmonia num grupo, cada um poderá atuar individualmente, porém serão mais fortes em conjunto. Outra singularidade desses grupos, ou Tríades, como nós chamamos, é que também existem três tipos diferentes.  A Tríade dos Instituídos, cuja característica é baseada na transmissão de conhecimentos…

− … Então vocês não fazem magia, mas a ensinam?

− Nós também fazemos magia, Brenna, todavia nossa maior força está na compreensão e ensinamento dela. Continuando, – meu pai tomou a palavra para seguir com a explicação −  a Tríade Nume é baseada em uma corrente protetora.  Os encantamentos de proteção ganham muita força, quando feitos pelas mãos de magos desta Tríade.

− Mas a sacerdotisa-curandeira falou que eu não faria magia. – Roney pontuou.

− Ela somente simplificou para que não criasse expectativas, pois você terá um papel em manipulação energética para os membros de seu grupo, além de, com o tempo e conhecimento, você trabalhará para manter os “fios” da Rede de Ação de Tejor sempre desbloqueados e limpos. Certamente, quando conseguirmos eliminar a ameaça de Hod, você se juntará a algumas pessoas do Templo Luzeiro.

– E a Tríade de Ascensão?

Apesar da agonia que eu sentia, estava curiosa para saber a que a minha Tríade era destinada.

− Esta, provavelmente, é onde o equilíbrio precisa ser mais trabalhado. – Minha mãe respondeu. − Ela não tem mais força ou energia que as outras, porém os encantamentos combativos ganham poder pelas mãos de magos desta Tríade.

Quando minha mãe terminou de falar, curvei-me sobre meu próprio tronco.

− Essa é a essência de sua Tríade. O que está sentindo é a fúria de Brenna passando por seu corpo. – Ela explicou

Sentia uma agonia imensa em meu peito e ventre que beirava a dor.

– Pelas águas revoltas do rio Verve, Brenna! É assim que se sente o tempo inteiro?

Perguntei, tentando controlar a energia que me invadia, como um açoite de mangual.

– Eu? Não, mãe Tália!

Ela respondeu, agoniada, acreditando que eu estivesse sentindo dor pelo estado que estava.

– Ela não sente como você, Tália, porque a natureza dela é essa. Para ela, essa força é natural. Você foi a primeira na iniciação e, talvez, quem mais sofrerá com a intensidade. – Minha mãe pontuou. – Espere até a sua energia passar por Brenna, e verá a depressão cair sobre ela, captando o seu pulsar de compaixão.  E nem imagino o que sentirão, quando todas as forças forem fechadas. Eu, Astor e Tórus, passamos por isso há anos e digo que devemos permanecer aqui, na sala dos Escritos, para conduzirmos vocês.

Ela olhou, diretamente. para meu pai e Tórus.

– O que acham?

– Isto é uma solução de emergência, Êlia. Nós levamos duas luas para nos controlar.

– É certo o que diz, Tórus, contudo concordo com Êlia. Não teremos duas luas para enfrentar Hod. – Meu pai pontuou.

– Eu levei poucas luas para aprender a lutar, o que soldados levam verões. Então… – Falei, ainda me recuperando da energia agonizante que me afligia. – … não me assusta controlar essa coisa, em poucas marcas.

– Essa é a força de Brenna ou da Guardiã da Indulgência?

Roney perguntou, ao me escutar falar com mais brandura, contudo mantendo a firmeza nas palavras.

– Minha.

– Da Tália.

Eu e minha mãe respondemos ao mesmo tempo e nos encaramos em cumplicidade.

– Tália é regida pela compaixão, contudo a determinação dela é inigualável.

– Eu que o diga, Êlia… – Arítes falou, sendo olhada por todos – O quê? A conheço desde a infância e, apesar de Brenna ser irritadiça, não é mais persistente do que Tália, quando quer algo. Acreditem em mim.

– Querem parar de falar de mim! – Rosnei irritada. – O que está insinuando é que sou teimosa, Arítes. – Afirmei. − Eu lhe conheço!

– Essa é a força de Brenna na Tríade. – Liv pontuou. – Entendi o contexto.  

Ela desafivelou o cinturão da espada, colocando em cima do púlpito, desabando em uma poltrona.

– Deixe-me relaxar, porque vi que vamos nos socar aqui dentro. Imagina quando a minha aflorar? Se estarei nessa tal Tríade Nume, juntamente com a Protetora…  A coisa vai ser ruim.

– Acho que vou amarrar você e a Protetora. – Roney respondeu, debochado. – Vocês duas irão se matar. – Gargalhou.

– É importante vocês saberem o que as três Tríades têm em comum. Apesar de terem particularidades, também existem características que se assemelham. A base energética que as mantêm é a mesma. A essência de Arítes é próxima à energia de Brenna, com a diferença que ela consegue avaliar situações. Gosta de ter o controle do ambiente em suas mãos. A energia de Roney é próxima a de Thara, mas ele consegue extrapolar a lógica, dando dinâmica às ações dele. Liv já é o contraponto, se assemelhando à Tália, porém ela é mais prática no momento de atuar.

– Eu sou próxima a Tália? Acho que se enganou, Guardiã Êlia.

Minha mãe riu. Liv teve a mesma reação que eu, quando minha mãe implicava comigo em relação a tal compaixão de que ela falava que eu tinha. Liv era teimosa também.

– Não me enganei, Liv. Você pode achar o contrário, todavia me diga se não sente afinidade com Tália? Ela sempre foi um espelho para você, ou estou enganada?

Liv se calou, baixando a cabeça. Minha mãe continuou a falar.

– Quando os laços da Tríade de vocês se estenderem para todo o grupo, precisarão se reunir, formando dois triângulos. Um para cada Tríade. Orientaremos na disciplina de “Undebah” que nada mais é do que unir e harmonizar a essência de cada extremidade do triângulo. Conquistando esse equilíbrio, sentirão o outro sem se ferirem ou estranharem a energia que passa pelo corpo de vocês. Assim compreenderão o elo que os harmoniza.   

– Deixa ver se adivinho a base da Tríade de vocês. Mamãe é correspondente a Brenna e Arítes, Tórus é análogo a Thara e Roney e papai, por sua vez, se assemelha a mim e a Liv. Acho que não foi difícil fazer a equivalência. − Comentei.

Minha mãe se divertia conosco, mesmo sabendo que o assunto era de suma importância. Comecei a pensar que ela nos via como crianças de verdade.

Eu falava com a mesma impaciência de Brenna e, em dado momento, vi minha filha sentada na poltrona ao lado de Liv, observando tudo, quieta. Estranhei; porém se a minha essência estivesse sendo trocada com a de minha filha, talvez explicasse o estado dela.

– Tudo bem, Brenna? – Perguntei.

– Não sei, mãe Tália. Estou me sentindo estranha. É como se tudo estivesse muito… Ah! Não consigo definir.

– Na Tríade de vocês sofrerão mais pelas energias serem tão diferentes. Assim como Liv e Arítes na deles.

– Ih! A noite será longa. – Roney falou, sentando em um banco próximo ao púlpito. – Tem alguma coisa aí que eu possa ler, Guardiã Êlia?

Eu começava a compreender mais aquele homenzarrão. Era estranho pensar num homem daquela estrutura física como sendo um estudioso, contudo, reparando as atitudes que ele tomara até aquele instante, o compreendi mais.

Liv se dobrou sobre o próprio tronco. A face avermelhada fez com que eu percebesse que a integração da Tríade deles estava começando a formar o laço.

– Pela Senhora das Águas! Agora compreendo o que Tália sentiu com a força de Brenna! – Olhou diretamente para mim. – Me perdoe. Achei que estava sendo molenga, ainda há pouco.

– Está reclamando? – Arítes respondeu. – Eu sinto meu corpo… dormente.

– Me ajudem a afastar tudo.

Assim que minha mãe pediu, papai e Tórus começaram a auxiliar, afastando os móveis para um dos cantos da sala. Não conseguiram mover o púlpito que era feito em pedra, no entanto ele ficava ligeiramente deslocado à esquerda da sala, permitindo um espaço maior próximo à parede oposta.

Tórus olhou em direção à passagem, que minha mãe abrira quando chegamos e, em seguida, se dirigiu àquela sala, retornando com algo na mão. Começou a desenhar alguns símbolos no chão, com uma pedra porosa que eu desconhecia.

A cor do objeto que ele utilizava para desenhar era num tom cinza bem claro. Fixei meu olhar e pensamentos nos desenhos que ele fazia e cheguei a ver uma luminosidade intensa, fazendo os traços rabiscados brilharem. Cerrei os olhos e, quando os abri, não via mais a luz emanando deles.

– Você pegou o carvão lunar? Ótimo, Tórus! Minha mente ainda está despertando.

– Cada qual com o seu dom, Êlia. Não é mesmo?

Tórus respondeu, sorrindo. Ele terminou de desenhar três triângulos no chão, entrelaçados como o padrão das braçadeiras de Brenna e Thara. Em cada ponta dos triângulos, desenhou outros três símbolos diferentes. Um se parecia com uma espiral, outro com uma cruz ou espada – não consegui definir direito o desenho – e o terceiro era a Estrela Lux, símbolo da Divina Graça.  Ela era inconfundível, por se tratar de uma estrela com nove pontas.

– Pronto. Acho que podemos iniciar “Undebah”.

– Obrigada, Tórus. Brenna, sente-se no triângulo da esquerda, na extremidade onde a Espada Macha está desenhada.

– Ah, essa é a Espada Macha, mãe?

Perguntei em um tom debochado e todos riram, com exceção de minha mãe, que me olhou atravessado.

– Desenhei o melhor que consegui, Tália.

– Desculpe-me, Tórus, não quis lhe ofender.

– Não me ofendeu, Tália. Eu também não a reconheceria.

Ele me respondeu, rindo, e minha mãe continuou a nos orientar.

– Você, Tália, sente-se sobre a Estrela Lux! Thara, sobre a Espiral. Da mesma forma, no triângulo da direita, Arítes se sentará sobre a Espada; Liv sobre a Estrela e Roney sobre a Espiral. Nós fecharemos a Tríade Tríplice, nos sentando no triângulo do centro.

– Achei o arranjo conveniente, para a gente não se esmurrar. Assim vocês tomam conta de nós.

Eu ri quando Liv terminou a frase, porque eu me sentia igual; louca para dar alguns socos em alguém.

– Se ajeitem e me esperem.

– O que vai fazer, mãe?

– Nós ficaremos um bom tempo aqui, Tália. Não quero que ninguém se disperse. Chamarei Tétis e Mardox. Eles sabem que somos Guardiãs. São pessoas em quem confiamos e temos que ter alguém que responda por nós, caso nos procurem.

– Está correta, Êlia. Eles nos darão cobertura, enquanto estivermos aqui.

– Foi o que imaginei, Astor. Só não sei por quanto tempo poderão enrolar o comando do exército e as audiências públicas. O conselho também ficará desconfiado, afinal, todas as pessoas que têm alguma ligação com a realeza não estarão disponíveis.

– Se confiam, mande um deles chamar a curandeira do lago. Ela pode dizer que estamos em quarentena, por alguma doença qualquer.

– E alarmar toda a população de Eras, Thara? Não acho prudente.

Minha mãe estreitou o olhar quando viu Thara e Brenna discutindo o assunto. Era como se estivessem com os papéis trocados.

– Thara, sinto que agora está expressando os pensamentos de Brenna e vice-versa.

A jovem conselheira se curvou, lutando com o corpo e mente.

– Não faça isso. – Tórus instruiu. – Não lute contra os pensamentos e os sentimentos que chegam a você. É o fluxo de energia que está passando pela Tríade.

– Thara, acha que sou equilibrada em minhas ações?

– É lógico que acho, majestade!

– Agora, me imagine com dezessete anos. Acha que eu não era impulsiva como Brenna? Bem… nem tanto como Brenna, devo admitir. A força vital dela é um pouco diferente da minha e o aprendizado também foi, mas eu era muito mais impulsiva, até formar a Tríade. Você está expressando os pensamentos dela, livremente. Pensamentos que, muitas vezes, ela não manifesta por ponderar, logo após, sobre o que pensou. Nem por isso, deixam de se formar na mente dela.

– Tudo bem. – Thara tomou um alento, tentando se equilibrar. – Eu também não expresso tudo que penso.  Estou começando a entender o sentido da Tríade. Harmonizar, nesse tal de “Undebah”, significa deixarmos passar o fluxo de nossa essência e absorver a do outro, de modo a compreender a vida por nova perspectiva.

– Basicamente é isso, conselheira.

Minha mãe respondeu satisfeita, subindo as escadas. Meia marca mais tarde, ela retornava com uma bandeja na mão contendo vinho, água, pão, frutas frescas e também frutas secas. Depositou sobre o púlpito e sentou em seu lugar na Tríade dela.

– Está tudo certo, mãe?

– Está sim, Tália. Agora é noite. Ninguém nos perturbará, no entanto amanhã, caso haja perguntas sobre nós, Tétis e Mardox estarão lá para desviar a atenção.

***

Nunca imaginei que absorver os pensamentos de outra pessoa e sentir com os mesmos sentidos, fosse algo tão penoso. Era quase o meio da manhã, e ainda sofríamos os efeitos da Tríade Tríplice. Eu estava exausta e compartilhava isso com todos, assim como sentia o cansaço deles. Nunca entendi tão bem a minha família e, ao mesmo tempo, pensava que se eu passasse a vida sem entendê-la, seria mais fácil para mim.

Não sei se foi a exaustão ou a harmonia que se instaurou entre nós, deixando nossos “eus” se estabelecerem outra vez. Fechamos as Tríades, fatigados. Poderia dormir por uma semana inteira, após aquela experiência.

– Estão todos bem?

Meu pai perguntou, vendo que praticamente desfalecemos no chão frio.

– Bem em que sentido, pai?

Foram marcas e mais marcas de tempo em que meu pai, minha mãe e Tórus, seguravam nossos laços energéticos, orientando em como devíamos agir, meditar e pensar. Houve momentos em que precisaram entoar frases que nos condicionavam a voltar ao fluxo energético. Frases que eram faladas na língua morta de Tanjin, contudo, incrivelmente, sabíamos o que significavam, desde o ocorrido no Templo da Vida.

– Sentem-se somente com sono? Conseguem perceber as Tríades sem sofrer pela essência do companheiro?

– Bom, eu não tenho mais vontade de socar ninguém por dizer alguma asneira qualquer. – Liv falou, olhando para Arítes. – E compreendo melhor algumas atitudes. É isso que quer saber, rei Astor?

– Se todos estiverem com essa compreensão, cosantóir, dou-me por satisfeito, por hoje.

Liv baixou a cabeça, rindo e depois encarou Arítes.

– Fico contente em lhe conhecer um pouco mais, Protetora. Acredito que tenha me conhecido também e, agora, podemos agir com mais confiança.

– É, eu concordo.

Arítes respondeu indiferente, fazendo Liv abrir mais o sorriso.

– Bom, estamos todos desgastados e com fome. Não conseguiremos planejar ou fazer nada. Vão comer e descansar. Eu, Tórus e Êlia, faremos nossas atividades habituais. Estamos acostumados com a energia da Tríade.

– Concordo, Astor. Não avançaremos mais do que isto. Eles já conseguiram harmonizar, minimamente, o laço. Depois que tudo acabar, aprenderão a estabelecer os elos restantes.

– Que elos são esses, Tórus? – Thara perguntou.

– Harmonizar a energia de vocês é apenas o primeiro elemento. Vocês aprenderão a controlar as forças mágicas de cada um, interligando-as, entre outras coisas. Mas, por agora, vamos nos focar na recuperação e no planejamento de nossos próximos passos.

– Vão. Eu, Astor e Tórus precisaremos de mais alguns minutos para nos restaurarmos. Ficaremos sem dormir até à noite.

– Vocês aguentarão?

– Aguentaremos sim, Tália. Com alguns minutos na nossa Tríade, em um ritual específico, restabeleceremos nossas energias para conseguirmos fazer nossas atividades diárias.

– E por que não podemos participar? Assim não precisaríamos dormir também.

– Não é tão simples, Brenna. – Meu pai respondeu. – Vocês só conseguiram se harmonizar. Existe muito mais coisas na Tríade que precisam aprender. Se permanecerem, teremos que canalizar para vocês o nosso “Amsugno” e, provavelmente, não conseguiríamos ficar de pé ao longo do dia.

– Vamos, Brenna. – Falei. – Não sei o que é “Amsugno”, no entanto é mais fácil nós sumirmos das vistas de todos por algumas marcas de tempo, do que eles. Quer dormir conosco?

– Lógico que não, mãe Tália! Quero dormir com Thara.

– Eu mereci isso.

Falei, olhando para Thara, que ruborizou, e todos riram. Essa reação não era típica da jovem conselheira, que agia sensatamente e não expressava muito os sentimentos. Desta vez, foi pega desprevenida. Arítes sorriu, abraçando Brenna, rebocando-a pela escada.

– Vamos. Eu preciso ficar um pouco nos braços de sua mãe também.

– É. Agora entendo que mãe Tália é seu suporte.

– E eu o dela. Finalmente, a gente entende como isso funciona, não é?

Arítes piscou para Brenna e ela olhou para trás, encarando Thara que as acompanhava, logo em seguida.

– Eu sou seu suporte?

Brenna perguntou para a jovem sábia.

– Sempre foi, desde que lhe conheci. Você que nunca reparou.

– Ah, nem vem com essa história, Thara. Eu flertava com você na sala de armas e nunca me notou.

– Você flertava comigo em seus pensamentos, Brenna. O que fazia era acabar comigo no treino de armas!

E entre conversas, deixamos a sala dos Escritos, seguindo direto para nossa hibernação. Para nós, dormir foi uma hibernação, considerando que apagamos durante aquele dia inteiro e, também, durante à noite. Acordamos somente no dia seguinte e meus pais e Tórus, fizeram tudo para que assim acontecesse.

***

Acordei com batidas na porta. Espreguicei, pois ainda estava letárgica, porém com dores pelo corpo.

– Entre!

Autorizei, lembrando que não travamos a porta quando entramos no quarto. Estávamos tão exaustas que apenas trocamos de roupa e desabamos na cama. Vi Tétis entrar, cautelosamente.

– Desculpe, majestade…

– Majestade? Desde quando me chama assim, Tétis?

– Desde que você assumiu no lugar de seu pai. Lembre-se que nunca mais saímos juntas e só encontro vocês em eventos oficiais.

– Desculpe-me por isso, Tétis. – Falei constrangida. – Espero que, em breve, tudo fique às claras e mais descontraído por aqui.

– Sua mãe me contou…

– Contou o quê?

– Tudo. Faremos parte do grupo que acompanhará vocês nessa empreitada.

Levantei, apoiando meu corpo no espaldar da cama. Cocei a cabeça, reparando que Arítes não movera um dedo com a conversa. Ela estava num sono profundo, que havia tempos não ocorria. Sempre alerta e tensa. –  Pensei sorrindo, diante daquela visão. Eu sentia cada parte o corpo dela. Era incrível!

– Já vi que minha mãe pensou em algo e não me disse ainda.

– Não foi só ela. Sua mãe, seu pai e Tórus. Eles nos bombardearam ontem à noite. Fizemos juramentos e mais juramentos. Não lembro de ter tremido tanto em batalha.

Ri,e Arítes se mexeu na cama.

– As coisas estão mudando em Tejor, Tétis.

– Eu sei.

– Sente-se, Tétis. Vamos conversar um pouco e deixar Arítes descansar mais. Nunca a vi tão relaxada como hoje.

Levantei e coloquei um penhoar, sentando-me na poltrona ao lado da general, junto à lareira. Ela olhou Arítes na cama, num sono profundo.

– É de se estranhar mesmo. Quando fui colega de quarto dela, eu ainda era uma jovem tenente e ela acordava com uma pena caindo no chão. – Sorriu. – Sempre admirei isso nela. Naquela época, não entendia como conseguia ficar tanto tempo acordada e, mesmo assim, atenta enquanto dormia.

– E hoje, você entende?

– Ah, se entendo! – Riu. – Ela me ensinou direitinho. Não sabe os sustos que me deu, chutando meu pé, quando queria me acordar. – Riu, novamente. – Depois de um ano, irritada com o jeito que ela me acordava, foi como um antídoto contra os chutes dela.

– E eu tinha ciúme de você… – Sorri envergonhada.

– E eu, medo de você, de sua mãe e dela!

Não nos contivemos e gargalhamos. Arítes finalmente acordou, espreguiçou-se e nos olhou, intrigada.

– Tétis tem um recado para nós. – Falei.

– Mmm… Já venho conversar.

Ela levantou zonza. Entrou no quarto de banho, enquanto eu e Tétis a observávamos.

– É. Parece que o tal do ritual que fizeram ontem, afetou a comandante.

– Minha mãe falou que é um efeito transitório. Assim que deu a primeira batida na porta, acordei. Não é muito típico de mim.

– É verdade. Você nunca atendeu a porta de primeira mão.

– Mas me diga,Tétis, o que meus pais e Tórus estão aprontando?

– Uma guerra.


Nota: Tudo está sendo revelado. A magia está voltando, resta saber se para o bem ou para destruir. 😉

Um beijão!



Notas:



O que achou deste história?

6 Respostas para Capítulo XIX – As Tríades

  1. Carolzinhaaaaa!!!!!
    Super atualizada!!!
    Sabe que o nome de Karina Ferreira me parece familiar…obrigada por compartilhar! Ela disse que vc tá alokada kkkkkk.
    Adoro temática espírita tb!! Engavetada?Devia abrir a gavetinha!!:)

    Agora vamos à estória

    Gente, mas pedida que turco na neve…monte de teorias mágicas, invenções magníficas suas e como disse Karina Ferreira, umas nomenclaturas de lascar!!Onde cê tá indo quando dorme? Q dimensão?? Tá fodástico, enredo incrível e o desenrolar tá massa! Fico lendo sem sentir o tempo passar!!Brocando geral!!!
    O bicho vai pegar!! Adoro
    Guerra!!! Vai ter gente morrendo ? Adoro um dramex!! Rs
    Esperando logo o próximo!!! Beijão

  2. Tudo bem Carol?
    Estou com a colega. Ansiosa pela porradaria kkkkkkkk Vi ter guerra! kkkk
    Esse homem vai ver com quem se meteu. kkkkkkkk
    Bj Carol

  3. Carol, miga sua doida?! De onde tu tirou que eu to fazendo fanfic de Xena? kkkk
    Só comentei cntg a respeito de umas duas engavetadas, mas as atuais são todas originais, e sim, tem algumas referencias de Xena, TLW e temática espírita hahaha

    Bom, vms ao capítulo. Eu já to ficando bugada com esse tanto de nomenclatura, kkkk Espero que sejam as últimas!
    – O que estão aprontando…
    – Uma guerra… tsctsc, né, nada demais kkkk

    To ansiosa pra começar a porradaria! xD

    • Ué? Tá engavetada mais escreve! rsrs Conheço a Lailicha há muitos anos e nos aproximamos por conta das fanfics. rsrs Ela ia gostar de saber que você curte. rsrs Ela gosta de temática espirita também. rsrs
      Calma que as nomenclaturas vão ficar mais naturais e não vai ter tantas daqui para frente. rsrs
      Não, uma guerrinha a mais ou a menos, o que de mal há, né? kkkkk
      Valeu, Ká!
      Um beijão pra ti.
      PS.: Ah, não vai fazer aquele esquema das Terças e sábados, não?

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